Convergência das Normas Contábeis Brasileiras para as Normas Internacionais: as principais mudanças e entraves



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Transcrição:

21 Convergência das Normas Contábeis Brasileiras para as Normas Internacionais: as principais mudanças e entraves Robson Rosano Boni Faculdade Unida de Suzano - UNISUZ (robson.boni@ig.com.br) Resumo As Normas Internacionais de Contabilidade emitidas pelo Comitê Internacional de Contabilidade (IASB) constituem hoje, uma fonte de referência para as práticas contábeis mundiais. Pelo fato de representarem um conjunto de normas constantemente atualizadas com as exigências do mercado mundial, as Normas Internacionais (IFRS) têm sido aceitas gradativamente, em diversos países, como suas próprias práticas contábeis ou com algumas adaptações. No Brasil, a primeira etapa da transição para o padrão IFRS na contabilidade societária iniciou-se em 2005 com a criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), e com a publicação das Leis 11.638/07 e 11.941/09 nos anos de 2007 e 2009 respectivamente. Essa fase de convergência das normas contábeis brasileiras para as normas internacionais finalizou-se em 2010, ano que ficou marcado como o verdadeiro divisor de águas da contabilidade brasileira. O objetivo desse artigo é apresentar as principais mudanças nas práticas contábeis que trouxeram adaptações relevantes nas Demonstrações Financeiras das Companhias e destacar as dificuldades ainda existentes para plena aderência ao novo padrão internacional, em virtude do processo de reaprendizagem dos profissionais da área contábil, bem como a mudança cultural, ponto este que se tornou o de maior relevância para essa transição, visto que no Brasil estamos saindo de uma contabilidade baseada em regras para uma contabilidade baseada em princípios. Palavras-chave: Convergência, BR GAAP, IFRS, Lei 11.638/07. Introdução A temática em questão é voltada para o estudo da convergência dos padrões contábeis brasileiros para os padrões internacionais, tema contábil mais relevante dos últimos dez anos. A existência de padrões contábeis distintos afeta a qualidade da informação contábil para fins de divulgação, dificulta a avaliação e comparação do desempenho e da eficiência econômica das Companhias ou segmentos que atuam em vários países. O padrão IFRS permite que os agentes econômicos e investidores possam apurar os resultados e comparativos das empresas por meio de um conjunto unificado de conceitos e critérios de mensuração, além da redução dos riscos nos investimentos internacionais, seja sob a forma de empréstimos financeiros ou participações societárias. Essa redução de risco é derivada de um melhor entendimento das demonstrações contábeis, facilitando a comunicação internacional no mundo dos negócios com o uso de uma linguagem contábil bem mais homogênea. O padrão IFRS é muito mais complexo do que as normas brasileiras anteriores, o que exigiu mais julgamento e transparência por parte das empresas. A mudança de uma contabilidade baseada em regras para uma contabilidade baseada em princípios aumentou o grau de julgamento e divulgação exigidos pelos responsáveis da elaboração das demonstrações contábeis. Entendendo o papel protagonista da classe profissional contábil e no sentido de viabilizar a convergência das normas contábeis e de auditoria, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), criou por meio da Resolução CFC nº 1.055/05, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), que tem como objetivo estudar, preparar e emitir Pronunciamentos Técnicos sobre Procedimentos de Contabilidade e divulgar informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando a centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais. Entre 2007 e 2010 com a publicação das Leis 11.638/07 e 11.941/09 e com a publicação dos diversos pronunciamentos, interpretações e orientações técnicas emitidas pelo CPC (www.cpc.org.br), foi concluída a convergência da contabilidade societária brasileira para as normas contábeis internacionais, além de confirmar a neutralidade fiscal para os ajustes em função da adoção. IUDICIBUS (1995, p.18) assegura que [...] a função fundamental da contabilidade têm permanecido inalterada desde os seus primórdios, sendo sua finalidade promover aos usuários de demonstrações financeiras, informações

22 SUZANO ANO 5 Nº 4 ABR. 2013 que os ajudarão a tomar decisões, e isto não mudou em relação à adoção das normas internacionais. Os profissionais da classe contábil passaram a ter grande responsabilidade na seleção e aplicação das premissas e estimativas contábeis. A exigência na divulgação completa e adequada das políticas e estimativas consideradas críticas tende a ser uma informação extremamente importante para os usuários das demonstrações e a subjetividade trazida por uma contabilidade baseada em princípios exige uma fiscalização ainda maior por parte dos órgãos reguladores do mercado brasileiro, a fim de garantir a comparabilidade entre as demonstrações contábeis. Nesse cenário, não é surpreendente o fato de que contadores, auditores e investidores estejam confusos. Afinal, qualquer mudança, por mais trivial que seja, implica no processo de reaprendizagem de todas as partes envolvidas. O objetivo desse artigo é apresentar e comentar os pronunciamentos abaixo relacionados, por serem de aplicação comum a todos os ramos de atividade e que trouxeram adaptações relevantes nas Demonstrações Contábeis ou dificuldades na convergência para o IFRS. IAS 1/ CPC 26 - Apresentação das Demonstrações Contábeis IAS 7/ CPC 03 - Fluxo de Caixa CPC 09 - Demonstração do Valor Adicionado IFRS 8/ CPC 22 - Informações por Segmento IAS 2/ CPC 16 - Estoques IAS 16/ CPC 27 - Ativo Imobilizado IAS 36/ CPC 01 - Redução ao Valor Recuperável de Ativos IAS 38/ CPC 04 - Ativos Intangíveis IAS 17/ CPC 06 - Operações de Arrendamento Mercantil IAS 37/ CPC 25 - Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes IFRS 3/ CPC 15 - Combinações de Negócios IAS 1/ CPC 26 - Apresentação das demonstrações contábeis De acordo com o Pronunciamento Técnico CPC 26 do Comitê de Pronunciamentos Contábeis: O objetivo deste Pronunciamento Técnico é definir a base para a apresentação das demonstrações contábeis, para assegurar a comparabilidade tanto com as demonstrações contábeis de períodos anteriores da mesma entidade quanto com as demonstrações contábeis de outras entidades. Nesse cenário, este Pronunciamento estabelece requisitos gerais para a apresentação das demonstrações contábeis, diretrizes para sua estrutura e os requisitos mínimos para seu conteúdo. (CPC 26, 2011, p.03) Nesse sentido, fica estabelecido o conjunto completo de demonstrações contábeis para o período atual e comparativo ao período anterior: balanço patrimonial; demonstração do resultado; demonstração do resultado abrangente; demonstração das mutações do patrimônio líquido; demonstração dos fluxos de caixa (se aplicável); demonstração do valor adicionado (se aplicável) e notas explicativas compreendendo um resumo das políticas contábeis significativas e outras informações relevantes. Algumas entidades apresentam fora das demonstrações contábeis, relatório da administração que descreve e explica as características principais do desempenho e da posição financeira e patrimonial da entidade e relatórios de natureza social e ambiental. No entanto, esses relatórios apresentados fora das demonstrações contábeis não estão contidos no âmbito dos Pronunciamentos emitidos pelo CPC. Julgamentos contábeis passam a ser requeridos e, se utilizados, precisam ser divulgados em notas explicativas, considerando as premissas consideradas no julgamento e registro do fato. Políticas contábeis relevantes também devem ser divulgadas. Passa a ser essencial a análise da continuidade, onde a administração da Companhia deve fazer a avaliação da capacidade da entidade continuar em operação no futuro previsível. Havendo incertezas de continuidade, devem ser divulgadas juntamente com a base que levou a essa incerteza. O CPC 26 menciona nos itens 54 e 82 a 85 quais são as linhas que no mínimo devem existir nas demonstrações contábeis (balanço patrimonial e demonstração do resultado), obedecidas também as determinações legais. Para vários eventos, inclusive na preparação das demonstrações contábeis, para discernir o que precisa segregar em linhas próprias e divulgar em notas explicativas, utiliza-se o conceito de materialidade. Se um item não for individualmente material, deve ser somado a outros itens. Mesmo se uma informação é requerida, mas não é material, não é necessário divulgar. O CPC 26 também definiu o conceito de circulante e não circulante, onde deve ser respeitado o prazo de realização ou liquidação de até 12 meses após a data do balanço, para alocação de itens circulantes no balanço patrimonial. Os demais itens ativos e passivos do balanço devem ser considerados como não circulantes. No caso de ativos não circulantes temos uma subdivisão em: realizável a longo prazo, investimentos, imobilizado e intangível. Algumas exceções estão descritas no CPC 26 entre os itens 66 e 76. A forma de classificar e divulgar em nota explicativa leva em consideração o CPC que rege cada item, por exemplo: ao divulgar a nota explicativa de imobilizado,

23 deve-se levar em consideração o CPC 27 Ativo Imobilizado onde demonstra quais são as classes de imobilizado que devemos segregar na nota explicativa; estoques de acordo com o CPC 16 Estoques, onde temos que preparar a nota explicativa com classificações tais como mercadorias para revenda, insumos, materiais, produtos em processo e produtos acabados. A leitura e compreensão do CPC 26 é essencial antes da preparação das demonstrações contábeis, pois ele tem as linhas mestras para a elaboração correta das demonstrações contábeis e respectiva divulgação em notas explicativas e pelo fato de já direcionar os assuntos específicos aos seus respectivos CPC s. Além disso, direciona sobre como proceder ao utilizar as políticas e julgamentos contábeis. IAS 7 / CPC 03 Fluxo de caixa De acordo com o Pronunciamento Técnico CPC 03 do Comitê de Pronunciamentos Contábeis: As informações dos fluxos de caixa de uma entidade são úteis para proporcionar aos usuários das demonstrações contábeis uma base para avaliar a capacidade da entidade gerar caixa e equivalentes de caixa, bem como suas necessidades de liquidez. As decisões econômicas que são tomadas pelos usuários exigem avaliação da capacidade da entidade gerar caixa e equivalentes de caixa, bem como da época e do grau de segurança de geração de tais recursos. (CPC 03, 2010, p.03) A demonstração dos fluxos de caixa, quando utilizada em conjunto com as demais demonstrações contábeis, proporciona informações que habilitam os usuários a avaliar as mudanças nos ativos de uma entidade, sua estrutura financeira, liquidez, solvência e sua capacidade para alterar os valores e prazos dos fluxos de caixa, a fim de adaptá-los às mudanças e aproveitar as oportunidades. É possível avaliar o capital de giro e com isso saber onde está o dinheiro que faz a empresa girar. Em muitos casos essa análise leva a repensar os prazos médios de recebimento, estocagem e pagamento. Em muitos casos existem desperdícios, o que significa dinheiro parado e em alguns casos leva a empresa recorrer a recursos de terceiros, tendo numerário excedente no capital de giro. Com a publicação da Lei 11.638/07 a DOAR Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos foi extinta. Passou a vigorar em seu lugar a DFC Demonstração dos Fluxos de Caixa, tendo obrigatoriedade sua elaboração para empresas S/A de capital aberto e para empresas S/A de capital fechado. No caso de empresas de capital fechado com patrimônio líquido na data do balanço inferior a R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais) não será obrigada a elaboração e publicação. Mas fica a sugestão para que todas as empresas elaborem a DFC Demonstração dos Fluxos de Caixa devido ser um ótimo instrumento de gestão para as empresas. Existem dois modelos de preparação do fluxo de caixa que é o método direto ou indireto. Observando as atuais publicações em jornais e no site da CVM pelas empresas de capital aberto, foi possível notar que o método mais utilizado é o indireto. A demonstração dos fluxos de caixa é dividida em três atividades: atividades operacionais, atividades de investimento e atividades de financiamento: Atividades operacionais: são as principais atividades geradoras de receita da entidade e outras atividades diferentes das de investimento e financiamento. O capital de giro está contido nessa atividade; Atividades de investimento: referente à aquisição e a venda de ativos de longo prazo e de outros investimentos não incluídos nos equivalentes de caixa; Atividades de financiamento: são aquelas que resultam em mudanças no tamanho e na composição do capital próprio e no endividamento da entidade, não classificadas como atividade operacional. Os exemplos preenchidos dos fluxos de caixa direto e indireto estão disponíveis no próprio CPC 03. CPC 09 Demonstração do valor adicionado De acordo com COSENZA (2002, p.40) em termos teóricos, o conceito de valor adicionado já é conhecido há duzentos anos, porém as primeiras evidências de aplicações práticas dessa informação ocorreram nos Estados Unidos da América, na década de vinte, quando foi utilizado como base para os sistemas de pagamentos de incentivos governamentais. De acordo com Pronunciamento Técnico CPC 09 do Comitê de Pronunciamentos Contábeis: Valor adicionado representa a riqueza criada pela empresa, de forma geral medida pela diferença entre o valor das vendas e os insumos adquiridos de terceiros. Inclui também o valor adicionado recebido em transferência, ou seja, produzido por terceiros e transferido à entidade. (CPC 09, 2008, p.03) DE LUCA apud GRAY e MAUDERS (2009, p.25) complementa que: [...] o valor adicionado de uma empresa deve corresponder, em termos monetários e deter-

24 SUZANO ANO 5 Nº 4 ABR. 2013 minado período, à sua riqueza líquida, isto é, diferença entre o valor total dos seus rendimentos (incluindo, mas não necessariamente limitado, à receita de vendas) e o valor dos materiais e serviços obtidos junto a outras companhias. (De Luca apud Gray e Mauders 2009, p.25) Uma das formas que ampliam a capacidade de se analisar o desempenho econômico e social das organizações, é através do valor econômico que é agregado aos bens e serviços adquiridos de terceiros, ou seja, é o valor total da produção de bens e serviços de um determinado período, menos o custo dos recursos adquiridos de terceiros, necessários a esta produção. De modo geral, o valor adicionado são os acréscimos ocorridos em um bem durante seu processo produtivo. Assim a empresa ao fabricar, utilizando-se de bens e serviços que são adquiridos de terceiros, aplicando seus capitais, utilizando seus equipamentos e o trabalho de seus colaboradores, estará adicionando valores aos produtos e estes serão disponibilizados aos consumidores. A Demonstração do Valor Adicionado, que é uma ramificação do Balanço Social, constitui-se de uma importante fonte de informações para análise da performance econômica da empresa, evidenciando a geração de riqueza e também os efeitos sociais produzidos pela distribuição dessa riqueza. A DVA - Demonstração do Valor Adicionado é obrigatória para empresas de capital aberto e deve ser preparada com base em informações obtidas dos registros contábeis que servem de base de preparação das demonstrações contábeis e seguindo as disposições contidas no CPC 09. IFRS 8 / CPC 22 Informações por segmento De acordo com o Pronunciamento Técnico CPC 22 do Comitê de Pronunciamentos Contábeis: A entidade deve divulgar informações que permitam aos usuários das demonstrações contábeis avaliarem a natureza e os efeitos financeiros das atividades de negócio nos quais está envolvida e os ambientes econômicos em que opera. (CPC 22, 2009, p.02) (ERNST YOUNG TERCO, 2011) complementa que: Um dos principais objetivos da adoção das normas internacionais no Brasil é melhorar a qualidade das informações contábeis divulgadas pelas empresas. A ideia é justamente aumentar a relevância das demonstrações contábeis de modo que suas informações auxiliem os usuários na tomada de decisão econômica. A divulgação de informações por segmento acrescenta grande valor ao julgamento dos investidores através da compreensão da contribuição das partes do negócio ao todo constituído pela empresa. Embora seja possível avaliar a empresa de forma agregada através das demonstrações contábeis, é mais difícil compreender o desempenho do negócio sem conhecer, por exemplo, a contribuição de produtos novos versus os produtos maduros, ou o crescimento das vendas por regiões geográficas. (ERNST YOUNG TERCO, 2011, p.40) No cenário mundial eram poucas empresas que divulgavam tais informações de maneira voluntária. Portanto, a adoção das normas internacionais representa um avanço ao que fazíamos no Brasil, haja vista que exige a divulgação de informações até então não divulgadas pela grande maioria das empresas no cenário nacional. Sem dúvida, uma mudança cultural muito forte no Brasil, pois não tínhamos o costume de estratificar as informações contidas nas Demonstrações Contábeis. É importante ressaltar que o CPC 22 não define como a entidade deve agregar seus segmentos operacionais, ou seja, não existe nenhuma regra específica. Ao contrário tal norma internacional recomenda fortemente que a base para agregação dos segmentos operacionais seja justamente aquela utilizada para fins de tomada de decisão gerencial. As segmentações mais utilizadas observando as demonstrações contábeis publicadas de algumas empresas de capital aberto foram: segmentação por produto, segmentação por distribuição geográfica, segmentação por áreas de negócios / atuação, principais clientes. No apêndice A do CPC 22 está disponível um guia de ajuda para implementação. IAS 2 / CPC 16 Estoques De acordo com o Pronunciamento Técnico CPC 16 do Comitê de Pronunciamentos Contábeis: O objetivo é estabelecer o tratamento contábil para os estoques. A questão fundamental na contabilização dos estoques é quanto ao valor do custo a ser reconhecido como ativo e mantido nos registros até que as respectivas receitas sejam reconhecidas. Este pronunciamento proporciona a orientação sobre a determinação do valor de custo dos estoques

25 e sobre o seu subsequente reconhecimento como despesa em resultado, incluindo qualquer redução ao valor realizável líquido. Também proporciona orientação sobre o método e os critérios usados para atribuir custos aos estoques. (CPC 16, 2009, p.02) De maneira geral, a norma brasileira é similar aos IAS 2, exceto no que se refere a avaliação da necessidade de provisão para desvalorização do estoque de matéria prima e produtos acabados. No caso das matérias primas, a comparação se dá com o custo de reposição. No caso dos produtos acabados, a comparação é com o valor de realização. O preço líquido de realização é apurado depois de deduzida a margem de lucro. As empresas devem acompanhar a evolução de seus estoques item a item, para perceber se existe ou não a necessidade de fazer alguma provisão ou redução ao valor realizável. É perceptível a dificuldade dos profissionais da área contábil em compreender essa necessidade, mas faz total sentido quando observamos que o valor recuperável líquido é o valor pelo qual a empresa espera realizar com a venda do estoque no curso normal dos negócios. Porém em alguns casos, o estoque pode deteriorar-se, ficar obsoleto com o passar do tempo e ainda permanece no balanço pelo seu preço de aquisição. Logicamente ao vender esse produto, a empresa não irá obter uma margem satisfatória ou até mesmo poderá ser negativa. Por isso se faz necessário avaliar os estoques, pois nesses casos, caberá uma redução ao valor recuperável, constituindo uma provisão e alocando no resultado do período. Isso fará com que o estoque, o resultado do exercício e o patrimônio líquido sejam menores. Quando ocorrer a venda do produto, estorna-se a provisão constituída, já que ela irá compensar o prejuízo auferido na venda. Ou seja, o prejuízo da venda ficou reconhecido no momento em que ficamos conhecendo o problema e não deixamos sofrer um impacto negativo no resultado na ocasião da venda. É comum ocorrer essa situação com produtos que ficam obsoletos por tecnologia ou prazos de validade, produtos recebidos por devolução, produtos reprovados pelo setor de qualidade/ meio ambiente, produtos com giro lento/ morosos. Vale lembrar que o único método aceito fiscalmente no Brasil para valorização do estoque é o Custo Médio Ponderado. As provisões constituídas para redução ao valor realizável líquido não são dedutíveis para fins de cálculo do IRPJ e CSLL. E a receita na ocasião do estorno da provisão não será tributada, ou seja, deverá excluir no Lalur para fins de cálculo do IRPJ e CSLL. IAS 16 / CPC 27 Ativo imobilizado De acordo com o Pronunciamento Técnico CPC 27 do Comitê de Pronunciamentos Contábeis: O objetivo desse pronunciamento é estabelecer o tratamento contábil para ativos imobilizados, de forma que os usuários das demonstrações contábeis possam discernir a informação sobre o investimento da entidade em seus ativos imobilizados, bem como suas mutações. Os principais pontos a serem considerados na contabilização do ativo imobilizado são o reconhecimento dos ativos, a determinação dos seus valores contábeis e os valores de depreciação e perdas por desvalorização a serem reconhecidas em relação aos mesmos. (CPC 27, 2009, p.02) (ERNST YOUNG TERCO, 2011) complementa que: De maneira geral, não existem diferenças significativas no que diz respeito ao reconhecimento e à mensuração de tais ativos, quando comparados com a antiga norma brasileira. Os bens imobilizados continuam a ser reconhecidos pelo valor de custo e são depreciados ao longo da vida útil. Contudo, a norma internacional exige um maior detalhamento em relação ao que vínhamos fazendo até então no Brasil, incluindo requisitos de depreciação por componente e revisão anual da vida útil. (ERNST YOUNG TERCO, 2011, p.76) Uma das principais mudanças é com relação à possibilidade de reavaliações. Apesar das normas internacionais permitirem que as empresas adotem a reavaliação como base de mensuração dos ativos imobilizados, tal prática foi abolida no Brasil com a Lei 11.638/07. Em outras palavras, a adoção do deemed cost (custo atribuído), que pode ser vista como uma reavaliação é permitida apenas para fins de adoção inicial das normas internacionais de contabilidade, conforme ICPC10. Lembrando que a adoção do deemed cost (custo atribuído) para a mensuração dos ativos imobilizados na adoção inicial foi uma opção, não foi uma obrigação. Como forma de corrigir o valor dos ativos imobilizados, foi fortemente recomendado pelo CPC que, na adoção inicial das normas internacionais no Brasil, as empresas mensurassem tais ativos pelo deemed cost (custo atribuído), que seria o valor justo desses ativos na data da transição.

26 SUZANO ANO 5 Nº 4 ABR. 2013 Uma das exigências para as empresas que adotaram o deemed cost (custo atribuído) na adoção inicial foi justamente apresentar os respectivos ajustes decorrentes dessa alteração, de modo a reconciliar os valores anteriores com esses novos valores justos. Ou seja, quem optou pelo deemed cost (custo atribuído), pode registrar no balanço de transição para as normas internacionais, em seu imobilizado em contrapartida no patrimônio líquido na linha de ajustes de avaliação patrimonial, os efeitos entre o valor justo apurado x valor contábil. Normalmente esse valor justo foi determinado por empresas especializadas contratadas. Isso foi muito favorável para refletir um balanço patrimonial de forma mais real e transparente. Reforço mais uma vez que essa opção pelo deemed cost (custo atribuído) foi a última oportunidade para reavaliar e ajustar o ativo imobilizado. A partir de então, foi abolida essa possibilidade. Outra mudança relevante é a forma de depreciar. Em razão da influência fiscal na elaboração das demonstrações contábeis para fins societários no Brasil, é fato que grande parte das empresas vinha, até o ano de 2009, depreciando seus ativos com base nas taxas admitidas pelo fisco RFB. Sendo assim, não faziam revisão de vida útil desses ativos. Com isso, ao longo do tempo parte desses ativos estavam totalmente depreciados conforme regra fiscal, porém continuava gerando benefícios econômicos para as empresas. Para corrigir essa questão, passou a ser exigida a revisão anual das vidas úteis e também o teste de impairment, que irei comentar em tópico especifico. Para realizar essa revisão anual das vidas úteis econômicas dos ativos, o ideal é contratar empresas especializadas que emitam laudos, porém não é exigido que seja empresa terceirizada. Se houver bases confiáveis e profissionais habilitados dentro da Companhia, é permitido elaborar laudos internos que sustentem a vida útil pelo qual os bens estão sendo depreciados ou informar por qual vida útil os bens devem depreciar. Lembrando que para fins de apuração do IRPJ e CSLL deve ser considerada a depreciação pela regra fiscal, ou seja, a empresa precisa manter duas bases de controle da depreciação. Em uma base os bens devem ser depreciados pelas taxas fiscais e é essa depreciação a ser considerada para cálculo do IRPJ e CSLL. Em outra base os bens devem ser depreciados pelas vidas úteis econômicas apuradas anualmente mediante os estudos internos ou externos. Esse valor é o que será registrado na contabilidade e consequentemente figurar nas demonstrações financeiras. Normalmente, a linha de imobilizado nos balanços patrimoniais é uma das maiores, motivo pelo qual merece atenção especial, tanto que em minha opinião foi a que sofreu as alterações mais relevantes, não só em valores, mas principalmente conceitualmente. A visão de valor realizável e geração de benefícios futuros passam a ser fortes fatores de julgamentos e projeções que devem ser analisados para estarem compatíveis com os números contabilizados. IAS 36 / CPC 01 Redução ao valor recuperável de ativos De acordo com o Pronunciamento Técnico CPC 01 do Comitê de Pronunciamentos Contábeis: O objetivo desse pronunciamento é definir procedimentos visando a assegurar que os ativos não estejam registrados contabilmente por um valor superior àquele passível de ser recuperado por uso ou venda. Caso existam evidências claras de que ativos estão avaliados por valor não recuperável no futuro, a entidade deverá imediatamente reconhecer a desvalorização por meio de constituição de provisão para perdas. O Pronunciamento também define quando a entidade deve reverter referidas perdas e quais divulgações são necessárias. (CPC 01, 2010, p.03) (ERNST YOUNG TERCO, 2011) assevera que: O fundamento dessa estimativa deriva do conceito contido na Estrutura Conceitual do CPC, que estabelece o potencial em contribuir para o fluxo de caixa como o fundamento para a definição de ativo. Nesse contexto, quando os benefícios econômicos futuros provenientes do ativo não forem mais prováveis, as companhias deverão baixar o referido ativo, ou ao menos a parte não recuperável. Esses benefícios são a melhor estimativa dos administradores com base no conjunto de condições econômicas previstos para a vida útil remanescente do ativo. (ERNST YOUNG TERCO, 2011, p.21) Conforme a referida norma, as companhias deverão avaliar, no mínimo por ocasião da elaboração das demonstrações contábeis anuais, se há alguma indicação de que seus ativos ou conjunto de ativos, denominados de unidades geradoras de caixa, porventura perderam representatividade econômica considerada relevante para que seja feita a provisão para perdas no resultado da Companhia. Esse ajuste decorrente de perdas por não recuperabilidade deverá ser tratado como conta redutora do ativo imobilizado. Isso é necessário, pois o CPC 01 permite a reversão dessas perdas em períodos poste-

27 riores, desde que os fatores que levaram a empresa a registrar a referida perda não existam mais. A contabilização no resultado deverá ser feita em linha específica no grupo de outras receitas/ despesas operacionais. Alguns fatores internos que devem ser considerados: a) Obsolescência ou dano físico; b) Decisões estratégicas ou operacionais que podem trazer efeitos adversos sobre o valor recuperável do ativo; c) Ativo que se torna inativo; d) Descontinuidade de um setor. Alguns fatores externos que devem ser considerados: a) Redução do valor de mercado do ativo; b) Mudanças significativas no ambiente tecnológico de mercado, econômico ou legal; c) Aumento da taxa de juros de mercado ou aumento de taxas de mercado de retorno sobre investimento. Fica a dúvida na cabeça dos profissionais da área contábil: como determinar o valor recuperável dos ativos? Temos duas formas: é o maior valor entre o preço líquido de venda do ativo e o valor em uso. Como determinar o preço líquido de venda? do ativo; ativos semelhantes, dentro do mesmo setor em que opera. Como determinar o valor em uso? se taxa de desconto para trazer esses fluxos de caixa a valor presente. Devido à complexidade para mensuração do valor recuperável de alguns ativos, especificamente porque grande parte dos ativos imobilizados e intangíveis das empresas não possui mercado ativo, o CPC 01 exige a divulgação dos respectivos métodos e premissas utilizados pela entidade. Avaliando as publicações das demonstrações contábeis de empresas de capital aberto, percebe-se a preferência por adotar o método do valor em uso, onde a empresa divulga o período de projeção dos resultados futuros (normalmente 5 anos projetados), as taxas de desconto utilizadas para trazer a valor presente e as taxas de crescimento utilizadas para extrapolar as projeções para além do período coberto pelas previsões, taxa essa normalmente nomeada de perpetuidade. A leitura desse CPC é bem exaustiva, mas se faz necessário para compreender todos os conceitos para atender a norma adequadamente, senão terá um retrabalho intenso no momento em que a empresa for auditada e saber que o método utilizado para as projeções não estão adequados. Essa projeção acaba sendo um trabalho demorado, pela complexidade de premissas e períodos a serem projetados, e sem contar que essas projeções devem ser feitas por unidades geradoras de caixa, que em meu entendimento é por planta, pois é uma forma de comparar o resultado obtido de cada filial nas projeções versus o saldo de imobilizado. Não podemos projetar de forma global, ou seja, pela soma das filiais em uma única projeção, pois dessa forma estamos mascarando um possível impairment de uma planta, por estar sendo favorecida pelo resultado projetado de outra planta. Por isso o CPC colocou essa questão da unidade geradora de caixa. No próprio CPC tem exemplos para melhor entendimento sobre como classificar a unidade geradora de caixa para as projeções. Sem dúvida, esse CPC se tornou o mais complexo de ser implementado, sendo um desafio para os profissionais da área contábil que obrigatoriamente precisam pensar fora do box, uma visão macro da própria empresa e do cenário econômico para traduzir em números nas projeções e assim ter uma base consistente para suportar o cálculo do impairment, peça obrigatória e fundamental para que nossas demonstrações contábeis sejam mais realistas. Certamente os investidores estarão mais confortáveis ao investir em uma empresa brasileira que está seguindo as normas internacionais de contabilidade. IAS 38 / CPC 04 Ativos intangíveis De acordo (ERNST YOUNG TERCO, 2011) a linha dos ativos intangíveis expressa o montante dos recursos aplicados em ativos não monetários identificáveis porque podem ser separados de outros ativos e independem de qualquer que seja a intenção de uso pela entidade, controlados e geradores de benefícios futuros. A norma CPC 04 exemplifica que a aquisição, o desenvolvimento, a manutenção ou o aprimoramento de recursos intangíveis como reconhecimento científico ou técnico, projeto e implantação de novos processos ou sistemas, licenças, propriedade intelectual, conhecimento mercadológico, nome, reputação, imagem e marcas registradas podem se constituir em ativos intangíveis. (ERNST YOUNG TERCO, 2011, p.92)

28 SUZANO ANO 5 Nº 4 ABR. 2013 Duas das principais alterações que puderam ser observadas foram a revisão da vida útil de alguns ativos intangíveis e a baixa de valores capitalizados, principalmente aqueles referentes a gastos com pesquisas. Em relação a gastos com pesquisa e desenvolvimento, a regra que passa a vigorar é a seguinte: tudo que for gasto no período em que o projeto ainda não tem a comprovação da viabilidade técnica para concluir o referido ativo, capacidade para vendê-lo, deverá ser registrado como despesa. Se já tiver a viabilidade técnica e econômica comprovada do projeto, desse momento em diante, os gastos podem ser ativados como intangível. Antes do CPC 04, todo o gasto desde a pesquisa já era ativado, mas com o CPC 04, passou a ter essa diferenciação entre pesquisa e desenvolvimento, que faz muito sentido, pois antes podíamos estar ativando algo que não era viável ainda, às vezes, chegando até a conclusão que não valeria a pena continuar com o projeto, então tínhamos uma representatividade de um ativo que não seria realizável. Com o CPC 04 só é possível ativar quando já existe a viabilidade econômica que é a certeza de que tal ativo / projeto trará um benefício futuro, ou seja, sua realização. Outra mudança relevante é a questão dos saldos de ativo diferido. Com a edição da lei 11.638/07, o grupo de ativo diferido foi eliminado, não podendo ter novas entradas. As empresas que possuíam saldo nesse grupo na data de transição tiveram que fazer a opção entre baixar o saldo residual para resultado, realocar para outro grupo seja intangível ou imobilizado, ou manter o saldo nesse grupo até a sua completa amortização. Com o objetivo de permitir aos usuários das demonstrações contábeis de avaliar a natureza e a relevância dos ativos intangíveis, o CPC 04 requer que as empresas apresentem informações acerca dessas transações, como por exemplo, o valor do gasto com pesquisa reconhecido como despesa no período. Lembrando que os ativos intangíveis também estão sujeitos ao teste de impairment. Também é importante ressaltar que o CPC 04 não aborda, por exemplo, o reconhecimento e mensuração do goodwill (ágio), assunto esse que é tratado no CPC 15 Combinação de Negócios que ainda será comentado nesse artigo. IAS 17 / CPC 06 Operações de arrendamento mercantil De acordo (ERNST YOUNG TERCO, 2011), as operações de arrendamento mercantil, denominadas de leasing, são classificadas para fins de IFRS em dois grandes grupos: leasing operacional e leasing financeiro. O fator determinante para essa classificação, conforme CPC 06 Operações de Arrendamento Mercantil IAS 17, é justamente a transferência dos riscos e benefícios inerentes à propriedade do bem. (ERNST YOUNG TERCO, 2011, p.65) Nos leasings financeiros, os riscos e benefícios são transferidos do arrendador para o arrendatário, enquanto que nos leasings operacionais, não. Não estou falando especificamente da transferência da propriedade do bem, mas sim dos riscos e benefícios inerente à propriedade. Esse conceito é muito importante, pois nos leasings financeiros, apesar do arrendador reter a propriedade legal do bem, os riscos e benefícios são de fato transferidos para o arrendatário. Nesse caso o arrendatário deve contabilizar no ativo, mesmo ainda não tendo a propriedade legal do bem. De forma geral, pode-se dizer que os leasings operacionais são os aluguéis, e os leasings financeiros são compras financiadas e devem ser contabilizadas como tal. O Pronunciamento Técnico CPC 06 do Comitê de Pronunciamentos Contábeis conceitua que: A classificação de um arrendamento mercantil como arrendamento mercantil financeiro ou operacional depende da essência da transação e não da forma do contrato. (CPC 06, 2010, p.07) Importante ressaltar que as empresas que possuem leasing financeiro devem divulgar a descrição desses contratos, banco, taxa pactuada, prazo, bens que foram objeto do leasing, abertura de vencimentos por ano, se possui cláusula de opção de compra, por qual taxa / período estará depreciando o bem, para que os usuários compreendam as operações, tanto na nota explicativa do ativo imobilizado como na nota explicativa do passivo na linha de empréstimos, finame ou outra modalidade. Na modalidade de leasing operacional também é devida a divulgação referente aos contratos, banco, taxa pactuada, prazo, descrição dos bens e como os bens não são contabilizados no ativo imobilizado, é ideal que seja divulgado o montante que foi contabilizado no resultado do exercício e qual será o desembolso dos anos seguintes. Tudo que foi citado acima é com relação ao leasing financeiro e operacional na arrendatária. Abaixo irei descrever o tratamento do leasing financeiro e operacional na arrendadora. As exigências de divulgação são similares, isso porque as arrendadoras são de fato a outra ponta da operação, isto é, aquelas que fornecem os bens para arrendatárias.

29 As arrendadoras que possuem contratos de leasing financeiro devem divulgar o valor presente a receber e os respectivos prazos, pois está figurando no ativo na linha de contas a receber em seu balanço patrimonial. Já as arrendadoras que possuem contratos de leasing operacional, basicamente estão alugando seus bens para a arrendatária. Nessa modalidade de leasing, a arrendadora mantém o ativo no seu balanço e reconhece receitas de aluguel ao longo do período. IAS 37/ CPC 25 Provisões, passivos contingentes e ativos contingentes De acordo (ERNST YOUNG TERCO, 2011), a norma internacional estabelece conceitos e os respectivos critérios de reconhecimento, mensuração e evidenciação de provisões, passivos contingentes e ativos contingentes. De acordo a norma internacional, só devem ser denominados de provisões os passivos de prazo ou valor incerto. Passivos decorrentes de apropriações por competência, não devem ser chamados de provisões, como por exemplo, férias, décimo terceiro salário e seus encargos. (ERNST YOUNG TERCO, 2011, p.29) Um passivo contingente deve ser reconhecido quando, e somente quando uma entidade tiver uma obrigação atual (legal ou implícita), como consequência de algum evento passado, for provável que um desembolso de recursos será exigido para liquidar a obrigação e puder ser feita uma estimativa confiável sobre o montante da obrigação. Os ativos contingentes não devem ser reconhecidos no balanço da empresa, porque se trata de um resultado que talvez nunca venha a ser realizado pela empresa. Se determinado evento ocorra e seja praticamente certa a entrada de benefícios econômicos futuros que possam ser mensurados de maneira confiável, o referido ativo contingente se tornará de fato um ativo que atende às exigências de reconhecimento, podendo ser reconhecido no balanço das empresas. O montante reconhecido como uma provisão deve ser a melhor estimativa dos desembolsos exigidos para liquidar a obrigação atual na data do balanço. As provisões devem ser revisadas a cada data de balanço e ajustada para refletir a melhor estimativa atual. As ações a serem julgadas, sejam Tributárias, Trabalhistas ou Cíveis são classificadas em Provisões Possíveis, Prováveis e Remotas. Possíveis: Não contabilizar. É exigido apenas divulgar em notas explicativas. Prováveis: Deve-se contabilizar a provisão, debitando o resultado e creditando o passivo não circulante. Remotas: Não contabilizar, nem divulgar em notas explicativas. Os consultores legais/ contadores devem julgar todas as ações judiciais e administrativas com a finalidade de montar uma provisão suficiente para cobrir perdas prováveis e razoavelmente estimáveis decorrentes de decisões desfavoráveis. Sobre as exigências de divulgação, o Pronunciamento Técnico CPC 25 do Comitê de Pronunciamentos Contábeis orienta: Os itens do pronunciamento CPC 25.84-92 tratam, em resumo da obrigação de divulgar: a movimentação dessa rubrica ocorrida no período; a descrição da natureza; cronograma e incertezas associados às obrigações e o valor de reembolsos esperados. Prevê também para os passivos contingentes a divulgação de um breve descritivo de sua natureza e quando praticável, as estimativas, incertezas e possibilidades de reembolso. (CPC 25, 2009, p.20 e 21) É normal a existência de uma forte presença de obrigações legais oriundas de conflitos fiscais e trabalhistas. Abaixo uma árvore de decisão que tem o propósito de resumir os principais requerimentos de reconhecimento do Pronunciamento para provisões e passivos contingentes. Início Obrigação presente como resultado de evento que gera obrigação Sim Saída provável? Sim Estimativa confiável? Sim Reconhecer Fonte: CPC 25 pg. 24 Não Não Não (raro) Obrigação possível? Sim Remota? Divulgar o passivo contingente Não Não Sim Não fazer nada

30 SUZANO ANO 5 Nº 4 ABR. 2013 IFRS 3 / CPC 15 Combinações de Negócios De acordo com o Pronunciamento Técnico CPC 15 do Comitê de Pronunciamentos Contábeis: O objetivo desse pronunciamento é aumentar a relevância, a confiabilidade e a comparabilidade das informações que a entidade fornece em suas demonstrações contábeis acerca de combinação de negócios e sobre seus efeitos. Para esse fim, esse pronunciamento estabelece princípios e exigências da forma como o adquirente reconhece e mensura em suas demonstrações contábeis, os ativos identificáveis adquiridos, os passivos assumidos e as participações societárias de não controladores na adquirida; estabelece também como reconhece e mensura o ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) da combinação de negócios ou o ganho proveniente de compra vantajosa e determina as informações que devem ser divulgadas para possibilitar que os usuários das demonstrações contábeis avaliem a natureza e os efeitos financeiros da combinação de negócios. (CPC 15, 2011, p.03) A (ERNST YOUNG TERCO, 2011) ressalta que: Para fins de normas internacionais, as fusões entre partes independentes também são consideradas combinações de negócios. A ideia subjacente a esse conceito é que, na maioria das transações de concentração de negócios, na essência, uma empresa compra a outra, isto é, poucos são os casos em que existe de fato uma fusão. Por outro lado, a incorporação de uma empresa que já se encontra sob o controle da respectiva adquirente não constitui uma combinação de negócios, pois não existe a obtenção de controle na operação. Nesse contexto, nota que, para fins das normas internacionais, o que vale efetivamente é a essência econômica da transação e não a forma jurídica. (ERNST YOUNG TERCO, 2011, p.161) Ainda temos aspectos contábeis considerados polêmicos acerca de combinação de negócios, como por exemplo, a não amortização do goodwill (ágio por expectativa de rentabilidade futura). Com a lei 11.638/07 não é mais permitida a amortização de ágio na contabilidade. A partir desse momento, o ágio passou a ser classificado no intangível e testado anualmente pelo impairment CPC 01. Lembrando que para fins fiscais, continua valendo as regras de 2007, onde o ágio é amortizado via Lalur. Conforme o CPC 15, todas as combinações de negócios devem ser contabilizadas pelo método de aquisição, ou seja, na data de aquisição, a adquirente deverá reconhecer um goodwill (ágio) decorrente da diferença entre o valor justo da contraprestação transferida em troca do controle (somado ao valor justo das participações dos não controladores e ao valor, caso haja, da participação preexistente na adquirida) e o valor dos ativos líquidos (ativos identificáveis menos os passivos assumidos). Pela complexidade das regras da combinação de negócios, o próprio CPC 15 prevê que o período de mensuração termina assim que o adquirente obtiver as informações que buscava sobre fatos e circunstâncias existentes na data de aquisição, ou quando ele concluir que mais informações não podem ser obtidas, contudo o período de mensuração não pode exceder a um ano da data de aquisição. Ou seja, é possível fazer as apurações na data de aquisição e contabilizar. Se dentro de um ano após a aquisição, aparecer nova informação acerca de fatos e circunstâncias e que se fossem conhecidas e contabilizadas na data de aquisição, mudaria o resultado da mensuração inicial, então, deve-se contabilizar essa diferença / fatos e divulgar nas demonstrações financeiras de forma retrospectiva, já que foi divulgado um valor provisório inicialmente e a regra permite isto, se dentro do limite de um ano após a data de aquisição. Com relação à divulgação o CPC 15.59 a 63 prevê a divulgação de informações de conteúdos que permitam aos usuários avaliarem os efeitos financeiros dos ajustes pertinentes às combinações de negócios. Os principais itens de divulgação são: compreender o valor do patrimônio liquido e seus ajustes, inclusive as diferenças entre a base fiscal e contábil; pela diferença. Caso o valor justo dos ativos líquidos seja maior que o valor justo da contraprestação transferida, a entidade deverá reconhecer um deságio, que nada mais é do que um ganho decorrente de uma compra vantajosa.

31 Considerações finais Em razão das novas exigências e requisitos de divulgação trazidos pela adoção das normas internacionais IFRS no Brasil, a quantidade de informações preparadas e divulgadas pelas empresas brasileiras aumentou de forma considerável. As notas explicativas cresceram em número e tamanho. Isso poderia ser visto como um custo seja pela necessidade de preparação e auditoria dessas informações, custos de publicação ou ainda custo de divulgação de uma informação estratégica. Entretanto, o aumento na quantidade e qualidade da informação contábil divulgada também se traduz nos benefícios de aumento da liquidez e redução do custo de capital, dado que esse esforço de divulgação reduz a assimetria existente entre a empresa e seus usuários externos. O padrão IFRS é muito mais complexo do que as normas antigas, o que exigiu mais julgamento por parte dos profissionais da área contábil, ou seja, passamos de uma contabilidade baseada em regras para uma contabilidade baseada em princípios, consequentemente os profissionais da área contábil, a partir de então, possuem grande responsabilidade na seleção e aplicação das premissas e estimativas contábeis. A proposta desse trabalho foi destacar as principais mudanças que impactaram nas demonstrações contábeis das empresas brasileiras de uma forma geral, não observando ramos de atividades específicos que possuem regras e CPC s específicos. Também teve objetivo de destacar a dificuldade que ainda existe para a total aderência dessas novas regras, principalmente em relação aos profissionais da área contábil que necessariamente precisarão passar por uma reciclagem de conceitos para obter condições de orientar e aplicar as novas regras, não se apegando mais somente em regras, mas sim na essência e julgamento das operações. Certamente a adoção do IFRS no Brasil trouxe uma valorização para o profissional contábil, que precisa ser visto como um comunicador de informações essenciais à tomada de decisão pela habilidade em avaliar fatos passados, perceber o presente e predizer eventos futuros, porém para seu benefício profissional e como cidadão, precisa manter-se atualizado não apenas com as novidades da profissão, mas também, de forma mais ampla, interessar-se pelos assuntos econômicos, sociais e políticos que tanto influenciam no cenário em que se desenrola a profissão. A interpretação de algumas normas IFRS / CPC s ainda não é consenso entre participantes do mercado, o que de certa forma levanta dúvidas sobre a consistência e a comparabilidade das demonstrações contábeis. De certa forma ainda é natural, pois estamos no processo de amadurecimento. Em suma, a adoção inicial do IFRS pelas companhias brasileiras no ano de 2010 foi um marco na contabilidade brasileira. Entretanto, é importante enfatizar que 2010 foi apenas o início de uma nova jornada, sendo que ainda existe um longo caminho a ser percorrido até que tenhamos total consistência e comparabilidade em todos os aspectos das demonstrações contábeis preparadas de acordo com o IFRS. Referências bibliográficas ERNST YOUNG TERCO. IFRS 1. ano análises sobre a adoção inicial do IFRS no Brasil. São Paulo: Departamento de Comunicação e Gestão da Marca, 2011. IUDICIBUS, Sérgio. Teoria da contabilidade. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1995. COSENZA, José Paulo; GALLIZO, José Luis; JIMENEZ, Fernando: A participação dos agentes econômicos no valor adicionado: estudo empírico na indústria siderúrgica brasileira no período 1996/2000. Belo Horizonte: Contab. Vista & Rev. 2002. DE LUCA, Márcia Martins Mendes; DA CUNHA, Jacqueline Veneroso Alves; RIBEIRO, Maisa de Souza; OLI- VEIRA, Marcelle Colares. Demonstração do valor adicionado: o cálculo da riqueza criada pela empresa ao valor do PIB. 2ª. ed. São Paulo: Atlas, 2009. FIPECAFI Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis Atuariais e Financeiras, FEA/USP. Manual de contabilidade societária aplicável a todas as sociedades de acordo com as normas internacionais e do CPC. São Paulo: Atlas, 2010. Informações sobre origem, criação e objetivo do Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/oque.htm>. Acesso em: 20 fev. 2012. Informações sobre o Comitê Gestor da Convergência. Disponível em: < http://www.cfc.org.br/conteudo. aspx?codmenu=315>. Acesso em: 20 fev. 2012. Técnico Contábil 26. Apresentação das Demonstrações Contábeis. Disponível em: < http:// www.cpc.org.br/mostraorientacao.php?id=44>. Acesso em: 20 fev. 2012. Técnico Contábil 03. Fluxo de Caixa. Disponível em: < http://www.cpc.org.br/mostraorientacao. php?id=17>. Acesso em: 20 fev. 2012. Técnico Contábil 09. Demonstração do Valor Adicionado. Disponível em: < h t t p : / / w w w. c p c. o r g. b r / m o s t r a O r i e n t a c a o. php?id=23>. Acesso em: 20 fev. 2012. Comitê de Pronunciamentos Contábeis Pronuncia-

32 SUZANO ANO 5 Nº 4 ABR. 2013 mento Técnico Contábil 22. Informações por Segmento. Disponível em: < http://www.cpc.org.br/mostraorientacao.php?id=36>. Acesso em: 20 fev. 2012. Técnico Contábil 16. Estoques. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/mostraorientacao. php?id=31>. Acesso em: 20 fev. 2012. Técnico Contábil 27. Ativo Imobilizado. Disponível em: < http://www.cpc.org.br/mostraorientacao. php?id=37>. Acesso em: 20 fev. 2012. Técnico Contábil 01. Redução ao Valor Recuperável de Ativos. Disponível em: < http://www.cpc.org. br/mostraorientacao.php?id=15>. Acesso em: 20 fev. 2012. Técnico Contábil 04. Ativos Intangíveis. Disponível em: < http://www.cpc.org.br/mostraorientacao. php?id=18>. Acesso em: 20 fev. 2012. Técnico Contábil 06. Operações de Arrendamento Mercantil. Disponível em: < http://www.cpc. org.br/mostraorientacao.php?id=20>. Acesso em: 20 fev. 2012. Técnico Contábil 25. Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes. Disponível em: < http:// www.cpc.org.br/mostraorientacao.php?id=43>. Acesso em: 20 fev. 2012. Técnico Contábil 15. Combinações de Negócios. Disponível em: < http://www.cpc.org.br/mostraorientacao.php?id=34>. Acesso em: 20 fev. 2012. Lei 11.638 de 28 de dezembro de 2007. Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/legislacao/ Leis/2007/lei11638.htm>. Acesso em: 20 fev. 2012. Lei 11.941 de 27 de maio de 2009. Disponível em: <http:// www.receita.fazenda.gov.br/legislacao/leis/2009/ lei11941.htm>. Acesso em: 20 fev. 2012. Informações sobre o autor Robson Rosano Boni Graduado em Ciências Contábeis pela Faculdade Unida de Suzano - UNISUZ,Pós Graduado em Controladoria e Finanças pela Mesma Faculdade. Atua na área Contábil como Controller no Grupo Produquímica Indústria e Comércio S/A, professor da Faculdade Unida de Suzano - UNISUZ para o curso de Ciências Contábeis na disciplina de Contabilidade Avançada.

33 Adequação linguística da terminologia contábil em uma oficina de custos para agricultores rurais: construindo uma cartilha para atividade de extensão Pedro Mariano Oliveira Mariano da Silva Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Sheilane Pereira de Sousa Curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Maranhão/ UFMA. Regysane Botelho C Alves Curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Maranhão/ UFMA. Resumo Este artigo é resultado de um projeto de extensão no qual alunos de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Maranhão ensinaram práticas de custeio a agricultores rurais de duas cooperativas de produtores de hortaliças agroecológicas da cidade de Imperatriz. O objetivo deste trabalho foi mostrar como as atividades do projeto possibilitaram aos alunos um aprimoramento de sua capacidade comunicativa por meio da adaptação dos termos contábeis ensinados. A metodologia se baseou na observação participativa do processo de organização de um pequeno manual e das oficinas. Também foram aplicados questionários a fim de coletar dados socioeconômicos dos participantes das oficinas. Verificou-se que as atividades desenvolvidas potencializaram o processo de letramento acadêmico desses alunos, uma vez que precisaram melhorar suas práticas comunicativas com vistas a garantir que a informação contábil fosse adequadamente entendida por receptores que apresentavam um repertório linguístico distinto do que é normalmente utilizado nos meios acadêmico e profissional. Palavras Chave: Ciências Contábeis. Linguagem. Custos. Introdução Levando-se em consideração que a capacidade de comunicar informações e conceitos contábeis de forma clara e eficiente é parte integrante do perfil desejado do profissional da Contabilidade. Essa capacidade linguística que poderia ser, em um primeiro momento, considerada algo fora do escopo das práticas contábeis se mostra fundamental uma vez que a Contabilidade tem por função primordial fornecer informações econômicas para diferentes tipos de usuários, de forma que propiciem decisões racionais (IUDÍCIBUS, 2009), ao garantir uma adequada comunicação das informações financeiras de um negócio e/ou entidade. Se o profissional contábil não conseguir, a partir de seu conhecimento específico e de sua capacidade comunicativa, informar de forma clara os seus receptores, a Contabilidade estará desvinculada das necessidades de seus usuários, tonando-se consequentemente estéril e sem qualquer serventia para as organizações (DIAS FILHO, 2000, p.40). É preciso, portanto, que a capacidade comunicativa do contador lhe permita cumprir a função de comunicar adequada- mente as informações financeiras necessárias à boa administração da empresa (DIAS FILHO, 2000, p.41). Para tal é importante dar atenção ao letramento dos futuros contadores lembrando que Letramento deve ser entendido aqui como o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita no contexto social, visando à inserção do sujeito nas práticas sociais que exigem tais habilidades (GUEDES; BARBOSA, 2011, p.1) para que sejam profissionais capazes de ler e escrever os mais diversos tipos de textos acadêmicos e profissionais que lhes serão exigidos, bem como ser capazes de escrever quaisquer gêneros que envolvam informações contábeis. No presente artigo buscar-se-á mostrar o desenvolvimento de um projeto de extensão intitulado Orçamento e controle de custos para micro empreendedores rurais de hortaliças agroecológicas: uma proposta metodológica de extensão rural, no qual os alunos buscaram ensinar conceitos básicos de Custos a agricultores rurais com vistas a que esses produtores possam controlar e organizar melhor os custos de sua produção, garantindo melhores resultados em sua atividade.

34 SUZANO ANO 5 Nº 4 ABR. 2013 A metodologia da pesquisa se baseou na observação participativa do processo de organização de um pequeno manual no qual foram apresentados os conceitos contábeis relacionados a custeio e das oficinas nas quais os alunos instruíram os agricultores sobre a prática do controle de custos de sua produção do projeto de extensão rural, que foi aprovado e está sendo financiado pela Universidade Federal do Maranhão, por meio de bolsas de extensão a alunos de Ciências Contábeis do Centro de Ciências Sociais, da Saúde e da Tecnologia CCSST, em Imperatriz. A questão que norteou a pesquisa de campo realizada juntamente com os bolsistas do projeto buscava descobrir quais adequações da linguagem contábil seriam necessárias a fim de que tanto o manual quanto as oficinas de custos pudessem ser entendidos por agricultores rurais de cooperativas produtoras de hortaliças agroecológicas em Imperatriz MA. Os produtores familiares pesquisados fazem parte de duas associações, que iniciaram seu funcionamento no ano de 2008, a Cooperativa Ouro Verde e a Cooperativa AMA (Associação Mão Amiga), ambas fornecedoras de hortaliças para o projeto de merenda escolar do CONAB, do governo federal. 1- A compreensibilidade da linguagem contábil A Contabilidade, considerada a linguagem dos negócios por vários autores (FONTANA, 2010, p. 5), exige de seus profissionais um bom domínio de sua linguagem e conceitos, de modo que possam gerar informações que sejam claramente compreendidas pelos usuários (receptores). Portanto, é importante levar em consideração os agentes envolvidos no processo: o emissor e o receptor; o contexto no qual ocorre a comunicação; e também o código de comunicação que é utilizado, pois, segundo Vanoye (2003), a comunicação somente ocorre se o emissor e o receptor compartilharem o mesmo repertório linguístico. Para Dias et.al. (2004, p. 45) se o usuário da mensagem não conseguir interpretá-la, não se pode dizer que tenha ocorrido uma comunicação, pois o ato comunicativo depende do conhecimento de um código capaz de unir o transmissor ao receptor, e sem ele a informação torna-se um ruído sem qualquer valor semântico. Pelo fato de a Contabilidade apresentar uma linguagem própria, recheada de jargões, que muitas vezes impedem a compreensão de seus conceitos, mesmo os básicos, por pessoas leigas em suas questões podem ocorrer ruídos na comunicação das informações contábeis se não forem tomados os devidos cuidados com o repertório linguísticos dos envolvidos na emissão e recepção das mensagens. Ainda para essa autora, a linguagem contábil gera ruídos porque usa terminologia contábil inadequada além de expressões e termos em outros idiomas que dificultam a comunicação; mas o autor também defende que a quantidade de informação fornecida, às vezes insuficiente, às vezes em excesso, associada à insuficiente capacidade do receptor em entender as informações contábeis são também ruídos que atingem a comunicação entre os contadores e os usuários de suas informações (DIAS et. al., 2004). Entretanto, não se espera que a Contabilidade abra mão de sua linguagem, uma vez que ela é instrumento necessário para atender as particularidades da ciência contábil (FONTANA, 2010, p. 5), o que precisa acontecer é a preocupação com a elaboração da mensagem que utiliza o código da linguagem contábil para que ela seja compreendida por seu receptor. Nesse processo de elaboração há de se considerar que o Contador deverá, muitas vezes, adaptar a linguagem que utiliza ao receptor e ao contexto da comunicação. E essa adaptação somente ocorrerá sem ocasionar perdas se o profissional da área contábil compreender de forma satisfatória os signos/termos empregados na área contábil como um dos requisitos necessários para o exercício profissional da função econômica/financeira (PANHOCA, 2003, p. 1). Moreira e Vasconcelos (2007, p. 7) chamam a atenção para o fato de que a dificuldade de entendimento das informações contábeis pelos usuários normalmente é confundida com a impraticabilidade das informações contábeis, razão pela qual elas acabam por ser menosprezadas por sujeitos leigos em conhecimento contábil, cabendo ao profissional contador se esmerar no sentido de poder obter uma evidenciação contábil adequada a cada usuário, e ainda capacitá-lo para poder interpretá-la (MOREIRA; VASCONCELOS, 2007, p. 7). Assim, a linguagem técnico-profissional utilizada não deve ser apenas um modo de impressionar o público leigo. Esse uso da linguagem profissional não deve ser feito, uma vez que seu único propósito seria o de demarcar um campo de isolamento entre os profissionais da área e os demais seres humanos. Assim, se desconsiderar a dupla responsabilidade de receptores e emissores das informações contábeis, é indiscutível a grande responsabilidade que o Contabilista tem ao elaborar a mensagem que veiculará a informação contábil pretendida, especialmente no que diz respeito ao correto uso da linguagem (incluindo a necessária adaptação terminológica) e a adequada organização das informações apresentadas; assim, como a responsabilidade de instrumentalizar o seu receptor a compreender as informações contábeis quando isso for imperioso para a correta utilização dos dados contábeis pelos seus usuários. Essa preocupação com a compreensibilidade das informações contábeis não é uma preocupação isola-

35 da, e ocorre também como um reflexo dos processos de globalização e de desenvolvimento das tecnologias de informação; além de uma maior valoração de práticas que envolvam as responsabilidades social e ambiental, que ampliam significativamente o leque dos usuários tradicionais da contabilidade, causando uma consequente necessidade de adaptação, especialmente comunicativa, tanto do profissional da contabilidade quanto das informações por ele apresentadas. 2. A capacidade de comunicação por meio da linguagem contábil Apoiado na crença de que contadores não precisam apresentar capacidade linguística desenvolvida e apurada, os acadêmicos de Contabilidade, em sua maioria, não se preocupam com a qualidade dos textos orais ou escritos que produzem durante sua formação. Muitos sofrem quando solicitados a elaborarem um resumo, uma resenha ou um relatório. Assim, podemos dizer que esses alunos, como a maioria daqueles que chegam ao nível superior sem a correta preparação para se comunicarem nos moldes dos discursos academicamente produzidos, seriam analfabetos funcionais, uma vez que não conseguem utilizar adequadamente do seu código linguístico no caso o português brasileiro para se comunicarem dentro da esfera acadêmica e, consequentemente, da sua esfera profissional. Considerando que o letramento está relacionado ao conjunto de linguagens sociais que identificam práticas sociais, com expressões orais e escritas, e relacionadas a instituições e aos gêneros do discurso que aí se produzem (GUEDES; BARBOSA, 2009, p. 5), como no caso da Universidade e seus padrões de linguagem para textos científicos e profissionais, há a necessidade de observar o comportamento dos alunos e auxiliálos para que se preparem para que possam comunicar suas ideias de forma adequada ao seu cotidiano acadêmico e profissional. Segundo Guedes e Barbosa (2009, p. 6), Durante sua formação de ensino superior, espera-se que os estudantes universitários adquiram a capacidade de discutir e aplicar conhecimentos teóricos adquiridos ao longo do curso e expor suas ideias sobre determinado tema, de forma convincente. Para tal, o aluno universitário deve utilizar-se do discurso acadêmico e dos gêneros aceitos para uso dentro deste discurso (artigo acadêmico, a resenha, o relatório). Entretanto, muitos alunos demonstram dificuldade na produção de trabalhos escritos, tanto no que se refere à forma do texto quanto à construção de uma linha argumentativa e/ou expositiva que possibilite a exposição e discussão clara de teorias, fatos, idéias e posições pessoais. No caso específico da Contabilidade, não há dúvidas de que a educação para os futuros contadores deveria produzir profissionais que tivessem amplo conjunto de habilidades e conhecimentos que seriam divididas em três categorias: habilidade em comunicação, habilidade intelectual e habilidade no relacionamento com as pessoas (MARION, 2001, p. 14). Esse leque de habilidades é necessário, porque, uma vez que o contador deve saber comunicar-se com outras áreas da empresa e com os usuários de todo tipo de organização, ele não pode ficar com os conhecimentos restritos aos temas contábeis e fiscais (NASI, 1994, p.05). Nesse sentido, é fundamental ao contador apresenta-se como um tradutor das informações contábeis da organização e não simplesmente como um apurador de dados, pois tão importante quanto elaborar as informações contábeis é fazer com que os gestores entendam essas informações, ou seja, é preciso adequá-las ao processo de tomada de decisão da organização (Fahl; Manhani, 2006, p.30). Desse modo, o aluno de graduação não precisa apenas apropriar-se do discurso acadêmico, que lhe permitam uma produção efetiva de gêneros textuais da academia. Ele precisa, sobretudo, utilizar a linguagem como ferramenta de interação social fundamental para seu exercício profissional. Incluindo a capacidade de adequar-se aos mais variados públicos, abrindo mão de sua linguagem profissional e mesma acadêmica a fim de garantir seu sucesso comunicativo. Saber, portanto, alinhar seus conhecimentos profissionais à linguagem que utiliza, bem como fazer uso dos diversos gêneros do discurso que lhe forem necessários garante ao futuro profissional um melhor espaço de interação social e, consequentemente mais e melhores oportunidades de sucesso profissional. 3. Do manual às oficinas de custos Para realizar a proposta de por em prática uma série de quatro oficinas de custo com micro agricultores rurais de associações de produção de hortaliças agroecológicas de Imperatriz, no Maranhão, foi necessário organizar um material de apoio para essas oficinas que pudesse ser eficaz em seu propósito de ensinar conceitos de custos contábeis aos agricultores. Inicialmente, foi feito um breve estudo das características linguísticas do público-alvo, o que foi auxiliado pelo questionário socioeconômico aplicado na primeira visita que foi feita aos agricultores, bem como a observação dos termos por eles empregados, especialmente para se referirem a sua prática produtiva, durantes algumas entrevistas realizadas também