ANÁLISE DE REDES SOCIAIS: INVESTIGAÇÃO DAS RELAÇÕES PESSOAIS E DA RELAÇÃO COM O SABER NA ESCOLA PÚBLICA *

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Transcrição:

ANÁLISE DE REDES SOCIAIS: INVESTIGAÇÃO DAS RELAÇÕES PESSOAIS E DA RELAÇÃO COM O SABER NA ESCOLA PÚBLICA * Wilmara Martins da Costa Moisés Alberto Calle Aguirre RESUMO Este trabalho propõe-se a estudar o contexto educacional sob a perspectiva de investigação da Análise de Redes Sociais, no sentido de analisar a estrutura e a dinâmica dessas redes em termos de transição de informação e seus efeitos no processo de aprendizagem. Objetivo geral deste estudo é investigar os efeitos redes pessoais na formação de capital social, bem como, sua influência na aprendizagem no âmbito escolar. Nesse sentido, o estudo trás reflexões sobre o contexto social, as estruturas das redes em que estão inseridos e os efeitos destas no comportamento individual dos alunos no ambiente escolar, pois se mostram como aspectos importantes para compreender as trocas de informação. Diante disso, será analisado como se estruturam as redes de interações de alunos, a fim de identificar os fatores que possibilitam ou bloqueiam o processo de aprendizagem dos conteúdos escolares mediante o capital social adquirido. Partindo-se da hipótese de que, a desigualdade, em termos da distribuição de capital social, tende a ser um dos fatores explicativos para compreender essas dificuldades. Como método de investigação das relações estabelecidas nessa população, propõe-se o uso da Análise de Redes Sociais (ARS), em que se destina a observar, especialmente, o aspecto estrutural das redes, utilizando um referencial metodológico gráfico e de cunho quantitativo para essa análise. Será considerada também uma abordagem qualitativa, ao explorar a funcionalidade das redes sociais, visando descrever as utilidades destas e caracterizar os vínculos. Para o levantamento da rede pessoal, nessa fase inicial, foi solicitado a cada pessoa que indicasse outras pessoas para compor a sua rede pessoal, o questionário utilizado nessa fase foi classificado como gerador de nomes, tal instrumento foi utilizado com o propósito de qualificar a relação de uns, quanto ao tipo e ao grau de relacionamento com os outros. Além de responder um bloco de questões sociodemográficas que servirão para traçar perfis para o conjunto de alunos alvo da pesquisa. Portanto, espera-se com essa discussão, perceber como a análise de redes sociais pode se tornar uma ferramenta teórica e metodológica significante para compreender a influência da rede pessoal de estudantes de uma escola pública sobre sua aprendizagem. Palavras-chave: Análise de Redes Sociais; Capital social; Aprendizagem; Redes de alunos da educação básica; Escola pública. * Trabalho apresentado no XIX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em São Pedro/SP Brasil, de 24 a 28 de novembro de 2014. Graduada em História pela Universidade de Federal do Rio Grande do Norte. Mestranda do Programa de Pós- Graduação em Demografia da UFRN. Docente do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais da UFRN e do Programa de Pós-Graduação em Demografia - PPGDEM na mesma instituição.

Introdução Este trabalho estuda as redes sociais de estudantes da segunda série do ensino médio na Escola Estadual Professora Judith Bezerra de Melo, situada na cidade do Natal, no sentido de analisar a estrutura e a dinâmica dessas redes de alunos em termos de transição de informação e seus efeitos no processo de aprendizagem. Esse estudo é oriundo de uma pesquisa que está em desenvolvimento no âmbito do projeto O habitus de estudar: construtor de uma nova realidade na educação básica da Região Metropolitana de Natal, com apoio do Observatório da educação (MEC/Capes). Objetivo geral deste estudo é investigar os efeitos redes pessoais na formação de capital social, bem como, sua influência na aprendizagem no âmbito escolar. Nesse sentido, o estudo trás reflexões sobre o contexto social, as estruturas das redes em que estão inseridos e os efeitos destas no comportamento individual dos alunos no ambiente escolar como aspectos importantes para compreender as trocas de informação. Ou seja, caracterizar e entender o papel das relações na construção de capital social aos alunos, e como estas podem influenciar em seu processo de aprendizagem, discutindo também o efeito da família e da escola nesse contexto. Diante disso, analisar como se estruturam as redes de interações de alunos da educação básica no âmbito da escola pública, a fim de identificar os fatores que possibilitam ou bloqueiam o processo de aprendizagem destes dos conteúdos escolares mediante o capital social adquirido, se põe como ponto a ser problematizado. Parte-se da hipótese de que, a desigualdade, em termos da distribuição de capital social, tende a ser um dos fatores explicativos para compreender as dificuldades referentes ao processo de aprendizagem no ambiente da escola. Sendo assim, procura-se investigar o papel das ligações relacionais na construção deste tipo de capital aos alunos. Pois, o capital social está presente nas relações e interações com o outro, mediante as trocas, depende do contexto e da estrutura em que os indivíduos estão envolvidos, ou seja, um recurso pertinente à estrutura das relações entre dois ou diversos atores (COLEMAN, 1988). Para Falk e Kilpatrick (2000) qualquer noção de aprendizagem pressupõe interações entre os próprios atores sociais, funcionando como o possível mecanismo para a construção do capital social. Para identificar as características da rede social dos indivíduos em estudo, está em desenvolvimento uma pesquisa com alunos de uma turma da 2ª série do ensino médio na

Escola Estadual Professora Judith Bezerra de Melo que fica localizada no bairro de Nossa Senhora de Nazaré, zona oeste da cidade do Natal. Na busca dos rastros de interações entre os alunos do grupo a ser analisado, a coleta dos dados deu-se através de perguntas aos participantes da rede. A utilização da Análise de Redes Sociais como uma ferramenta que auxilie na investigação das relações pessoais dos alunos e da relação com o saber na escola pública torna-se motivação para esse estudo. Pois, de acordo com Recuero (2009), a abordagem de redes fornece ferramentas únicas para o estudo dos aspectos sociais como, no sentido de compreender, por exemplo, a criação de capital social, a dinâmica das estruturas sociais, as diferenciações entre os grupos e seu impacto nos indivíduos. Dessa forma, uma rede social pode ser entendida como um conjunto de dois elementos ou mais, constituída pelos atores, nós, nodos ou vértices (que são algumas denominações que designam pessoas, instituições, e outros) e suas conexões (interações ou laços sociais). No estudo das redes o foco sempre estará nas relações entre os nós, na troca de informações entre os indivíduos que circulam na rede mediante as conexões feitas ao longo da vida (WASSERMAN e FAUST, 1994). Diante disso, o estudo busca compreender as diferentes características identificadas nas redes pessoais dos alunos pesquisados, bem como essas redes de relações sociais em que os alunos estão inseridos podem influencia-los. A fim de entender o padrão relacional dos alunos que têm ou não êxito na aprendizagem no meio escolar, é necessário, primeiramente, refletir sobre os aspectos teóricos e metodológicos envolvidos na abordagem de Análise de Redes Sociais (FREEMAN, 1996; WASSERMAN e FAUST, 1994; DEGENNE e FORSÉ, 1999; HANNEMAN, 2005; ALVAREZ, 2012). Como também, discutir as várias perspectivas de capital social que existem na literatura e que são utilizadas para a fundamentação teórica desse estudo. Tais análises que envolvem capital social, a luz de diferentes enfoques, possuem como ponto de concordância o fato de referirem-se a este capital como um valor construído por meio das conexões entre os atores sociais, presentes nas abordagens de Bourdieu (1986,1999), Coleman (1988) e Putnam (1995). Segundo Recuero (2009), as trocas que ocorrem nas redes sociais geram o capital social, sendo esse construído e negociado entre os atores, permitindo o aprofundamento dos laços e a sedimentação dos grupos. Pretendendo assim, apresentar tais perspectivas, de modo

a discutir o capital social como a variável explanatória principal para se pensar no problema de pesquisa. Para entender o papel da família na construção do capital social e seus efeitos no desenvolvimento cognitivo e desempenho escolar, Bonamino et al. (2010) nos aponta que tal questão é abordada em dois segmentos, tanto no que diz respeito concepção do capital social no interior das redes familiares, quanto no segmento que enfatiza o papel familiar na construção de capital social em redes externas ao ambiente da família e no interior de diferentes contextos (BOURDIEU 1986,1999; COLEMAN 1988). Os grupos familiares, de amigos, colegas do trabalho, entre outros, frequentemente, se caracterizam por altas e constantes trocas de informações entre todos os nós, o que proporciona a circulação de novidades e oportunidades (ALVAREZ, 2012). Ou seja, em grupos mais coesos, mais densos, em relações mais próximas, como os amigos e a família, as trocas seriam mais intensas. Como método de investigação das relações estabelecidas entre os indivíduos estudados, propõe-se o uso da Análise de Redes Sociais (ARS). Em que se destina a examinar, particularmente, a perspectiva estrutural das redes, utilizando um referencial metodológico gráfico e de cunho quantitativo para essa análise. Será considerada também uma abordagem qualitativa, ao explorar a funcionalidade das redes sociais, visando descrever as utilidades destas e caracterizar os vínculos, em que no contexto sobre redes sociais, tais abordagens são apontadas por Meneses e Sarriera (2005) como grandes eixos de estudo nessa área. Na realização da investigação, foi aplicado um questionário que está dividido em duas partes. A primeira é composta de um bloco sociodemográfico e a segunda parte foi constituída do bloco relacional, em que foi destinada ao levantamento da rede pessoal dos alunos em uma turma de ensino médio de uma escola pública. Estes dados coletados na segunda parte do questionário foram dispostos, posteriormente, em uma matriz de relacionamento. E para extrair diversas medidas e propriedades sobre as redes coletadas será utilizado o software UCINET, indicado para o estudo de Análise de Redes Sociais (BORGATTI, EVERETT e FREEMAN, 2002). 1 Análise de redes sociais: definição e aspectos conceituais

As pesquisas sobre redes sociais são multidisciplinares, foco de interesse dos estudiosos nos mais diversos campos do conhecimento. Ao nos debruçarmos sobre o estudo de redes observamos diversas pesquisas e discussões na informática, na matemática, na física, na antropologia, na sociologia, na psicologia, na medicina, na educação, na história, e assim por diante. O interesse de compreender o impacto das redes sobre a vida social fez com que cada um desses campos originasse diferentes técnicas de análise, tendo como ponto convergente, as relações entre os indivíduos numa estrutura de rede (Marteleto e Silva, 2004). Ator, vértice, nós ou nodos foram algumas das nomenclaturas encontradas na literatura para denominar um dos elementos essenciais a uma rede social, trata-se dos indivíduos (pessoas, conjunto de pessoas, empresas, etc) envolvidas na estrutura que se quer analisar. Para configurar a existência de uma rede é necessária uma relação efetiva entre dois ou mais atores moldando as estruturas sociais, através da interação e da constituição de laços sociais (GRANOVETTER, 1973; WASSERMAN e FAUST, 1994; FREEMAN, 1996; DEGENNE e FORSÉ, 1999; HANNEMAN, 2005; ALVAREZ, 2012). O ator seria uma unidade moldável de acordo com a proposta de análise, permite várias formas de adequação a diferentes problemas, ou seja, a abordagem é condicionada pelo pesquisador. Para Castells (2010) o nó se caracteriza pelo tipo de rede em que se encontra. No estudo das redes o foco sempre estará nas relações entre os nós, na troca de informações entre os indivíduos que circulam na rede mediante as conexões feitas ao longo da vida. Para Degenne e Forsé (1999) a análise de redes pode ser considerada como uma metodologia que se aplica ao estudo das relações entre entidades e objetos de qualquer natureza. Desta forma, abordagem de rede tem, assim, seu foco na estrutura social, onde não é possível isolar os atores sociais e nem suas conexões (RECUERO, 2009). Ou seja, o enfoque da análise é deslocado dos atributos individuais para as relações que esses indivíduos estabelecem com os outros em determinado contexto social (HANNEMAN, 2005). A análise de redes sociais ao contrário de outros tipos de abordagens possui o diferencial ao considerar as próprias relações como componentes da estrutura a ser estudada, permitindo que o pesquisador investigue as interações. De acordo com Marteleto (2001) a análise de redes se constitui como uma ferramenta para entender como as ações, os comportamentos ou opiniões dos indivíduos está sujeito às estruturas sociais nas quais estão inseridos. O enfoque estaria no conjunto de relações que os

indivíduos estabelecem por meio das conexões com os outros e não nos atributos individuais. Mas, visualizar a rede através dos atributos dos nós, também pode oferecer informações muito significantes, auxiliando na compreensão desta (ALVAREZ, 2012). Uma rede social pode ser entendida como um conjunto de dois elementos, constituída pelos atores (pessoas, instituições, e outros) e suas conexões (interações ou laços sociais). A unidade de análise de redes não está presente no indivíduo, mas no grupo de indivíduos e nas ligações entre eles. Estas relações podem ser de ordem afetiva, parentesco, afiliação ou outros tipos de vínculos. Algumas observações são elencadas pelos autores como importantes ao tratar dos aspectos teóricos de redes, ao deixar claro que: os atores e suas ações são considerados como interdependentes, os laços relacionais (vínculos) entre atores funcionam como canais para a transmissão de recursos materiais ou imateriais, e que o ambiente estrutural da rede podem trazer oportunidades ou restrições à ação individual (WASSERMAN e FAUST, 1994). Para estudar as redes, no caso desse trabalho, aplicado ao contexto escolar. É necessário também entender seus elementos, características e os processos dinâmicos que dão embasamento para que a rede seja percebida e as informações a respeito dela sejam compreendidas. Identificando os atores, as conexões e os atributos que emergem das suas relações. Devido à abordagem a Análise de Redes Sociais dispor de aspectos que permitam a identificação e observação das características estruturais da rede e análise dos padrões nos processos de interação social, propõe-se a adoção dessa abordagem teórica e metodológica para o estudo redes individuais dos alunos no âmbito da escola pública, e assim, poder perceber como o capital social inserido nessas redes interfere no desenvolvimento da aprendizagem. 2 Redes e o Capital social A rede configura-se como um ambiente de comunicação e trocas, a informação circula alcançando os atores tanto de maneira direta como indireta. Na literatura existem diversas perspectivas e análises que envolvem a noção de capital social, a luz de diferentes enfoques. Apesar de o conceito ser variado, os autores que o abordam possuem como ponto de

concordância o fato de referirem-se a este capital como um valor construído por meio das conexões entre os atores sociais, ou seja, depende da interação entre, pelo menos, dois indivíduos. Ficando assim, visível a estrutura de redes por trás do conceito de capital social, que passa a ser definido como um recurso da coletividade construído pelas suas redes de relações. O primeiro conceito a ser apresentado está na abordagem de Bourdieu (1986, p.51), que o considera como um agregado de recursos potenciais que estão ligados à posse de uma rede resistente de relações institucionalizadas de mútuo de conhecimento e de reconhecimento. Em outras palavras, de acordo com a perspectiva Bourdieu (1986), os indivíduos podem se beneficiar por meio de suas relações das trocas materiais e simbólicas, cuja apropriação e perpetuação dos recursos que circulam na rede supõem o reconhecimento de uma proximidade pelos agentes. Deixa claro ainda que, o volume de capital social possuído pelo indivíduo irá depender da dimensão da rede de conexões que pode realmente mobilizar, como também, do volume de capital (económico, cultural e simbólico) possuído, por cada uma das pessoas com quem está conectado. Coleman (1988) define o capital social por sua função, como um valor mais geral, capaz de adquirir várias formas, ao consistir em um aspecto das estruturas sociais que facilitam certas ações dos atores, sejam eles, corporações ou pessoas. O autor argumenta que o capital social não é um atributo dos indivíduos, mas um aspecto dependente do contexto e da estrutura social, intrínseco à estrutura das relações entre os atores. Isso quer dizer que, o capital social não está alojado nos próprios atores, realiza-se nas relações entre as pessoas e por meio de trocas que facilitam a ação de indivíduos ou grupos. O capital social é entendido nessa perspectiva como um valor, enquanto recurso disponível nas redes de relações, nas quais os atores fazem uso para atingir seus objetivos. Putnam (1995, p.35) define o capital social como as características das organizações sociais, tais como redes, normas, e confiança, que facilitam a coordenação e cooperação com vista a benefícios mútuos. Para o autor, o conceito de capital social é diretamente atrelado à ideia de moralidade, de engajamento cívico e fortalecido através de relações recíprocas. Tratando o capital social como um recurso coletivo baseado nas normas e redes de intercâmbio entre os indivíduos.

Mesmo diante das diferenças entre os conceitos de capital social encontrados na literatura, os autores possuem como ponto de concordância o fato de referirem-se a este capital como um valor construído por meio das conexões entre os atores sociais. Também, percebe-se a adesão, por parte dos distintos autores, o emprego da noção de capital social em torno da habilidade dos atores para acumular benefícios por meio da participação em redes sociais. Dessa forma, o trabalho procura levantar e analisar as relações existentes entre o capital social, as redes de relações interpessoais e a aprendizagem de alunos no âmbito da escola da rede pública, para entender que aspectos favorecem ou não a aprendizagem destes alunos dos conteúdos escolares. Nesse sentido, a adoção do capital social nessa pesquisa justifica-se pela dimensão relacional que esse conceito trás, evidenciando que os recursos materiais e imateriais podem ser acessados mediante os vínculos sociais (CARPIM, 2005). Nesse aspecto, a abordagem de Vygotsky (2007) torna-se interessante, pelo fato de considerar que a construção do conhecimento ocorre a partir de um intenso processo de interação entre as pessoas, no qual aponta a mediação e a internalização como aspectos fundamentais para o processo de aprendizagem. As interações sociais, os vínculos estabelecidos no contato como o outro se constituem como fonte de acesso a informação e na construção de novos conhecimentos. Sendo assim, o aspecto relacional torna-se fundamental para se pensar nos três eixos principais desse estudo, que são as redes sociais, o capital social e a aprendizagem. Metodologia O conceito apresentado de redes sociais é extremamente importante para entender esse estudo, no sentido de perceber a estrutura social existente no universo escolar, por meio das relações e não apenas dos atributos individuais. Como a ideia central de redes é o conjunto de atores (ou nós) entre os quais existem vínculos (ou relações). De forma geral, para se entender bem a rede, devem-se conhecer as relações entre os atores da população estudada. O estudo está sendo realizado na Escola Estadual Professor Judith Bezerra de Melo, localizada no bairro de Nossa Senhora de Nazaré, zona oeste da cidade do Natal. A pesquisa teve início no período de março de 2014, cujas experiências na escola ocorreram em aulas de

Língua Portuguesa no ensino médio, na qual, foi realizada a aplicação de um questionário a um grupo composto por 21 estudantes de uma turma da 2ª série. A intervenção deu-se mediante uma parceria com a escola pública no intuito de possibilitar a ampliação, articulação e o desenvolvimento da pesquisa sobre as redes sociais que está sendo desenvolvida no âmbito do projeto O habitus de estudar: construtor de uma nova realidade na educação básica da Região Metropolitana de Natal. Para analisar o ambiente que seria foco da pesquisa, algumas etapas foram realizadas. Primeiramente, teve um período de observação dos estudantes, do ambiente em que se encontram e aplicado um questionário de sondagem. Depois, mediante um projeto criado em parceria com a professora da escola intitulado Letramento Literário no Ensino Médio: construindo o habitus através da literatura teve-se a oportunidade de participar ativamente do cotidiano dos alunos nas aulas de Português e Literatura. Durante esse processo deu-se a aplicação do questionário aos alunos para captar variáveis sociodemográficas e relacionais. A coleta de dados ocorreu por meio de resposta individual a um questionário, que foi dividido em duas partes, a primeira composta de um bloco sociodemográfico e a segunda parte, foi constituída de um bloco relacional, no intuito de investigar as relações pessoais dos alunos. Sendo assim, deve-se ressaltar que, o questionário foi realizado on-line, aplicado por dois pesquisadores, tal proposição ocorreu devido à necessidade de testar esse formato, de viabilizar a questão do tempo de aplicação, a praticidade em tabular os dados e a presença de um pesquisador na aplicação mostrou-se bastante importante diante das dúvidas surgidas. A primeira etapa, composta de um bloco sociodemográfico auxiliou na captação e reflexão sobre algumas variáveis como: sexo, idade, religião, frequência escolar, renda, ocupação profissional, participação nas atividades escolares, diálogo familiar, impressões sobre a escola, grau de escolaridade, hábito de leitura, entre outros atributos foram captados mediante esse instrumento. A segunda parte foi constituída do bloco relacional, em que foi destinada ao levantamento da rede pessoal dos alunos em uma turma de ensino médio de uma escola pública. Foi solicitado a cada pessoa que indicasse outras quarenta e cinco pessoas para compor a sua rede pessoal, o questionário utilizado nessa fase foi classificado como gerador de nomes, tal instrumento será utilizado com o propósito de qualificar a relação de uns, quanto ao tipo de relação e ao grau de proximidade com os outros.

Estes dados coletados na segunda parte do questionário foram dispostos, posteriormente, em uma matriz de análise, sendo organizados e sistematizados através do Microsoft Excel. Posteriormente, utilizado o software NetDraw para a análise visual das redes coletadas. E para extrair diversas medidas e propriedades destas redes pretende-se utilizar o software UCINET, indicado para o estudo de Análise de Redes Sociais (BORGATTI, EVERETT e FREEMAN, 2002; RANNEMAN, 2005). Resultados e discussões A investigação das redes pessoais foi realizada até o momento com um grupo de 21 alunos em uma turma da 2ª série de ensino médio, no contexto da escola pública, na cidade do Natal/ RN. Inicialmente, por meio de um questionário de sondagem foram coletadas informações que caracterizassem alguns aspectos desse grupo. Dos alunos que compõe a sala de aula alvo da análise, 50% são do sexo feminino e masculino, com idade média de 17 e 16 anos, respectivamente. Em sua maioria, 87,5% dos alunos residem em bairros da zona oeste da cidade, com 37,50% em Nossa Senhora do Nazaré (onde está localizada a escola), 31,25% em Felipe Camarão e 18,75% na Cidade da Esperança. Em relação ao número de pessoas que moram com o aluno, 75% alunos responderam que moram com três ou mais pessoas, na qual 81% declararam a presença do pai e da mãe ou somente a da mãe em seu local de residência. Ou seja, 37% dos alunos responderam que moram com pai e mãe, 44% moram somente com a mãe, 13% com o pai e 6% moram com outra pessoa. No que diz respeito ao nível de escolaridade dos pais, 50% dos alunos responderam que o pai possui ensino fundamental incompleto, 6,25% declararam que o pai não estudou e 43,75% não sabem qual é a escolaridade dele. Sobre a mãe, constata-se uma maior escolaridade ao realizar comparações com ao pai, pois 25% dos alunos responderam que esta possui ensino fundamental incompleto, declararam também que a mãe possui ensino fundamental completo (12,5%), ensino médio incompleto (6,25%), ensino médio completo (25%) e ensino superior completo (12,25%). Ao serem questionados sobre o interesse em ingressar no ensino superior e o fato da família incentivar os estudos, 87% dos alunos manifestaram interesse em ingressar no ensino superior, contra 13% que não deseja (pelo menos, não desejam ingressar no ensino superior logo após o término dos estudos no ensino médio). Esse desejo em ingressar no ensino

superior pode ter alguma ligação com o fato da família estimular o interesse em seus estudos, pois 94% dos alunos responderam que a família incentivam seus estudos contra 6% que não incentivam. Questionados sobre as formas de aprendizagem, especificamente, nas aulas de Língua Portuguesa, pode-se perceber que 75% dos alunos apontaram que aprendem mais quando, o professor explica, ler, escreve e faz exercício no caderno. Diante das categorias apontadas, o professor explica foi apontado por 100% dos alunos como quesito fundamental em seus processos de aprendizagem. Após a caracterização da turma de estudo foi realizado uma análise de cluster para identificar os alunos que possuíam características semelhantes. Para essa análise obteve-se três grupos usando a distância Euclidiana e método Ward. Como pode ser visualizado na Figura 1, os grupos 1, 2 e 3 são compostos respectivamente, 7, 6 e 8 alunos. Figura 1: Dendograma para análise de agrupamento dos alunos em relação às características

densidade e centralidade de intermediação. A seguir, na Figura 2 e 3, foram relacionados às variáveis (densidade e centralidade de intermediação) em função dos grupos e dos níveis de aprendizagem atribuídos de acordo com a percepção de dois professores da turma. A fim de observar os comportamentos dessas variáveis em função dos grupos e do nível de aprendizagem, pois parte-se da hipótese da existência do capital social, tende a ser um dos fatores explicativos para compreender as dificuldades referentes ao processo de aprendizagem do aluno no ambiente da escola. Figura 2: Gráfico de dispersão da centralidade de intermediação versus a densidade, segundo o nível de aprendizagem e grupos na percepção do professor 1.

Figura 3: Gráfico de dispersão da centralidade de intermediação versus a densidade, segundo o nível de aprendizagem e grupos na percepção do professor 2. Nas Figuras 2 e 3, pode-se observar que duas medidas das redes/variáveis (densidade e centralidade de intermediação) foram escolhidas numa tentativa de perceber a utilidades destas para medir o capital social. E dessa forma, testar a hipótese do trabalho que envolve a

relação entre capital social e aprendizagem. Diante disso, a Análise de Redes Sociais possibilita essa quantificação, tornando o capital social um elemento objetivo. Então, na Figura 2 e 3 estão distribuídos três grupos de acordo com o nível de aprendizagem atribuídos pelos professores 1 e 2, respectivamente. É perceptível nas duas figuras comportamentos semelhante, pois os alunos que compõem o Grupo 01 cujas redes tiveram altas densidades apresentaram níveis de aprendizagem alto e intermediário. Ou seja, significa que a maioria das pessoas das redes dos alunos desses grupos se conhece, possuem contatos umas com as outras (redes coesas). Os vínculos presentes funcionariam como canais pelos quais os alunos teriam acesso ao capital social, na aquisição desses recursos sociais (informação, influência, apoio, etc.). E em redes mais densas os indivíduos são mais acessíveis, o que sugere que as informações circulam com mais rapidez entre os nós. Ainda observando as Figuras 2 e 3, percebe-se que os alunos que compõem o Grupo 2 cujas redes possuem uma alta centralidade de intermediação apresentaram níveis de aprendizagem alto e intermediário. Ou seja, consiste que além do aluno, outros indivíduos nas suas redes desenvolvem o papel de ponte, ao interligar os indivíduos na rede, estando intensivamente envolvidos em relacionamentos com outros atores, seja como transmissor ou como receptor. Em resumo, tanto no Grupo 1, em que as redes são mais densas quanto no Grupo 3, em que as redes apresentaram alta intermediação, os alunos possuem níveis de aprendizagem intermediário e alto. Ou seja, nas redes de um grupo (Grupo 1), os alunos se beneficiam pelo fato de que a maioria das pessoas da sua rede estão conectadas entre si, possibilitando uma maior circulação de recursos através dessa maior conectividade entre os nós. Já nas redes de outro grupo (Grupo 3), estas redes não são densas, mas possuem uma alta intermediação, ou seja, possuem pessoas mais visíveis ou centrais (além do aluno) devido as relações com os outros indivíduos, possuindo o maior controle sobre as interações entre os dois nós não adjacentes. Diante da discussão dos resultados, podemos visualizar nas Figuras 4 e 5 abaixo a rede pessoal de dois alunos, uma referente ao Grupo 1 e o outra diz respeito ao Grupo 3.

Figura 4: Rede pessoal do Aluno 1(Grupo 1). Figura 5: Rede pessoal do Aluno 5 (Grupo 3).

Considerações finais Esse trabalho tem como ponto de partida investigar como as redes de relações pessoais podem ser favorecedoras para a aprendizagem da população em idade escolar no âmbito da escola pública, mediante o capital social adquirido. Pois a noção relacional do capital social e que está presente na Análise de Redes Sociais é que este tipo de capital surge da disposição estrutural da rede, que acontece nas relações entre as pessoas e por meio das trocas. Dessa forma, acredita-se que Análise de Redes Sociais possibilita essa quantificação, ela torna o capital social um elemento objetivo. Sendo necessário verificar as medidas irão ajudar a medir o nível de capital social das redes pessoais dos alunos em estudo. Diante disso, algumas medidas das redes foram analisadas, justamente, para tentar operacionalizar o capital social no campo interacional dos alunos. As medidas utilizadas nesse estudo, densidade e intermediação, foram usadas para poder verificar se o fato da rede está mais conectada e coesa ou, ao contrário, como redes que possuam figuras centrais para realizarem conexões, teriam resultados positivos no que se refere ao acesso ao capital social da rede. E consequentemente, os efeitos na aprendizagem no contexto escolar. Nesse contexto, os indivíduos foram caracterizados e agrupados de acordo as variáveis densidade e centralidade de intermediação. Dentre os três grupos analisados, deu-se ênfase ao Grupo 1 e o Grupo 3, pelo fato de que os alunos que compõem tais grupos possuem níveis de aprendizagem intermediário e alto. Nas redes do Grupo 1 os alunos se caracterizaram pelo fato de que a maioria das pessoas da sua rede estão conectadas entre si, possibilitando uma maior circulação de recursos através dessa maior conectividade entre os nós. E nas redes do Grupo 3, que não são densas, possuem uma alta intermediação, tendo como aspecto a ser ressaltado a presença de pessoas mais visíveis ou centrais (além do aluno) na rede de relações.

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