-1- EMENTA: ANULATÓRIA - CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE ADMINISTRAÇÃO DE CARTÃO DE CRÉDITO - CLÁUSULAS ABUSIVAS - ANULAÇÃO. LITISCONSÓRCIO ATIVO POSSIBILIDADE - ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA. A pretensão de anular cláusulas abusivas insertas em contratos de cartão de crédito, não obstante distintos os contratos firmados, pode ser processada sob a forma de litisconsórcio ativo quando um só contrato de prestação de serviços de administração de cartão de crédito os vinculem, porquanto configurada a afinidade de questões por um ponto comum de fato ou de direito. O pedido de assistência judiciária, preenchidos os requisitos do art. 4º da Lei n. 1.060/50, não deve ser indeferido. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 388.018-4, da Comarca de BELO HORIZONTE, sendo Apelante (s): FÁBIO HOMEM DE CARVALHO FILHO E OUTROS e Apelado (a) (os) (as): CREDICARD S.A. ADMINISTRADORA DE CARTÕES DE CRÉDITO. ACORDA, em Turma, a Quarta Câmara Civil do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO. Presidiu o julgamento o Juiz PAULO CÉZAR DIAS (2º Vogal) e dele participaram os Juízes SALDANHA DA FONSECA (Relator) e DOMINGOS COELHO (1º Vogal).
-2- O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 26 de fevereiro de 2003. JUIZ SALDANHA DA FONSECA Relator
-3- V O T O O SR. JUIZ SALDANHA DA FONSECA: Conheço do recurso, porque presentes os pressupostos de sua admissibilidade. Tratam os autos de ação ordinária de nulidade de cláusulas contratuais abusivas c/c repetição de indébito e liminar inaudita altera parte ajuizada por Fábio Homem de Carvalho Filho, Ana Paula Bignotto de Souza, Cristina Corrêa dos Reis, Carmem da Conceição Cardoso Viana, Vinícius Barros de Oliveira Gondim, Antônio Barroso da Silva, Geraldo Magela da Silva e João da Silva, representados por Andec Associação Nacional de Defesa dos Consumidores de Crédito, em face de Credicard S/A Administradora de Cartões de Crédito, sob a alegação de que seriam nulas as cláusulas abusivas insertas no contrato de adesão aos cartões de crédito firmado, sobretudo as referentes à taxa de juros, multas e outros encargos financeiros. A inicial foi indeferida porque as questões a serem apreciadas originam-se de contratos individuais distintos, firmados com diversas administradoras de cartões de crédito, pelo que impossível seria obter uma decisão uniforme para todos os autores. I nconformados, apelam os venci dos (f. 1 55-164), sustentando, em síntese, que é verdade que foram firmados contratos distintos de cartão de crédito, mas só que idênticos, uma vez que vinculados a contrato padrão elaborado pela apelada. Assim, afirmam ocorrer a afinidade de questões por um ponto comum do inciso IV do
-4- art. 46 do CPC, que autoriza o processamento da inicial. Outrossim, pugnam pela procedência do pedido de assistência judiciária. A decisão foi mantida (art. 296, CPC). É a exposição. A pretensão de anular cláusulas abusivas insertas em contratos de cartão de crédito, não obstante distintos os contratos firmados, pode ser processada sob a forma de litisconsórcio ativo quando um só contrato de prestação de serviços de administração de cartão de crédito os vinculem, porquanto configurada a afinidade de questões por um ponto comum de fato ou de direito. Na espécie, como as diversas faturas que instruem a inicial vinculam como credora a Credicard S/A, é possível que os apelantes, em litisconsórcio ativo, discutam a validade das cláusulas contratuais do contrato de prestação de serviços de administração de cartão de crédito que entendem abusivas. Aliás, trata-se de medida de economia processual, sobretudo porque a questão jurídica é igual para todos. Nesse contexto, assentou a jurisprudência: É descabida a recusa do litisconsórcio ativo previsto no art. 46-IV do CPC, salvo quando fundada na impossibilidade legal de cumulação. O dispositivo, ademais, estabelece como requisito do litisconsórcio a afinidade de questões e não os rigores próprios e necessários à caracterização da conexidade (RTJ 120/403 e STF-RT 608/263). Com efeito, não poderia a inicial da presente ação ordinária de nulidade de cláusulas contratuais abusivas c/c repetição de indébito e liminar
-5- inaudita altera parte ter sido indeferida, porque possível é o litisconsórcio ativo formado. Por fim, os apelantes impugnam o indeferimento do pedido de assistência judiciária, sob o argumento de que teriam cumprindo o disposto no art. 4º da Lei n. 1.060/50. Realmente A parte gozará dos benefícios da assistência judiciária, mediante simples afirmação, na própria inicial, de que não está em condições de pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo próprio ou de sua família (art. 4º, Lei n. 1.060/50). Essa norma é imbuída da presunção iuris tantum, pelo que cabe à parte contrária infirmá-la. Assim sendo, a melhor orientação é no sentido de que o pedido de assistência judiciária, preenchidos os requisitos do art. 4º da Lei n. 1.060/50, não deve ser indeferido. Com tais razões, dou provimento à apelação, para deferir o pedido de assistência judiciária e determinar o processamento da ação ordinária de nulidade de cláusulas contratuais abusivas c/c repetição de indébito e liminar inaudita altera parte, porque possível é o litisconsórcio ativo formado pelos apelantes. Custas pela apelada. JUIZ SALDANHA DA FONSECA AC F