Macroeconomia. Capítulo 2 Produção e Oferta Agregada

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Transcrição:

Macroeconomia Capítulo 2 Produção e Oferta Agregada

1 2.1 Produção Agregada 2.1.1 Função de Produção A função de produção agregada (ou macroeconómica) pode representar-se como: Y = F (L, K) (9.7) Uma função de produção especialmente útil (e aplicada) é a função de produção de Cobb-Douglas:, (9.8) A é uma constante positiva, correspondente ao estado da tecnologia: usualmente tida como medida da produtividade total dos fatores (TFP). Esta função (9.8) cumpre 6 propriedades: Se K=0 ou L=0 Y = 0; Se K ou L aumentam Y aumenta; Rendimentos marginais decrescentes; O aumento num fator de produção Aumento do produto marginal do outro fator; Um aumento em A Aumento de ambos os produtos marginais; Rendimentos constantes à escala. Uma implicação crucial desta função é o facto de dela decorrer que a proporção de L e K no PIB é constante e dada por: Peso de L: α Peso de K: 1 α Isto é verdadeiro? Sim, em larga medida! Tomemos o caso dos EUA:

2 [Fig. 9.10, p. 330] Pesos de L e K na economia americana 2.1.2 Produtividade A produtividade mede quanto output resulta de um dado nível de input. Importa considerar 3 conceitos: i) Produtividade do trabalho: PIB por unidade de L: ii) Produtividade do capital: PIB por unidade de K: iii) Produtividade total dos fatores: PIB por unidade conjunta de L e K: é é (9.17) É possível estabelecer uma relação entre as 3 medidas de produtividade. Dado que,, substituindo em (9.17) vem: = = = (9.19)

3 Torna-se assim claro que a produtividade total dos fatores é uma média geométrica ponderada das produtividades do trabalho e do capital, sendo os ponderadores dados pelos pesos de L e K no PIB. Consideremos em seguida as alterações nas produtividades dos fatores através de uma análise gráfica. [Fig. 9.12, p. 335] Alterações nas produtividades dos fatores I Regra: quando um fator de produção é usado mais intensamente (ceteris paribus) a sua produtividade diminui e a produtividade dos outros fatores aumenta. E qual o impacto de alterações em A no PIB? [Fig. 9.13, p. 336] Alterações nas produtividades dos fatores II

4 Regra: quando a tecnologia melhora, ceteris paribus, a produtividade de todos os fatores de produção aumenta. 2.1.3 Produção Agregada de Curto e Longo Prazo Até agora admitiu-se que a procura era suficiente para absorver a produção. O que acontece à utilização dos fatores produtivos quando as intenções de procura são inferiores às intenções de produção? i) Fator trabalho [Fig. 9.15, p. 340] Ajustamento de curto prazo a um decréscimo da procura agregada: produtividade do trabalho e desemprego O fenómeno de reserva de trabalho (labor hoarding) ocorre se se esperar que a redução na procura seja temporária ou se os custos de despedir e contratar trabalhadores forem elevados. Por seu lado, o desemprego será mais provável quando se esperar uma redução prolongada na procura.

5 ii) Fator capital [Fig. 9.16, p. 342] Ajustamento de curto prazo a um decréscimo da procura agregada: produtividade do capital e utilização de capacidade K 2.1.4 Medidas do Grau de Utilização dos Recursos i) Fator trabalho LF população ativa: número de pessoas que desejam um emprego remunerado L número de pessoas atualmente empregadas Taxa de emprego = Taxa de desemprego = =1 ii) Fator capital Taxa de utilização de capacidade (CU semelhante à taxa de emprego no caso de L): CU = çã

6 2.1.5 Produto Potencial Se a taxa de emprego e a taxa de utilização de capacidade são inferiores a 100%, é óbvio que a economia produz menos do que poderia. Quanto PIB real poderia ser produzido se a totalidade dos stocks de L e K fossem usados no seu nível ótimo? A resposta a esta questão é o conceito de produto potencial (. Para dar essa resposta, vamos usar uma função de produção de Cobb-Douglas: = (9.22) substituindo L por LF e assumindo que K está plenamente usado. Mas o capital que está efetivamente a ser usado é (CU*K). E também L não é totalmente usado. Logo: = (9.23) Calculemos então: = (9.24) é o produto ajustado representando uma medida de utilização de capacidade geral, tendo em conta a utilização efetiva de L e K. Teremos então: = = = (9.25) Seja: = trabalho ajustado (scaled labor) capital ajustado (scaled capital) substituindo na equação (9.25) fica: (9.26)

7 2.2 Mercado de Trabalho em Equilíbrio Em circunstâncias ideais (com todos os mercados em equilíbrio), o que determina a quantidade de trabalho disponível para produção? Para responder, vamos proceder em 3 fases: i) Que fatores explicam as decisões das empresas em contratar trabalhadores? ii) iii) Que fatores explicam a vontade dos trabalhadores em oferecer trabalho? Como é que essas decisões interagem para determinar o trabalho usado na produção? 2.2.1 Procura de Trabalho 2.2.1.1 Procura de Trabalho da Empresa A curva de procura de trabalho da empresa expressa a quantidade de trabalho que uma empresa deseja contratar para cada nível de salário real. E a regra geral é, como sabemos: [Fig. 11.1, p. 407] Obtenção da curva de procura de trabalho Como há rendimentos marginais decrescentes, a empresa quererá contratar mais trabalhadores se o salário real descer o suficiente para acompanhar essa diminuição do produto marginal. Podemos também questionar que fatores geram deslocações da curva. Dada a existência de uma ligação direta entre curva de procura de trabalho e função de produção, qualquer fator que faça deslocar a função de produção também irá deslocar a curva de procura de trabalho.

8 [Fig. 11.2, p. 408] Deslocação da função de produção e impacto na procura de trabalho O progresso tecnológico ou um aumento no stock de capital levam à deslocação para cima da função de produção e assim a um aumento da procura de trabalho. 2.2.1.2 Procura Agregada de Trabalho A procura agregada de trabalho é obtida como na Fig. 11.1 mas substituindo: y por Y (PIB); l por L; ( ) em unidades de output por salário real médio (em u.m.).

9 2.2.2 Oferta de Trabalho A decisão individual (de cada trabalhador) de oferta de trabalho envolve 2 dimensões: i) Participação trabalhar ou não trabalhar; ii) Intensidade quantas horas trabalhar. 2.2.2.1 Escolha do Número de Horas de Trabalho 2.2.2.1.1 Preço do Lazer Em geral, as pessoas trabalham para terem rendimento pelo que é razoável admitir que preferem 1h de lazer a 1h de trabalho. Ora, o lazer é um bem como qualquer outro apesar de não haver mercado para esse bem. Mas apesar de não haver um preço explícito, há um preço implícito ou custo de oportunidade (CO) valor da melhor alternativa que não é usada. O preço implícito do lazer é pois o seu CO, o qual corresponde ao salário real, ( ). 2.2.2.1.2 Escolha Trabalho-Lazer Neste contexto, importa salientar a existência de 2 efeitos sobre a oferta de trabalho decorrentes da variação do salário real: Efeito Rendimento: expressa a redução da oferta de trabalho como resultado de um acréscimo de rendimento. Efeito Substituição: expressa o aumento da oferta de trabalho como resultado de um aumento do preço (CO) do lazer. Em suma: a resposta da oferta de trabalho face a uma alteração nos salários depende de qual dos efeitos é dominante. 2.2.2.1.3 Curva de Oferta de Trabalho Qual dos dois cenários representados na Fig. 11.4 se afigura mais realista? Para ( ) baixos, é provável que a necessidade do trabalhador fazer face às necessidades básicas seja tão forte que o efeito rendimento seja fraco e o efeito substituição forte. Provavelmente, teremos uma curva de oferta de trabalho positivamente inclinada.

10 Para ( ) altos, não é realista que o trabalhador valorize tanto os bens de consumo e tão pouco o lazer que o leve a oferecer sempre mais horas de trabalho. Deverá haver um ponto a partir do qual a valorização de 1h de lazer excede o valor dos bens que seria possível adquirir com o rendimento proveniente dessa hora de trabalho. [Fig. 11.4, p. 414] Inclinação da curva de oferta de trabalho O mais provável é, pois, que tenhamos uma curva de oferta de trabalho backwardbending (Fig 11.5). [Fig. 11.5, p. 415] Curva de oferta de trabalho backward-bending

11 Esta configuração tem confirmação empírica? É impossível conhecer a curva real pois isso implicaria saber o que o trabalhador faria em cada circunstância e nós só temos o que ele faz (1 ponto). Mas se assumirmos que os trabalhadores são similares, podemos ter alguma ideia pela observação das decisões dos diferentes trabalhadores. A Fig. 11.8 mostra que, no caso dos EUA, esta curva é uma boa aproximação. [Fig. 11.8, p. 420] Curva de oferta de trabalho: um exemplo empírico 2.2.2.2 Escolha de Participação O que explica a decisão de participação, i.e., trabalhar ou não trabalhar de todo? Depende do CO de o fazer (participar), o que pode ser visto como a soma das seguintes componentes: Valor implícito que o trabalhador atribui ao ócio/não fazer nada; Custos explícitos de trabalhar por comparação com não o fazer; Perdas explícitas por trabalhar. Esse CO é pois parcialmente psicológico e parcialmente material. O salário de reserva é o salário real mínimo que faz com que o trabalhador decida trabalhar. É também o custo de oportunidade de trabalhar em comparação com não trabalhar. Teremos então:

12 [Fig. 11.9, p. 422] Decisão de participação e oferta de trabalho 2.2.2.3 Curva de Oferta Agregada de Trabalho Naturalmente, também em termos agregados podemos considerar as 2 dimensões participação no mercado de trabalho e nº de horas de trabalho. Vejamos primeiro a dimensão participação. Se todos os trabalhadores forem semelhantes (exceto no seu salário de reserva), podemos ordená-los por esse salário de reserva e agregar. [Fig. 11.10, p. 423] Obtenção da curva de trabalho agregada

13 No caso da decisão do número de horas, é razoável assumir que, para valores dos salários médios relativamente baixos, os trabalhadores estão no segmento ascendente das suas curvas individuais assim, a curva agregada referente a esta dimensão é de configuração semelhante à de participação. 2.2.3 Equilíbrio no Mercado de Trabalho Com base nas curvas de procura e oferta de trabalho, podemos descrever um mercado de trabalho ideal, funcionando suavemente. O equilíbrio será dado pela interseção das 2 curvas. Este referencial é útil para estudar o impacto de vários choques. [Fig.] Equilíbrio no mercado de trabalho L S L D L* L 2.3 Desemprego 2.3.1 Desemprego Voluntário e Involuntário Uma implicação do modelo perfeitamente competitivo que vimos na seção 2.2 é que todos os que querem trabalhar ao salário de mercado conseguem encontrar emprego a esse salário. Mas existe desemprego. Porquê? Para percebermos esta questão, vamos examinar o mercado de trabalho fora do equilíbrio.

14 [Fig. 12.1, p. 444] Classificação do desemprego 2.3.2 Considerações Adicionais É razoável supor que no pico do ciclo económico, a economia esteja mais próxima do pleno emprego que em qualquer outra altura. Mas, mesmo nessa altura, o desemprego pode ser significativo. O que explica a existência de um nível relevante de desemprego mesmo quando a economia está no pico do ciclo económico? 3 explicações (complementares): 1) Os conceitos teóricos não têm correspondência plena nos conceitos que são avaliados empiricamente, as perguntas dos inquéritos estatísticos não correspondem exatamente às que estão subjacentes à teoria económica. 2) A heterogeneidade do emprego fornece outra explicação para a persistência do desemprego. Como as empresas crescem a taxas diferentes e têm diferentes níveis de melhoria tecnológica, há sempre empresas a reduzir e outras a contratar trabalhadores. Decorre daqui o conceito de desemprego transitório, o qual se refere ao facto de, inevitavelmente, demorar tempo a encontrar novos empregos. 3) Existência de salários mínimos. Se esse salário mínimo for superior ao salário de equilíbrio, as empresas irão contratar menos trabalhadores. Isto pode acontecer em vários contextos: Salários mínimos fixados pelo Estado (por razões sociais)

15 Se as empresas acreditarem que os seus lucros irão diminuir se fixarem salários demasiado baixos. A hipótese dos salários reais de eficiência diz que trabalhadores pagos acima do salário de equilíbrio são mais produtivos e eficientes, o que pode acontecer por várias razões: i. Isso assinala que aquele é um bom emprego. Assim, os trabalhadores irão trabalhar mais porque estão mais motivados e porque aumentou o CO de perder esse emprego. Essa motivação e empenho são vantajosos para a empresa. ii. Porque as empresas incorrem em custos fixos quando contratam um trabalhador um salário mais alto diminui a vontade de sair dos trabalhadores, reduzindo custos de turnover. Este desemprego que se pode dever a estas 3 causas pode ser resumido na expressão desemprego friccional desemprego que persiste mesmo no pico do ciclo económico. Questão final: Como é que o mercado de trabalho permanece fora do equilíbrio? Como é que o desemprego persiste? O puzzle central do desemprego é o porquê dos salários reais não descerem o suficiente para eliminar o desemprego (ver Fig. 12.1). Algumas explicações: 1) De acordo com a hipótese do salário nominal de eficiência, tal pode acontecer porque a eficiência do trabalhador pode depender do salário nominal. Isto pode ocorrer por várias razões: (i) (ii) Ilusão monetária: confusão entre salário nominal e real; Trabalhadores olham para redução do salário nominal como um sinal negativo/desaprovação por parte do empregador; (iii) Porque os trabalhadores se preocupam com a sua posição económica relativa (valor do salário nominal) e não tanto com o poder de compra que permite. Por estas razões, as empresas podem pois ter relutância em ser as primeiras a reduzir salários nominais pois tal pode reduzir eficiência dos trabalhadores. 2) Os sindicatos podem dificultar ajustamentos salariais. De acordo com o modelo insider/outsider, os sindicatos preocupam-se mais com os efeitos em termos de rendimento para os empregados (os insiders) do que com o que o incentivo para as empresas contratarem os desempregados (os outsiders). 3) A existência de regulação imposta pelo Governo pode impedir/dificultar ajustamentos salariais. O melhor exemplo desta situação é a fixação de salários mínimos.