AS IMPLICAÇÕES DA LITERATURA CLÁSSICA E DA LITERATURA DE MASSA NO PROCESSO DE FORMAÇÃO HUMANA Larissa Quachio Costa (UNESP) lalaquachio@yahoo.com.br INTRODUÇÃO De acordo com György Lukács (1969), desde a decadência ideológica burguesa - crise espiritual da burguesia e sua degeneração como classe revoluciona ria após as Revoluções de 1848 -, o problema essencial da época em que vivemos tem sido a luta de classes, cuja expressão ideológica determina a totalidade dos problemas culturais de nosso tempo. Além disso, como afirma José Paulo Netto (2010), a decadência ideológica não possui fronteiras nacionais, o que nos permite refletir acerca da possibilidade de haver aí o germe do ambiente ideológico do capitalismo contemporâneo o universo neoliberal e pós-moderno. Os tempos atuais dão-nos evidências de que a origem das características do pensamento pós-moderno deve ser averiguada nas primeiras manifestações do processo de decadência ideológica da burguesia, no século XIX; pois a forma de pensamento predominante no presente estágio da sociedade burguesa carrega os traços do irracionalismo característico da decadência ideológica do pensamento burguês. Dessa forma, para que possamos alcançar um dos objetivos desse trabalho, ou seja, refletir sobre as influências da literatura de massa e da literatura clássica no desenvolvimento do psiquismo humano e, logo, no processo de formação do ser humano, recorreremos a um recorte histórico do desenvolvimento do capitalismo e de um de seus correlatos, no plano teórico: o pósmodernismo. Por meio desse trajeto histórico proposto e considerando que a escola se situa predominantemente no âmbito da difusão do conhecimento, poderemos compreender como esse sistema econômico - o capitalismo - e suas expressões ideológicas desenvolvidas historicamente 1
condicionam a educação brasileira e, consequentemente, determinam a predominância da literatura de massa no ambiente escolar em detrimento da literatura clássica. Precisamos esclarecer que trataremos a literatura clássica conforme o princípio de Lukács (1970, 2010), segundo o qual a articulação da obra literária aos grandes problemas do desenvolvimento da humanidade é o que a torna clássica, isto é, valorosa ao longo da história. A nossa concepção de literatura clássica equivale ao que o autor marxista considera boa literatura, ou seja, a literatura que se pronuncia realista, aquela que habilita os homens a perceberem o mundo como ele efetivamente é. Não podemos deixar de dizer que o presente trabalho corresponde à parte do desenvolvimento de uma pesquisa em andamento do curso de Doutorado em Educação Escolar. Por meio de um trabalho teórico pautado no materialismo histórico-dialético, objetivamos discutir aqui as implicações tanto da literatura de massa quanto da clássica para o verdadeiro desenvolvimento do psiquismo humano, contribuindo assim também para o desenvolvimento da pedagogia histórico-crítica - cujos pressupostos conciliam-se às proposições da teoria históricocultural. Palavras-chave: literatura clássica. literatura de massa. psiquismo humano. pedagogia históricocrítica. METODOLOGIA Acreditamos que a criticidade do pensamento marxista possui significação e vigor na atualidade, portanto realizaremos um estudo de natureza teórico-bibliográfica cujas bases teórica e metodológica remontam ao marxismo e ao materialismo histórico-dialético. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O universo bibliográfico desse estudo será inicialmente constituído por três grupos de obras: O primeiro grupo será formado pelas obras concernente à linha da pedagogia históricocrítica. As obras que integrarão esse grupo são: Duarte (2006, 2007, 2013), Martins (2013), Saviani (2003,2008a, 2008b) e Saviani e Duarte (2012). 2
O segundo grupo será composto por obras de Lukács, de seus estudiosos e por aquelas que complementem no âmbito da estética marxista. Esse grupo será composto pelas seguintes obras: Frederico (2005), Konder (2013), Lukács (1959, 1966, 1969, 1970, 1989, 2010, 2011), Marx e Engels (1986, 2008, 2010), Vázquez (2010) e Coutinho (1967, 2010). O terceiro grupo será constituído pelas obras referentes à linha da psicologia históricocultural. A princípio, as seguintes obras integrarão esse grupo: Vygotski (1995, 1996, 1997, 1999, 2001, 2003, 2007, 2009), Vygotski, Luria e Leontiev (2001), Leontiev (1978), Luria (2008), Martins (2013) e Duarte (2007). Além desses grupos que comporão o corpo bibliográfico de nossa pesquisa, buscaremos sempre que necessário embasamento teórico em artigos, livros, dissertações e teses que possam enriquecer nosso referencial teórico. CONSIDERAÇÕES FINAIS Podemos dizer que não é qualquer modelo educacional que está a serviço do pleno desenvolvimento do indivíduo, pois uma sociedade de classes reserva para distintos indivíduos condições desiguais de humanização. Entretanto, a educação escolar pode ser opor a tais desigualdades estabelecendo compromisso com o processo de formação humana. A escola pode se colocar como espaço privilegiado para a socialização de obras literárias capazes de incidir sobre o desenvolvimento dos indivíduos. O mundo refigurado pela literatura clássica pode impelir o leitor a compreender-se na totalidade do mundo, a subjugar seu modo habitual de contemplar a realidade, pode impor-lhe uma nova concepção de mundo que lhe fortaleça a consciência de si e a sua responsabilidade em relação aos problemas da esfera pública. A literatura, pela poesia que lhe é peculiar, pode possibilitar ao leitor olhar para a história da humanidade e, conhecendo alguns de seus momentos mais aterradores, incitá-lo a buscar não só o direito ao pão, mas à poesia. Perante a importância de tal bem cultural, sua possível contribuição para o desenvolvimento do psiquismo humano, a necessidade e a possibilidade de sua socialização pela educação escolar e diante das expressões da decadência ideológica do pensamento burguês após as revoluções de 1848 - cuja atualidade pode ser verificada processo de mundialização do capitalismo e no pensamento pós-moderno-, é que nos propomos a refletir sobre a urgência de se lutar pelo direito inalienável dos indivíduos ao acesso às grandes obras literárias que dão vazão à verdade, incidem sobre o seu desenvolvimento e sobre as contradições sociais por eles enfrentadas. 3
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