Mecânica experimental Lima Junior, P.; Silva, M.T.X.; Silveira, F.L.

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Transcrição:

ATIVIDADE 01 Texto de Apoio III Medições indiretas e propagação da incerteza Medições indiretas Os instrumentos de medida realmente necessários em um laboratório de mecânica são poucos Porém, munidos de uma trena, um cronômetro e uma balança, é possível realizar diversas medições Isso ocorre porque as grandezas físicas estão relacionadas umas às outras e podemos inferir uma a partir das medidas de outras É muito comum realizarmos medições indiretas Por exemplo, se não temos um medidor de velocidade média, podemos determinar a velocidade média de um corpo dividindo seu deslocamento pelo intervalo de tempo correspondente Da mesma maneira, é possível calcular a densidade de peças metálicas dividindo sua massa (medida com uma balança) pelo seu volume (medido com régua e paquímetro) A realização de uma medição indireta sempre supõe um modelo matemático que descerva a relação entre as grandezas envolvidas No contexto desta disciplina, não estamos interessados em qualquer tipo de modelo matemático, mas somente naqueles que resultam de pressupostos físicos Por exemplo, considere que desejamos determinar a aceleração da gravidade usando um pêndulo (Figura 1) Nesse caso, é possível deduzir das leis de Newton (acrescentados alguns pressupostos específicos) que, para um pêndulo simples, vale a seguinte relação: Nessa equação, é o período do pêndulo, é o comprimento e é a aceleração local da gravidade Isolando a aceleração da gravidade na expressão, obtém-se: Assim, é possível determinar a aceleração local da gravidade com um pêndulo, medindo-se o comprimento do pêndulo (com uma trena, por exemplo) e seu período de oscilação (com um cronômetro digital) Figura 1 Pêndulo simples Modelo matemático: Grandezas de entrada e de saída Como já foi antecipado, todas as medições indiretas supõem um modelo matemático, ou seja, uma relação matemática que permita determinar o valor de uma grandeza desconhecida a partir dos valores de outras grandezas conhecidas 1 As grandezas conhecidas cujos valores são inseridos no modelo matemático são chamadas grandezas de entrada A grandeza cujo valor se obtém a partir das grandezas de entrada é chamada grandeza de saída No exemplo do pêndulo simples em que desejamos determinar a aceleração local da gravidade o período e o comprimento (que podem ser determinados com trena e cronômetro) são grandezas de entrada A aceleração da gravidade, por sua vez, é a grandeza de saída Figura 2 Representação das grandezas de entrada e de saída 1 Em mecânica experimental, estamos interessados particularmente nos modelos matemáticos que representam modelos científicos dos fenômenos mecânicos Em outro texto de apoio, discutimos como relações matemáticas podem ser deduzidas das leis da física e como o conceito de modelo é fundamental para se compreender um pouco melhor a relação entre teoria e experimento Assim, além da dimensão metrológica (discutida no presente texto de apoio), há uma dimensão filosófica muito importante no conceito de modelo (que será apresentada cuidadosamente em um momento mais oportuno) 16

Em geral, para grandezas de entrada e uma grandeza de saída, o modelo matemático usado na medição indireta assume a seguinte forma: em que é a grandeza de saída determinada a partir das grandezas, que são as grandezas de entrada Propagação da incerteza Nenhum procedimento experimental é completamente confiável e sempre há alguma incerteza associada aos valores das grandezas experimentais Assim, todas as grandezas de entrada desde que sejam obtidas experimentalmente possuem alguma incerteza associada Portanto, a grandeza de saída, que é obtida a partir das grandezas de entrada, deve possuir alguma incerteza também Essa repercussão da incerteza das grandezas de entrada sobre a incerteza da grandeza de saída é chamada propagação da incerteza Assim, um problema fundamental com que nos deparamos ao realizar uma medição indireta é, dados os valores das grandezas de entrada e suas respectivas incertezas, determinar o valor da grandeza de saída e sua incerteza associada O Guia para Expressão da Incerteza da Medição (GUM) propõe um procedimento bastante elegante que, envolvendo derivadas parciais 2, permite determinar aproximadamente a incerteza propagada em uma medição indireta No entanto, apresentamos neste texto um procedimento alternativo que é pelo menos tão válido quanto o procedimento do GUM, produzindo resultados semelhantes Como esse procedimento alternativo não depende de resolver derivadas parciais, vemos nele uma enorme vantagem para cursos de Física introdutória O modelo matemático linear A incerteza se propaga das grandezas de entrada para a grandeza de saída Como primeiro passo para compreender esse procedimento alternativo, considere um modelo matemático linear, ou seja, considere que duas grandezas físicas mantêm uma relação do tipo Nessa relação, é a grandeza de entrada, é a grandeza de saída e é uma constante conhecida exatamente (que não contribui para a incerteza de ) Assim, toda a incerteza de se deve à incerteza de Por exemplo, considere que representa o diâmetro de uma circunferência e o seu comprimento Nesse caso, podemos escrever, com Considere também que o diâmetro da circunferência em questão foi determinado com régua, resultando 0,05 Como você já sabe, o gráfico de uma relação linear é sempre uma reta Observando o gráfico representado na Figura 3, percebe-se que ao intervalo determinado pela incerteza em torno da melhor estimativa correponde um intervalo no eixo Esse intervalo determina a incerteza que se propaga de para Figura 3 Observe que, se a relação entre y e x é linear, a determinação da incerteza que se propaga de x para y se reduz a um problema geométrico elementar 2 Conteúdo tradicionalmente abordado na disciplina de Cálculo II 17

Como é possível perceber, a determinação da incertexa ser feita da seguinte maneira: é relativamente simples e pode 1 O primeiro passo é obter substituindo o valor no modelo matemático É importante manter uma quantidade grande de algarismos no resultado dessa operação No exemplo em questão, fazemos 2 O segundo passo é obter a partir de, ou seja, somamos o resultado da medição da grandeza de entrada à sua incerteza e substituimos o valor obtido no modelo matemático No exemplo em questão, fazemos 3 O terceiro passo é calcular a diferença entre (obtido no passo 2) e (obtido no passo 1) Com isso, no nosso exemplo, obtém-se Importante: a incerteza deve ser sempre um parâmetro positivo Por isso, se ao final desse processo você obtiver um resultado negativo, considere que a incerteza propagada é o módulo desse resultado Embora existam critérios mais sofisticados para determinar com quantos algarismos deve ser registrada a incerteza da medição, recomendamos que, nesta disciplina, as incertezas sejam representas somente com um algarismo não-nulo Ou seja, arredondamos para Com isso, o resultado da medição deverá ser escrito com apenas um algarismo após a vírgula 3 Ou seja, Enfim, é a expressão compacta do resultado e da incerteza da medição do comprimento da circunferência cujo diâmetro é A reta tangente Recomendamos que, nesta disciplina, as incertezas sejam representadas com um algarismo não-nulo somente Considere que a função representa uma relação matemática não-linear qualquer entre duas grandezas experimentais e que o gráfico dessa função é uma curva suave Essa relação pode ser um polinômio ( ), uma função exponencial ( ), uma função logaritmica ( ) ou qualquer outra função suave que represente grandezas experimentais A melhor estimativa da grandeza de entrada, representada por, determina um ponto da curva com respeito ao qual é possível traçar uma reta tangente a essa curva conforme a Figura 4 Figura 4 Observe que, na vizinhança do ponto com respeito ao qual foi traçada a reta tangente, essa reta se aproxima relativamente bem da própria curva 3 A necessidade de representar a incerteza e o resultado da medição com a mesma quantidade de algarismos após a vírgula está discutida no texto sobre incerteza e algarismos significativos 18

Como é possível perceber, a reta que é tangente à curva no ponto de coordenada está bastante próxima de todos os outros pontos da curva na vizinhança de Assim, dizemos que a reta tangente à curva é uma boa aproximação à curva nessa região Entretanto, quando nos afastamos muito de, percebemos que a reta tangente e a curva se afastam Nessa região, a reta tangente não é uma boa aproximação à curva Portanto, desde que estejamos trabalhando na vizinhança de, podemos substituir a curva determinada pela função por uma reta tangente à curva nesse ponto Ou seja, na vizinhança de, por mais exótica que seja a função, podemos aproximá-la por uma reta! Propagação de incerteza no caso não-linear Por mais exótica que seja a função, na vizinhança de, podemos aproximar essa função por uma reta! Desde que estejamos trabalhando na vinzinhaça de, ou seja, desde que seja bastante pequeno, temos garantido que o modelo matemático (por mais exótico que seja) pode ser considerado aproximadamente linear Ou seja, vale o procedimento para obtenção de a partir de que descrevemos há pouco A título de ilustração, considere que desejamos determinar a área da face circular de uma peça metálica a partir do seu diâmetro, que, medido com um paquímetro, resultou Nesse caso, podemos escrever: Evidentemente, estamos lidando agora com uma relação não-linear Porém, na vizinhança do ponto podemos considerá-la linear Com isso, procedemos assim: 1 O primeiro passo é obter substituindo o valor no modelo matemático É importante manter uma quantidade grande de algarismos no resultado dessa operação No exemplo em questão, fazemos 2 O segundo passo é obter a partir de, ou seja, somamos o resultado da medição da grandeza de entrada à sua incerteza e substituimos o valor obtido no modelo matemático No exemplo em questão, fazemos 3 O terceiro passo é calcular a diferença entre (obtido no passo 2) e (obtido no passo 1) Com isso, no nosso exemplo, obtém-se Representando a incerteza com somente um algarismo não-nulo e arredondando o resultado da medição para apresentar a mesma quantidade de algarismos após a vírgula que a incerteza, obtemos Propagação no caso de muitas variáveis A rigor, a maioria das situações em que vamos realizar uma medição indireta, a grandeza de saída depende de mais de uma grandeza de entrada como ocorre no exemplo da determinação da aceleração da gravidade a partir do comprimento e período de um pêndulo Assim, é fundamental saber como realizar a propagação da incerteza em situações com duas ou mais grandezas de entrada Para estimar a incerteza da medição de uma grandeza que depende de muitas variáveis de entrada, é preciso levar em consideração um fato que não podemos demonstrar agora: diferentes parcelas da incerteza da medição de uma mesma grandeza se somam aos quadrados Diferentes parcelas de incerteza de uma mesma grandeza são sempre somadas ao quadrado A compreensão mais rigorosa dessa questão exigiria a demonstração, também rigorosa, da lei geral de propagação da incerteza, que foge ao escopo dessa disciplina introdutória Entretanto, ao longo das atividades experimentais, você vai se deparar com alguns motivos que, intuitivamente, justificam o procedimento que estamos propondo agora Assim, quando nos depararmos com uma situação em que há várias grandezas de entrada e somente uma grandeza de saída, o quadrado da incerteza da grandeza de saída é determinado pela soma dos quadros das contribuições das incertezas de cada variável conforme calculado nas seções anteriores Por exemplo, considere que o comprimento e o período de certo pêndulo resultaram 19

e respectivamente Acrescentando essas informações ao modelo matemático, as contribuições de e para a incerteza devem ser calculadas da seguinte maneira: Seja a contribuição do período para a incerteza Para obter essa contribuição, fixamos as outras variáveis e fazemos variar somente o período 1 Calculamos a melhor estimativa da variável de saída substituindo as melhores estimativas das variáveis de entrada no modelo matemático Ou seja, 2 Repetimos o mesmo cálculo acrescentando a incerteza ao valor e mantendo todo o resto inalterado Ou seja, 3 O terceiro passo é calcular a diferença em módulo entre (obtido no passo 2) e (obtido no passo 1) Com isso, no nosso exemplo, obtém-se Seja a contribuição do comprimento para a incerteza Para obter essa contribuição, fixamos as outras variáveis e fazemos variar somente o comprimento 1 Já foi calculada a melhor estimativa da variável de saída: 2 Repetimos o mesmo cálculo acrescentando a incerteza ao valor e mantendo todo o resto inalterado Ou seja, 3 O terceiro passo é calcular a diferença em módulo entre (obtido no passo 2) e (obtido no passo 1) Com isso, no nosso exemplo, obtém-se Ao final, as contribuições da incerteza de cada grandeza de entrada para a incerteza na medição da grandeza de saída é calculada por uma soma de quadrados semelhante ao que se faz para obter o comprimento da hipotenusa de um triângulo retângulo a partir do teorema de pitágoras Ou seja, Com isso: Enfim, fazendo os devidos arredondamentos, resulta desse procedimento que a aceleração da gravidade é aproximadamente dada por com incerteza Com isso, você deve ter aprendido a estimar a incerteza que se propaga das grandezas de entrada para as grandezas de saída Referências JOINT COMMITEE FOR GUIDES IN METROLOGY (JCGM) International vocabulary in metrology: Basic and general concepts and associated terms (VIM) 3 ed Sèvres: BIPM, 2008a 90 p Disponível em <wwwbipmorg/en/publications/guides> Acesso em 17 set 2010 JOINT COMMITEE FOR GUIDES IN METROLOGY (JCGM) Evaluation of measurement data: Guide to the expression of uncertainty in measurement (GUM) 1 ed Sèvres: BIPM, 2008b 120 p Disponível em <wwwbipmorg/en/publications/guides> Acesso em 17 set 2010 VUOLO, JH Fundamentos da teoria de erros 2 ed São Paulo: Blücher, 1996 249 p Como citar este texto de apoio LIMA JUNIOR, P; SILVA, MTX; SILVEIRA, FL Medições indiretas e propagação da incerteza In: Mecânica experimental: Subsídios para o laboratório didático Porto Alegre: IF-UFRGS, 2011 p 16-20 No prelo Disponível em <wwwifufrgsbr/fis1258> Acesso em 15 mar 2011 20