PODER JUDICIÁRIO ACÓRDÃO Registro: 2011.0000283048 Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de Instrumento nº 0253722-82.2011.8.26.0000, da Comarca de Mogi-Guaçu, em que é agravante TRADEINVEST EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÃO LTDA sendo agravado CERAMICA CHIARELLI S/A (EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL). ACORDAM, em do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ELLIOT AKEL (Presidente sem voto), ARALDO TELLES E ROMEU RICUPERO. São Paulo, 22 de novembro de 2011. Pereira Calças RELATOR Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO 2 Comarca : Mogi-Guaçu 3ª Vara Cível Agravante : Tradeinvest Empreendimentos e Participação Ltda. (terceira interessada) Agravada : Cerâmica Chiarelli S/A (em recuperação judicial) VOTO Nº 21.711 Agravo de instrumento. Recuperação judicial. Pedido de alvará para alienação de imóvel, com dispensa de apresentação de CND. Alienação de unidade produtiva que deve necessariamente ser realizada por hasta pública, na modalidade de leilão, por lances orais; propostas fechadas; ou pregão, a fim de garantir o melhor lance e, assim, salvaguardar o interesse dos credores. Arts. 144 e 145 da Lei nº 11.101/05, que, a princípio, não se aplicam ao instituto da recuperação judicial, mas tãosomente à realização de bens da massa falida. Inteligência dos arts. 60 e 142 daquele diploma. A necessidade de apresentação de certidão advém da lei, não cabendo ao Judiciário dispensá-la, a fim de também salvaguardar o
PODER JUDICIÁRIO 3 interesse de todos os credores da recuperanda. Decisão mantida. Agravo não provido. Vistos. 1. Trata-se de agravo de instrumento tirado por TRADEINVEST EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÃO LTDA., na qualidade de terceira interessada, dos autos da recuperação judicial de CERÂMICA CHIARELLI S/A. Insurgese contra a decisão reproduzida à fl. 121, que indeferiu o pedido da recuperanda de expedição de alvará judicial para alienação do imóvel denominado "Unidade I". Os embargos de declaração opostos foram rejeitados. Aduz que celebrou compromisso de compra e venda com a agravada visando à aquisição da "Unidade I" e de todo o seu acervo, mas que, todavia, o juízo a quo indeferiu o pedido de alvará. Sustenta que a necessidade de autorização judicial foi expressamente prevista no plano de recuperação aprovado, que o requerimento encontra fundamento nos arts. 144 e 145 da Lei nº 11.101/05 e que a decisão de deferimento da recuperação judicial constitui título executivo judicial nos termos do art. 475-N, III, do Código de Processo Civil. Argumenta com o princípio da preservação da empresa. Requer o efeito suspensivo e pugna pelo provimento.
PODER JUDICIÁRIO 4 fls. 221/222. O efeito suspensivo foi indeferido às Relatados. 2. O agravo não comporta provimento. Durante a recuperação judicial, a alienação de bens da recuperanda deve respeitar o disposto no art. 60 ou 66 da Lei nº 11.101/05, caso se trate, respectivamente, de transferência de unidade produtiva ou de bens do ativo da empresa. A partir das razões suscitadas pela recorrente, que afirma pretender adquirir o imóvel denominado "Unidade I" e todo o seu acervo (fl. 06), verifica-se que os autos tratam de alienação de unidade produtiva. Nos termos do artigo 60 da Lei nº 11.101/05, o magistrado poderá determinar a venda de unidades produtivas isoladas, desde que observado o procedimento de hasta pública, previsto no art. 142 daquela mesma lei. É bem verdade que os artigos 144 e 145 da Lei de Recuperações e Falências preveem modalidades
PODER JUDICIÁRIO 5 alternativas de alienação de ativos, cabendo ao magistrado simplesmente homologar a modalidade de realização do ativo, caso a assembleia geral de credores tenha previamente manifestado sua concordância com a transação. Contudo, os artigos supramencionados tratam da realização de ativos da massa falida, e não da venda de bens de empresas em recuperação judicial, hipótese esta que, consoante acima observado, é especificamente regulada pelos artigos 60 e 66 da Lei nº 11.101/05. A despeito de ser bastante discutível a aplicabilidade dos artigos 144 e 145 da Lei n 11.101/05 às recuperações judiciais, tendo em vista que o artigo 60 daquela lei menciona que a alienação de unidades produtivas de empresas em recuperação judicial seguirá especificamente o rito previsto no artigo 142 (i.e., leilão por lances orais, propostas fechadas e pregão), nada mencionando acerca da eventual incidência dos mecanismos alternativos de realização de ativos previstos nos artigos 144 e 145 ao instituto da recuperação judicial, os autos demonstram estar ausentes os requisitos previstos naqueles artigos. Isto porque, ao contrário do que sustenta a recorrente, a alienação do imóvel pela
PODER JUDICIÁRIO 6 agravada à agravante não foi especificamente autorizada pela assembleia-geral de credores. O plano de recuperação judicial aprovado (fls. 28/81) apenas menciona, em termos bastante genéricos, que a recuperanda venderá todos seus ativos não operacionais (dentre eles o imóvel denominado "Unidade I"). Todavia, não indica os termos e condições em que a "Unidade I" será vendida, aliás, não há nem sequer menção de que o bem será alienado à agravante. Destarte, ainda que em respeito ao princípio da preservação da empresa, bem como à notável história e tradição da recuperanda, aceitássemos, excepcionalmente, a aplicação dos artigos 144 e 145 à hipótese dos autos, a autorização conferida pelos credores no plano para a alienação da "Unidade I" mostrase insuficiente. Com efeito, tal autorização deveria se dar de maneira especializada, i.e., indicando todas as condições do negócio (preço, partes, forma e prazo de pagamento, eventuais garantias, etc.), o que não se verifica in casu, tendo em vista que o plano de recuperação limita-se a mencionar que a alienação dos bens do ativo não operacional da companhia será utilizada como meio de recuperação (art. 50, XI da Lei de Recuperações e Falências). Exsurge, pois, que, a transação
PODER JUDICIÁRIO 7 pretendida pelas partes, além de não contar com a concordância dos credores, tampouco é capaz de lhes oferecer as mínimas garantias outorgadas pela lei. Afinal, a Lei nº 11.101/05, ao determinar a aplicação do art. 142 à alienação de filiais (prevista no art. 60), visa a assegurar aos credores o melhor lance oferecido em hasta pública, a ser realizada nos termos do art. 142 daquele diploma legal. Insustentável também a alegação de que a publicação realizada em jornal de grande circulação (reproduzida à fl. 90), que notadamente tem o condão de atender à legislação societária, poderia se prestar a dar ciência aos credores, terceiros e ao MP quanto à transação almejada pelas partes, seja porquanto tal procedimento não se encontra previsto na Lei de Recuperação Judicial, seja porque os termos daquela publicação mostram-se também absolutamente genéricos. Outrossim, a necessidade de apresentação de certidões negativas de débitos para a lavratura de escritura pública de alienação de imóvel advém de expressa disposição legal (art. 47, I, b, Lei nº 8.212/91), não cabendo ao Judiciário dispensá-la. Primeiramente, porque, conforme bem ressaltado pelo juízo a quo, o pedido da recorrente não encontra respaldo legal. Por derradeiro, porque evidentemente a dispensa não atenderia ao interesse de todos os credores da
PODER JUDICIÁRIO 8 recuperanda. E, nem se diga que a apresentação da indigitada certidão estaria dispensada pelo disposto no art. 52, II da Lei nº 11.101/05. Isto porque, conforme expressamente destacado pelo referido dispositivo legal, aquela dispensa somente é autorizada excepcional e especificamente "para que o devedor exerça suas atividades", i.e., as atividades previstas em seu objeto social. Será, pois, negado provimento ao agravo, mantendo-se inalterada a decisão recorrida. 3. Isto posto, meu voto, nego provimento ao agravo. DESEMBARGADOR MANOEL DE QUEIROZ PEREIRA CALÇAS RELATOR