O PAPEL DOS PROFESSORES DE ESCOLAS DE PRESTÍGIO: A BUSCA PELA AMPLIAÇÃO DE CAPITAIS DOS ESTUDANTES

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Transcrição:

O PAPEL DOS PROFESSORES DE ESCOLAS DE PRESTÍGIO: A BUSCA PELA AMPLIAÇÃO DE CAPITAIS DOS ESTUDANTES Letícia Casagrande Oliveira Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/PPGEDu/CCHS - GEPASE/UFMS Financiamento: CNPq RESUMO A problematização feita por este estudo, diz respeito, ao papel, que professores e escolas de prestígio, desempenham no processo de ampliação de capitais cultural e escolar dos agentes-estudantes. A partir da perspectiva teórica de Pierre Bourdieu, e das interpretações e considerações desenvolvidas por seus interlocutores, compreendemos, que a posição social ocupada pelos agentes, não depende apenas das condições materiais e econômicas que ele possui. Dessa forma, justificamos o interesse por estudos, que procuram, compreender o processo da busca pela ampliação de outros capitais. Os dados apresentados neste trabalho são resultados de uma pesquisa desenvolvida em duas escolas de prestígio da cidade de Campo Grande/MS. Nessa pesquisa, buscou-se investigar, entre outros elementos, o papel dos professores e das escolas, na ampliação de capitais. Os resultados foram coletados por meio de um survey online que foi respondido por pais, estudantes, professores e gestores de ambas as instituições. Selecionamos essas duas escolas como escolas de prestígio, por conta dos altos níveis de aprovação no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). A busca pela ampliação de capitais torna-se uma estratégia, desenvolvida pelas famílias, que compreendem que esses capitais, dão ao agente, condições para uma trajetória escolar de sucesso que garantirá uma manutenção ou mudança da posição social que eles ocupam. Os professores e as escolas desempenham um importante papel nesse processo. A partir dos objetivos definidos pelas escolas, das normas estabelecidas, da forma como o cotidiano escolar é organizado pelos professores, o agente adquire os códigos de pertencimento necessários para a permanência nos espaços escolares, o que irá levá-lo a longevidade escolar desejada por seus familiares. Palavras-chave: professores; escolas de prestígio; ampliação de capitais INTRODUÇÃO Este trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa que analisou as ações de famílias e escolas de prestígio, em busca da ampliação de capitais. A pesquisa teve como lócus duas escolas de prestígio da cidade de Campo Grande/MS, sendo elas, o Colégio Bionatus e o Colégio Militar de Campo Grande (CMCG). Participaram da pesquisa estudantes, pais, professores e gestores de ambas as instituições. Para a análise proposta neste trabalho, direcionamos nossos olhares especificamente, para as ações das escolas e dos professores que visam à ampliação dos capitais dos agentes-estudantes. 03181

2 O referencial teórico adotado foi de Pierre Bourdieu e seus interlocutores. Compreendemos, que esse referencial, nos possibilitou entender a importância do acúmulo dos diversos tipos de capitais (cultural, social, escolar e econômico) para a organização dos espaços sociais e as posições que os sujeitos ocupam. Consideramos a família como sendo o primeiro ambiente socializador dos agentes. É nesse espaço, que ele- o estudante, adquirirá seus habitus de classe, e a aprenderá a se relacionar com os diversos tipos de capitais que a família agrega. A família e a escola funcionam, inseparavelmente, como espaços em que se constituem, pelo próprio uso, as competências julgadas necessárias em determinado momento, assim como espaços em que se forma o valor de tais competências, ou seja, como mercados que, por suas sanções positivas ou negativas, controlam o desempenho, fortalecendo o que é "aceitável", desincentivando o que não o é, votando ao desfalecimento gradual as disposições desprovidas de valor. (BOURDIEU, 2007, p. 82). Dessa forma, a escola, se constitui, como um segundo espaço socializador do estudante, que desenvolve em suas práticas, ações que contribuem para o desenvolvimento desse processo. 1 Capital cultural, capital escolar e a escolarização dos agentes-estudantes Neste tópico apresentamos os conceitos de capital cultural e capital escolar, e os efeitos que eles causam na escolarização dos estudantes. Compreendemos que a posição social do estudante, não pode ser definida apenas pelo capital econômico, sendo assim, entendemos que o capital econômico também, não pode ser considerado um determinante do sucesso ou do fracasso escolar dos agentes, dessa forma, consideramos necessário analisar de que forma os outros capitais tornamse elementos necessários para a compreensão das ações dos agentes-estudantes no espaço escolar. O capital cultural é incorporado pelo estudante desde muito cedo, em suas relações familiares. Quando tratamos do capital cultural, estamos nos referindo, ao modo como o agente se relaciona com os bens culturais que estão a sua volta. Esse relacionamento, diz respeito, ao tipo de conhecimento que ele tem sobre determinado bem cultural. [ ] o capital cultural existe sob três formas: a) no estado incorporado sua acumulação está ligada ao corpo, exigindo incorporação, que demanda tempo e pressupõe um trabalho de inculcação e assimilação. Esse tempo necessário deve ser investido pessoalmente pelo receptor; b) no estado objetivado sob a forma de bens culturais (quadros, livros, dicionários) transmissíveis de maneira relativamente instantânea; c) no estado institucionalizado consolidando-se nos títulos e certificados escolares. (FERREIRA, 2008, p. 25). Os conteúdos trabalhados pelas escolas são pautados por conhecimentos que fazem parte de uma cultura erudita. Podemos compreender que quanto mais cedo o agente vivencia esse contato 03182

com os bens culturais, mais facilidade ele terá para conhecer e entender esses conteúdos quando estiver no espaço escolar, pois, [ ] a incorporação de certos habitus gera disposições [...] que são responsáveis pela manutenção e reprodução das diferenças de classe em salas de aula. (MENDES, 2012, p. 09). A posse do capital cultural permite que o estudante conheça alguns códigos necessários para a acumulação dos saberes escolares, mesmo antes de entrar na escola. O capital escolar se formará antes que ele seja inserido no espaço escolar, e antes que haja um entendimento que aqueles conhecimentos, são saberes escolares. Esta maneira desigual de se relacionar com os conhecimentos interfere nas representações dos alunos ao longo dos diferentes processos de aprendizagem, com consequências imediatas sobre a avaliação escolar, ainda mais porque, consciente ou inconscientemente, os agentes das instituições organizam os métodos e meios utilizados, objetivando determinados resultados. As famílias que concebem com mais clareza as regras desse jogo educativo (illusio) fazem uso de estratégias para que seus descendentes respondam com maior habilidade e competência ao que a escola espera. (SATO, 2012, p. 3). Uma das estratégias que a família desempenha é a escolha das instituições escolares em que seus filhos serão matriculados. As famílias saem em busca por vagas em escolas de prestígio, por acreditarem, que nesses espaços, os professores e gestores, organizam formas de proporcionar aos agentes uma ampliação dos capitais que eles já possuem. 3 2. Professores e escolas de prestígio: ações desempenhadas em busca da ampliação dos capitais dos agentes-estudantes Este tópico apresenta os resultados de uma pesquisa realizada com estudantes, pais, professores e gestores de duas escolas de prestígio da cidade de Campo Grande/MS. O termo Escolas de prestigio é empregado por Zaia Brandão, que define que a [...] a imagem de excelência escolar em que se ancora o prestígio adquirido por tais escolas, baseado principalmente no desenvolvimento dos egressos nos exames de vestibular para os cursos e universidades mais procurados. (BRANDÃO, MANDERLET, PAULA, 2005, p.748). Ainda sobre essa conceituação, é importante destacar que [...] o prestígio dessas escolas foi construído e tende a se reproduzir com base nas características da clientela que consegue atrair. Esse público constitui um grupo que, em face de seu elevado capital escolar, é dotado de recursos críticos, bem acima da média da população brasileira, para monitorar simultaneamente o desempenho dos filhos e dos agentes institucionais que compõem o corpo técnico-administrativo dessas escolas. (BRANDÃO, MANDERLET, PAULA, 2005, p.757). Com base neste estudo adotamos o conceito de escolas de prestígio. Os dados foram 03183

coletados por meio de um survey online. Com essas análises identificamos algumas ações de professores e escolas (representadas por seus gestores) no processo de ampliação de capitais dos agentes-estudantes. Analisamos as ações desenvolvidas para ampliação diretamente dos capitais cultural e escolar dos agentes. Sendo assim, foram elaboradas algumas perguntas sobre as práticas dos professores e sobre o cotidiano das escolas. De uma totalidade de 22 estudantes do Colégio Bionatus, 10 afirmaram que a escola os estimula a ler. Entre os 23 estudantes do CMCG que participaram da pesquisa, 15 disseram que são estimulados por seus professores a desenvolver práticas de leitura. Quando questionados sobre as indicações de livros que recebem, 8 estudantes do Colégio Bionatus disseram que fazem leituras de livros indicados por seus professores e 5 mencionaram receber indicações de leituras da escola. No CMCG 4 estudantes apontam seus professores como indicadores de leitura, e 13 dizem que a escola faz indicações de livros. O que nos interessa, é perceber que em ambas as instituições essas práticas estão presentes de forma significativa. Sabemos, que a prática da leitura, pode favorecer o acúmulo do capital cultural e do capital escolar dos agentes-estudantes, pois os livros, são instrumentos utilizados para adquirir informações, não apenas de conteúdos escolares, como também sobre artefatos culturais. Sobre o tipo de relacionamento que os estudantes desenvolvem com seus professores, tivemos respostas positivas dos dois grupos de estudantes. No Colégio Bionatus, 15 estudantes, classificaram esse relacionamento como sendo muito bom. No CMCG, 11 estudantes optaram pela mesma classificação. Compreendemos que essa boa relação entre professores e alunos, reflete em aspectos positivos, pois, ao se relacionarem positivamente com os professores, os estudantes passam a confiar mais nesse professor, e se sentem mais a vontade para esclarecer algum tipo de dúvida, ou seguir alguma indicação que o professor dada pelo professor. A partir das respostas dadas pelos pais dos estudantes, também foi possível identificar ações das escolas, que contribuem para a ampliação do capital escolar dos agentes. Dos 10 pais de estudantes do Colégio Bionatus que responderam ao questionário, 7 afirmaram que os filhos estudam em casa todos os dias. Dos 25 pais de estudantes do CMCG, 20 responderam que seus filhos estudam todos os dias em casa. Compreendemos que Quanto maior a inserção do aluno no ambiente de escolarização, maior também será seu tempo de exposição às rotinas, aos valores, às regras institucionais, favorecendo a aquisição de hábitos de estudos e posturas que contribuem para alcançar o desempenho esperado pela escola. (BRANDÃO; CANEDO; XAVIER, 2012, p. 212). O fato dos estudantes estudarem fora do espaço escolar é um reflexo de que o tempo que 4 03184

5 passam estudando na escola não é suficiente para atender as expectativas de ensino, isso exige uma maior dedicação de tempo dos estudantes para os assuntos relacionados aos saberes escolares. Além de estudarem para os conteúdos que a escola exige, o estudante pode ir além disso, buscando por conta própria novas informações. À guisa de considerações finais Compreendemos na pesquisa que as práticas desenvolvidas pelos professores e pelas escolas, contribuem para a ampliação de capitais, na medida em que, a partir dessas práticas, os estudantes não só são colocados em contato com elementos que fazem parte do conteúdo escolar, mas que proporcionam que o agente-estudante busque por elementos que estão fora desse espaço e do currículo estabelecido. Essas ações combinadas entre a família e a escola, proporcionam ao estudante diversas possibilidades de ampliação dos capitais e de distinção entre os agentes. São esses espaços, que indicam qual caminho ele deve seguir para desenvolver-se. A certificação oferecida por essas escolas torna-se muito mais do que um certificado de conclusão de um nível de ensino. É de fato um elemento que servirá de distinção entre os agentes. REFERÊNCIAS BOURDIEU, Pierre. A Distinção: critica social do julgamento. São Paulo: Edusp/Porto Alegre, RS: Zouk, 2007. BRANDÃO, Zaia; CANEDO, Maria Luiza; XAVIER, Alice. Construção solidária do habitus escolar: resultado de uma investigação nos setores públicos e privado. Revista brasileira de educação. v. 17, n. 49, p. 193-243. jan.-abr. 2012. BRANDÃO, Zaia; MANDELERT, Diana; PAULA, Lucília de. A circularidade virtuosa: investigação sobre duas escolas no Rio de Janeiro. Cadernos de Pesquisa, v. 35, n. 126, set./dez. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cp/v35n126/a11n126.pdf>. Acesso em: 26 maio 2014. FERREIRA, Eloisa Tavares. Condições de origem, trajetórias escolares, e sociais de estudantes pertencentes à classe popular: um estudo sobre estudantes que cursaram ensino médio em escolas privadas. 2008. 98f. Dissertação (Mestrado) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008. MENDES, Igor Adolfo Assaf. Trajetórias educacionais, capital cultural e herança familiar. 2012. 107f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Belo Horizonte, 2012. SATO, Silvana Rodrigues de Souza. O papel da herança familiar na seleção escolar: o caso do concurso vestibular da Universidade Federal de Santa Catarina do ano de 2010. In: Seminário de pesquisa em educação da região Sul - ANPED Sul, IX, 2012, Caxias do Sul. Disponível em: <http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewfile/1868/710>. Acesso em: 22 maio 2014. 03185