Instituto Fernando Henrique, São Paulo, 29 de Setembro de 2008
Motivação A política comercial na região tem sido dominada por preocupações com barreiras tradicionais como tarifas. Os obstáculos menos visíveis como os custos de transporte tem ficado à margem do debate. Se essa falta de zelo não trazia muitos prejuízos nos anos 80 as barreiras tradicionais eram tão grandes e proibitivas que ofuscavam todo o resto o mesmo já não se pode dizer das últimas décadas. Três fatores contribuíram para dar uma importância estratégica aos custos de transporte para a região O relativo êxito da liberalização comercial; A crescente fragmentação da produção e importância do tempo nas transações comerciais; A emergência de economias com vastos estoques de mão de obra e ávidas importadoras de recursos naturais; Como conseqüência as vantagens comparativas e competitivas da ALC se concentram de forma crescente em bens intensivos em transporte como: (a) minerais e grãos (b) bens manufaturados pesados (c) produtos sensíveis ao tempo de transporte.
Objetivo Contribuir para uma melhor compreensão do papel dos custos de transporte (CT) no comércio exterior da região. Mais especificamente: a) Qual o maior obstáculo? Tarifas ou CTs. b) Como se comparam os CTs da região com os do mundo desenvolvido? c) Quão intensivas em transporte são as exportações da América Latina e Caribe? d) Quais são os principais determinantes dos CTs? e) Qual o seu impacto no comércio exterior?
Dados ALADI (Associação Latino-Americana de Integração): Dados de valor e quantidade das importações, receita tarifaria e custos de transporte (frete e seguro), 5000 produtos, modo e porto de entrada (Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Chile, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela) para 1990, 1995 e 2000 a 2005. U.S. Census Bureau: valor e quantidade das importações, receita tarifaria e custos de transporte (frete mais seguro), para 17000 produtos, modo e porto de entrada para todos os exportadores. U.S. Waterborne databanks: porto de origem e porto de entrada. Compairdata, ICAO, Airportcitycode.com, Portualia.com. e Shipanalysis.
Principais resultados Custos de transporte são significativamente mais altos do que as tarifas. Por exemplo, o frete médio das exportações para os EUA é 7,8% enquanto que a tarifa média ponderada é 2,7%. Exportações intra-regionais: 4,3% de frete e 1,9% de tarifas. Os custos de transporte na ALC tendem a ser significativamente mais altos do que no mundo em desenvolvimento, em grande parte por conta da exportação de bens pesados, da ineficiência de seus portos e aeroportos e da falta de concorrência: por exemplo, o custo médio do frete marítimo das exportações para os EUA é 75% mais alto do que o da Holanda. Muito embora as despesas com frete marítimo estejam convergindo para os níveis do mundo em desenvolvimento, o mesmo não acontece com o frete aéreo. Reduções no frete marítimo podem ter um impacto significativo, e muito superior a um corte similar nas tarifas, tanto no volume de comércio como no número de bens transacionados. Por exemplo, para um país como o Brasil, o aumento estimado nas exportações para os EUA gerado por uma redução de 10% no frete é aproximadamente 23 vezes mais alto que uma redução similar nas tarifas (6 vezes no caso das exportações intra-regionais).
Transporte vs. Tarifas
Frete versus tarifas Figura 1.2. Frete e Tarifas Reais Ad-Valorem para as Exportações Regionais e Exportações para os EUA. Países Latino Americanos Selecionados. 2005 Frete Ad-valorem (%) 0 5 10 15 20 CHL ECU COL PER BOL VEN MEX PRY BOL ARG BRA ARG VEN PRY BRA CHL URY MEX PER COL ECU EUA ALC Diagonal URY 0 2 4 6 8 10 12 Tarifas Reais (%) Nota: Gráfico construído a partir de dados de Importação. Frete é a razão entre despesas de transporte e o valor das importações.tarifa real é a razão entre o valor arrecadado e o valor das importações. Exportações intraregionais incluen Brasil, Argentina, Chile, Peru e Uruguai. Ver Tabela A.2 no Apêndice para os dados primários Fonte: Cálculos dos autores baseados em dados do Censo Americano e ALADI
Frete versus tarifas % Custos de Frete, Tempo etarifa nas Exportações aos Estados Unidos. (%) Brasil e Argentina. 2006 0 5 10 15 20 Tarifa Frete Brasil Frete+tempo Tarifa Frete Argentina Frete+tempo Note: Ver capítulo 1 para metodologia Fonte: Moreira, Volpe e Blyde 2008
São as exportações da ALC intensivas em transporte?
Figura 1.13. O Impacto do Peso e do Tempo de Transporte sobre as Vantagens Comparativas Reveladas da ALC Mercado Americano. 1994-2006 Razão peso-valor VENEZUELA** TRINIDAD & TOBAGO** BRASIL** MEXICO** CHILE** ARGENTINA** ECUADOR* COSTA RICA^ CHINA^ COLÔMBIA^ JAMAICA^ PARAGUAI^ PERU** Rep. DOMINICANA** GUATEMALA** HONDURAS** NICARAGUA** EL SALVADOR** BOLIVIA** URUGUAI** -1 -.5 0.5 1 Elasticidade Custo por dia de transporte GUATEMALA** NICARAGUA** EL SALVADOR** JAMAICA** Rep. DOMINICANA** COSTA RICA** HONDURAS** COLÔMBIA** TRINIDAD & TOBAGO* BOLIVIA^ ECUADOR* VENEZUELA* PERU^ ARGENTINA^ MEXICO** CHILE* CHINA** URUGUAI* PARAGUAI^ BRASIL** -.2 0.2.4.6 Elasticidade * significativo a 5%; ** significativo a 1%, ^ não significativo Note:As elasticidades são obtidas a partir de um regressão das vantagens comparativas reveladas sobre a relação peso-valor e o custo de tempo de transporte das mercadorias com controles. ver texto.
Quão altos são os fretes na ALC?
228% 190% Figure 2.4. Decomposição da Diferença de Frete Marítimo entre Brasil e Holanda nas Exportações para os EUA Peso/valor 60% 50% Frete 152% 114% 76% 38% 0% -38% Frete do Brasil relativo ao da Holanda Eficiência portuária No. de Firmas Volume "Containerização" Elasticidade de demanda Contribuição dos Determinantes balança comercial Tarifas Distância 40% 30% 20% 10% 0% -10% Contribuição
296% 259% 222% Figure 2.4. Decomposição da Diferença de Frete Aéreo entre Brasil e os EUA. Importações 2005 Eficiência aeroportuaria 80% 70% 60% 185% 50% Frete 148% 111% 74% Peso / Valor Tarifa 40% 30% 20% Contribuições 37% 0% -37% Frete do Brasil relativo ao dos EUA Infra-estrutura estrangeira Elasticidade de Demanda Contribuição dos Determinantes Distância 10% 0% -10%
45% Figura 2.5. Redução Percentual no Frete a partir de uma Mudança no Níveis de Eficiência Portuária, Tarifas e Concorrência para os Níveis dos EUA. Ano base 2005. 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% Peru Equador ALC Uruguai Chile Brasil Eficiência Portuária Tarifa No. de Firmas
Qual é a tendência dos fretes na ALC?
Convergência Figura 9-Tendência dos Fretes Aéreos de Exportação para os EUA. América Latina e Caribe, China e o Resto do Mundo (ROW). 1994-2006. 1994=100 Frete Ad Valorem. 1994=100 80 100 120 140 f k k ijt WGT ijt k ln = β + β ln + k k y + j e t α V + 0 1 ijt v ijt k ijt Caribe America Central C. Andina Mercosul & Chile ROW China 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Nota: Frete inclue seguro e é medido como proporção do valor das importações. Foi estimado com base em uma regressão do frete ad valorem sobre a relação peso-valor dos bens exportados, com efeitos fixos por ano e por país-mercadoria. Ver texto para detalhes. Fonte dos dado: U.S. Census Bureau
Ad Valorem Airfreight. 1995=100 Figure 7-Trend in Import Airfreight after Controlling for Changes in Trade Composition. 80 90 100 110 f v k U.S. and Selected LAC countries. 1995-2005. 1995=100 ijt WGT ijt k ln = β k 0 + β1 ln + k y + + ìj e t α V ijt ijt Uruguay U.S. Colombia Brazil Chile Peru Argentina 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Note: Airfreight is freight plus insurance as a share of imports. It was estimated by regressing ad-valorem freight on the weigh-to-value ratio of the goods imported and on year and partner-good fixed effects. Data for LAC countries is only available for 1995 and 2000-2005. See text for details. Data source: ALADI and U.S. Census Bureau k k ijt
Qual é o impacto dos custos de transporte no comércio exterior?
Figura 3.9. O Impacto de uma Redução nos Fretes e na Tarifas sobre as Exportações Setoriais. América Latina 0 10 20 30 40 ARG BOL BRA CHL COL EQU PER PRI URI Redução de 10% nas tarifas Redução de 10% nos fretes A figura apresenta o impacto mediano estimado nas exportações setoriais de uma redução de 10 por cento nos fretes e de uma redução de 10 por cento nas tarifas de importação, com base nos resultados de uma regressão cuja especificação inclui efeitos fixos por importador, exportador e ano, excluindo os EUA e usando o ano 2004 como base. Figura 3.10. O Impacto de uma Redução nos Fretes e nas Tarifas sobre a Diversificação das Exportações. 0 5 10 15 20 25 ARG BOL BRA CHL COL EQU PER PRI URI Redução de 10% nas tarifas Redução de 10% nos fretes A figura apresenta o impacto mediano estimado no número de produtos exportados de uma redução de 10 por cento nos fretes e de uma redução de 10 por cento nas tarifas de importação, com base nos resultados de uma regressão cuja especificação inclui efeitos fixos por importador, exportador e ano, excluindo os EUA e usando o ano 2004 como base.
EUA 0 10 20 30 40 50 Figura 3.12. O Impacto de uma Redução nos Fretes e nas Tarifas sobre as exportações aos EUA. ARG BOL BRA CHL COL EQU PER PRI URI Redução de 10% nas tarifas Redução de 10% nos fretes A figura apresenta o impacto mediano estimado nas exportações setoriais para os EUA de uma redução de 10 por cento no frete e de uma redução de 10 por cento nas tarifas de importação, com base nos resultados de uma regressão cuja especificação inclue efeitos fixos por importador, exportador e ano, incluindo os EUA. O ano base é 2004. Figura 3.13. O Impacto de uma Redução nos Fretes e nas Tarifas sobre a Pauta de Exportações aos EUA. 0 5 10 15 20 25 ARG BOL BRA CHL COL ECU PER PRY URY Redução de 10% nas Tarifas Redução de 10% nos fretes
Conclusões Diante desses números, a necessidade de se expandir a agenda de comércio exterior da região, com transporte ocupando uma posição de destaque, parece evidente. Os números sugerem que a melhoria da qualidade da infraestrutura, e o aumento da competição nos serviços de transporte prometem os melhores retornos em termos de políticas públicas; Nós vemos, no entanto, importantes desafios políticos e técnicos No lado político: fazer com que melhorias nem sempre visíveis na infra-estrutura de transporte sejam percebidas como ações que podem gerar dividendo políticos. No lado técnico: rigor na avaliação de projetos; escassez de recursos e projetos regionais.