EMENTA: REVISÃO CONTRATUAL NEGATIVAÇÃO DE NOME DO AUTOR NO SPC E SERASA DISCUSSÃO DO DÉBITO CONDUTA ILÍCITA DA INSTITUIÇÃO BANCÁRIA PEDIDO DE EXCLUSÃO DO NOME DOS CADASTROS NEGATIVOS - POSSIBILIDADE. Se assume o autor a existência da dívida, através de ação de revisão de cláusulas contratuais, onde discute os termos de atualização do débito, não está em mora, pelo que não pode a instituição bancária proceder a negativação de seu nome em cadastros creditícios. sendo possível o deferimento do pedido de exclusão do seu nome dos cadastros negativos de crédito, quando se verifica ilicitude na conduta do banco réu que registra o nome de seu devedor junto aos órgãos de cadastro dos maus pagadores, se o título está sendo discutido em ação judicial. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº 329.455-3, da Comarca de BELO HORIZONTE, sendo Agravante (s): BANCO ABN AMRO S.A. e Agravado (a) (os) (as): ADELSON FELIPE DIAS NOGUEIRA, ACORDA, em Turma, a Terceira Câmara Civil do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, NEGAR PROVIMENTO. Presidiu o julgamento o Juiz WANDER MAROTTA e dele participaram os Juízes DUARTE DE PAULA (Relator), EDILSON FERNANDES (1º Vogal) e TERESA CRISTINA DA CUNHA PEIXOTO (2º Vogal).
-2- O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 25 de abril de 2001. JUIZ DUARTE DE PAULA Relator
-3- V O T O O SR. JUIZ DUARTE DE PAULA: Trata-se de recurso de agravo de instrumento contra a r. decisão que, nos autos da ação de revisão contratual aviada pelo agravado, ADELSON FELIPE DIAS NOGUEIRA, juntamente com COMPUTER SHOPPING COMÉRCIO E REPRESENTAÇÕES LTDA., contra o agravante, BANCO ABN AMRO REAL S.A., deferiu o pedido do autor, para exclusão do seu nome dos órgãos de proteção ao crédito. Aduz o agravante que os encargos cobrados na avença estão corretos e legais, não havendo nada de abusivo ou ilegal no contrato, afirmando que os agravados confessam a situação de inadimplência, pelo que não poderia ser concedida a antecipação da tutela, visando a retirada da negativação de seu nome nos cadastros do SPC, e que o apontamento de nomes aos cadastros restritivos do SPC e SERASA de pessoas em situação de inadimplência é perfeitamente legal, e nada contem de constrangedor ou abusivo, requerendo a reforma da decisão, de modo a permitir a inclusão do agravado nos cadastros restritivos de crédito. Conheço do recurso, presentes os pressupostos de admissibilidade. Verifica-se, no entanto, não assistir razão ao agravante, não estando a r. decisão afrontada a merecer reforma. Com efeito, os argumentos trazidos à lume pelo agravante não se mostraram capazes de infirmar o entendimento esposado pelo douto Magistrado de 1º grau.
-4- Isso porque restou demonstrado que os agravados encontram-se em juízo discutindo o valor da dívida, através de ação de revisão contratual, não podendo ser considerados ainda em mora, em virtude dos próprios efeitos da tutela jurisdicional pretendida, pelo débito havido junto ao banco agravante, e de igual forma, estando em discussão a liquidez e certeza do débito negativador, o agravante pratica uma conduta ilícita, sendo clara a r. decisão, quando consigna que o deferimento do pedido se deu por que o débito está sob discussão. Assim, restou também dos autos comprovado o desempenho de conduta ilícita por parte do banco agravante que, mesmo após o ingresso em juízo de ação de revisão de cláusula contratual, persiste em manter a negativação do nome do agravado, ADELSON FELIPE DIAS NOGUEIRA, em virtude de débito. Ora, a negativação apesar de se figurar como uma simples anotação de cadastro, influencia sobremaneira na efetivação de negócios, talvez imprescindíveis à continuidade da vida financeira do devedor e da sua conseqüente regularização, e o agravado, ao assumir a existência da dívida, afirmando estar a discuti-la em juízo, não foi constituído em mora pelo banco agravante, tendo referida ação o condão de suspender os efeitos de sua reconhecida inadimplência, para afastar a possibilidade de negativação pelo agravante. Assim, conclui-se pela existência de ilicitude na conduta do banco réu, escorada no fato de que o contrato está sendo discutido em juízo, assim como as suas cláusulas reguladoras dos encargos da dívida, não permitindo-lhe diante da inadimplência da obrigação nele configurada que se proceda à informação da mora de tal crédito ao sistema de cadastro dos maus pagadores, visto não
-5- ter como o devedor realizar o pagamento do seu débito, cujo valor desconhece, o que, em conseqüência, lhe retira a condição de estar em mora para assim ser negativado em registros cadastrais. Portanto, entendo correto o posicionamento do MM. Juiz a quo ao deferir o pedido requerido pelo agravado nos autos da ação de revisão contratual, visto que para tanto está presente ainda a possibilidade de ser a pretensão satisfeita, estando evidenciada a necessidade da exclusão do nome do agravado do cadastro restritivo de crédito, vislumbrando-se séria possibilidade de prejuízo em aguardar a sentença de mérito a ser proferida. Além disso, o registro do nome de cliente, pelo banco, em central de restrições de órgãos de proteção ao crédito, constitui meio de constrangimento, em face do devedor, enquanto perdurar ação de revisão contratual. Pelo exposto, nego provimento ao agravo de instrumento, mantendo o r. despacho vergastado, nos moldes ali expressos, por seus próprios e jurídicos fundamentos, revogando o efeito suspensivo imprimido ao recurso quando do seu recebimento, respondendo o agravante pelas custas recursais. JUIZ DUARTE DE PAULA LJ C.