ESTUDO DAS PAUSAS EM IDOSOS E IDOSOS COM MAIS DE 80 ANOS

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Transcrição:

ESTUDO DAS PAUSAS EM IDOSOS E IDOSOS COM MAIS DE 80 ANOS Fala, Medidas de Produção de Fala, Envelhecimento INTRODUÇÃO O estudo da influência do envelhecimento sobre a comunicação torna-se importante à medida que os dados estatísticos apontam que as populações de praticamente todos os países, desenvolvidos e em desenvolvimento, incluindo o Brasil, estão em processo de envelhecimento, isto é, a proporção de idosos (pessoas de 60 anos ou mais) está aumentando progressivamente (1). Segundo o IBGE, a estimativa de idosos para 2020 é de cerca de 28 milhões de idosos e de 52 milhões em 2040. Durante o envelhecimento, ocorrem mudanças na fala mais relacionadas a sua precisão, fluência, qualidade vocal e efetividade comunicativa (2). Tais mudanças podem ser similares àquelas que ocorrem acompanhadas a várias doenças muito freqüentes entre os idosos. A demanda cognitiva, sensorial e motora da produção da fala pode estar comprometida tanto por processos aparentemente normais para a idade quanto por uma variedade de doenças que se tornam mais comuns com o avançar da idade. Estudos com idosos que apresentam alterações neuropsiquiátricas apontam dentre outras características, uma redução na velocidade de fala e um aumento na duração e/ou tempo das pausas (3-6), tornando-se importante se conhecerem o padrão das pausas nos idosos saudáveis. As habilidades de linguagem parecem estar afetadas de forma diferente na idade (7). Para as autoras, algumas se mantêm intactas (compreensão de palavras, fala e outras atividades automáticas; compreensão de frases simples; tarefas que envolvam discriminação e reconhecimento; capacidade para narrar; fluência) enquanto outras se deterioram de modo evidente (nomeação e conversação; produção de sintaxe complexa; compreensão de sentenças complexas; tarefas que envolvam organização, iniciativa e planejamento; eleição de relevância em narrativas espontâneas; produtividade taxa de informação e precisão referencial; retenção de conteúdos e recordação imediata e tardia). Para Preti (8) o que mais chama a atenção na fluência do idoso é a ruptura, confundindo-se aspectos prosódicos com a própria organização do seu discurso.

Como aponta o autor, a descontinuidade de fala é um fenômeno normal na linguagem oral em qualquer faixa etária. Essa descontinuidade, marcada pelas rupturas, pode ocorrer ao nível pragmático (descontinuidade do tema, pela interferência de segmentos parentéticos), sintático (pela ocorrência de frases interrompidas), léxico (pelas hesitações e truncamentos de vocábulos) e fonológico (pela presença de pausas). De acordo com o autor o excesso de pausas marca um ritmo construído aos arrancos. As pausas ocorrem em locais incomuns do enunciado, devido às hesitações provocadas pelas falhas de memória e pela incerteza do que dizer e como dizer. Desta forma, o objetivo deste estudo foi verificar se o pausamento é influenciado pelo processo de envelhecimento. Pretende-se estabelecer a ocorrência de pausamento na fala de idosos e sua distribuição quanto à freqüência e a duração, em idosos e idosos com mais de 80 anos de idade. Espera-se que os indivíduos mais velhos apresentem maior ocorrência de pausas e/ou hesitações, bem como pausas mais longas. MÉTODO Participaram desse estudo 128 idosos fluentes, falantes do Português Brasileiro, de ambos os gêneros acima de 60 anos de idade, residentes na grande São Paulo, agrupados em: GI - idosos (60 a 79 anos), com n=84; e GII - idosos acima de 80 anos, com n=44. Para este agrupamento foi utilizada a proposta do Medical Subject Headings (Index Medicus) (9). Nenhum dos participantes apresentava queixa pessoal de gagueira e/ou déficits de comunicação ou saúde associados. Além de não apresentarem alteração neurológica, doença psiquiátrica e/ou distúrbio da comunicação e o SSI (10) não poderia ser indicativo de gagueira. Os procedimentos de seleção e avaliação dos participantes só foram iniciados após os processos éticos pertinentes: parecer da comissão de ética (CAPPesq HCFMUSP nº1040/04) e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelo próprio participante. Todos os participantes foram submetidos à coleta de amostra (filmada e gravada) de fala auto-expressiva a partir de figura, de acordo com a metodologia proposta por Andrade (11). As amostras de fala auto-expressiva foram transcritas de acordo com os critérios do Protocolo de Avaliação da Fluência da Fala, visando o levantamento das rupturas de fala (hesitação, interjeição, revisão, palavra não terminada, repetição de palavra, repetição de segmento, repetição de frase, repetição de sílaba, repetição de som, prolongamento, bloqueio, pausa e intrusão de som ou segmento) de acordo com os critérios adotados por Andrade (11). A análise das pausas

incluiu as tipologias de hesitação (pausas curtas de 1 a 2 seg.) e pausas propriamente ditas (acima de 2 seg.). Para descrição das pausas foi utilizado o Protocolo para Análise de Pausas, elaborado para este estudo. A análise foi dividida em três etapas: 1- duração das pausas foi calculado a duração média das pausas apresentadas pelo indivíduo; 2- freqüência das pausas propriamente ditas (porcentagem em relação às rupturas de fala) mede a taxa de pausas entre às demais rupturas de fala; 3- freqüência das hesitações (porcentagem em relação às rupturas de fala) mede a taxa de hesitações entre às demais rupturas de fala; 4- freqüência geral mede a taxa total de pausas (hesitações e pausas propriamente ditas) entre às demais rupturas de fala; 5- porcentagem de tempo de pausas (3-6,12,13) mede o quanto o discurso é interrompido por pausas, refletindo aspectos cognitivos e emocionais dos parâmetros paralingüísticos da fala. RESULTADOS A média de idade de GI é 70,19 anos (DP = 5,47) e de GII é 86,43 anos (DP = 5,05). Os grupos são homogêneos quanto à distribuição entre os gêneros (X 2 =0,415; n.g.l.=1; p=0,519) Quanto ao número de idosos que rompem suas falas por pausa e/ou hesitação, 45,5% dos participantes de GII apresentaram pausas e ou hesitações, enquanto que para GI tal ocorrência foi de 19%, sendo tal diferença estatisticamente significante (X 2 =9,961; n.g.l.=1; p=0,002). Para análise da duração e da freqüência de pausas foram levados em conta apenas os idosos que apresentaram pausas em suas amostras de fala, não se observando diferença estatisticamente significante quanto à duração média das pausas (T=0,10; p=0,924), quanto ao número de pausas (T=-0,62; p=0,539), quanto à porcentagem de tempo de pausas (T=-0,33; p=0,745) e quanto à porcentagem de pausas nas rupturas (T=-0,22; p=0,824). Na análise das hesitações (ou pausas curtas) também foram levados em conta apenas os idosos que apresentaram tal ruptura. Os idosos de GII apresentaram mais hesitações que os de GI (T=-2,32; p=0,023), entretanto quando se observa a porcentagem de hesitações dentre as demais rupturas, não há diferença (T=-1,27; p=0,209).

Quando não se distingue pausas curtas de pausas propriamente dita, verificando a porcentagem total nas rupturas, os idosos de GII apresentam uma maior média de ocorrência (T=-2,30; p=0,024). DISCUSSÃO E CONCLUSÃO De acordo com os resultados apresentados, com o envelhecimento, mais idosos rompem a fala por hesitação e/ou pausa, da mesma forma que ocorre um aumento na freqüência de pausas (pausas curtas mais pausas propriamente dita). Tais resultados estão de acordo com o exposto por Preti (8), que aponta que a fala dos idosos velhos (com mais de 80 anos) é marcada pelo excesso de pausas. Para o autor as disfluências transmitem a sensação de insegurança, que parece ser a marca mais característica da fala dos idosos velhos. Ainda na visão do autor, com o avançar da idade as pausas tendem a aumentar, enquanto o tempo de articulação tende a decrescer, indicando que, na velhice, não só os aspectos motores, mas também os cognitivos do comportamento falado tornam-se enfraquecidos. Como apontado por Martins (14), os dados de normalidade das variáveis relacionadas ao processamento motor da fala, podem servir como controle da evolução de doenças neuromotoras e neurodegenerativas, além do controle de efeitos colaterais provocados por medicamentos que agem no Sistema Nervoso Central em áreas relacionadas ao controle e processamento neuromotor da fala. Da mesma forma, poderão ser utilizados como um indício de envelhecimento precoce ou para verificar se o processo de envelhecimento está mais acelerado que o esperado. Concluindo, temos que quanto mais idoso é o indivíduo, maior a chance de ele apresentar pausas na sua fala e em maior quantidade. Além disso, todas as informações sobre as mudanças relacionadas ao envelhecimento e os valores de normalidade estabelecidos para a ocorrência de pausas, tornam-se importantes na medida em que na literatura internacional (3-6) encontramos estudos com idosos portadores de doenças neuropsiquiátricas apontando aumento na ocorrência e na

duração das pausas. Os valores aqui encontrados poderão servir como parâmetro diagnóstico e de controle da evolução dos pacientes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Brasília: Ministério da Saúde; 2006. (Série A Normas e Manuais Técnicos) (Cadernos de Atenção Básica, nº 19). 2. Kent RD. Research on speech motor control and its disorders: a review and prospective. J Commun Disord. 2000;33:391-428. 3. Schalling E, Hammarberg B, Hartelius L. Perceptual and acoustic analysis of speech in individuals with spinocerebellar ataxia (SCA). Logoped Phoniatr Vocol. 2007;32(1):31-46. 4. Rosen KM, Kent RD, Delaney AL, Duffy JR. Parametric quantitative acoustic analysis of conversation produced by speakers with dysarthria and healthy speakers. J Speech Lang Hear Res. 2006;49(2):395-411. 5. Canizzaro MS, Cohen H, Rappard F, Snyder PJ. Bradyphrenia and bradykinesia both contribute to altered speech in schizophrenia: a quantitative acoustic study. Cogn Behav Neurol. 2005;18(4):206-10. 6. Wang YT, Kent RD, Duffy JR Thomas JE. Dysarthria in traumatic brain injury: a breath group and intonational analysis. Folia Phoniatr Logop. 2005;57(2):59-89. 7. Mansur LL, Radanovic M. Neurolingüística: princípios para a prática clínica. São Paulo: EI Edições Inteligentes. 2004. 8. Preti D. A linguagem dos idosos: um estudo da análise da conversação. São Paulo: Contexto; 1991. 9. Medical Subject Headings (Index Medicus). Disponível em: http:www.nlm.nih.gov/mesh/meshhome.htm.2007 10. Riley GD: Stuttering Severity Instrument for Children and Adults. Austin: Pro-Ed; 1994. 11. Andrade CRF de. Protocolo para avaliação da fluência da fala. Pró-Fono. 2000;12(2):131-4. 12. Stassen HH, kuny S, Hell D. the speech analysis approach to determining onset of improvement under antidepressants. Eur. Neuropsychopharmacol. 1998;8:303-10. 13. Cannizzaro M, Harel B, reilly N, Chappell P, Snyder PJ. Voice acoustical measurement of the severity of major depression. Brain Lang. 2004;56:30-5. 14. Martins VO. Variação da fluência da fala em falantes do português brasileiro : quatro estudos [tese]. São Paulo: Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas; 2007