TÍTULO: RELAÇÃO DA DOR COM A ANSIEDADE E DEPRESSÃO NOS PACIENTES ENTREVISTADOS NA SALA DE ESPERA DA UNIDADE DE SAÚDE LEPORACE DE FRANCA, SÃO PAULO

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Transcrição:

16 TÍTULO: RELAÇÃO DA DOR COM A ANSIEDADE E DEPRESSÃO NOS PACIENTES ENTREVISTADOS NA SALA DE ESPERA DA UNIDADE DE SAÚDE LEPORACE DE FRANCA, SÃO PAULO CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: MEDICINA INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE DE FRANCA AUTOR(ES): BIANCA BORGES QUEIROZ, HELOISA SIQUEIRA RIBEIRO LIMA ORIENTADOR(ES): CRISTIANE PEREIRA PEDRO GARCIA COLABORADOR(ES): CAROLINA QUIREZA JACOB DE ANDRADE, JOÃO PAULO DE MELO, MATHEUS GABRIEL BRAIA, RELDA MARA BERNARDES DA COSTA

1 1. RESUMO A dor é um fenômeno universalmente conhecido. É um fenômeno multidimensional, que envolve vertentes biofisiológicas, bioquímicas, psicossociais, comportamentais e morais da pessoa, além de um fenômeno subjetivo, já que é descrito unicamente pela pessoa que a sofre. A ansiedade que pode ser sinônimo de angústia e constitui uma manifestação da nossa atividade emocional ou afetiva em que predominam os sentimentos desagradáveis. Já a depressão, outra manifestação emocional, desencadeia no indivíduo angústia psicológica significativa e reduz a qualidade de vida, encontrando-se associada a um aumento da taxa de mortalidade e rupturas conjugais e familiares. Uma agudização de um quadro depressivo pode estar relacionada com o aumento da dor crônica e pode estar relacionada coma falta de sono com uma vida social e laboral reduzidas e sentimentos de exaustão. Um portador de dor crônica apresenta um nível de ansiedade mais elevado do que uma pessoa que não experiencie qualquer tipo de dor. A ansiedade relaciona-se com a percepção da dor, num ciclo de aumento de dor. Dessa maneira, o presente trabalho objetivou analisar a relação da dor com ansiedade, e os resultados mostraram que os grupos estudados, independente da intensidade da dor, também apresentam acometimento de ansiedade e depressão. Conforme apresentado, houve provável ansiedade e depressão em 27% e 19%, respectivamente. 2. INTRODUÇÃO. A dor é um fenômeno conhecido, é uma experiência pela qual todos nós já passamos. Esta tem realidade bastante complexa, pois se trata de um fenômeno multidimensional, que envolve vertentes biofisiológicas, bioquímicas, psicossociais, comportamentais e morais da pessoa e de um fenômeno subjetivo, já que é descrito unicamente pela pessoa que a sofre [1]. A dor pode ser conceituada como uma desagradável experiência sensorial e emocional associada a uma lesão tecidual já existente ou potencial, ou relatada como se uma lesão existisse [2]. Essa subjetividade leva a rejeitar a existência de uma verdade quanto à etiologia, à manutenção e à efetividade do tratamento. Visto que a dor é uma experiência genuinamente subjetiva, apenas aqueles que a possuem podem determinar sua

2 severidade e adequação de seu alívio [3,4]. Pela sua característica, é possível avaliála ou mensurá-la por meio de variadas respostas ou reações manifestadas pelas pessoas que a vivenciam. Os componentes subjetivos podem ajudar em determinar qual tipo de programa de tratamento é mais apropriado para qual tipo de paciente com dor [3]. A subjetividade presente na dor crônica, conceituada como um fenômeno complexo e multifatorial que envolve aspectos orgânicos e psicossociais, e interfere na qualidade de vida das pessoas [5], possui grande relação com o despertar da ansiedade e depressão em pacientes atendidos na saúde pública, conforme descrito em estudo realizado, ou seja, afirma-se que a dor crônica pode ser um desencadeante de quadros de ansiedade e depressão conforme estudo realizado [1]. A ansiedade que pode ser sinônimo de angústia constitui uma manifestação da nossa atividade emocional ou afetiva em que predominam os sentimentos desagradáveis. Classificase ansiedade em: normal e patológica, sendo a normal uma resposta emocional em grau adequado ao perigo ou risco, tendo valor adaptativo, e a patológica representa uma vivência de medo sem objetivo real definido. Um portador de dor crônica apresenta um nível de ansiedade mais elevado do que uma pessoa que não experiencie qualquer tipo de dor. A ansiedade relaciona-se com a percepção da dor, num ciclo de aumento de dor. Em uma população estudada de indivíduos com dor crônica 35% dos indivíduos com dor crônica apresentavam alguma forma de ansiedade. [1] Em relação à dor crônica e a depressão o mesmo estudo [1] entrevistou 50 mulheres com dor pélvica crônica, com idade de 35 anos, sendo que 92% apresentavam depressão, 36% tinham depressão leve, 34% tinham depressão moderada e 22% depressão grave. Lembrando que mulheres têm mais depressão que homens. A depressão desencadeia no indivíduo angústia psicológica significativa e reduz a qualidade de vida, encontrando-se associada a um aumento da taxa de mortalidade e rupturas conjugais e familiares. Uma agudização de um quadro depressivo pode estar relacionada com o aumento da dor crônica e pode estar relacionada coma falta de sono com uma vida social e laboral reduzidas e sentimentos de exaustão [6].

3 Em estudo elaborado nos Estados Unidos [4] foi concluído que mais de 550 milhões de dias de trabalho são perdidos a cada ano devido a dores persistentes e que pessoas gastam milhões de dólares por ano em medicamentos para minimizar a dor, isso justifica a elaboração de trabalhos e propostas de intervenção relacionadas ao tema. A dor crônica no ambiente de trabalho influencia tanto no rendimento do trabalhador quanto no seu bem estar psicológico e social. As lesões por esforços repetitivos (LER) e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao trabalho (Dort) são, por definição, um fenômeno relacionado ao trabalho. Ambos são danos decorrentes da utilização excessiva, imposta ao sistema musculoesquelético, e da falta de tempo para recuperação. Caracterizam-se pela ocorrência de vários sintomas, concomitantes ou não, de aparecimento insidioso, geralmente nos membros superiores, tais como dor, parestesia, sensação de peso e fadiga. Abrangem quadros clínicos do sistema musculoesquelético adquiridos pelo trabalhador submetido a determinadas condições de trabalho. Segundo o protocolo de complexidade diferenciada do Ministério da Saúde, sobre a saúde do trabalhador, as afecções de ombro são comuns em trabalhos como soldadores, trabalhos industriais, trabalhos de manufatura e abatedouro, as epicondites laterais são comuns em cortadores de carne, empacotadores e manufatureiros. As tendinites são comuns em trabalhadores de atividades de alta repetitividade [7]. Considerando o quanto a dor pode influenciar a funcionalidade da pessoa estudos e ações que avaliem a dor são importantes e motivaram a realização deste projeto. 3. OBJETIVO Conhecer e intervir sobre o processo de dor de usuários na área de abrangência da Unidade Básica de Saúde Leporace Doutor Cleomar Borges de Oliveira no Município de Franca, São Paulo. Instrumentos 4. METODOLOGIA

4 Questionário: esse instrumento foi criado pelos pesquisadores com base no capítulo sete do livro Semiologia Médica [2], sétima edição. Ele avaliou, além das condições sócio-demográficas, as características da dor quanto à localização, irradiação, duração, qualidade ou caráter (latejante, choque, tiro, perfurante, cortante, aperto, cólica, puxão, fisgada, torção, queimação ou formigamento), evolução (constante, intermitente, de início súbito ou insidioso), fatores desencadeantes ou agravantes, fatores atenuantes, relação com funções orgânicas, manifestações concomitantes e intensidade. Nos casos de dores diversas, caracterizou-se a dor que mais acometia a funcionalidade do paciente. A caracterização da intensidade foi questionada utilizando-se a Escala Analógica Visual de 0 a 10 de intensidade da dor. Outros dados presentes no questionário: há quanto tempo o participante trabalhava ou trabalhou na ocupação atual, qual a carga horária diária de trabalho, se houve afastamento do trabalho por algum período, se sim, qual o tempo e o que fazia antes e deixou de fazer por causa da dor. Escala HAD [8] : é constituída de um conjunto de 14 perguntas de múltipla escolha, sendo composta de duas subescalas de 7 itens cada referentes a ansiedade e depressão. A pontuação total de cada subescala vai de 0 a 21. Sua tradução para o português foi realizada segundo autorização de seus autores por um psiquiatra britânico devidamente treinado, por duas pessoas leigas bilíngues tendo o inglês como língua materna que retraduziram para o inglês e, então, chegando a um consenso. Para a validação e correlação de seus itens foi utilizado um teste não-paramétrico aplicável a variáveis não continuas (r de Spearman) e outro para medir a consistência ou confiabilidade das duas subescalas (alfa de Cronbach). A escala [8] foi criada por Zigmond, validado para o português por Botega e sistematizado por Fábio de Aguiar. 5. DESENVOLVIMENTO. Participantes Foram abordados usuários do sistema público de saúde na sala de espera da Unidade Básica de Saúde Dr. Cleomar Borges Oliveira, Bairro Leporace, no período entre o mês de fevereiro e o mês de junho. Os critérios para inclusão dos participantes

5 foram ter mais de 18 anos, ser capaz, concordar em responder os questionários e relatar algum tipo de dor em curso. Participaram da pesquisa 54 indivíduos. Procedimento Aplicou-se dois instrumentos junto aos participantes. O primeiro, um questionário (Anexo A), abordou dados sócio-demográficos e questões relacionadas às características da dor. O segundo instrumento aplicado foi uma escala de avaliação de sintomas de ansiedade e depressão denominada HAD (Anexo B). 6. Resultados Dentre a amostra selecionada (52) a distribuição de sexo foi 11,5% de homens (6) e 88,5% de mulheres (46); a idade dos entrevistados variou entre 22 e 77 anos. Quanto à escolaridade, a maior prevalência foi nível fundamental incompleto com 15 (28,8%) pessoas, sendo as demais escolaridades: Ensino Médio Completo 12 (23,1%), Fundamental completo 11 (21,2%), Ensino Médio Incompleto 8 (15,4%), Analfabeto Funcional 3 (5,8%) e Curso Técnico 3 (5,8%). Foi pesquisado, também, com relação à ocupação do entrevistado, quantas horas por dia compunham sua jornada e há quanto tempo ele dedicava-se à sua ocupação atual. A maioria dos entrevistados (53,8%) tem uma jornada diária de oito horas, e 19,2% (10 usuários) não trabalham. O restante dos entrevistados (26,9% da amostra) distribuiu-se entre nove e 12 horas diárias de trabalho. Os motivos do comparecimento que levaram os usuários a procurar o serviço foram os mais variados, desde o entrevistado estar apenas acompanhando alguém que comparecia a uma consulta, até o entrevistado estar procurando o serviço tendo como queixa a dor que caracterizou no questionário. Lembrando que esse estudo considerou quaisquer usuários maiores e que concordavam em participar do estudo e que tinham alguma dor em curso, mas não necessariamente que estavam na UBS para terem uma consulta com o médico. Da amostra pode-se organizar os motivos de comparecimento como sendo 11 (21,15%) indivíduos que afirmaram procurar o serviço devido à dor que sentiam. Outros motivos de consulta também relacionam-se com a dor investigada, porém os entrevistados não a apontaram como motivo diretamente mas sim a lesão ou patologia que cursa com dor, foram os casos de

6 avaliação de radiografia de membro superior direito, acompanhamento de fibromialgia, acompanhamento de lesão de tendão, todos com uma ocorrência cada. Estavam presentes na UBS para participar de vacinação, levando o filho ou para serem vacinadas seis pessoas. Quatro entrevistados alegaram procurar o serviço para obter nova receita ou trocar a receita de medicamentos de uso contínuo. Como pacientes típicos de acompanhamento, em consulta habitual, 19 pessoas (36,54%) manifestaram como motivadas por entrega, avaliação ou mostrar exames, consulta de rotina com o ginecologista, consulta em pediatria, acompanhamento de tireoide. Nestes não estão inclusos aqueles cujo motivo foi pegar ou trocar receita. Tendo como objeto de estudo a dor experimentada pelos indivíduos, muitas características da dor foram exploradas. Inicialmente, caracterizando a intensidade da dor, que foi determinada pelos próprios entrevistados sem interferência dos pesquisadores, os valores variaram desde 1 até 10 que representa a pior dor que alguém poderia suportar. Segundo a duração, a dor pode ser classificada como aguda ou crônica, e este aspecto é de suma importância, pois contribui para a distinção da dor com sendo um sinal clínico ou sendo ela mesma a patologia a ser tratada. A distribuição nesta amostra foi de massiva maioria dos pacientes afirmando sentirem dor há mais de três meses (90,4%, 47 pessoas) e pequena porcentagem tendo curso menor de três meses de dor (9,6%, 5 pessoas). Considerando o comportamento da dor que sente nosso indivíduo entrevistado, foi inquirido a respeito da forma de instalação da dor, se súbita ou insidiosa, e sua evolução se constante ou intermitente. O tipo de instalação foi um comportamento com ocorrência bem equilibrada, tendo a instalação súbita 53,8% e a instalação insidiosa 46,2%. A dor constante foi relatada por 34 entrevistados enquanto a dor intermitente era característica em 18 pessoas. A qualidade da dor refere-se a como o paciente a descreve para o examinador na anamnese, e da mesma forma foi pedido ao entrevistado para descrever com um verbo com que sensação se parecia sua dor. As respostas foram várias, porém quatro qualidades destacando-se sobre as demais, a saber: latejante, com 14 menções; queimação, com 11 referências, fisgada, descrita por 10 indivíduos e finalmente, choque, citada por sete usuários. Estas quatro qualidades juntas consolidam 80,8% da amostra.

7 A localização figura como aspecto imprescindível de ser pesquisado quando do exame clínico e não deixou de ser avaliada neste trabalho. Como houve situações em que o usuário referia sentir mais de uma dor, foi pedido que ele escolhesse aquela que mais o incomodasse para ser eleita como objeto da pesquisa. As localizações foram variadas e apesar de alguma concentração de observações em região lombar, membros inferiores e membros superiores (com 15, 13 e 9 respectivamente), vários sítios de dor foram apontados por poucos pacientes. A dor concomitante não é rara na prática médica e também foi considerada na investigação. Embora a metade dos entrevistados afirmasse que não havia em curso nenhuma outra dor, a outra metade foi bem diversificada na caracterização da ocorrência da dor concomitante. Apenas a cefaléia e a dor na coluna vertebral foram citadas mais de duas vezes, como pode-se verificar na tabela 1. A presença, ou ausência da dor irradiada teve um comportamento similar, com 24 pessoas negando ocorrer irradiação (46,15% da amostra) e apenas três localizações serem indicadas mais de duas vezes, a saber, os membros inferiores com 6 indicações e a porção medial do dorso e coxas com ambas três referências. A tabela 2 enumera todas as ocorrências de irradiação da dor considerada no questionário. Tabela 1 - caracterização da ocorrência de dor concomitante

8 Tabela 2 - caracterização da ocorrência de irradiação da dor considerada A correlação entre dor e depressão e ansiedade já foi estabelecida há muito e por muitos autores. Neste trabalho não se eximiu a tentativa de avaliar se os indivíduos entrevistados teriam probabilidade de terem atitudes ou pensamentos de depressão ou ansiedade. A partir das respostas espontâneas e diretas dos usuários tabelou-se os dois gráficos seguintes, listando o número de observações e a correspondente porcentagem de cada categoria de probabilidade para ansiedade e depressão, (gráficos 1 e 2, respectivamente). Probabilidade de ansiedade ANSIEDADE PROVAVEL (14 indivíduos) 27% ANSIEDADE POSSIVEL (19 indivíduos) 36% ANSIEDADE IMPROVAVEL (19 indivíduos) 37% Gráfico 1 - Probabilidade de ansiedade em pacientes submetidos ao autoquestionário

9 Probabilidade de depressão DEPRESSÃO PROVÁVEL (10 indivíduos) 19% DEPRESSÃO POSSÍVEL (13 indivíduos) 25% DEPRESSÃO IMPROVÁVEL ( 29 indivíduos) 56% Gráfico 2 - probabilidade de depressão em pacientes submetidos a autoquestionário 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS. Os achados do presente estudo apontam para a necessidade de projetos de intervenção elaborados por profissionais de múltiplas áreas, de modo a aliviar os sintomas, em especial a dor e ansiedade. Também, faz-se necessário, ações preventivas para evitar o agravamento do quadro, visto que os grupos com dor menos intensa também sugerem acometimento de ansiedade e depressão. 8. FONTES CONSULTADAS. [1] Rodrigues, AMFM. O doente com dor crônica: estudo da repercussão na ansiedade, na depressão e nas atividades de vida diária. Mestrado em psicologia Psicologia da Saúde e Intervenção Comunitária [editorial].universidade Fernando Pessoa, 2007. p. 50-63. [2] Porto CC, Vilela Filho O, Carneira DSD. Dor. In: Porto, CC. Semiologia Médica, 7ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. p. 67-80.

10 [3] Miceli AVP. Dor crônica e Subjetividade em Oncologia. Clínica do Instituto Nacional de Câncer, Setor de Psicologia do Hospital do Câncer I, Praça da Cruz Vermelha 23; 20230-130 Rio de Janeiro. [4] Silva, JA; Ribeiro-Filho, NP. A dor como um problema psicofísico. Rev Dor. São Paulo, 2011 abr-jun;12(2):138-51. [5] Celich KLS, Galon, C. Dor crônica em idosos e sua influência nas atividades da vida diária e convivência social, Rev. Bras. Geriatr. Gerontol. v.12 n.3 Rio de Janeiro, 2009. [6] De Vitta A. A Lombalgia e suas Relações com o Tipo de Ocupação, com a Idade e o Sexo. Rev. Bras. Fisioterapia. Vol. I, No. 2 (1996) 67-72. [7] Brasil, Ministério da saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação Geral do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador. Dor relacionada ao trabalho. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2012. p. 7-14. [8] Botega NJ, Bio MR, Zomignani MA, Garcia Jr C, Pereira WAB. Transtornos do humor em enfermaria de clinica médica e validação de escala de medida (HAD) de ansiedade e depressão. Revista de Saúde Pública, 29(5): 355-63, 1995.