Gravidez na Adolescência

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Transcrição:

www.medstudents.com.br/content/resumos/gravidez_na_adolescencia. Gravidez na Adolescência Autor : Verena Castellani Vitor Santos

Introdução É um período de turbulências físicas e psicológicas, e por vezes até sociais. A adolescência compreende o período entre os 10 e 19 anos, segundo a OMS. A gravidez nesse período acarreta diversos problemas biológicos e psicossociais, porém é primariamente um problema social que pode resultar em conseqüências médicas 4. O custo econômico dessa situação também é muito importante. Estima-se nos EUA um gasto de 21 bilhões de dólares anuais 7. A prevenção ainda não tem trazidos resultados efetivos, provavelmente devido a complexidade dos fatores envolvidos.

Introdução O percentual de mães com menos de 20 anos no Brasil em 1998 foi de 20,2 %, segundo SEAD/SES. Esse percentual vem aumentando anualmente: em 1994 foi de 18,2%. Em Pelotas (RS) o percentual de mães adolescentes passou de 15,3% em 1982 para 17,4%em 1993. Em Uberaba (MG)esse índice foi de 18,9% em 1992/93(REV). Em Ribeirão Preto houve um aumento no percentual de mães adolescentes de 14,1% em 1978/79 para 17,5% em 1994, principalmente entre a faixa de 13 a 17 anos 8. A taxa de fertilidade entre as adolescentes de 15 a 19 anos passou de 75 a 81 por mil entre 1960 e 1985. Entre as adolescentes de 15 anos esse aumento, entre o período de 1970 e 1980, foi de 300 %, e entre as de 16 anos foi de 129 % 2. Quando comparados com taxas internacionais esses números se mostram mais alarmantes, a taxa de fertilidade por mil no Japão foi de 4, na Holanda foi de 8, no Reino Unido de 33, no Canada de 41 e nos EUA foi de 61 3. Existem múltiplas razões relacionadas ao aumento da gravidez durante a adolescência. A precocidade do início da vida sexual é uma das razões. A média de idade da iniciação sexual no Brasil é de 17 anos -15 anos

para o homem e 18 para a mulher. A primeira relação sexual ocorreu até os 13 anos para 10% dos brasileiros; entre 14 e 16 anos para 27%; entre 17 e 18 anos para 18%; entre 19 e 25 anos para 17% e depois dos 25 anos para 2%. Alguns trabalhos estabelecem fatores predisponentes para o início sexual precoce como o desenvolvimento puberal precoce, história de abuso sexual, pobreza, falta de atenção familiar, padrões familiares e familiares de experiência sexual precoce, falta de objetivos escolares ou de trabalho, performance escolar ruim, e abandono escolar 1;6. Outras razões relacionadas ao aumento da gravidez na adolescência são: menarca precoce, maior desagregação familiar, maior liberdade dos jovens, menor controle da família e escola, influência da mídia e do grupo, ignorância sobre anticoncepção. Filhas de mães adolescentes tem maior risco de engravidarem nesta época da vida. Apesar do aumento do uso de anticoncepcionais, mais de 50% das adolescentes não usa anticoncepcionais na primeira relação sexual 2;3.E grande parte das gestações ocorre no primeiro ano de vida sexual.

Riscos médicos As complicações na gravidez entre as adolescentes não atinge da mesma forma as diferentes idades, para alguns autores as piores complicações acometem meninas com menos de 15 anos, para outros menores de 13 anos. A mãe adolescente tem maior morbidade e mortalidade por complicações da gravidez, parto e puerpério. A taxa de mortalidade é 2 vezes maior que entre gestantes adultas. A incidência de RN de baixo peso é mais que 2 vezes maior que entre adultas, e a taxa de morte neonatal é 3 vezes maior. Entre adolescentes 17 anos ou menos 14% dos nascidos são prematuros, enquanto entre as mulheres de 25 a 29 anos é de 6%. 3 A mãe adolescente também apresenta com maior freqüência sintomas depressivos no pós-parto.

Complicações psicossociais As complicações psicossociais relacionadas a gravidez na adolescência são, em geral, mais importantes que as complicações físicas. A interrupção dos estudos, e suas conseqüências futuras como: empregos menos remunerados, dependência financeira dos pais ou do companheiro por mais tempo, é importante fato a ser levado em consideração, inclusive pelo médico que está fazendo o pré-natal. Essa interrupção, em geral, acontece em adolescentes com história prévia de má performance escolar. Casamentos ou co-habitação precoces motivados pela gravidez, tem levado a uma maior taxa de separações. Alguns autores afirmam que a taxa de uniões contraídas antes dos 20 anos terminam em separação 3 a 4 vezes mais que nas contraídas após os 20 anos 2. Essas mulheres tem uma prole, em média, maior. Porém, com menor condição econômica para criá-los. A incidência de gestações entre adolescentes que já estiveram grávidas é maior que entra aquelas sem gestações pregressas.

Porém, alguns autores, afirmam que grande parte das antigas mães adolescentes a longo prazo atingem uma quantidade de estudo e autonomia econômica razoável 5. Filhos de mães adolescentes Filhos de adolescentes sofrem mais negligência, tem maior risco de serem adotados. São internados em hospitais mais vezes, e sofrem mais acidentes que filhos de adultos. Eles tem um risco aumentado para ter atraso de desenvolvimento, dificuldades acadêmicas, desordens de comportamento, abuso de drogas, e se tornarem pais adolescentes.

Prevenção A gravidez na adolescência é muito complexa, envolve diversos fatores, e muitos deles são culturais, talvez por isso os diversos programas que já foram tentados não tenham achado uma solução definitiva. São necessários programas de prevenção primária, e também para aquelas com gestação anterior. Eles devem levar em consideração os fatores de risco dessa situação e dar especial atenção para aquela população mais exposta a estes fatores. Programas especiais de pré-natal para mães adolescentes além de diminuir os riscos durante a gestação, tem ajudado a prevenir novas gestações e reintegrar essa jovem na sociedade. A prevenção deve contar com a ajuda dos mais diversos setores da sociedade, de profissionais da saúde a professores, incluindo o próprio adolescente.

Referências Bibliográficas 1. Carter, D.M.; Felice, M.E.; Rosoff, J.; Beilenson, P.L.; Dannenberg, A.L. When children have children: the teen pregnancy predicament. Am J Prev Med 10: 108-113, 1994. 2. Correa, M.M.; Coates, V. Gravidez.In: Coates, V.; Françoso, L; Benos, G. Medicina do adolescente.1ed. Favier, São Paulo, 1993. p 259-62. 3. Felice, M.E.; Feinstein, R.A.; Martin, M.F.; Kaplan, D.W.; Olmedo, L.F.; Rome, E.S. Adolescent Pregnancy- Current trends and Issues: 1998. Pediatrics 103:516-20, 1999. 4. Hollingworth, D.R.; Kreutner, A.K.K. Teenage Pregnancy. N Engl J Med 303: 516-8, 1980. 5. Horwitz, S.M.; Klerman, L.V.; Kuo, H.S.; Jekel, J.F. School-age predictors of long-term educational and economic outcomes. Pediatrics 87:262-8, 1991. 6. Jaskiewicz, J.A.; McAnarney, E.R. Pregnancy during adolescence. Pediatric Rev 15: 32-8, 1994. 7. Miller, F.- Impact of adolescent pregnancy as we approach the new millennium. J Pediatric Adolesc Gynecol 13: 5-8, 2000. 8. Ribeiro, E.R.; Barbieri, M.A.; Bettiol, H.; da Silva, A.A. - Comparação entre duas coortes de mães adolescentes em município do Sudeste do Brasil. Rev Saude Publica 34:136-42, 2000.