AS NOVAS MUDANÇAS SOBRE O AUXÍLIO-DOENÇA



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Transcrição:

AS NOVAS MUDANÇAS SOBRE O AUXÍLIO-DOENÇA *Juliana de Oliveira Xavier Ribeiro **Cibeli Espíndola dos Santos 1- Introdução O governo anunciou no final do mês de março um pacote de medidas, cujas principais finalidades são a redução do déficit da Previdência Social para R$ 32 bilhões neste ano e R$ 24 bilhões em 2006, a mudança no atendimento prestado à população e o combate a fraudes e sonegações dentro do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). Dentre as medidas do sistema de modernização e gestão da Previdência Social está a revisão das normas para a concessão de benefícios previdenciários como o auxílio-doença e a aposentadoria por invalidez. A publicação da Medida provisória n º 242, no último dia 28 de março, tem a finalidade de introduzir regras mais rígidas em busca de um cenário mais equilibrado quanto à concessão de benefícios previdenciários. Importante notar que as novas regras serão válidas para as pessoas que ingressaram com o pedido de concessão do auxílio-doença posterior a 28 de abril de 2005. Primeiramente, cumpre fazer a distinção dos benefícios que sofreram alterações com a edição da MP nº 242/05. 2- O auxílio-doença, a aposentadoria por invalidez e o auxílio-acidente O auxílio-doença: O auxílio-doença será concedido ao segurado impedido de trabalhar por doença ou acidente por mais de 15 dias consecutivos. A perícia deverá detectar que a mencionada doença tem a característica de ser temporária e reversível. No caso dos trabalhadores com o registro em carteira, nos primeiros 15 dias há a interrupção do contrato de trabalho, sendo sua remuneração ainda paga por seu empregador. A partir do 16º dia, o pagamento do auxílio-doença fica a cargo do INSS. Tratando-se de contribuinte individual a Previdência paga todo o período da doença ou do acidente.

A carência para o auxílio-doença é de 12 contribuições mensais. Esse prazo não será exigido em caso de acidente de qualquer natureza, isto é, acidente de trabalho ou fora deste. Também não será exigida carência para o trabalhador acometido de tuberculose ativa, hanseníase, alienação mental, neoplasia maligna, cegueira, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, doença de Paget (osteíte deformante) em estágio avançado, síndrome da deficiência imunológica adquirida (Aids) ou contaminado por radiação (comprovada em laudo médico). Aquele que já tiver doença pré-existente e vier a se filiar à Previdência não terá direito ao benefício, salvo se a incapacidade resultar do agravamento da enfermidade. O valor percebido pelo segurado, em se tratando de auxílio-doença, é de 91% do salário-de-benefício. A aposentadoria por invalidez A aposentadoria por invalidez é o benefício previdenciário concedido aos segurados que, por doença ou acidente, forem considerados pela perícia médica da Previdência Social incapacitados para exercer suas atividades ou outro tipo de serviço que lhes garanta o sustento. Esta incapacidade se difere do auxílio-doença por ser a incapacidade definitiva, enquanto que, a incapacidade para o auxíliodoença é transitória. A perícia, para quem recebe aposentadoria por invalidez, tem que ser realizada de dois em dois anos, sob pena, de suspensão do benefício. A carência deve ser a mesma do auxílio-doença. Se for acidente, esse prazo de carência não é exigido, mas é preciso estar inscrito na Previdência Social. O valor da aposentadoria por invalidez corresponde a 100% do salário-debenefício. O auxílio-acidente O auxílio-acidente é pago ao trabalhador que sofre um acidente e vem a ficar com seqüelas que reduzam sua capacidade laborativa. Este benefício tem o caráter de indenização, só podendo ser percebido após o término do auxílio-doença. Têm direito ao auxílio-acidente o trabalhador empregado, o trabalhador avulso e o segurado especial. O empregado doméstico, o contribuinte individual e o facultativo não fazem jus ao benefício. Para concessão do auxílio-acidente não é exigida a carência, devendo o segurado comprovar a impossibilidade de continuar desempenhando suas atividades.

O auxílio-acidente, por ter caráter de indenização, pode ser acumulado com outros benefícios pagos pela Previdência Social, exceto aposentadoria. O benefício deixa de ser pago quando o trabalhador se aposenta. O valor do auxílio-acidente corresponde a 50% do salário-de-benefício. Após os apontamentos das principais características que envolvem os benefícios previdenciários por incapacidade, partiremos para a análise das principais alterações trazidas pela MP nº 242/05. 3- A perda da qualidade de segurado para o auxílio-doença A perda da qualidade de segurado é a caducidade dos direitos inerentes ao segurado. Isto acontecerá devido à expiração do período de graça ou porque a manutenção da qualidade não estava instituída em determinado benefício previdenciário. O período de graça é o lapso de tempo durante o qual o segurado não está contribuindo para a Previdência, por não estar exercendo atividade a ela vinculada, mas tem garantido alguns direitos previdenciários. Isto significa que, durante o período de graça não se extingue a qualidade de segurado e, após este, o segurado não mais terá direito aos benefícios. Em caso de perda da qualidade de segurado, as contribuições anteriores só seriam computadas para efeito de carência depois que o segurado contasse, a partir da nova filiação à Previdência Social, com no mínimo um terço do número de contribuições para o cumprimento da carência definida para o benefício a ser requerido (artigo 24, parágrafo único, da Lei n 8.213/91). Sendo assim, os trabalhadores que ficassem por um lapso temporal sem contribuir para o INSS e perdiam a qualidade de segurado, ao retornarem ao estágio de segurado da Previdência, precisavam apenas de quatro meses de contribuição para reaverem o direito (1/3 das 12 contribuições exigidas por lei). A regra acima foi revogada com a edição da MP nº 242, publicada no dia 28/03/05. Quando o trabalhador voltar a contribuir para a Previdência, após a perda da qualidade de segurado, terá de efetuar 12 contribuições, e não apenas quatro, para ter direito ao benefício. Por este motivo, entendemos que há uma nova carência para o auxílio-doença toda vez que o segurado perde a sua qualidade. Carência é o período no qual o segurado irá contribuir sem ter direito ao benefício previdenciário. É o lapso temporal em que o segurado terá que contribuir para poder receber um benefício previdenciário (art. 24 da Lei nº 8.213/91).

A presença do instituto de carência, dentro do sistema de seguro social, é considerada por alguns doutrinadores como a medida adotada pelo legislador com a finalidade de manter um equilíbrio dentro do caixa da Previdência Social. Entretanto, essa maneira de considerar a carência parece adequar-se mais à noção de seguro social do que à seguridade social. Nessa linha de raciocínio, Wagner Balera escreve: A seguridade social, sendo perfeito plano de proteção jurídica, deve criar o instrumental que liberte o homem do julgo da necessidade. Mas, prestes a atingir esse ideal, a legislação da seguridade social parece querer conformar-se com o angusto esquema do seguro, fixando-se em certa categoria que considera necessária e imutável e por meio dela atrelando todo o plano de proteção. Referimo-nos à carência. Adiante, acrescenta: Entendemos que outras fontes de custeio devem ser buscadas para a proteção de riscos imprevisíveis que não deve ficar subordinada ao vetusto da carência. 1 O esclarecimento do ilustre professor Wagner Balera encaixa-se perfeitamente quando levamos em consideração a imposição de nova carência para o auxíliodoença. Isto devido ao fato de hoje estarmos na era da Seguridade Social, cujo objetivo principal é o alcance da dignidade humana. A Seguridade Social visa resguardar ou proteger determinado segmento da população em face do surgimento de problemas sociais. Em suma, o Estado define um conjunto de medidas destinadas a atender às situações futuras e inevitáveis quanto à qualidade de vida de seus segurados. O cunho protetor é formado pelo Estado e pela sociedade. A intervenção estatal é obrigatória a fim de atender a toda e qualquer demanda referente ao bem estar de toda a sociedade. Daí a Seguridade Social brasileira pode ser entendida como o conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos à previdência, à saúde e à assistência social, as quais podem se diferenciar pelo seu caráter de contributividade ou de nãocontributividade (art. 194 da Constituição Federal). 1 BALERA, Wagner. Sistema de Seguridade Social. LTr: São Paulo, 2001, p. 48/9.

Entendemos assim, que as alterações da MP nº 242 relativas a imposição de nova carência agem em direção contrária às idéias propagadas pelo sistema de Seguridade Social. Ao invés de se criar uma estrutura que vise dar uma maior proteção aos casos de necessidade social, é criada uma metodologia que acaba restringindo direitos já adquiridos pelos segurados do sistema previdenciário. Não cumpre, neste momento, discutirmos a respeito da natureza jurídica do instituto da carência no seguro social. Mas sim, questionar a ilegalidade da imposição de carência a cada vez que o segurado perde esta qualidade. O Governo esclarece que esta modificação tem a finalidade de recuperar créditos que foram perdidos com as inúmeras concessões de auxílio-doença no sistema previdenciário ao longo do tempo. Ocorre, todavia, que o governo olvidou que, a carência, em um sistema de Seguridade Social já é motivo de questionamento, ainda mais quando estamos falando em duas ou mais para se ter direito a um único tipo de benefício. Ainda, em relação à carência, sem qualquer alteração trazida pela MP nº 242/05, é válido lembrar que atualmente não existe tempo mínimo de contribuição para a concessão de auxílio-doença em casos de acidente de qualquer natureza (por acidente de trabalho ou fora do trabalho) ou de doenças profissionais. 4- A mudança no período utilizado como base de cálculo Pela redação dada pela MP nº 242/05, o cálculo do auxílio-doença volta a ser realizado pela média aritmética simples dos trinta e seis últimos salários-decontribuição ou, não alcançando esse limite, na média aritmética simples dos salários-de-contribuição existentes. Antes da edição da mencionada MP o cálculo era realizado com base em 80% de todas as contribuições já pagas pelo beneficiário desde julho de 1994 ou a partir do requerimento do benefício. 5- O valor da renda mensal inicial do auxílio-doença O valor da renda mensal inicial do auxílio-doença é de 91 % do salário-debenefício. A MP nº 242/05 não modificou este valor, mas sim impôs limites, ou seja, o valor do benefício será limitado ao valor do salário que o trabalhador recebe no momento em que requerer o benefício ou o seu último salário-decontribuição se a remuneração for variável. Como o auxílio-acidente é pago somente no fim do auxílio-doença correspondendo a 50% do salário de benefício que deu origem ao auxílio-doença, ele também poderá ter seu valor reduzido com as mudanças efetivadas para o auxílio-doença.

Para facilitar a compreensão da matéria. Vejamos as alterações da MP nº 242/05: Forma de Cálculo Valor Carência Auxílio-doença Antes da MP 242 Após a MP 242 Cálculo realizado com base em 80% de todas as contribuições já pagas pelo beneficiário. Sem limite de valor para o pagamento do benefício Para receber, o trabalhador que nunca contribuiu para a Previdência tinha que contribuir por pelo menos 12 meses. Se ficasse um ano sem contribuir, o trabalhador perdia a condição de segurado e o direito ao benefício. Quando voltasse a contribuir, sua carência diminuía para 04 meses, desde que já tivesse contribuído por pelo menos 08 meses quando era segurado. Cálculo do benefício será com base na média de contribuição dos últimos 36 meses O teto máximo não poderá exceder a última remuneração do trabalhador Acaba a possibilidade de pedir auxílio-doença com 04 meses. Se perder a condição de segurado, o trabalhador terá que contribuir por mais 12 meses para pedir o auxíliodoença. Lembre-se que permanece inalterada a norma que se refere à carência em casos de acidente de qualquer natureza, isto é, acidente de trabalho ou fora deste. Também não será exigida carência para o trabalhador acometido de tuberculose ativa, hanseníase, alienação mental, neoplasia maligna, cegueira, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, doença de Paget (osteíte deformante) em estágio avançado, síndrome da deficiência imunológica adquirida (Aids) ou contaminado por radiação (comprovada em laudo médico). Iniciar-se-á no 16º dia do afastamento, para empregados com carteira assinada. Data de início Com relação aos autônomos, o início do auxílio dar -se-á com o início da incapacidade, desde que seja feito o requerimento até 30 dias da incapacidade. Se a entrada do requerimento ocorrer após os 30 dias, o início do benefício dar-se-á com a data do requerimento. Auxílio-acidente Forma de cálculo Valor Carência Data de início O cálculo deste será baseado no salário-de-benefício oriundo da média de contribuição dos últimos 36 meses que deu origem ao auxílio-doença, incluindo a correção até o mês anterior da concessão do auxílio-acidente. Não houve alteração, mantém-se a regra que corresponde a 50% do salário de benefício do qual originou o auxílio-doença, incluída as correções até o mês anterior do início do auxílio - acidente. Neste caso a carência será analisada no momento da concessão do auxílio-doença. Iniciar-se-á logo após a cessação do auxílio-doença.

Aposentadoria por Invalidez Forma de Cálculo Antes da MP 242 Após a MP 242 Correspondia a 100% do salário de benefício. Sendo que, aos inscritos até 29/11/99 correspondia a 80% dos maiores salários de contribuição, corrigidos monetariamente desde jul/94. E, aos inscritos após 29/11/99 correspondia a média dos 80% maiores salários de todo o período contributivo. Cálculo do benefício para aposentadoria que independe de carência será com base na média de contribuição dos últimos 36 meses. Caso o trabalhador não tenha alcançado tal número de contribuições, o cálculo será realizado sobre a média das contribuições existentes. Valor Carência Sem limite de valor para o pagamento do benefício Para receber, o trabalhador que nunca contribuiu para a Previdência tinha que contribuir por pelo menos 12 meses. Se ficasse um ano sem contribuir, o trabalhador perdia a condição de segurado e o direito ao benefício. Quando voltasse a contribuir, sua carência diminuía para 04 meses, desde que já tivesse contribuído por pelo menos 08 meses quando era segurado. O teto máximo não poderá exceder a última remuneração do trabalhador Acaba a possibilidade de pedir auxílio-doença com 04 meses. Se perder a condição de segurado, o trabalhador terá que contribuir por mais 12 meses para ter direito ao benefício. 6- Conclusão A MP nº 242/05 teve como principal objetivo a eliminação de fraudes comumente ocorridas no sistema previdenciário nacional e a recuperação de créditos através da imposição de limites e um maior rigor quanto à concessão dos benefícios por incapacidade. Entende o governo que as fraudes aqui referidas eram oriundas da falta de controle do próprio sistema que permitia àqueles que, por algum motivo tivessem perdido a qualidade de segurado, retornassem com um número ínfimo de contribuições, aumentando proporcionalmente o déficit do setor previdenciário. Discordamos deste novo modelo de soluções impostas pela MP nº 242, pelos seguintes motivos: 1. A nítida ofensa ao princípio do direito adquirido, quanto à imposição de restrições à concessão do benefício.

2. Esta solução poderá acarretar prejuízo a outros setores da Seguridade social como a Saúde e a Assistência social. A pessoa que mesmo sendo segurada e tendo que cumprir nova carência, ao descobrir uma nova doença durante o lapso exigido por lei, não terá como pagar seus remédios ou sua consulta médica, tendo que se socorrer do sistema de Saúde ou da Assistência Social. 3. O sistema de Seguridade Social determina a proteção contra qualquer estado de necessidade social e, a imposição de restrições desta natureza, é ofender o princípio do respeito à dignidade da pessoa humana. 4. O governo só encontrará meios eficazes para a redução do déficit previdenciário no momento em que solucionar as imensas fraudes nas concessões do benefício por incapacidade. Isso ocorrerá quando as perícias médicas barrarem as pessoas que não estão enfermas e quando o sistema de informações do banco de dados do INSS conseguir demonstrar quem são os segurados que não tem mais direito às prestações previdenciárias. * Mestre em Direito previdenciário pela PUC de SP, coordenadora do Instituto Brasileiro de Estudos-IBEST, BBG Sociedade de Ensino e Cursos Êxito, professora de cursos de pós-graduação, cursos preparatórios e graduação. ** Graduanda em Direito pela Universidade Paulista UNIP São José dos Campos