O CÔMPUTO DO TEMPO DE PERCEBIMENTO DO SEGURO-DESEMPREGO PARA FINS DE APOSENTADORIA
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- João Victor Caetano Cruz
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1 O CÔMPUTO DO TEMPO DE PERCEBIMENTO DO SEGURO-DESEMPREGO PARA FINS DE APOSENTADORIA * Juliana de Oliveira Xavier Ribeiro 1) Introdução A finalidade do presente texto é demonstrar a natureza jurídica do segurodesemprego como benefício previdenciário. Comprovada sua natureza jurídica iremos partir para a análise da aplicabilidade do cômputo do tempo de percebimento do seguro-desemprego para fins da contagem do tempo de serviço para a aposentadoria. A tese jurídica parte do pressuposto de aplicar os efeitos do período de manutenção da qualidade de segurado ou período de graça para o segurodesemprego, assim como é realizado com o auxílio-doença e com o saláriomaternidade. 2) O seguro-desemprego Com fundamento jurídico no art. 7º da Constituição Federal, foi instituído no Brasil no ano de 1986, por meio do Decreto-lei n.º 2.284/86 e regulamentado pelo Decreto nº /86. Posteriormente, a Lei n.º 7.998/90 criou o Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (CODEFAT) e determinou que o custeio do programa seria desenvolvido pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). O programa do seguro-desemprego tem como principais finalidades: - prover assistência financeira temporária ao trabalhador desempregado em virtude de dispensa sem justa causa, inclusive a indireta; - auxiliar os trabalhadores na busca de emprego, promovendo, para tanto, ações integradas de orientação, recolocação e qualificação profissional. 2.1) Critério pessoal Terá direito a receber o Seguro-Desemprego o trabalhador dispensado sem justa causa, inclusive em rescisão indireta, que comprove:
2 - ter recebido salários consecutivos no período de 6 meses imediatamente anteriores à data da dispensa, de uma ou mais pessoas jurídicas ou pessoas físicas equiparadas às jurídicas. Exemplo: dispensa em comprovação de recebimento de salários de abril a setembro/ ter sido empregado de pessoa jurídica ou pessoa física equiparada à jurídica durante, pelo menos, 6 meses nos últimos 36 meses que antecederam a data de dispensa que deu origem ao requerimento do seguro-desemprego; - não estar em gozo de qualquer benefício previdenciário de prestação continuada, previsto no Regulamento de Benefícios da Previdência Social, excetuando o auxílio-acidente e a pensão por morte; - não possuir renda própria de qualquer natureza suficiente à sua manutenção e de sua família. 2.2) Número de parcelas e valor O seguro desemprego é concedido em três, quatro ou cinco parcelas, de forma contínua ou alternada, a cada período aquisitivo de dezesseis meses. - Serão três parcelas, se o trabalhador comprovar vínculo empregatício de no mínimo seis meses e no máximo onze meses, nos últimos trinta e seis meses; - Serão quatro parcelas, se o trabalhador comprovar vínculo empregatício de no mínimo doze meses e no máximo 23 meses, nos últimos 36 meses; - Serão cinco parcelas, se o trabalhador comprovar vínculo empregatício de no mínimo 24 meses, nos últimos 36 meses. Entende-se por período aquisitivo o limite de tempo que estabelece a carência para recebimento do benefício. O terno inicial deste conta-se a partir da última dispensa que habilitar o trabalhador a receber o benefício previdenciário A verificação do valor do benefício tem como base o salário mensal do último vínculo empregatício, na seguinte ordem: - Tendo o trabalhador recebido três ou mais salários mensais a contar desse último vínculo empregatício, a apuração considerará a média dos salários dos últimos três meses;
3 - Caso o trabalhador, em vez dos três últimos salários daquele vínculo empregatício, tenha recebido apenas dois salários mensais, a apuração considerará a média dos salários dos dois últimos meses; - Caso o trabalhador, em vez dos três ou dois últimos salários daquele mesmo vínculo empregatício, tenha recebido apenas o último salário mensal, este será considerado, para fins de apuração; - Caso o trabalhador não tenha trabalhado integralmente em qualquer um dos últimos três meses, o salário será calculado com base no mês de trabalho completo. Após verificado o salário médio dos últimos três meses, devemos efetuar o seguinte cálculo demonstrado na tabela abaixo: TABELA PARA CÁLCULO DO BENEFÍCIO SEGURO-DESEMPREGO ABRIL/2006 FAIXAS DE SALÁRIO MÉDIO VALOR DA PARCELA Até R$ 577,77 Multiplica-se salário médio por 0.8 (80%) Mais de Até R$ 577,78 R$ 963,04 O que exceder a 577,77 multiplica-se por 0.5 (50%) e soma-se a 462,21. Acima de 963,04 O valor da parcela será de R$ 654,85 invariavelmente. 3) A natureza jurídica do seguro-desemprego Antes de estabelecermos a natureza jurídica do benefício em tela, temos que nos atentar à relação anterior que ensejou a situação do desemprego, à situação caracterizada por nosso legislador como sendo o vínculo obrigacional entre empregador e empregado. No entanto, por uma decisão alheia à sua vontade este empregado teve seu vínculo trabalhista cessado. Tal situação além de gerar um grande transtorno financeiro, acarreta alguns desiquilibrios emocionais, e, visando amenizar estes riscos, a lei, utilizando o seu caráter protetivo, veio resguardar ou, melhor dizendo, procurou
4 amparar este sujeito para que o mesmo tenha um tempo mínimo para se restabelecer do dano ocasionado pela falta do emprego. O direito à seguridade social nasceu do fato de as pessoas serem membros da sociedade. A proteção social foi ampliada, pois além de incluir os riscos e a sua conseqüente proteção econômica, abrange o que chamamos de necessidades básicas das pessoas como membros de uma sociedade constituída. Necessidades essenciais de cada indivíduo tornam-se necessidades sociais, uma vez que não atendidas repercutirão sobre os demais indivíduos e a sociedade inteira. O sistema de superação de necessidades não se limitará somente àquilo que chamamos de objeto da relação previdenciária (risco social). O objeto da proteção, dentro do sistema de seguridade social irá além dos limites do risco, abarcando a luta incessante pela superação de toda e qualquer necessidade. Nossa Carta Magna, no capítulo intitulado Da Ordem Social deixa-nos explícito, logo na primeira frase, a importância do trabalho. Em face disto, podemos discorrer que o desemprego gera uma situação de necessidade social que também merece proteção previdenciária. Vejamos o nosso texto constitucional: Art A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: (...) III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; (grifo nosso) Assim, levando em consideração os elementos do seguro social teremos para o risco em questão: - Partes sujeito ativo: desempregado, sujeito passivo: Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) - Prêmio: contribuição para o fundo de garantia (FGTS) - Risco: evento futuro e incerto desemprego - Indenização seguro-desemprego Muitos questionam a natureza jurídica do seguro-desemprego como benefício previdenciário pelo fato deste possuir fundo gestor próprio (FAT) e diferenciado dos demais benefícios previdenciários.
5 O professor Wagner Balera ao se referir aos recursos do Sistema Nacional de Seguridade Social fez a seguinte observação que encaixa perfeitamente a discussão acima abordada: Compõe, ainda, a tabela de recursos que sustentam a seguridade social as verbas consignadas do FAT Fundo de Amparo ao Trabalhador. Instituído pelo art. 10 da Lei , de 1990, o FAT (...) nos termos do art. 239 da lei maior a fim de servirem à realização de dois objetivos: a) o econômico (financiamento de projetos e programas de desenvolvimento econômico) e; b) o social (a proteção ao trabalhador desempregado). 1 Da abordagem do ilustre doutrinador, podemos concluir: Se o Fundo de amparo ao trabalhador compõem as verbas que sustentam a seguridade social, o dinheiro deste fundo irá patrocinar um benefício ou serviço de um dos três ramos da seguridade social (Previdência, Assistência e Saúde). Se o mencionado fundo tem como objetivo social a proteção do trabalhador desempregado, nada mais justo concluir que os recursos oriundos do FAT irão dar respaldo ao risco social desemprego (art. 201, III, da CF/88), o que dá origem a indenização de natureza previdenciária seguro-desemprego. 4) A manutenção da qualidade de segurado no Regime geral de Previdência Social Período de graça é o período pelo qual aquele que era segurado, mesmo sem contribuir, continua tendo o direito a alguns benefícios previdenciários. Ou seja, é o lapso de tempo durante o qual o segurado não está contribuindo para a Previdência, por não estar exercendo atividade a ele vinculada, mas tem garantidos alguns direitos. Isto significa que durante o período de graça, não é perdida a qualidade de segurado. Como visto, a manutenção do sistema previdenciário depende de contribuições dos segurados e, esta arrecadação decorre do exercício de atividades remuneradas. Porém, a natureza protetiva do sistema previdenciário, aliás, razão de ser da própria 1 Balera, Wagner. Sistema de Seguridade Social. LTr: São Paulo, 3ª ed, 2003, p. 29.
6 previdência, não autoriza desamparar, de imediato, um segurado se este, por razões alheias a sua vontade, não estiver contribuindo. Assim, a lei prevê um determinado lapso temporal em que o segurado continuará coberto independentemente de contribuições. O artigo 15 da Lei nº 8.213/91 determina as situações em que é mantida a qualidade de segurado e os prazos a ela relacionados. Em seu inciso I prevê que manterá a qualidade de segurado, sem limite de prazo, aquele que estiver em gozo de benefício previdenciário. Vejamos que o mencionado artigo esclarece que quem estiver recebendo benefício previdenciário terá direito de manter a sua qualidade de segurado. Realizando uma interpretação literal do mencionado artigo concluiremos que não há alguma limitação quanto à aplicabilidade deste dispositivo legal ao segurodesemprego, que é considerado benefício previdenciário. Assim sendo, todo o tempo percebido de seguro-desemprego deverá ser computado para efeitos do cálculo do tempo de serviço para a aposentadoria, como ocorre com o auxílio-doença e o salário-maternidade. * Mestre em Direito previdenciário pela PUC de SP, coordenadora do Instituto Brasileiro de Estudos-IBEST, BBG Sociedade de Ensino e Cursos Êxito, professora de cursos de pósgraduação, cursos preparatórios e graduação.
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