Economia Política e Serviço Social

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Transcrição:

Economia Política e Serviço Social

Material Teórico Breve História do Pensamento Econômico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Bruno Leonardo Tardelli Revisão Textual: Prof a. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos

Breve História do Pensamento Econômico Introdução A contextualização de Adam Smith Thomas Malthus David Ricardo Jean Baptiste Say A Economia Neoclássica John Maynard Keynes Nesta unidade, iremos abordar alguns autores que compõem a história do pensamento econômico. Como o número de grandes pensadores é bastante extensa, esta unidade será reservada para inserir alguns que possam realizar uma linha adequada de pensamento e, ao mesmo tempo, permanecendo no escopo desta disciplina Atenção Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma. 5

Unidade: Breve História do Pensamento Econômico Contextualização Wikimedia Commons - Thinkstock/Getty Images 6

Introdução Nesta unidade 2, iremos explorar alguns autores que passaram pela história do pensamento econômico. A intenção não é a de trabalhar com todos os aspectos, nem mesmo com todos os autores, por um motivo básico: a história do pensamento econômico é muito vasta tanto em termos de conteúdo, como em termos de pensadores. Assim, foram selecionados alguns deles para podermos mostrar pelo menos parte do desenrolar histórico e a linha de pensamento de cada um deles. Serão abordados os seguintes autores: Adam Smith, Thomas Malthus, David Ricardo, Jean- Baptiste Say e John Maynard Keynes. A linha de pensamento do alemão Karl Marx será alvo das duas próximas unidades. Entretanto, cumpre terminarmos o raciocínio da unidade anterior, em que foi prometida uma explicação sobre o interesse industrial dos capitalistas. O motivo de trabalhar com esses elementos neste momento é pelo fato de que a maioria dos autores a serem trabalhados nesta unidade vivenciou e inspirou seus escritos no período em que viviam, ou seja, a época da Revolução Industrial do final do século XVIII, com exceção de Keynes. Além disso, podemos relacionar o raciocínio a Adam Smith. A Contextualização de Adam Smith Escritos anteriores a Adam Smith relatavam que as principais fontes de lucro dos comerciantes se passavam por duas fontes: a inflação e a arbitragem regional. Não entraremos em detalhes sobre a questão da inflação, mas sobre a arbitragem regional será dada uma atenção maior. A arbitragem regional se configura quando alguém compra um produto em um lugar por um preço e tenta vender por um preço maior em outra região, de modo a obter lucro. Entretanto, esse esquema somente era possível no momento em que a Europa Ocidental era considerada extensa e as trocas entre as regiões ainda eram bastante incipientes. Quando ocorre o crescimento do comércio entre as regiões e o aumento da concorrência entre os comerciantes, essa prática passa a ser menos atrativa. Confuso? Iremos explorar melhor a ideia a seguir. Pense Imagine dois países distintos, por exemplo, Brasil e Japão, e suponha que eles possuam a mesma moeda somente para simplificar a explicação. Além disso, vamos supor que: estejamos abordando o mercado de batatas; o Brasil seja um grande produtor de batatas; o Japão não produza muitas batatas e, por isso, precise importar para suprir as necessidades de seu povo. 7

Unidade: Breve História do Pensamento Econômico Agora, digamos que você seja um grande produtor de batatas, more no Brasil e enxergue a possibilidade de ganhar muito dinheiro vendendo batatas para o Japão, talvez até mesmo sendo o único vendedor de batatas do mundo para o mercado japonês. Ao longo do tempo, você espera que esta situação se mantenha dessa forma? Será que ninguém mais vai enxergar a possibilidade de lucro vendendo batatas para o Japão? Claramente que descobrirão e, quando isso ocorrer, vários produtores podem passar a vender batatas para o Japão. Qual a discussão por trás disso? Analise. Se muitos passarem a vender batatas para o Japão, pode ocorrer dos compradores japoneses quererem escolher o produtor que venda pelo preço menor. Assim, cada produtor brasileiro concorreria entre si para vender para o Japão, haveria uma queda nos preços de venda, o que reduziria os lucros. O exemplo anterior ilustra o mecanismo básico que acabou ocorrendo ao longo do tempo na Europa, a partir do crescimento do comércio entre as regiões e que culminou em uma redução dos lucros dos capitalistas através do comércio. Buscando uma forma alternativa de obter lucro, esses capitalistas de certa forma enxergaram na produção, e não somente na comercialização, a possibilidade de alavancar seus lucros. Assim, os capitalistas mercantis juntamente com alguns mestres de ofício passaram, cada vez mais, a assumir o posto dos tradicionais e comuns artesãos na produção de manufaturas. Entretanto, havia uma questão importante: o Estado. Os governos eram vistos como um entrave à expansão desses capitalistas. Nos primórdios da industrialização capitalista, a busca de lucros industriais pelos capitalistas era frequentemente obstruída por governos que representavam os antigos interesses dos comerciantes e proprietários de terras. Além disso, grande parte da antipatia que os primeiros capitalistas tinham dos governos era uma consequência direta dos muitos atos corruptos, despóticos, caprichosos e tirânicos de vários reis europeus. (HUNT, 2004). Do parágrafo anterior, o que se observa é que os capitalistas se viam incomodados com a figura de governos que não representavam seus interesses. É neste momento que o pensamento filosófico do individualismo cresce e que os ideais de Adam Smith ganham destaque no meio econômico. No tópico seguinte, iremos abordar alguns elementos defendidos por esse autor. Adam Smith Adam Smith nasceu na Escócia e viveu entre 1723 e 1790. Entre suas principais obras estão a Teoria dos sentimentos morais, de 1759 e A Riqueza das Nações, de 1776. Foi considerado um importante pensador e distinto dos economistas anteriores, entre outras coisas, por ter elaborado um modelo abstrato completo e relativamente coerente da natureza, da estrutura e do funcionamento do sistema capitalista (HUNT, 2004). Para Smith, a natureza havia incutido na mente humana a ideia de que a felicidade estava intimamente relacionada com a riqueza material. 8

Importante Não é assim que parece funcionar para a maioria das pessoas? Quais os seus objetivos? Se a resposta for felicidade, os meios para obtê-la normalmente não estariam em objetivos materiais Hunt (2004) cita um trecho de Smith: É bom que a natureza nos imponha desta maneira. É esta ilusão que cria e mantém o movimento contínuo da operosidade da humanidade. Foi ela que primeiro incitou os homens a cultivar o solo, a construir casas, a fundar cidades e comunidades e a inventar e fazer progredir todas as ciências e artes que enobrecem e embelezam a vida humana. (HUNT apud SMITH, 2004). Assim, o pensamento smithiano passa pelo entendimento de que as pessoas agem de acordo com a individualidade em prol de seus objetivos. Mas este não seria o retrato das sociedades desde o início da humanidade, mas sim, uma essência do modo de produção capitalista. O bem estar da humanidade seria advindo das atitudes egoístas. Como? Haveria uma mão invisível que coordenaria as pessoas a promover o melhor para todos, mesmo sem esta intenção. As pessoas buscariam o melhor para si e estariam, dessa forma, obtendo o melhor resultado para todos. Para Pensar Uma situação que retrata isso de forma cotidiana são os trens metropolitanos. As pessoas combinam em entrar todas no mesmo vagão? Muitas pessoas não pensam em ir para os vagões dos extremos? Será que elas vão para os vagões mais distantes do meio porque estão pensando em trazer conforto para quem estará no miolo da estação? Claramente que não. Está buscando um melhor conforto para si, mas também, acabam indiretamente favorecendo as pessoas que decidiram estar no meio da estação. O quadro se repete em um ônibus, em que muitas pessoas se afastam uma das outras para melhor se acomodarem e não para melhorar a situação do vizinho. Um exemplo histórico interessante é observar que os movimentos dos cercamentos promovidos pelos senhores feudais (vide unidade 1 do material didático) originaram de uma busca por dinheiro por parte deles. Nesse sentido, motivos egoístas teriam levado os senhores feudais reduzir o número de indivíduos envolvidos nas condições de servidão (HUNT, 2004). A preocupação essencial de Smith em sua teoria do Bem-Estar Econômico seria a de: [...] identificar as forças sociais e econômicas que promoviam o bem-estar humano e, com base nisso, recomendar políticas que melhor promovessem a felicidade humana [...] o bem-estar humano baseado na quantidade de produto do trabalho e do número dos que deveriam consumi-lo. (HUNT, 2004) 9

Unidade: Breve História do Pensamento Econômico O ponto que Smith atinge, com a hipótese de que os indivíduos agem segundo o egoísmo e os desejos aquisitivos, é o de que o capitalismo ideal é aquele em que as pessoas podem se ver livres de determinadas barreiras. Seria isso que levaria o progresso de toda a sociedade. Seria o capitalismo laissez-faire. Para Smith, qualquer intervenção dos governos, tais como regulamentações, concessões de monopólio e subsídios, tenderiam a reduzir a capacidade de geral o bem-estar econômico. Se os governos nada fizessem em relação à condução econômica de uma sociedade, a própria busca egoísta pelo lucro resultaria no desenvolvimento econômico. É a defesa do liberalismo econômico. Nesse sentido, aos governos somente restariam três funções básicas. Seriam as de: [...] proteger a sociedade da violência e da invasão de outras sociedades independentes; proteger, na medida do possível, todo membro da sociedade da injustiça e da opressão de qualquer de seus membros ou a função de oferecer uma perfeita administração da justiça; e, fazer e conservar obras públicas e de criar certas instituições públicas [...] que nunca despertariam o interesse do capital. (HUNT, 2004) Outro ponto importante a ser salientado em Smith é a exploração sobre a ideia de valor. Para Smith, em sociedades mais primitivas, o valor de tudo que é produzido deveria ser mensurado a partir da quantidade de trabalho dedicado à sua elaboração. Segundo o autor: Não foi por ouro ou por prata, mas pelo trabalho, que foi comprada toda a riqueza do mundo; e o valor dessa riqueza, para os que a possuem, e desejam trocá-la por novos produtos, é exatamente igual à quantidade de trabalho que essa riqueza lhes dá condições de comprar ou comandar. (SMITH, 1983) Entretanto, para Smith, o valor de troca ou o preço numa sociedade capitalista mais avançada seria advindo da soma de três componentes: salários, aluguéis e lucros (custos de produção). Não vamos entrar em detalhes nesse ponto, mas a questão é que, a partir desse raciocínio, ao invés de surgir uma teoria do valor, acaba surgindo uma teoria dos preços, que foi largamente criticada. Thomas Malthus 10 Thomas Malthus era filho de uma rica família inglesa e viveu entre 1766 e 1834. Para a explanação sobre Malthus e, também para atender o objetivo desta disciplina, vamos abordar a teoria malthusiana da população sob a abordagem de Hunt (2004). As premissas básicas desta teoria é a de que a população mundial cresceria em um ritmo superior ao da produção de alimentos. Assim, haveria um limite que a natureza iria impor, que seria o controle do número de habitantes em função da quantidade de alimentos existentes.

Trocando Ideias Em relação ao crescimento populacional, Malthus acreditava que as pessoas possuíam um desejo sexual constante. Isto levaria a taxas de crescimento populacionais em ritmo geométrico, num ritmo de duplicação a cada período. Um exemplo numérico é o de que, a partir de uma população de duas pessoas, como Adão e Eva, teríamos o seguinte ritmo de crescimento: 2, 4, 8, 16, 32, 64 etc. De outra forma, a taxa de crescimento de alimentos, na melhor das hipóteses, chegaria a um crescimento aritmético, ou seja, o ritmo de crescimento seria a um nível constante, por exemplo, da seguinte forma: 2, 4, 6, 8, 10, 12 etc. Colocando de outra forma, a taxa de crescimento seria no máximo dada em um ritmo, por exemplo, de 2 em 2, e não dobrando a cada período. Com base nessas premissas, Malthus se coloca contra a defesa da classe operária ou qualquer estrato inferior da sociedade ao contrário de autores como o Marquês de Condorcet e Willian Goodwin. E entender este ponto é que configura nosso próximo objetivo. Para Malthus, como a taxa de crescimento populacional cresceria a uma taxa geométrica, enquanto a taxa de crescimento da produção de alimentos cresceria, no máximo, de forma aritmética, haveria um limite ou controle natural ao crescimento da população, que seria a fome. Se a morte pela fome pode ser vista como algo temível, as sociedades deveriam buscar determinadas formas de evitar que a população fosse tão elevada. Dessa forma, o autor propõe dois tipos de controles: os controles preventivos e os controles positivos. Os controles preventivos passariam por práticas de redução da taxa de natalidade, com práticas de esterilidade e abstinência sexual. Por outro lado, os controles positivos se dariam no sentido de elevar as taxas de mortalidade, a partir, por exemplo, da miséria, das guerras e das pragas. Para Malthus, a pobreza seria um elemento inevitável em uma sociedade e, portanto, não seria algo a ser combatido. O autor acompanha o raciocínio de que qualquer tentativa de melhoria na vida dos pobres somente criaria condições para gerar mais pobres, pois estes, caso vissem sua condição de vida melhorar, juntamente com o desejo sexual insaciável, naturalmente teriam mais filhos, voltando assim, às péssimas condições de vida. Além disso, qualquer esquema de redistribuição de renda ou aumento de salários, mesmo que não provocasse o surgimento de novos membros imediatamente, poderia culminar, por consequência, na redução nos dias de trabalho, por parte dos pobres. E, isto poderia gerar uma queda da produção industrial capaz de atrasar o crescimento de determinado país. Segundo Malthus: É evidente que, qualquer que seja a taxa de aumento dos meios de subsistência, o aumento da população tem que ser por ela limitado, pelo menos depois de os alimentos terem sido divididos até atingir as quantidades mínimas necessárias para a vida. Todas as crianças que nascessem além do número exigido para manter a população neste nível teriam que morrer, a não ser que houvesse lugar para elas com a morte de adultos. (HUNT apud MALTHUS, 2004). 11

Unidade: Breve História do Pensamento Econômico E segue dizendo: Portanto, para agirmos coerentemente, devemos facilitar, em vez de tolamente e em vão, nos esforçarmos para impedir a ação da natureza, provocando esta mortalidade; se temermos a visita frequente da fome terrível, devemos, estimular as outras formas de destruição que obrigamos a natureza usar. Em nossas cidades, devemos estreitar as ruas, encher mais as casas de gente e pedia a volta das pragas. No país, devemos construir nossas aldeias perto de águas estagnadas e incentivar, especialmente, a ocupação do solo em lugares pantanosos e insalubres. Mas, acima de tudo, devemos reprovar remédios específicos para doenças devastadoras, bem como os homens bem intencionados, mas muito enganados, projetando para a eliminação total de certos erros. (HUNT apud MALTHUS, 2004) Não foi comentado até o momento sobre a existência das leis dos pobres, da Inglaterra, mas trata-se de um tema que deve ser abordado e que possui relações com a teoria malthusiana. Um conjunto de leis inglesas, chamado Leis dos Pobres, foi reformulado em 1601. Dentre os principais pontos, estavam: [...] o reconhecimento formal do direito de os pobres receberem auxílio [...]. As pessoas de idade e os doentes poderiam receber ajuda em suas casas; os filhos dos pobres que tivessem muito pouca idade para receber treinamento num ofício ficariam internos; os pobres merecedores e os desempregados receberiam trabalho [...]; os desordeiros incorrigíveis deveriam ser mandados para casas de correção e prisões. (HUNT, 2004). A missão aqui não é a de explorar estes elementos, nem o fundamento original para a constituição destas leis, mas sim entender a visão de Malthus sobre este conjunto de disposições. Para Malthus, as leis dos pobres poderiam levar os pobres a uma condição de vida inferior de duas formas. Em primeiro lugar, tenderiam a elevar o nível populacional e, em segundo lugar, auxiliariam com alimentos uma parte da população que poderia ser considerada inútil do ponto de vista de desenvolvimento econômico de uma nação, qual seja, a dos idosos que se instalavam nas workhouses, que eram os asilos da época. David Ricardo David Ricardo viveu entre 1772 e 1823 e ganhou muito dinheiro na bolsa de valores, além de ter sido sempre um defensor dos interesses dos capitalistas. A partir da leitura do livro A Riqueza das Nações, de Adam Smith, Ricardo iniciou seus trabalhos na área econômica. 12

A teoria do valor-trabalho de Ricardo Da teoria ricardiana, vamos abordar aspectos do valor-trabalho e de forma resumida comentaremos sobre a teoria das vantagens comparativas presentes em Hunt (2004). Apesar de importante, a teoria da renda da terra de Ricardo não será explanada, por se tratar de um tópico que foge do escopo desta disciplina. Do ponto de vista de sua concepção de valor, para David Ricardo, apesar de as mercadorias terem a necessidade de serem úteis, este aspecto não faz com que elas tenham valor. Se uma mercadoria não possui valor pela sua forma útil, onde estaria o seu valor? Na visão do autor, as fontes de valor estariam na escassez de determinada mercadoria por ser rara e na quantidade necessária de trabalho para ser obtida. Entretanto, Ricardo atenta para o caso apenas das mercadorias que teriam potencial de serem fácil e livremente reproduzíveis, e não das mercadorias raras, como estátuas, quadros e qualquer outro item que pudesse ser considerado praticamente único. Assim, o autor dirige seu estudo às mercadorias reproduzíveis relacionadas à introdução de valor, a partir de trabalho para sua produção. Como vimos, Smith partilhava da ideia de que a quantidade de trabalho somente seria a medida do valor nos estágios iniciais da sociedade. Quando o modo de produção vigente é o capitalismo, Smith advoga em prol de sua teoria do valor envolvendo preços dos fatores de produção. Ao contrário disso, Ricardo entende que a quantidade de trabalho seria a medida de valor mesmo com o capitalismo. Para Ricardo, somente o trabalho atribui valor a uma mercadoria e, assim, capacidade de troca com outra mercadoria. No caso dos recursos naturais encontrados na natureza sem esforço, estes seriam úteis, mas como não houve trabalho humano envolvido, mas algo que a natureza entregou gratuitamente, não pode possuir valor de troca. A teoria das Vantagens Comparativas e Comércio Internacional Ao invés de explanar sobre os passos da teoria das vantagens comparativas de Ricardo, o mais importante para o escopo desta disciplina é revelar as conclusões a que chega este autor. Ricardo defendeu que o livre-comércio poderia ser benéfico para os países, de modo que o crescimento do comércio contribuiria bastante decididamente para aumentar a massa de mercadorias e benefícios totais (HUNT, 2004). Por livre-comércio internacional entende-se aquele que não possui restrições ou mecanismos protecionistas por partes dos países, tais como o uso de tarifas de importação e concessão de subsídios. O tema sobre o livre-comércio internacional e a continuação da Zona Franca de Manaus foi palco de discussão no início de 2014. A prorrogação do prazo de permanência da existência desta Zona Franca foi aprovada, mas o que importa para nós é que o debate se relaciona à teoria de Ricardo. A Zona Franca de Manaus pode ser vista por alguns como um alavancar do crescimento da região Norte, por outro lado, há quem enxergue, implicitamente, em termos ricardianos, a defesa de um comércio mais livre. Entretanto, sem detalhar muito, o fato é que normalmente os países prejudicados pelas intervenções acabam reclamando em prol de um comércio mais justo, e quando precisam se proteger, também, muitas vezes o fazem. Na parte do Material Complementar, você pode acessar o link de uma reportagem do Jornal da Globo sobre este debate. 13

Unidade: Breve História do Pensamento Econômico Jean Baptiste Say Jean Baptiste Say viveu entre 1767 e 1832. Este autor se via na posição de um indivíduo que admirava as obras de Smith, apesar de considerar que nelas havia pequenos equívocos e que ele teria sido o responsável por corrigi-los. Say considerou que Smith havia errado em dizer que a produção de valores adviria somente do trabalho humano. Para Say, o valor viria do uso do objeto produzido e, assim, o preço ou o valor de troca de uma mercadoria estaria associado à sua utilidade. Nas palavras do autor: E segue: O valor que os homens atribuem às coisas tem seu primeiro fundamento no uso que delas se pode fazer [...] permanece sempre verdadeiro que os homens atribuem valor às coisas em virtude de seu uso: o que não serve para nada não tem preço nenhum. (SAY, 1983) A essa faculdade que possuem certas coisas de poderem satisfazer as diferentes necessidades humanas, permitem-me chamá-la de utilidade [...] Não se criam objetos, se criam utilidades. (SAY, 1983) A criação de valor nas mercadorias adviria não unicamente do trabalho humano, mas sim de uma combinação de fatores, os chamados agentes de produção. Estes agentes seriam tanto a capacidade humana, abordada por Smith e Ricardo, quanto o capital e os agentes naturais. Ou seja, o trabalho humano juntamente com os instrumentos de trabalho e os objetos de trabalho sendo estes dois últimos, grosso modo, as máquinas e as matérias-primas, respectivamente. Como forma de salientar a crítica, principalmente dirigida a Smith, Say defende que: [...] o valor dos produtos não se baseia no valor do agente de produção (quer dizer, não se baseia no lucro e nos salários), visto que alguns autores erroneamente afirmaram [...] é a capacidade de criar a utilidade [...] que confere valor a um agente de produção, valor este que é proporcional à importância de sua cooperação na produção. (HUNT apud SAY, 2004) A seguir, vamos explorar um mecanismo explícito pelo autor e que foi chamado de Lei de Say. 14 A Lei dos Mercados, de Say Say descreveu uma linha de pensamento que acabou por ser conhecida como Lei de Say (ou Lei dos Mercados de Say). Entretanto, já era um raciocínio compartilhado por Smith e Ricardo. A missão deste tópico é descrevê-la, a partir da abordagem explicitada por Hunt (2004). Parte-se da premissa básica de que nenhum empresário teria interesse em produzir algo se não pudesse trocar com (ou vender para) outra pessoa.

Pense Imagine que uma empresa produza algum produto, mas ninguém tem interesse em comprar. Não faria sentido produzir! Vamos interagir agora com a Lei de Say a partir de um exemplo. Suponha que no mundo somente existam dois mercados: o de arroz e o vestuário (e vamos supor que exista apenas um tipo de vestuário). Agora, imagine que você é um empresário que deseja escolher entre produzir arroz ou vestuário. Qual deles produziria, de acordo com a lógica capitalista? Obviamente aquele de maior lucro. Para dar lucro, o mercado deve ter preços de venda interessantes. Um preço muito baixo não o estimulará a produzir. Assim, vamos considerar que o preço do arroz esteja alto relativamente ao do vestuário pelo fato de terem muitos consumidores dispostos a comprar alguma quantidade de arroz nos supermercados e demais estabelecimentos. Neste momento, o seu pensamento como empresário deve ser: vou produzir arroz porque posso vender a este preço elevado. Entretanto, ao mesmo tempo, não só você enxerga esse grande negócio. Outros empresários também poderiam decidir entrar nesse mercado. O problema é que, quando muitos empresários entram em um mesmo mercado pode ocorrer uma enxurrada de arroz no mercado. De modo lúdico e sem muito rigor teórico, podemos dizer que é como se os armazéns de arroz pudessem estar lotados de arroz para vender, visto que a quantidade de pessoas disposta a consumir o produto seria menor. Neste momento, os empresários entrariam em concorrência para vender aquele arroz que está sobrando e acabariam reduzindo o preço para desfazer daquilo que está estocado para seduzir os consumidores com preços mais interessantes. Com preços baixos, o mercado de arroz pode acabar perdendo atratividade para os empresários (produtores). Assim, você, com visão capitalista, verifica que o mercado de vestuário pode ser uma oportunidade interessante de negócio, dado que a maioria dos demais empresários está no mercado de arroz. A forma que enxergam isto é a partir do preço do vestuário, que pode estar relativamente elevado ao do arroz e, ao vendê-lo, podem obter lucros maiores do que se mantivessem produzindo o grão. No momento, em que poucas empresas estão no ramo de vestuário, ou seja, poucos produtos estão disponíveis para os consumidores, é como se estes estivessem dispostos a pagar mais para obter o produto. Atenção Se estivéssemos em uma seca extrema, você pagaria mais do que paga hoje por uma garrafa de água? 15

Unidade: Breve História do Pensamento Econômico Entretanto, da mesma forma que você enxergou a possibilidade de lucrar em um mercado, o qual os consumidores estão dispostos a pagar um preço maior por cada vestuário, os demais empresários também observarão a elevação dos preços deste item. Assim, muitos podem decidir produzir vestuário, assim como você, e a quantidade de vestuários disponíveis para venda no mundo aumentará. A tendência é do preço do vestuário baixar e alguns empresários poderiam entender ser interessante voltar a produzir arroz. Para Pensar Voltando ao exemplo da seca extrema. Se a seca passou, você pagaria mais ou menos pela garrafa de água em relação aos períodos da seca? Ou seja, a ideia da Lei de Say, é de que os capitalistas são guiados para os mercados, os quais podem obter lucro (ou o máximo de lucro). Quando um mercado não oferece condições para isto, eles buscam outros mercados para obtê-lo. Assim, para autores como Say, Ricardo e Smith, não deveriam sobrar produtos no mundo, pois quando houvesse esta possibilidade, os preços se alterariam e os próprios capitalistas buscariam mercados em que não houvesse a sobra, de modo que conseguissem vender as mercadorias que estivessem produzindo. A visão do sistema econômico é a de que os mercados se autorregulam sem a necessidade de intervenção do Estado. Ou seja, a economia funcionaria de modo automático, em função do fato de cada indivíduo estar buscando a melhor oportunidade para si. O resultado final seria levar a economia como um todo rumo ao progresso. A Economia Neoclássica Partindo de princípios clássicos, ao longo da história do pensamento econômico foram surgindo pensamentos marginalistas que, unidos a outras correntes, formaram o pensamento neoclássico. Entre os principais ideais neoclássicos estariam a crença na natureza automática e autoregulável do mercado, que demonstrava que as principais funções do governo deveriam ser fazer cumprir os contratos e defender os poderes e os privilégios da propriedade privada (HUNT, 2004) e a existência de uma mão invisível como um ideal de racionalidade e eficiência. John Maynard Keynes John Maynard Keynes foi um homem muito rico e que viveu entre 1883 e 1946. Sua maior contribuição foi a obra A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, de 1936. Este tópico terá por base a interpretação do autor seguida por Hunt (2004). 16

A principal contribuição de Keynes para a literatura econômica surge da Grande Depressão dos anos de 1930. Esta foi marcada a partir da queda abrupta na Bolsa de Valores de Nova York no dia 24 de Outubro de 1929. A quebra da Bolsa de Nova York instalou uma crise de confiança em toda economia, gerando receio nas decisões dos empresários, que diminuíram a produção e os investimentos. Para Pensar Vamos transportar a ideia para outro exemplo e facilitar o entendimento. Imagine que os jornais anunciem que o Bradesco e o Santander quebraram. Entretanto, você é cliente do Itaú. Será que isso o (a) deixaria tranquilo (a)? Claramente que não. Se bancos importantes foram à falência, o seu temor provavelmente seria de que o Itaú também tivesse o mesmo destino. Da mesma forma, voltando ao cenário de 1929, ao observar a quebra de uma bolsa tão importante, como a de Nova York, os empresários enxergaram que toda a economia norte-americana poderia estagnar. Isso é o princípio básico de uma crise de confiança. Os empresários em geral, ao criarem a ideia de que a economia norte-americana estava em declínio, tiveram receio de que as mercadorias que produzissem não tivessem compradores e, assim, não obteriam lucros. Atenção Imagine-se como um empresário. Ao ler os jornais todas as manhãs, tomaria cada frase como um espinho que entra no coração, pois somente a desgraça aparecia ali, somente notícias do caos que a quebra da bolsa poderia causar estavam publicadas. Você como empresário, que tinha o sonho de comprar novos equipamentos para sua fábrica e a intenção de expandi-la, se vê inquieto e desanimado. Nos dias seguintes, verifica notícias de suicídios de pessoas que perderam dinheiro na Bolsa de Valores e que muitos empresários estão com a intenção de reduzir a produção nas suas fábricas e no setor agrícola por estarem temerosos quanto aos dias seguintes. Ao diminuir a produção, eles demitem muitos funcionários, formando um exército imenso de desempregados. Você insistiria em seguir seu sonho naquele momento e expandir sua empresa? Claramente que não. Possivelmente também retrairia sua produção e demitiria pelo menos alguns funcionários, pois sentiria medo de não conseguir vender suas mercadorias. Além de produzir menos, também deixaria de investir nas tão sonhadas novas instalações para a fábrica. Além de produzir menos, também deixaria de investir nas tão sonhadas novas instalações para a fábrica. Pelo parágrafo anterior, entendemos como era o cenário da época sintetizado em queda na produção, redução no investimento e uma gama de trabalhadores desempregados. O quadro 1 exibe alguns números do período entre 1929 e 1932. 17

Unidade: Breve História do Pensamento Econômico Quadro 1 - Números de 1929 a 1932 85 mil falências de empresas; 5.000 bancos suspenderam as operações; Os valores das ações na Bolsa de Valores de Nova York caíram de US$ 87 bilhões para US$ 19 bilhões; Desemprego: aumento de 12 milhões; Renda agrícola: queda de mais de 50%; Produção industrial: queda de quase 50%. Fonte: Hunt (2004) Em A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, de 1936, Keynes buscou interpretar o que havia ocorrido com o sistema capitalista naquele momento e as formas de preservá-lo. Uma vez que, a Lei de Say, ao pregar que o sistema capitalista laissez-faire levaria a economia ao progresso de forma automática não estava funcionando, outra forma deveria ser encontrada. No período da Grande Depressão, o que podemos verificar é que nem tudo que estava sendo produzido estava sendo vendido. Os empresários ao observarem essa situação, ao invés de reinvestirem o lucro obtido em períodos anteriores, preferiram segurar a demanda de investimentos, devido à crise de confiança instaurada. Esses fatos culminaram nos dados estatísticos explicitados anteriormente. Na visão do autor, no momento em que os consumidores compram os produtos dos empresários, normalmente estes devolvem tais recursos ao sistema econômico na forma de investimentos. Entretanto, o que ocorreu é que a poupança superou o investimento, por causa da crise de confiança. Keynes realiza algumas propostas para reverter essa situação. Alegou que o Estado deveria intervir na economia nos momentos em que a poupança superasse os investimentos. A forma de se fazer isso seria tomar emprestado o excesso de poupança e canalizar para projetos promovidos pelo governo. Esta injeção de recursos na economia seria capaz de reequilibrar a economia e a prosperidade. 18

Material Complementar No link indicado, segue uma reportagem sobre a discussão da prorrogação do prazo da Zona Franca de Manaus para mais 50 anos em oposição à reclamação de outros países, que consideram a existência dela um entrave ao comércio internacional. http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2014/02/dilma-rousseff-apoia-prorrogacao-debeneficios-na-zona-franca-de-manaus.html 19

Unidade: Breve História do Pensamento Econômico Referências HUNT, E. K. História do Pensamento Econômico: uma perspectiva crítica. 7 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. SAY, J. B. Tratado de economia política. São Paulo: Abril Cultural, 1983. SMITH, A. A Riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. São Paulo: Abril Cultural, 1983. 20

Anotações 21

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