Sistema aquífero: Maciço Calcário Estremenho Uma abordagem para sua caracterização

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Transcrição:

UC HIDROGEOLOGIA - UMINHO Sistema aquífero: Maciço Calcário Estremenho Uma abordagem para sua caracterização Ismaylia Peyroteo, José Aires e Jorge Guedes 2014/2015 Sistema aquífero cársico complexo, influenciado por calcários, dolomias e argilas, que imprimem uma água medianamente mineralizada, bicarbonatada cálcica e moderadamente dura.

Índice Introdução... 1 1. Enquadramento Geográfico... 2 2. Enquadramento Geológico... 2 3. Enquadramento Tectónico... 4 4. Enquadramento Hidrogeológico... 5 4.1. Caraterísticas Gerais... 5 4.2. Sector da Serra de Candeeiros e Plataforma de Aljubarrota... 8 4.3. Sector do Planalto de Santo António... 8 4.4. Sector do Planalto de S. Mamede e Serra de Aire... 9 4.5. Sector das Depressões de Alvados e Minde... 10 5. Parâmetros hidráulicos e Produtividade... 10 5.1. Piezometria... 10 5.2. Balanço Hídrico... 11 5.3. Qualidade... 11 Considerações finais... 13 Referências bibliográficas... 14 Anexos... 16

Índice de ilustrações Figura 1 Unidades morfo-estruturais... 16 Figura 2 Enquadramento litoestratigráfico do sistema aquífero estremenho (adaptado de SNHIR) 16 Figura 3 Divisões administrativas que integram a área do Maciço Calcário Estremenho (Google Earth)... 17 Figura 4 Mapa geológico do Maciço Calcário Estremenho... 18 Figura 5 Carta neotectónica da região enquadrante do PNSAC (adaptado de Cabral & Ribeiro, 1988).... 19 Figura 6 Distribuição dos pontos da rede de monitorização no maciço de Estremenho (segundo ALMEIDA, et al., 2000)... 19 Figura 7 Esquema mostrando algumas direções de fluxo em vola das depressões de Alvados e Minde (Crispim, 1995)... 20 Figura 8 Valores de recarga do Sistema Aquífero do Maciço Calcário de Estremenho (ALMEIDA, et al., 2000)... 20 Figura 9 Rede de amostragem do Sistema Aquífero do MCE (ALMEIDA, et al., 2000)... 21 Figura 10 Principais estatísticas relativas às águas do sistema do Maciço Calcário Estremenho para o período entre 1970 e 1995 (ALMEIDA, et al., 2000).... 21 Figura 11 Diagrama de classificação da qualidade para uso agrícola (ALMEIDA, et al., 2000).... 22

Introdução Insere-se este trabalho como instrumento para a nossa avaliação, respeitante à UC de Hidrogeologia, orientado pela Professora Doutora Maria do Rosário Melo da Costa Pereira, da Escola de Ciências da Universidade do Minho, O grupo de trabalho é constituído pelos seguintes elementos: Ismayla Peyroteo, José Aires e Jorge Guedes, alunos das licenciaturas de Biologia-Geologia e Geologia do ano letivo de 2014/2015. A escolha deste tema recaiu sobre uma determinação da nossa orientadora, em que cada grupo iria fazer um trabalho respeitante a um aquífero pertencente a uma das quatro grandes unidades morfo-estruturais (Figura 1) em que o país se encontra dividido, nomeadamente 1 : Maciço Antigo, também designado por Maciço Ibérico ou Maciço Hespérico; Orla Mesocenozóica Ocidental, abreviadamente designada por Orla Ocidental; Orla Mesocenozóica Meridional, abreviadamente designada por Orla Meridional; Bacia Terciária do Tejo-Sado, abreviadamente designada por Bacia do Tejo-Sado. A unidade que recai a nossa escolha é a Orla ocidental, que é constituída por 27 sistemas aquíferos, constituídos essencialmente pelas seguintes formações: Rochas detríticas terciárias e quaternárias (areias, areias de duna, terraços, aluviões, etc.); Arenitos e calcários cretácicos; Calcários do Jurássico. O grupo, depois de constituído, reuniu-se e escolheu um dos muitos sistemas aquíferos colocados à disposição, para a elaboração do respetivo relatório onde iremos tentar caracteriza-lo sumariamente. A escolha efectuada recai assim sobre o sistema aquífero do Maciço Calcário Estremenho (Figura 2). 1

1. Enquadramento Geográfico O sistema aquífero do Maciço Calcário Estremenho não corresponde totalmente aos limites da grande unidade morfogeológica designada por Maciço Calcário Estremenho, da Orla Ocidental e abrange partes de três grandes bacias hidrográficas; do Tejo, Lis e Ribeiras do Oeste. Este sistema aquífero ocupa uma área de 767,6 km 2, situando-se na região centro-oeste, entre Rio Maior, a Sul, Fátima a Nordeste, e Porto de Mós, a Norte. Faz parte da bacia Lusitânica, particularmente, da sub-bacia de Bombarral-Alcobaça 2. Constitui uma das principais reservas de água subterrânea de Portugal, com importância relevante no abastecimento de água a nível regional e correspondendo a um centro de irradiação de diversos cursos de água de superfície distribuídos pelas três bacias hidrográficas acima mencionadas 3. Por sua vez, enquadra-se administrativamente em dois distritos, Leiria e Santarém (Figura 3), que compreende os seguintes concelhos: Alcanena, Alcobaça, Batalha, Leiria, Ourém, Porto de Mós, Rio Maior, Santarém, Tomar e, finalmente, Torres Novas. 2. Enquadramento Geológico Distinguem-se, na paisagem, 3 grandes unidades morfoestruturais elevadas 4 : a Serra dos Candeeiros, o Planalto de Santo António e o Planalto de São Mamede e Serra de Aires, separadas por depressões a que estão associadas acidentes tectónicos 5 : Depressão da Mendiga, associada à falha de Rio Maior-Porto de Mós e para norte, a Depressão de Alquirão que separa a Serra dos Candeeiros do planalto de Santo António e do planalto de S. Mamede, respetivamente. A Depressão de Alvados e Depressão de Minde estão associadas ao sistema de Falhas de Alvados Minde, separam o Planalto de Santo António do Planalto de São Mamede e da Serra de Aire 6. A base deste sistema aquífero é constituída por sequências rítmicas de litologias essencialmente margosas, com intercalações mais calcárias ou mais argilosas. Os materiais que constituem o Maciço Calcário Estremenho correspondem cronologicamente ao Jurássico Inferior (Figura 4), denominado Lias, ou Liásicos. De acordo com os estudos de Zbyszewsk 7 i, encontra-se a seguinte sequência estratigráfica, da base para o topo: Calcários dolomíticos e dolomitos alternantes com formações de gesso e sal-gema (diápiros de Porto de Mós e no da Serra dos Candeeiros) Dolomitos Calcários dolomitos Calcários semi-cristalinos Calcários argilosos Calcários compactos e sublitográficos 2 ALMEIDA et al., 2000. 3 CARVALHO et al., 2011. 4 MARTINS, 1949. 5 CARVALHO et al., 2011. 6 7 ZBYSZEWSKI e ALMEIDA, 1960; ZBYSZEWSKI et al., 1974, MANUPPELLA et al., 1985.

Margas e calcários margosos Argilas calcárias Calcários microcristalinos Para o Jurássico Médio ou Dogger (Figura 4), encontramos a seguinte sequência litoestratigráfica 8 : Calcários xistosos Calcários argilosos Calcários calciclásticos Dolomitos Calcários dolomíticos Calcários oolíticos Calcários Microcristalinos Calcários compactos Calcários sublitográficos Calcários detríticos Margas com intercalações argilosas Calcários recifais e biostromas Quanto ao Jurássico Superior (Figura 4), ou Malm, há grandes variações de fácies de E para W. Iniciase pela formação de Cabaços (Oxfordiano médio) que apresenta uma espessura máxima de 80 m. É constituída, na base, por calcários conglomeráticos e margas amareladas com concreções ferruginosas, a que se seguem calcários micríticos, mais ou menos argilosos e mais ou menos biocalciclásticos e pelóidicos. As bancadas apresentam espessuras centimétricas a decimétricas, raramente ultrapassando 0,5 m. Por vezes ocorrem sequências mais ou menos espessas em que as bancadas denotam um caráter laminítico 9. É notório que o Jurássico Médio ocorre nas zonas sobre-elevadas, ao passo que o Jurássico Superior ocupa, sobretudo, as regiões deprimidas da Depressão da Mendiga, de Alvados e de Minde. O Hetangiano, a que correspondem depósitos de natureza evaporítica, aflora ao longo duma estreita faixa entre Rio Maior e Porto de Mós que corresponde a uma "parede de sal" 10, ou seja, acidente tectónico ao longo do qual se deu a ascensão dos depósitos evaporíticos. Junto às cidades mencionadas verifica-se o alargamento dessa estrutura. Dada a natureza carbonatada do maciço, a rede de drenagem superficial é praticamente inexistente, sendo quase exclusivamente subterrânea. A morfologia cársica caracteriza de modo marcante este maciço 11. Na área do MCE ocorrem também rochas ígneas. São pouco abundantes e estão dispersas por todo o Maciço, à exceção da Serra de Aire e Planalto de São Mamede. Podem-se subdividir em três grupos principais, consoante o tipo de estruturas a que se encontram associados 12 : Corpos instalados em falhas de orientação NW SE a WNW ESE; 8 ZBYSZEWSKI e ALMEIDA, 1960; CAMARATE FRANÇA e ZBYSZEWSKI, 1963; ZBYSZEWSKI et al., 1971; ZBYSZEWSKI et al., 1974; MANUPPELLA et al., 1985. 9 CARVALHO et al., 2011. 10 KULLBERG, 2000. 11 CARVALHO et al., 2011. 12

Corpos associados às estruturas diapíricas; Corpos isolados com correspondência a aparelhos vulcânicos. Os correspondentes ao primeiro grupo afetam todo o Jurássico. As datações radiométricas disponíveis apontam idades para a sua instalação que variam entre os 154 Ma e os 93 Ma. Os corpos ígneos associados às estruturas diapíricas são pequenas intrusões dispersas que ocorrem no interior do diapiro das Caldas da Rainha (já fora do MCE), afetando o Hetangiano, e os aflorantes ao longo do acidente de Rio Maior Porto de Mós, cortando as formações jurássicas. As datações disponíveis variam entre os 136 Ma e os 103 Ma. Neste grupo destaca-se o extenso filão-camada de Teira, a Norte de Rio Maior 13. Nos aparelhos vulcânicos incluem-se a brecha vulcânica de Abrã que afeta rochas do Cretácico e o corpo de Alqueidão da Serra, que afeta o Jurássico Superior e que parece associado a um acidente de orientação NW-SE. A instalação deste último terá ocorrido aos 140 Ma 14 ou aos 136 Ma 15. 3. Enquadramento Tectónico Condicionada pelos acidentes tardi-hercínicos, afetam o soco cuja reativação influenciou a cobertura Mesozoica 16. Durante o Hetangiano depositaram-se sequências de depósitos evaporíticos (Formação de Dagorda) que funcionaram como base de descolamento entre as rochas do soco e as meso-cenozoicas, durante a deformação alpina 17. Os principais acidentes tectónicos que dominam o Maciço Calcário Estremenho correspondem a falhas orientadas segundo três direções principais: NNE-SSW, NW-SE e NE-SW18. No que respeita aos acidentes NW-SE, eles estão fundamentalmente representados pelo sistema de falhas escalonadas de Alvados e Minde as quais estão interligadas na região de Alvados, limitando uma zona deprimida 19. À semelhança das anteriores, terão funcionado como falhas normais durante o período distensivo Mesozoico. A sua atividade terá conduzido à estruturação em roll over do bloco a teto, ou seja, o Planalto de São Mamede. Este sistema terá sido reativado posteriormente como rampa lateral dextrógira do Cavalgamento do Arrife, durante o período de inversão 20. A direção NW-SE está ainda representada por acidentes que compartimentam os dois planaltos, estando alguns deles intruídos por rochas doleríticas. A par com outros de grandes dimensões que afetam sobretudo a Depressão de Alcobaça e se prolongam para a Bacia Terciária do Tejo, constituem um dos traços distintivos do MCE. Wilson et al., 1989, associam estes acidentes às fases distensivas mesozoicas. 13 14 FERREIRA &MACEDO, 1983. 15 WILLIS, 1988. 16 ALMEIDA et al., 2000. 17 KULLBERG, 2000; CARVALHO, 2011. 18 ALMEIDA et al., 2000; CARVALHO et al., 2011. 19 MANUPPELLA et al., 2000. 20 CARVALHO et al., 2011.

Como consequência da posterior compressão miocénica terão sido reativados como desligamentos direitos 21. A nascente mais importante do Maciço Calcário Estremenho (Olhos de Água do Alviela) fica situado num pequeno bloco calcário separado por um afloramento do cretácico preservado no interior do sinclinal de Monsanto. 22 Quanto à direção NE-SW, ela está sobretudo representada pela Falha do Arrife. Esta limita o MCE a SE. Durante as fases de compressão alpina foi reativada como cavalgamento vergente para SE 23. 4. Enquadramento Hidrogeológico As bacias hidrográficas presentes no Maciço Calcário Estremenho são: Tejo, Lis e Ribeiras do Oeste. Encontra-se presente nos concelhos de Alcanena, Alcobaça, Batalha, Leiria, Ourém, Porto de Mós, Rio Maior, Santarém, Tomar e Torres Novas, com uma área de 767,6 km², conforme já mencionado atrás. As formações aquíferas dominantes são: as formações do Dogger e do Malm, onde as formações do Dogger são constituídas essencialmente por calcários margosos, calcários argilosos, calcários cristalinos, calcários dolomíticos e calcários detríticos, já as formações do Malm são constituídas por argilas, margas, calcários e calcários cristalinos. A espessura das formações são muito variáveis, podendo atingir algumas centenas de metros 24. São aquíferos cársicos, constituídos por vários subsistemas, cada um deles relacionado com uma nascente cársica perene. Em geral a dificuldade na captação de água através de furos, característica comum dos maciços cársicos, onde o local de melhor captação de água é próximo das principais áreas de descarga. Têm uma produtividade (L/s) média igual a 0,8L/s, com mínimo igual a 0L/s e máximo igual a 20L/s. Relativamente a transmissividade esta entre 1 e 4800 m²/dia 25. O funcionamento hidráulico está dividido em quatro sectores, em que cada um deles apresenta uma drenagem feita através de diferentes nascentes. As nascentes mais importantes são: Olhos de Água do Alviela, Almonda e Alcobertas (bordo S e E); Chiqueda e Liz (bordo W) 26. Cada sector apresenta uma ou mais direções de fluxo. De um modo geral, as flutuações interanuais são de grande amplitude, onde em algumas regiões pode ultrapassar os 80m. Relativamente ao balanço hídrico verificam-se entradas entre os 300 a 350hm³/ano, e saídas da ordem dos 275hm³/ano. Estando presentes fácies químicas bicarbonatadas cálcicas 27. 4.1. Caraterísticas Gerais Esta região apresenta carsificação (jovem) intensa, ainda com vestígios bem conservados de um regime de erosão ante-cársica, com presença de vários depósitos detríticos que cobriam a superfície infracretácia. Desenvolveu-se durante períodos de estabilidade do cenozoico, criando assim níveis 21 PINHEIRO et al., 1996. 22 ALMEIDA et al., 2000. 23 KULLBERG, 2000; MANUPPELLA et al., 2000; CARVALHO, 2011. 24 25 26 27

de aplanação da superfície e o desenvolvimento de redes de galerias subterrâneas, ordenadas por andares 28. No mesmo maciço estão presentes antigos episódios de carsificação nomeadamente a carsificação ante-malm presente nas regiões da Serra dos Candeeiros 29. Existem diversas estruturas cársicas, por exemplo, as megalapiás e lapiás em geral pouco profundas, dolinas e mais raramente uvalas, algares e redes de galerias subterrâneas 30. As dolinas e as lapiás constituem a principal forma de exocarsificação, estando presentes em grandes dimensões principalmente no sector N do maciço 31. As dolinas podem resultar da dissolução ou da erosão fluvio-cársica, apresentando assim diversas morfologia. O endocarso apresenta-se sobre forma de algares, galerias e condutas. As galerias e condutas estão a profundidades variáveis, em alguns casos, a 80m abaixo do nível das nascentes 32. Já os algares são estruturas antigas e estão representadas em maior número no maciço, com profundidades variáveis onde as mais profundas aparentam ter por volta dos 100 a 150m, podendo estar intersetadas por zonas com presença de vestígios de circulação de fóssil ou actual. Nos algares mais importantes temos 33 : Planalto de Sto. António Algar do Chou Jorge, (-120m), Algar do Avião (-115m), Algar do Maroiço (-110m), Algar do Chou Curral (-100m); Planalto de S. Mamede Algar das Gralhas VII (-120m, com vestígios de circulação fóssil horizontal), Algar da Lomba (-150m, atinge o nível de circulação atual), Algar da Água (-90m, atinge o nível de circulação atual). Os limites do sistema não correspondem na totalidade aos limites da unidade geomorfológica designada por Maciço Calcário Estremenho 34, devido a circulação subterrânea que se estende para lá do limite do maciço. No sector oeste temos a Plataforma de Aljubarrota, estendendo-se até à nascente de Chiqueda. A norte esta presente a Serra de Porto Mós e as Lombas de Fátima. Já a sul e a este está presente o cavalgamento que delimita a formação do Maciço Calcário Estremenho sobre a Bacia Terciaria do Tejo, ocupando uma área coberta é de 767,6 km 2 35. É um sistema muito complexo, com características normais de um aquífero cársico, marcado pela presença de um número reduzido de nascentes perenes e com várias nascentes temporárias, com elevados caudais apresentando variações acentuadas ao longo do tempo. É formado por vários subsistemas delimitados por unidades morfoestruturais dividindo assim o Maciço Calcário Estremenho. Estes subsistemas estão relacionados na sua maior parte por nascentes cársicas perenes e com as nascentes temporárias. Devido ao padrão actual do complexo cársico, as áreas de alimentação das nascentes são delimitadas e apresentam dificuldade no escoamento. Uma solução é a introdução de uma substância (traçador), nomeadamente traçadores corados (fluoresceína sódica e rodamina), alguns sais (cloreto de sódio, iodetos, etc.), ou bacteriófagos (vírus que parasitam 28 MANUPPELLA et al., 1985 29 CAMARATE FRANÇA e ZBYSZEWSKI, 1963. 30 MANUPPELLA et al., 1985 31 ALMEIDA et al., 1996 32 33 MANUPPELLA et al., 1985 34 MARTINS, 1949. 35

certas baterias). Algumas destas soluções são difíceis de executar, devido a falta de condições hidrológicas, ao local de injecção ou ainda pelo custo elevado 36. Quando não temos presente dados de traçagens, a delimitação da bacia é realizada por critérios litológicos, estruturais, geomorfológicos, entre outros. Um dos problemas destes maciços é na captação de água através de furos, sendo considerados pouco produtivos ou improdutivos, devido a circulação se dar na sua maioria em galerias cársicas, inseridas no maciço com permeabilidade muito baixa. Este caso é bem evidente no Maciço Calcário Estremenho, onde os dados obtidos através de sondagens verificam que os caudais presentes são em geral fracos ou nulos. As áreas de descarga são por norma os locais onde se localizam maior número de captações 37. As principais nascentes localizam-se nos limites do maciço, na zona de contacto com rochas menos permeáveis do Jurássico, Cretácico ou Terciário. Onde temos duas situadas no bordo W (Liz e Chiqueda), e mais três no bordo S e E (Almonda, Alviela e Alcobertas). A nascente mais importante presente neste maciço é a nascente dos Olhos de Água, apresentando uma descarga superior a 1 hm 3 /dia, e na estação seca apresenta descarga por volta dos 30000m 3 /dia. A descarga média anual é de 120hm 3 /ano. Já a nascente de Almonda apresenta valores de descarga por volta dos 80 a 100hm 3 /ano enquanto a de Liz apresenta valores entre os 60 e 70hm 3 /ano 38. Medições realizadas nas nascentes do Liz efetuadas pela DRAOT entre 1984 e 1995, apresentam valores por volta dos 51 a 6977 L/s, com uma média de 378L/s. As restantes nascentes estão agrupadas em três tipos principais 39 : nascentes temporárias com características cársicas, apresentam variações no caudal, estão localizadas principalmente próximas do contacto com rochas menos permeáveis, nos bordos do sistema; nascentes cársicas situadas no interior do sistema; nascentes com caudal reduzido, temporários ou permanentes, relacionadas com o epicarso, ou com presença de pequenos aquíferos suspensos em rochas calcárias com menos potencial de carsificação, ou com depósitos detríticos. Conforme Crispim (1995) o Maciço Calcário de Estremenho apresenta 120 nascentes. Segundo aspetos hidrológicos, geomorfológicos e estruturais, pode-se considerar os seguintes sectores hidrológicos: Serra de Candeeiros e Plataforma de Aljubarrota; Planalto de Santo António; Planalto de S. Mamede e Serra de Aire: Depressões de Alvados e Minde. 36 37 38 ALMEIDA et al., 1996. 39

4.2. Sector da Serra de Candeeiros e Plataforma de Aljubarrota A drenagem deste sector é realizada pelas nascentes de Chiqueda e a sul pelas nascentes próximas de Rio Maior 40. Em Chiqueda estão presentes nascentes perenes e temporárias, localizadas próximas da zona de contacto entre os calcários e calcários margosos das Camadas de Montejunto, com as Camadas mais margosas de Alcobaça. As nascentes estão próximas umas das outras. Em um dos casos é utilizada uma captação para abastecimento. Também está presente, uma nascente com características especificas, o Olho da Mão de Água, contendo uma temperatura mais elevada relativamente as restantes e com níveis maiores de concentrações de sulfatos, cloretos, calcário e sódio 41. O caudal dos Olhos de Água de Chiqueda pode ter valores aproximados ou superiores a 1m 3 /s, em períodos de ponta, mas no geral do ano apresenta valores entre dezenas e centenas de L/s. Perto de Rio Maior na zona terminal a sul do sector, está presente um conjunto de nascentes, em geral nascentes temporárias com drenagem a partir da Serra dos Candeeiros 42. A nascente de Bocas de Rio Maior, atinge caudais elevados, mas estes tem um período curto de actividade. As restantes apresentam caudais menores e mais regulares. Segundo Crispim (1995) temos presentes oito nascentes: Fonte da Oliveirinha, Fonte Peidinho, Fonte Galega, Fonte das Três Bicas e Poço do Lagar, localizadas próximas do rio Maior, e Rebentão, Fonte dos Marmelos e Fonte das Travessas 43. 4.3. Sector do Planalto de Santo António A nascente dos Olhos de Água do Rio Alviela é alimentada pelo Planalto de Santo António, sendo considerada a mais importante do sistema. A área de alimentação desta nascente é principalmente oriunda deste planalto. Apresentando declive para sul que coincide com o pendor das camadas calcárias. As falhas presentes em geral são paralelas a falha da Costa de Minde, estando injectadas por filões de rochas básicas, funcionando assim como barreiras hidráulicas, totais ou parciais, impedindo o escoamento para sul, dirigindo assim o escoamento para a nascente dos Olhos de Água. O remanescente dessa circulação mais meridional é drenado por várias nascentes presentes no bordo sul, perto das zonas menos permeáveis. As nascentes cársicas estão ligadas a galerias subterrâneas, onde temos presente a nascente do Olho de Água de Alcobertas com circulação perene, já a nascente do Olho da Mata do Rei a circulação é temporária 44. A noroeste do planalto incluindo a depressão cársica de Chão das Pias temos presente uma área que é drenada pelas nascentes do Lena. Esta ligação foi obtida através de traçagens localizada próxima do bordo da depressão. Parte da drenagem é realizada pelas nascentes temporárias situadas na Fórnea de Alvados, onde a mais importante é a Cova da Velha 45. 40 41 CRISPIM, 1995. 42 43 44 45

Apenas uma dentro das nascentes do Lena tem carater permanente (Olho de água da Ribeira de Cima), as restantes são temporárias (Fontainha, Nascente do Cabeço da Pedra, Nascente da Tapada das Freiras e Nascente das Arregatas). A nascente da Vila Moreira, também apresenta caudal temporário mas em períodos de ponta o sal caudal é muito elevado. Encontra-se situada no bordo SE do sistema, a N dos Olhos de Água do Alviela 46. Através de traçagens verificou-se que as nascentes têm contribuição da depressão de Minde. Onde existe uma ligação rápida entre sumidouros situados no fundo do Ploje, perto de Minde, importante para a recuperação da nascente de Vila Moreira, verificando-se assim uma deflação para os Olhos de Água do Alviela. Nos períodos em que a nascente de Vila Moreira está inactiva toda a drenagem é realizada para a nascente dos Olhos de Água. Outros traçadores injetados presentes no fundo do Ploje de Mide, indicam existência de uma ligação com a nascente do Rio Almonda 47, o que significa a existência de uma zona de divergência de fluxos nas direcções NE e SE. Ao longo do ano hidrológico é possível que os níveis piezométricos variem. Este comportamento verifica-se principalmente em zonas cársicas 48. Estas ligações podem ter implicações quanto a contaminação. A libertação de substâncias contaminantes de forma acidental ou deliberada vai causar implicações rápidas na contaminação destas nascentes. Na área terminal da depressão de Minde encontra-se bastante degradada, e esta a ser utilizada para depositar rejeitos sólidos e líquidos 49. 4.4. Sector do Planalto de S. Mamede e Serra de Aire A drenagem neste planalto é realizada em geral pelas nascentes dos rios Lis e Almonda. Também temos presentes, outras nascentes menos importantes localizadas no bordo NE, onde se destaca a Nascente de Bezelga. A nascente de Almonda é a mais importante, esta localizada no contacto do maciço calcário com os terrenos menos permeáveis da Bacia do Tejo 50. As nascentes dos rios Lias estão divididas em dois grupos no contacto do Oxfordiano com o Kimerdgiano 51 : Primeiro grupo está presente na Reixida e é constituído por três nascentes: Fonte Velha, Fonte Nova e Pego, sendo apenas o Pego com carater permanente. Segundo Grupo está localizado próximo de Fontes e é constituído por oito pontos de água, sendo a Grota o que apresenta maior caudal com carater temporário. Ainda dentro deste grupo temos na margem direita esta presente a Fonte da Capela, o Olho da Ti Maria Cachopinha e Covão I e III. Na margem esquerda está apenas presente Covão II. Na margem direita também temos localizado o furo de captação da Câmara Municipal de Leiria. No bordo nordeste estão presentes as nascentes mais importantes do Maciço Calcário Estremenho, onde faz parte o Olho da Fonte, localizada no leito do ribeiro de Caldelas, afluente da ribeira de Caranguejeira. Estas nascentes provavelmente resultam da drenagem dos calcários do Jurássico 46 47 CRISPIM, 1986. 48 49 50 51 CRISPIM, 1995.

superior 52. Existem mais nascentes em que se dirigem para a bacia de Ourém onde a sua componente cársica é menos evidente 53. 4.5. Sector das Depressões de Alvados e Minde As depressões cársicas de Alvados e Minde separam o Planalto de S. Mamede do Planalto de Santo António. Estas depressões estão relacionadas com fossas tectónicas. Representam uma área de descarga menos significativa. Do Planalto de S. Mamede 54. Na base da escarpa está presente a nascente mais importante conhecida por Pena da Falsa localizada no Polje de Alvados. Já no Polje de Minde as mais importantes tem carater temporário e estão relacionadas com redes de galerias nomeadamente o Olho de Mira, Poio, Contenda e Regatinho. O Olho de Mira foi já utilizada para abastecimento industrial, sendo agora utilizada para abastecimento publico. A exploração no início consistia em bombear água, a partir da galeria natural, o que implicava várias deslocações do grupo de bombagem, acompanhando as descidas e subidas de nível. Mais tarde foi construído um poço com a finalidade de alcançar a galeria natural, conseguido através da construção de uma galeria que estabeleceu uma ligação 55. 5. Parâmetros hidráulicos e Produtividade 5.1. Piezometria A piezometria permite medir as variações de volume das águas subterrâneas. Para o sistema de aquíferos de Estremenho a rede de monitorização proposta compreende 19 pontos de observação (Figura 6). Este sistema corresponde a um aquífero partilhado com a Direção Regional do Ambiente e Ordenamento do Território (DRAOT) Centro, tendo sido considerada na figura apenas a área de intervenção DRAOT Lisboa e Vale do Tejo. Quanto às tendências espaciais, os dados disponíveis não permitem efetuar uma caracterização da piezometria pormenorizada. Apesar disso, as observações realizadas permitem esboçar uma panorâmica das tendências principais das direções e sentidos de fluxo. Obviamente que essas direções estão condicionadas essencialmente pela posição das principais nascentes. Na Figura 7, surgem os aspetos principais da drenagem subterrânea. Parte das conclusões que foram possível obter baseiam-se em resultados de traçagens e outra parte é deduzida com base nas características geológicas, estruturais e geomorfológicas da região. A definição rigorosa das linhas divisórias de águas subterrâneas, que em algumas áreas é razoavelmente conhecida, em outras estará sujeita a confirmação ou alteração à medida que forem obtidos mais dados sobre este local 56. 52 CRISPIM, 1995. 53 54 55 PARADELA, 1983; PARADELA e ZBYSZEWSKI, 1971. 56

Quanto a tendências temporais de piezometria é possível dizer que não há nenhuma tendência a longo prazo e, tal como é típico de aquíferos cársicos, os valores interanuais são de grande amplitude podendo em algumas regiões ultrapassar os 80m 57. 5.2. Balanço Hídrico O sistema de Estremenho é muito complexo. Mostra comportamento típico de aquífero cársico, é caracterizado pela existência de um pequeno número de nascentes perenes e por várias nascentes temporárias com caudais elevados mas com variações muito acentuadas ao longo do tempo. O sistema de Estremenho é caracterizado por vários subsistemas cuja delimitação coincide aproximadamente com grandes as unidades morfoestruturais que constituem o Maciço Calcário de Estremenho (MCE). Cada um destes subsistemas está relacionado com uma nascente cársica perene e, por vezes, com várias nascentes temporárias que descarregam apenas em períodos de maior saturação. A delimitação das áreas de alimentação de cada uma das nascentes apresenta grandes dificuldades devido ao padrão altamente complexo do escoamento em meios cársicos, sendo portanto a divisão realizada com base nos aspetos hidrogeológicos, geomorfológicos e estruturais 58. Sob o ponto de vista hidrogeológico são considerados os seguintes setores: Serra dos Candeeiros e Plataforma de Aljubarrota (ou Depressão de Alcobaça); Planalto de Santo António; Planalto de São Mamede e Serra de Aire; Depressões de Alvados e Minde. 59 A precipitação média anual nesta região é na ordem dos 1000 a 1500mm/ano. Utilizando esses valores, vários autores chegaram a diferentes valores de recarga para o MCE como estão expostos na tabela da Figura 8 60. Considerando que da área total do sistema uma parte é constituída por rochas com menor aptidão aquífera e menor capacidade de infiltração, é provável que os recursos hídricos médios sejam na ordem dos 300hm 3 /ano a 350 hm 3 /ano. No entanto o total escoado através das três nascentes principais, Alviela, Almonda e Lis é estimado em cerca de 275 hm 3 /ano 61. 5.3. Qualidade A rede de qualidade deste sistema aquífero compreende 10 estações de amostragem (Figura 9). Em termos gerais de qualidade, a maioria destas águas, apresentam mineralização total mediana, são moderadamente duras a muito duras e exibem fácies bicarbonatada calcária. Estes valores foram calculados com base em estatísticas de análises de nascentes durante o período entre 1970 e 1995 apresentados na Erro! A origem da referência não foi encontrada. observada na Figura 10. 57 58 59 Almeida et al, Sistemas Aquíferos de Portugal Continental, 2000, 60 61

Em termos de qualidade para a saúde estas águas apresentam, sob o ponto de vista químico, valores que permitem o uso humano não se verificando nenhuma violação dos VMAs (Valores Máximos Admissíveis), excetuando os valores de Cloretos e Nitratos que excedem esses valores. No entanto tendo em conta a vulnerabilidade deste tipo de Sistema Aquífero podem ocorrer, pontualmente, contaminações repentinas de diversos tipos como, por exemplo: excesso de gorduras, hidrocarbonetos, metais pesados, etc 62. Do ponto de vista bacteriológico, é no entanto outro assunto, verificam-se aqui frequentemente muitos valores superiores aos VMAs nomeadamente de coliformes fecais e totais, estreptococos e salmonelas, isto relacionado com as deficientes condições de saneamento básico no interior do Maciço e com as explorações pecuárias da região 63. Em termos de qualidade agrícola, a maioria destas águas foram caracterizadas como pertencendo à classe C 2S 1 pelo que representam um perigo de salinização médio e perigo de alcalinização baixo, segundo a classificação do U.S. Salinity Laboratory Staff (Figura 11). As restantes foram categorizadas em C3S1. Todos os parâmetros físico-químicos cumprem os VMA excetuando o cloreto que em algumas amostras se situa acima desses limites 64. 62 63 64

Considerações finais A caracterização deste aquífero e as referências, em termos de qualidade das águas subterrâneas baseou-se principalmente no trabalho Sistemas Aquíferos de Portugal Continental da autoria de Almeida et al., 2000, para além da informação contida no Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH), consultável em http://snirh.pt/. Nestes documentos, discute-se um conjunto de análises químicas de elementos maiores, presentes em águas referentes a um período compreendido entre 1970 e 1995. A maioria das águas do sistema aquífero do Maciço Calcário Estremenho apresenta uma mineralização total mediana, moderadamente dura a muito dura e exibe fácie bicarbonatada cálcica 65, enriquecida devido ao ambiente cársico que a moldou e foi moldado, consequentemente. Numa perspetiva de classificação da qualidade das águas com vista à sua utilização para consumo humano tem-se, sob o ponto de vista químico, que estas águas podem ser consideradas de boa qualidade pois não se verifica nenhum caso de violação dos VMAs. No entanto, dada a vulnerabilidade deste tipo de sistema aquífero, podem ocorrer contaminações súbitas de diversos tipos, sendo conhecidos casos pontuais de excesso de gorduras, hidrocarbonetos, metais pesados, etc 66. 65 CARVALHO, et al., 2011. 66

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Anexos Figura 1 Unidades morfo-estruturais Figura 2 Enquadramento litoestratigráfico do sistema aquífero estremenho (adaptado de SNHIR)

Figura 3 Divisões administrativas que integram a área do Maciço Calcário Estremenho (Google Earth)

Figura 4 Mapa geológico do Maciço Calcário Estremenho

Figura 5 Carta neotectónica da região enquadrante do PNSAC (adaptado de Cabral & Ribeiro, 1988). Figura 6 Distribuição dos pontos da rede de monitorização no maciço de Estremenho (segundo ALMEIDA, et al., 2000)

Figura 7 Esquema mostrando algumas direções de fluxo em vola das depressões de Alvados e Minde (Crispim, 1995) LEGENDA: 1(contactos geológicos) a: entre rochas com diferentes graus de carsificação; b: entre rochas carsificáveis e impermeáveis. 2: zonas de divergência de escoamento; 3(áreas de circulação organizada) a: faixas monoclinais (circulação aproximadamente paralela ao pendor das camadas); b: faixas dobras (circulação aproximadamente paralela À direção das camadas); 4(áreas com circulação concentrada) a: corredores NNW a NNE; b: barreira parcial; c: barreira total; 5(zonas de emergência) a: em contato semi-permeável; b: em contato permeável. Figura 8 Valores de recarga do Sistema Aquífero do Maciço Calcário de Estremenho (ALMEIDA, et al., 2000)

Figura 9 Rede de amostragem do Sistema Aquífero do MCE (ALMEIDA, et al., 2000) Figura 10 Principais estatísticas relativas às águas do sistema do Maciço Calcário Estremenho para o período entre 1970 e 1995 (ALMEIDA, et al., 2000).

Figura 11 Diagrama de classificação da qualidade para uso agrícola (ALMEIDA, et al., 2000).