EMENTA: EXECUÇÃO. PENHORA DE BEM IMÓVEL. OBRIGATORIEDADE DE INTIMAÇÃO DO CÔNJUGE DO EXECUTADO. INÍCIO DO PRAZO PARA EMBARGOS. IMPENHORABILIDADE. PROVA NOS AUTOS. CONHECIMENTO DE OFÍCIO. Em processo de execução, se a penhora recai sobre bem imóvel e o executado é casado, a intimação da mulher é da essência do ato e só a partir da juntada aos autos do mandado integralmente cumprido é que tem início o prazo para oposição de embargos. Se existe prova nos autos da impenhorabilidade do imóvel, por se tratar de residência do executado e sua família, a matéria é conhecível até mesmo de ofício e autoriza o reconhecimento diretamente pela instância revisora, com fundamento no 3º do art. 515 do CPC. -1- A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível Nº 362.465-3 da Comarca de, sendo Apelante (s): FLÁVIO PEREIRA INCALADO e Apelado (a) (os) (as): ELÍZIO CAPANEMA DA SILVA, ACORDA, em Turma, a Sétima Câmara Cível do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, DAR PROVIMENTO. Presidiu o julgamento o Juiz MANUEL SARAMAGO e dele participaram os Juízes GUILHERME LUCIANO BAETA NUNES (Relator), UNIAS SILVA (Revisor) e WILLIAM SILVESTRINI (Vogal).
-2- O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado, na íntegra, pelos demais componentes da Turma Julgadora. Belo Horizonte, 20 de junho de 2002. JUIZ GUILHERME LUCIANO BAETA NUNES Relator
V O T O O SR. JUIZ GUILHERME LUCIANO BAETA NUNES: Recurso próprio, tempestivo, regularmente preparado, dele conheço. Em processo de execução, após citação, efetivou-se a penhora de bem imóvel de propriedade do executado, que alegou ser separado de fato e não saber o endereço de sua mulher. O mandado de citação e penhora foi juntado aos autos em 26.06.00, sem que a mulher do executado tivesse sido intimada da penhora, o que só ocorreu após nova diligência, juntando-se o novo mandado de intimação em 08.08.00. Através de embargos opostos em 18.08.00, o executado alegou, em preliminar, a impenhorabilidade do imóvel porque nele reside com sua família. Impugnando os embargos, o embargado alega intempestividade dos mesmos e improcedência da preliminar de impenhorabilidade. Em julgamento antecipado da lide o ilustre juiz a quo acolheu a preliminar de intempestividade e, sem se manifestar a respeito da impenhorabilidade do imóvel, julgou extintos os embargos, determinando o prosseguimento da execução. Recurso de apelação do embargante às f. 45-51, alegando a tempestividade dos embargos e a -3-
possibilidade de conhecimento da impenhorabilidade até mesmo de ofício. Por disposição legal, sendo casado o executado e recaindo a penhora sobre bem imóvel, é da essência do ato a intimação da mulher. -4- Diz o art. 669, parágrafo único, do CPC: Recaindo a penhora em bens imóveis, será intimado também o cônjuge do devedor. A partir da penhora de bem imóvel pertencente ao casal, marido e mulher passam a ser partes necessárias no processo, porque estarão em jogo direitos reais imobiliários. Diz o art. 10º, 1º, item I, do CPC: Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para as ações: I que versem sobre direitos reais imobiliários. Se a intimação da mulher do executado é obrigatória, só a partir da juntada aos autos deste ato é que tem início o prazo para embargos, seja de um ou do outro. Nesse sentido: Nula é a intimação da penhora sobre imóveis de casal, quando não intimada a mulher do devedor, daquele ato não correndo qualquer prazo (STJ-3a Turma, REsp 19.827-PR, rel. Min. Cláudio Santos, j. 16.3.93,
deram provimento, v.u., DJU 26.4.93, p. 7.202). No mesmo sentido: RSTJ 66/432. E ainda: Embargos à execução. Penhora de bem imóvel. Art. 669, 1º, do Código de Processo Civil. Intimação do cônjuge. Prazo. Precedentes da Corte. Em se tratando de penhora sobre imóvel, a intimação do cônjuge é imprescindível, gerando a sua ausência nulidade pleno iure. Em tal caso, inicia-se o prazo para embargar após a intimação. Recurso especial conhecido e provido. REsp 162778/SP 3a Turma rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito. j. 06.04.1999 Portanto, a r. sentença objurgada não pode subsistir, porque os embargos opostos são tempestivos. Reconhecida a tempestividade dos embargos, nos termos do 3º do art. 515, do CPC, veri fi case que a preliminar de impenhorabilidade alegada está em condições de ser apreciada, até mesmo porque conhecível de ofício. No imóvel penhorado está edificada a casa n. 478 da Rua José Duarte de Paula, e este é o endereço residencial declinado pelo embargante em sua petição inicial, comprovado pelas contas de luz de f. 09 e procuração de f. 08, bem como, pelos registros do Detran, conforme pesquisas juntadas ao processo de execução pelo próprio embargado (f. 27-28). -5-
O fato de a mulher do executado, ora apelante, residir em outro endereço não afasta a impenhorabilidade, porque separada de fato do marido. Também não tem relevância o fato de a casa não estar averbada na matrícula do imóvel. O Sr. Oficial de Justiça deveria ter sido mais diligente, cumprindo o que determina o art. 665, inc. III, do CPC, informando a existência de construção no terreno. Em síntese, a alegação de que o imóvel penhorado é a residência do executado e sua família está suficientemente comprovada nos autos. Pelo exposto, DOU PROVIMENTO ao recurso para, reformando a sentença, dar pela tempestividade dos embargos e reconhecer a impenhorabilidade do imóvel constrito, anulando a penhora, com inversão dos encargos da sucumbência. -6- sol/lc.