O ALÇAMENTO DAS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS EM SALVADOR (BA)

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Transcrição:

O alçamento das vogais médias pretônicas em Salvador (BA) 139 O ALÇAMENTO DAS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS EM SALVADOR (BA) Marcela Moura Torres Paim Vitor Meneses dos Anjos RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo analisar o comportamento das vogais médias pretônicas (altas e baixas) e vogais altas no português brasileiro a partir dos inquéritos do Atlas Linguístico do Brasil (ALiB). O corpus constitui-se de dados coletados em entrevistas in loco realizadas em Salvador (BA). A relevância de estudar tal fenômeno se deve à descrição da realidade linguística do português falado brasileiro e, também, à delimitação de áreas dialetais. Assim, o fenômeno em questão será analisado por meio de fatores extralinguísticos como, por exemplo, a faixa etária, o sexo e a escolaridade, aplicando a metodologia de análise de dados quantitativos da variação linguística com dados fonéticofonológicos. Palavras-chave: Atlas Linguístico do Brasil. Fonética e Fonologia. Vogais. ABSTRACT: This study aims to analyze the behavior of the middle unstressed vowels /E/ and /O/ in Brazilian Portuguese from the surveys' Atlas Language of Brazil (ALiB Project). The corpus consists of data collected from interviews carried out in loco in Salvador (BA). The relevance of studying this phenomenon is due to the description of the linguistic reality of the Brazilian Portuguese spoken and also the delimitation of dialect areas. Thus, the phenomenon in question will be analyzed by means of extra factors such as, for example, the age, sex and education, applying quantitative data analysis methodology of linguistic variation phonetic phonological data. Keywords: Linguistic Atlas of Brazil. Phonetics and phonology. Middle unstressed vowels. FONOLOGIA VARIAÇÃO, AQUISIÇÃO, TEORIA FONOLÓGICA

140 Vitor Meneses dos Anjos, Marcela Moura Torres Paim Introdução O presente estudo objetiva apresentar uma análise variacionista das vogais médias pretônicas fechadas [e] e [o], abertas [ɛ] e [ɔ] e vogais altas [i] e [u] no português brasileiro a partir dos inquéritos da cidade de Salvador do Atlas Linguístico do Brasil (ALiB). Em função do exposto, a análise está centrada na variação linguística e suas implicações numa abordagem da Dialetologia Pluridimensional e da Sociolinguística Variacionista. A variável dependente (cf. quadro 01) aqui estudada trata da presença da elevação da vogal média pretônica em vocábulos como f[e]rida, f[ɛ]rida, em que a vogal pretônica sobe ou não para [i], tal como em f[i]rida, e g[o]rdura, g[ɔ]rdura, em que o segmento em destaque sobe ou não para [u], a exemplo de g[u]rdura. Vogais médias Anteriores: [e], [ɛ] Posteriores: [o], [ɔ] Presença de elevação [i] Presença de elevação [u] Quadro 1: A variável dependente e seus respectivos conjuntos de variantes. O artigo está assim organizado: na seção 1, apresentam-se considerações sobre o sistema de vogais do português brasileiro; na seção 2, expõe-se a revisão de literatura, apresentando alguns estudos realizados na análise de falares do Nordeste do país; na seção 3, abordam-se os processos metodológicos empregados na pesquisa; na seção 4, demonstram-se as análises dos resultados obtidos, na perspectiva da presença de alteamento; na seção 5, apresentam-se as considerações finais. 1 As vogais no Português Brasileiro Ao tratar das vogais do português falado no Brasil, torna-se de muita importância citar o grande teórico Joaquim Mattoso Câmara Júnior (1970). Afinal, a primeira descrição sincrônica completa das vogais do português falado no Brasil foi realizada por ele, tomando como base o dialeto falado no Rio de Janeiro. O autor descreve o sistema vocálico da seguinte forma: Há uma série de vogais anteriores, com um avanço da parte anterior da língua e a sua elevação gradual, e outra série de vogais posteriores, com um recuo da parte posterior da língua e a sua elevação gradual. Nestas há, como acompanhamento, um Caderno de Letras, nº 24, Jan-Jun - 2015 - ISSN 0102-9576

O alçamento das vogais médias pretônicas em Salvador (BA) 141 arredondamento gradual dos lábios. Entre umas e outras, sem avanço ou elevação apreciável da língua, tem-se a vogal /a/ como vértice mais baixo de um triângulo de base para cima. A articulação da parte anterior, central (ligeiramente anterior) e posterior da língua dá a classificação articulatória de vogais anteriores, central e posteriores. A elevação gradual da língua, na parte anterior ou posterior, conforme o caso, dá a classificação articulatória de vogal baixa, vogais médias de 1 Grau (abertas), vogais médias de 2 Grau (fechadas) e vogais altas. Na sequência, apresenta-se o Quadro 2, que possibilita uma melhor visualização do que foi descrito anteriormente: Vogais Anteriores Central Posteriores arred. não arred. arred. não arred. arred. não arred. Altas [i] [u] Média-altas [e] [o] Média-baixas [ɛ] [ɔ] Baixa [a] Quadro 2: Quadro demonstrativo das vogais tônicas do português segundo Câmara Júnior (1970). Segundo Câmara Júnior (1970), o que essencialmente caracteriza as posições átonas é a redução do número de alofones. Isto é, mais de uma oposição desaparece ou se suprime ficando para cada uma um fonema em vez de dois (p. 43). Quanto à redução, nas vogais médias antes de vogal tônica (pretônicas) desaparece a oposição entre 1 e 2 graus [...] (p. 41). Tratando-se do sistema vocálico oral do português brasileiro, serão consideradas para esta pesquisa apenas as vogais que precedem a vogal tônica, ou seja, as pretônicas representadas por /E/ e /O/. No primeiro caso, teremos as vogais médias anteriores orais [e, ɛ], identificadas como vogais médias alta e baixa, respectivamente, e a vogal alta anterior [i]. Em posição pretônica, essas vogais são sujeitas à variação, podendo ocorrer como uma vogal média-alta, média-baixa e, também, como uma vogal alta, como ocorre em [e]strada, [ɛ]strada e [i]strada e, também, em [e]scola, [ɛ]scola e [i]scola (Questionário 25 semântico-lexical, questão 067 e Questionário fonético-fonológico, questão 084, respectivamente). 25 Os questionários utilizados para esta pesquisa foram o Fonético-Fonológico (QFF) e o Semântico-Lexical (QSL), os quais representam um nível de fala monitorado. De acordo FONOLOGIA VARIAÇÃO, AQUISIÇÃO, TEORIA FONOLÓGICA

142 Vitor Meneses dos Anjos, Marcela Moura Torres Paim No segundo caso, temos as vogais médias posteriores [o] e [ɔ], identificadas como vogais médias alta e baixa, respectivamente, e a vogal alta posterior [u]. As vogais posteriores também são sujeitas à variação e podem ocorrer como uma vogal média-alta, como uma vogal média-baixa, ou vogal alta, como em t[o]mate, t[ɔ]mate e t[u]mate e, também em c[o]lher, c[ɔ]lher e c[u]lher (Questionário fonético-fonológico, questões 30 e 25, respectivamente). Nas sílabas átonas, e aí se incluem as pretônicas, ocorre a neutralização, ou seja, dois ou mais fonemas que se opõem em determinado contexto deixam de fazê-lo em outro. Desta forma, pode-se dizer que tanto faz pronunciar uma ou outra, pois não haverá distinção de significado. 2. Pesquisas realizadas no Nordeste do país Ao tratar dos estudos das vogais médias pretônicas, pode-se observar que diversos autores se propuseram a analisar tal fenômeno, como Mota (1979), Nina (1991), Bortoni (1991), Marques (2006), com o intuito de abonar ou contestar a categorização proposta por Antenor Nascentes (1922 [1953]), o qual assegura que o Nordeste seria delimitado como uma zona isófona que neutraliza em /E, O/ a oposição média/baixa. Muitas pesquisas têm surgido com o objetivo de investigar o comportamento das vogais em diferentes regiões do país. Para esta seção, serão abordados quatro trabalhos mais recentes, nos últimos onze anos, no que se refere à realização da pronúncia das vogais no Nordeste do Brasil. O primeiro trabalho intitula-se As pretônicas médias em comunidades rurais do semiárido baiano, de Adriana Santana Soares. Trata-se de uma dissertação, apresentada à Universidade Federal da Bahia, no ano de 2004, sob a orientação de Myrian Barbosa da Silva. A referida dissertação, que examinou 36 inquéritos, seguindo o modelo da teoria variacionista, objetivou analisar a realização das vogais médias pretônicas na variedade linguística de comunidades rurais de Jeremoabo, município localizado no interior da Bahia. Como resultado, a pesquisa identificou o predomínio de vogais abertas em relação às variantes com o propósito do QFF, busca-se que o informante dê como resposta o termo específico da questão, embora com as variações de forma de ordem fônica. No QSL, pretende-se documentar as diferentes denominações para um referente. Entretanto, nesta pesquisa, o QSL foi utilizado com o desígnio de verificar as variações fonético-fonológicas no fenômeno abordado e com o intuito de majorar os dados. Caderno de Letras, nº 24, Jan-Jun - 2015 - ISSN 0102-9576

O alçamento das vogais médias pretônicas em Salvador (BA) 143 fechadas e altas tanto nos informantes mais jovens quanto nos mais velhos. O trabalho As vogais médias pretônicas no falar popular de Fortaleza: uma abordagem variacionista consiste numa tese de Doutorado defendida na Universidade Federal do Ceará (2007) por Aluiza Alves Araújo, sob a orientação de Maria do Socorro da Silva Aragão. A tese traz o resultado de uma pesquisa de base variacionista sobre o comportamento das vogais médias pretônicas na capital cearense. Para tal, analisa a fala de 72 informantes (36 homens e 36 mulheres), extraídos do Banco de dados do Projeto Norma Oral do Português Popular de Fortaleza (NORPORFOR). Os fatores extralinguísticos analisados foram o sexo, a faixa etária e a escolaridade, mas apenas a faixa etária e a escolaridade foram relevantes, demonstrando que as vogais abertas, tanto anteriores, quanto posteriores, predominam sobre as fechadas e altas nos informantes mais velhos e mais novos e nos mais e menos escolarizados. A dissertação de Mestrado O comportamento do /e/ e do /o/ pretônicos: um estudo variacionista da língua falada culta do Recife, defendida na Universidade Federal de Pernambuco (2009) por Gustavo da Silveira Amorim, sob a orientação de Stella Telles, apresenta o resultado da investigação sobre o abaixamento, manutenção e elevação das vogais pretônicas na língua culta, falada por universitários, homens e mulheres de duas faixas etárias: faixa 1 até 39 anos e faixa 2 mais de 40 anos por meio de fala espontânea, leitura de texto e lista de palavras. Como resultado, o autor mostra que na fala de Recife ocorre pouca elevação nas pretônicas, e os recifenses cultos optam pela manutenção. De acordo com os resultados extralinguísticos apresentados no estudo, a faixa etária não foi relevante e quanto ao sexo, o autor diz que as mulheres tendem à manutenção da vogal e os homens ao abaixamento ou elevação. Diferentemente das pesquisas já mencionadas, um estudo sobre a fala da região nordeste revela um índice grande de elevação da pretônica [u]. Trata-se da tese As pretônicas no falar teresinense de Ailma do Nascimento Silva, defendida em 2009, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, sob a orientação de Leda Bisol, referente às pretônicas na fala de Teresina, que teve como corpus entrevistas com 36 informantes, estratificados por sexo, faixa etária e escolaridade. Conforme expõe a autora, nessa capital, há a predominância das vogais médias abertas, mas a elevação apresenta um índice alto neste dialeto, revelandose como segunda variante mais produtiva, principalmente em relação à média posterior. Quantos aos fatores sociais, a autora diz que, pelo fato FONOLOGIA VARIAÇÃO, AQUISIÇÃO, TEORIA FONOLÓGICA

144 Vitor Meneses dos Anjos, Marcela Moura Torres Paim de o abaixamento ser regra padrão do dialeto, independe de qualquer condicionamento social. Apesar de trabalharem com metodologias distintas, tais resultados serão apresentados no capítulo de descrição dos dados, quando passíveis de comparação. 3. Processos Metodológicos Esta pesquisa está baseada na metodologia do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB), que pretende descrever a realidade linguística do Brasil no que se refere à Língua Portuguesa, considerando as variações inerentes à língua. A inspiração da criação do Atlas Linguístico do Brasil foi retomada durante o Seminário Nacional Caminhos e Perspectivas para a Geolinguística no Brasil, realizado em Salvador, na Universidade Federal da Bahia, em novembro de 1996, com a participação de dialetólogos brasileiros e do Diretor do ALiR (Atlas Linguistique Roman), Prof. Michel Contini (Grenoble). O Projeto Atlas Linguístico do Brasil publicou, recentemente, em 2014, seus dois primeiros volumes, cuja primeira manifestação em prol de sua elaboração remonta ao ano de 1952: [...] a intenção de elaborar o atlas lingüístico do Brasil que toma forma de lei através do Decreto 30.643, de 20 de março de 1952, cujo Art.3º., assenta como principal finalidade da Comissão de Filologia da Casa de Rui Barbosa a elaboração do atlas lingüístico do Brasil. Tal determinação foi regulamentada pela Portaria nº536, de 26 de maio de 1952, que, ao baixar instruções referentes à execução do decreto de criação do Centro de Pesquisas Casa de Rui Barbosa, estabeleceu como finalidade principal, entre as pesquisas a serem planejadas, a própria elaboração do atlas lingüístico do Brasil. (FERREIRA; CARDOSO, 1994, p. 44). Tratando-se dos processos metodológicos do Atlas Linguístico do Brasil, os informantes se distribuem pelos dois sexos, por duas faixas etárias a primeira de 18 a 30 anos e a segunda de 50 a 65 anos e, nas capitais, por dois níveis de escolaridade fundamental e universitário, o que possibilita a análise das variações diassexuais, diageracionais e diastráticas, ao lado da diatópica. Os dados, aqui, utilizados foram coletados em pesquisa de campo, através da aplicação dos Questionários do Projeto ALiB (cf. COMITÊ, 2001). Para este estudo, foram observados oito inquéritos, em Salvador Caderno de Letras, nº 24, Jan-Jun - 2015 - ISSN 0102-9576

O alçamento das vogais médias pretônicas em Salvador (BA) 145 (BA), que, posteriormente, foram transcritos, devidamente levantados e codificados a partir dos registros contidos em suas gravações. Através dos seguintes exemplos, é possível verificar como as repostas em análise são obtidas. EXEMPLO 1 INQ. Qual o nome das frutas menores que a laranja, que se descascam com a mão, e, normalmente, deixam um cheiro na mão? INF. Tangirina [tɐ ʒiˈɾiñɐ] INQ. Ah, tem outras... você chama de outra forma? INF. Mixirica [miʃiˈɾikɐ], a gente chama. INQ. Tem outra forma também, tangerina, mexerica... INF. Não. INQ. Não? E tem diferença da tangerina pra mexerica? INF. Não, acho que é a mesma. INQ. É? É tudo igual? INF. É. (Salvador, Mulher, Faixa 1, Nível Fundamental) EXEMPLO 2 INQ. De manhã cedo, uma estrela brilha mais e é a última a desaparecer. Como chamam essa estrela? INF. Istrela-dalva [iʃˈtɾelɐˈdawvɐ] INQ. Tem outro nome? INF. Tem gente que chama istrela-dalva [iʃˈtɾelɐˈdawvɐ] e tem pessoas que diz que é a... tem um ôtro nome que dá pra essa istrela [iʃˈtɾelɐ], que é maior... INQ. Hum... INF. A maior istrela [iʃˈtɾelɐ]. Ela sempre some por último... (Salvador, Homem, Faixa 2, Nível Fundamental) EXEMPLO 3 INQ. Como se chama aquilo assim (mímica), onde se colocam objetos em casa (latas de mantimentos na cozinha, enfeites na sala...) ou produtos para vender nos supermercados, mercearias, etc.? INF. Uma pratilêra [pɾatʲiˈleɾɐ] INQ. Sim... INF. Tem muitas pessoa que tem patilêra [patʲiˈleɾɐ], né, tem ôtras que compra aqueles armários... que chamam... tem um nome também. (Salvador, Mulher, Faixa 2, Nível Fundamental) FONOLOGIA VARIAÇÃO, AQUISIÇÃO, TEORIA FONOLÓGICA

146 Vitor Meneses dos Anjos, Marcela Moura Torres Paim Para realizar a análise estatística, utilizou-se o pacote de programas GoldVarb (2001). Esse software admite apresentar as frequências absolutas e relativas dos dados antecipadamente montados pelo pesquisador e correlacionar os corpora de caráter linguístico às informações de caráter social da amostra linguística em estudo. Com a finalidade de examinar simultaneamente o efeito dos grupos de fatores em relação a cada uma das variantes (alta, média, baixa) das variáveis <e> e <o> foi feita a análise quantitativa, na perspectiva da presença de alteamento, com o intuito de obter percentuais e pesos relativos dos grupos de fatores sociais. Este estudo analisou duas variáveis dependentes, isto é, o fenômeno em variação, que apresenta possibilidades de utilização linguística (as vogais médias e altas em posição pré-acentuada), assim foram feitas rodadas no Programa Goldvarb entre médias e altas anteriores e médias e altas posteriores; e variáveis independentes, que são os fatores de variação (grupos de fatores) e condicionam a realização diversificada da variável dependente, como demonstra o quadro 3 a seguir: Sexo do (a) informante Homem Mulher Faixa etária do (a) informante Faixa etária I (18 30 anos) Faixa etária II (50 65 anos) Nível de escolaridade do (a) informante Fundamental Universitário Quadro 3 Fatores extralinguísticos A partir da análise desses fatores extralinguísticos, é possível investigar as prováveis influências que condicionam, no português falado em Salvador, o alçamento, ou não, das vogais médias pretônicas. Caderno de Letras, nº 24, Jan-Jun - 2015 - ISSN 0102-9576

4. Análise dos resultados obtidos O alçamento das vogais médias pretônicas em Salvador (BA) 147 Depreendeu-se da análise dos oito inquéritos da cidade de Salvador um total de 1.870 dados. Primeiramente, é necessário mostrar a frequência das variantes das vogais médias pretônicas em Salvador, cujos resultados apresentam uma predominância das variantes [ɛ] e [❷]. Foram realizadas diversas rodadas confrontando as variantes, das quais se extraíram as informações que sustentarão a descrição. Tabela 1 - Frequência das variantes das vogais em Salvador Localidade Anteriores Posteriores [i] [e] [ɛ] [u] [o] [ɔ] Salvador 20,3% 19,4% 60,3% 24,9% 17,3% 57,8% Tratando-se dos processos fonológicos que abarcam as vogais, na cidade de Salvador, nota-se que há o predomínio de vogais abertas, tanto anteriores, como posteriores. Essa predominância de realização das vogais abertas também foi revelada nos trabalhos de Soares (2004), Araújo (2007), Amorim (2009) e Silva (2009). As vogais altas, por sua vez, são a segunda variante mais produtiva assim como também revelou os resultados apresentados por Silva (2009). No que diz respeito às vogais altas, três variáveis extralinguísticas foram pesquisadas: o sexo, a faixa etária e o nível de escolaridade do(a) informante. Dessas variáveis, a faixa etária foi considerada como a mais relevante pelo Goldvarb.Verificam-se os dados referentes a essa variável social nas tabelas 2 e 3: Tabela 2 Vogal alta anterior [i] segundo a variável faixa etária em Salvador Aplicação / Total Valores (%) Peso relativo (P.R.) Faixa etária I 132 / 405 33,7 % 0,37 Faixa etária II 245/503 42,3 % 0,54 FONOLOGIA VARIAÇÃO, AQUISIÇÃO, TEORIA FONOLÓGICA

148 Vitor Meneses dos Anjos, Marcela Moura Torres Paim Tabela 3 Vogal alta posterior [u] segundo a variável faixa etária em Salvador Aplicação / Total Valores (%) Peso relativo (P.R.) Faixa etária I 178 / 398 35,7 % 0,34 Faixa etária II 223/564 57,6 % 0,63 Como se pode observar através das tabelas 2 e 3, há uma estratificação do fenômeno conforme a análise das duas faixas etárias consideradas pela metodologia do Projeto ALiB: a faixa etária I e a faixa etária II. Nas análises das vogais altas anteriores e posteriores [i] e [u], os informantes da faixa etária II, os mais velhos, comportaram-se de modo semelhante, com pesos de 0,54 e 0,63, respectivamente. Essa propriedade evidencia uma nítida diferença entre as diferentes gerações, visto que os falantes mais velhos fazem mais uso do alteamento. As diferenças entre as duas faixas etárias foram bastante significativas para apontar que os mais jovens preferem as variantes médias baixas. Trabalhos como o de Soares (2004), Araújo (2007) e Silva (2009) já revelaram que os falantes mais jovens possuem altos índices de realização das variantes mais baixas. Diferentemente dos resultados alcançados por Amorim (2009), que revelou o fato de a variável social sexo evidenciar um comportamento diferente das mulheres cultas de Recife em relação aos homens no que diz respeito à predominância de vogais fechadas, abertas e altas, a variável sexo, nas análises realizadas na cidade de Salvador, não se mostrou como estatisticamente válida pela leitura do programa para este fim. Por isso, apenas foi possível analisar essa variável quando realizados cruzamentos com a variável escolaridade como mostram as tabelas 4 e 5 a seguir: Tabela 4 Vogal alta anterior [i] segundo ao cruzamento: sexo e escolaridade Aplicação / Valores (%) Peso relativo Total (P.R.) Mulheres / 237/472 31,3 % 0,59 Fundamental Mulheres / Superior 176/448 19,9 % 0,21 Homens / 256/583 37,4% 0,62 Fundamental Homens / Superior 154/575 21,6% 0,32 Caderno de Letras, nº 24, Jan-Jun - 2015 - ISSN 0102-9576

O alçamento das vogais médias pretônicas em Salvador (BA) 149 Tabela 5 Vogal alta anterior [u] segundo ao cruzamento: sexo e escolaridade Aplicação / Valores (%) Peso relativo Total (P.R.) Mulheres / 223/452 29,2 % 0,56 Fundamental Mulheres / Superior 164/432 16,7 % 0,25 Homens / 236/578 34,8% 0,58 Fundamental Homens / Superior 143/564 19,6% 0,36 Através da análise das tabelas 4 e 5, verifica-se que os informantes que possuem apenas o nível fundamental, independentemente do sexo, realizam em maior escala o alteamento das vogais médias pretônicas, tanto das vogais anteriores, como das posteriores, evidenciando a importância do fator escolaridade para análise do alteamento das vogais. Neste contexto, pode-se pensar na proximidade com a escrita ou com o próprio preconceito linguístico. A partir do momento em que determinado falante está inserido em um espaço em que a maioria das pessoas possui maior nível de escolaridade, nota-se que a probabilidade de monitoramento é muito maior, visto que o falante tem consciência da existência de uma norma padrão e seus estigmas. No que diz respeito à comparação dos dados de homens e mulheres do mesmo nível de escolarização, percebe-se que os homens apresentam índices de alteamento maiores em comparação com as mulheres. É interessante mencionar que tal aspecto também foi evidenciado na pesquisa de Amorim (2009) que aborda a predominância dos homens cultos de Recife nas realizações mais altas das vogais em relação às mulheres. 5. Considerações Finais Neste sentido, após a análise dos dados, podem-se fazer algumas considerações: a) Em conformidade com os resultados alcançados, os grupos geracionais podem definir o uso de certos traços linguísticos (MORENO FERNÁNDEZ, 1998). Quanto à variação diageracional, os dados assinalam uma diferença expressiva entre as distintas gerações, que foram estratificadas, com base na metodologia do Projeto ALiB, em duas faixas FONOLOGIA VARIAÇÃO, AQUISIÇÃO, TEORIA FONOLÓGICA

150 Vitor Meneses dos Anjos, Marcela Moura Torres Paim (faixa etária I e faixa etária II). Assim, os mais jovens representados pela faixa I optam pelo abaixamento, conservando, na fala, as variantes médias. b) No que tange à variação diassexual, os modos linguísticos de homens e mulheres podem se mostrar ressaltantes para a caracterização. Não obstante, a variável social sexo, isolada, nesta observação, não se mostrou como estatisticamente válida pela leitura do programa para este fim. Somente foi possível analisar essa variável quando realizados cruzamentos com outras variáveis. Dessa forma, o cruzamento da variável sexo com escolaridade mostrou que os informantes que possuem apenas o nível fundamental, independente do sexo, realizam em maior frequência o alçamento das vogais médias pretônicas, tanto das vogais anteriores, como posteriores. Enfatiza-se, ainda, a necessidade de estudos que tratem do mapeamento de outras cidades do Nordeste, ampliando as reflexões em relação à variação desse sistema. Referências Bibliográficas AMORIM, Gustavo da Silveira. O comportamento do /e/ e do /o/ pretônicos: um estudo variacionista da língua falada culta do Recife. 2009. 171f. Dissertação (Mestrado em Linguística) Centro de Letras e Comunicação, Universidade Federal de Pernambuco, Recife. ARAÚJO, Aluiza Alves de. As vogais médias pretônicas no falar popular de Fortaleza: uma abordagem variacionista. 2007. 156f. Tese (Doutorado em Linguística) Faculdade de Letras, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza. BORTONI, S. M. et al. Um estudo preliminar do /e/ e /o/ pretônico. Cadernos de Estudos Linguísticos. Campinas, n.20, 1991. CÂMARA JÚNIOR, Joaquim Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes, 1970. CARDOSO, Suzana. et al. Atlas Linguístico do Brasil. Londrina: Eduel, 2014. v. 2. Caderno de Letras, nº 24, Jan-Jun - 2015 - ISSN 0102-9576

O alçamento das vogais médias pretônicas em Salvador (BA) 151 COMITÊ NACIONAL DO PROJETO ALiB (Brasil). Atlas Linguístico do Brasil: questionários 2001. Londrina: Ed. UEL, 2001. FERREIRA, Carlota; CARDOSO, Suzana Alice. A dialetologia no Brasil. São Paulo: Contexto,1994. MARQUES, S. M. O. As vogais médias pretônicas em situação de contato dialetal. 2006. Tese (Doutorado em Letras) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. MORENO FERNÁNDEZ, Francisco. Principios de sociolingüística y sociología del lenguaje. Barcelona: Editorial Ariel, 1998. MOTA, J. A. Vogais antes do acento em Ribeirópolis-SE. 1979. Dissertação (Mestrado em Língua Portuguesa) Universidade Federal da Bahia, Salvador. NASCENTES, A. O linguajar carioca. 2.ed. Rio de Janeiro: Simões, 1953[1922]. NASCENTES, Antenor. Divisão dialectológica do território brasileiro. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, abr./jun., 1955. NINA, T. Aspectos da variação fonético-fonológica na fala de Bélem. Rio de Janeiro: UFRJ, 1991. SILVA, Ailma do Nascimento. As pretônicas no falar teresinense. 2009. 236f. Tese (Doutorado em Letras) Faculdade de Letras, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul. SOARES, Adriana de Santana. As pretônicas médias em comunidades rurais do semiárido baiano. 2004. 152f. Dissertação (Mestrado em Linguística) Instituto de Letras, Universidade Federal da Bahia, Salvador. Recebido em 31 de marco de 2015. Aceito em 23 de maio de 2015. FONOLOGIA VARIAÇÃO, AQUISIÇÃO, TEORIA FONOLÓGICA

152 BONFIM QUEIROZ LIMA, IRISMÁ OLIVEIRA CARVALHO E LUCIANA DE QUEIROZ LIMA Caderno de Letras, nº 24, Jan-Jun - 2015 - ISSN 0102-9576