ASPECTOS HISTOLÓGICOS DO IMPLANTE DE MATRIZES DE COLÁGENO NO TECIDO SUBCUTÂNEO DE RATOS



Documentos relacionados
ANÁLISE HISTOLÓGICA DAS REAÇÕES TECIDUAIS AO IMPLANTE DE MATRIZES DE COLÁGENO NO TECIDO SUBCUTÂNEO DE RATOS TRATADOS COM SOLUÇÃO SALINA NEUTRA

UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI SÊNIA BASTOS ORIENTAÇÕES PARA A ELABORAÇÃO DO RESUMO

Dr. Athanase Christos Dontos

EDITAL DO VI ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E IV JORNADA INTEGRADA DE ODONTOLOGIA E MEDICINA (JIOME) DA UNINCOR, CAMPUS BELO HORIZONTE

FIOS CIRÚRGICOS. Maria da Conceição Muniz Ribeiro

ANÁLISE HISTOMORFOMÉTRICA DAS ESTRUTURAS DA REGIÃO DA EPÍFISE DISTAL DA TÍBIA DE RATOS PÓS-IMOBILIZAÇÃO.

O uso do substituto ósseo xenogênico em bloco OrthoGen em procedimento de enxertia intraoral. Avaliação clínica e histológica.

Rejeição de Transplantes Doenças Auto-Imunes

TECIDO CONJUNTIVO HISTOLOGIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO DIRETORIA DE ENFERMAGEM SERVIÇO DE EDUCAÇÃO EM ENFERMAGEM


Marina ZIMMERMANN; Eugênio Gonçalves de ARAÚJO; Fernanda Figueiredo MENDES; Danilo Ferreira RODRIGUES

CIRURGIA DO NARIZ (RINOPLASTIA)

Curso de Capacitação em Biossegurança de OGMs Células-tronco Legislação de Biossegurança

UNIVERSIDADE DO OESTE PAULISTA UNOESTE FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA

1. Da Comunicação de Segurança publicada pela Food and Drug Administration FDA.

Histologia animal. Equipe de Biologia

COLÉGIO JARDINS. Aluno: Data: / / SÉRIE: 1º A( ) B( ) Profº Marcos Andrade

Protocolo de Solicitação de Uso de animais em Projetos de Pesquisa/Extensão e Pós Graduação a Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) ANEXO I

4 Segmentação Algoritmo proposto

REGULAMENTO TÉCNICO PARA REGISTRO DE ANTIMICROBIANOS DE USO VETERINÁRIO

II CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAUDE DA UEM VI SEMINÁRIO CIENTÍFICO DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

EFEITO DA UTILIZAÇÃO DE PRÓBIÓTICOS EM DIETAS PARA BOVINOS NELORE TERMINADOS EM CONFINAMENTO INTRODUÇÃO

EXERCÄCIOS DE HISTOLOGIA. 1- (PUC-2006) Associe o tipo de tecido animal Å sua correlaçéo:

Observação microscópica de seres vivos de uma infusão

RELATÓRIO TÉCNICO-CIENTÍFICO FINAL (Observação: as informações prestadas neste relatório poderão, no todo ou em parte, ser publicadas pela FAPESC.

Copyright 2013 VW Soluções

ESTUDO RETROSPECTIVO DOS TUMORES MAMÁRIOS EM CANINOS E FELINOS ATENDIDOS NO HOSPITAL VETERINÁRIO DA FAMED ENTRE 2003 A 2007.

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA) Protocolo de Pesquisa. Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA) Protocolo de Pesquisa

INTRODUÇÃO À PATOLOGIA Profª. Thais de A. Almeida

Término Previsto: ---/---/-----

Resposta: Interbits SuperPro Web

Célula ACTIVIDADE EXPERIMENTAL. Observação de Células Eucarióticas ao MOC. Objectivos

TECIDO CONJUNTIVO. derme tendão

COMPORTAMENTO DO TECIDO CONJUNTIVO SUBCUTÂNEO DO RATO APÓS IMPLANTE DE ESPONJA DE POLIVINIL ÁLCOOL.

RELATÓRIO DE ANÁLISE DO COMPORTAMENTO

Num mundo sem doenças e sem sofrimento, a experimentação animal não seria necessária.

ANÁLISE HISTOLÓGICA DE FERIDAS CUTÂNEAS EM RATOS E ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA EM CAMUNDONGOS TRATADOS COM ÓLEO DE COPAÍBA

Tesoura Mayo Curva e Reta. Tesoura Metzenbaum curva e reta

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS REGIONAL JATAÍ ASSESSORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

BIOCOMPATIBILIDADE ÀS DIFERENTES PORÇÕES DO CONTEÚDO DOS TUBOS DE CIMENTO AH PLUS PELA IMPLANTAÇÃO SUBCUTÂNEA

FIOS E NÓS CIRÚRGICOS

Área de Biologia Craniofacial e Biomateriais

LESÕES DOS ISQUIOTIBIAIS

POROSIMETRIA AO MERCÚRIO

Prof. Diogo Mayer Fernandes Técnica Cirúrgica Curso de Medicina Veterinária Anhanguera Dourados

Ivan Guilhon Mitoso Rocha. As grandezas fundamentais que serão adotadas por nós daqui em frente:

Patentes Conceitos Básicos

Dúvidas e Esclarecimentos sobre a Proposta de Criação da RDS do Mato Verdinho/MT

SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DO ESTADO DO PARANÁ CENTRAL ESTADUAL DE TRANSPLANTES DO PARANÁ

As forças atrativas entre duas moléculas são significativas até uma distância de separação d, que chamamos de alcance molecular.

EXERCÍCIO E DIABETES

SOLIDIFICAÇÃO/ESTABILIZAÇÃO DE LODO GALVÂNICO EM BLOCOS DE CONCRETO PARA PAVIMENTAÇÃO (PAVERS)

Água e Solução Tampão

Campanha de prevenção do cancro da pele

A CIÊNCIA DOS PEQUENOS JOGOS Fedato Esportes Consultoria em Ciências do Esporte

5 Discussão dos Resultados

GRADUAÇÃO INOVADORA NA UNESP

ROTEIRO PARA A ELABORAÇÃO DE PROJETOS DE PESQUISA - CEUA

OTOPLASTIA (CIRURGIA ESTÉTICA DAS ORELHAS)

Bursite do Olécrano ou Bursite do Cotovelo

Recomendada. A coleção apresenta eficiência e adequação. Ciências adequados a cada faixa etária, além de

COMPARAÇÃO ENTRE O USO DE COLAS E O FIO DE NYLON NA SÍNTESE DE PELE EM RATAS

Princípios Gerais de Anatomia Veterinária

AVALIAÇÃO DA RESPOSTA CICATRICIAL À APLICAÇÃO TRANSDÉRMICA E INTRADÉRMICA DE SCAFFOLD

Materiais poliméricos ciência e aplicação como biomateriais

EXAME DISCURSIVO 2ª fase

Considerações sobre Sistemas de Avaliação e

INSTITUTO FLORENCE DE ENSINO COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM (TÍTULO DO PROJETO) Acadêmico: Orientador:

Controle da bexiga e do intestino após dano na medula espinhal.

PRINCÍPIOS DE INFORMÁTICA PRÁTICA OBJETIVO 2. BASE TEÓRICA. 2.1 Criando Mapas no Excel. 2.2 Utilizando o Mapa

Escola de Engenharia de Lorena EEL USP Departamento de Engenharia Química - DEQUI Disciplina: Normalização e Controle da Qualidade NCQ

RESUMOS DE PROJETOS ARTIGOS COMPLETOS (RESUMOS)

MANUAL PARA ELABORAÇÃO DE PROJETOS E SUBPROJETOS DE PESQUISA

Citologia, Histologia e Embriologia

4ª aula Compressores (complemento) e Sistemas de Tratamento do Ar Comprimido

SISTEMAS INTEGRADOS DE GESTÃO PAS 99:2006. Especificação de requisitos comuns de sistemas de gestão como estrutura para a integração

Inventário Patrimonial

ANÁLISE DO CAMPO TÉRMICO EM ÚBERE BOVINO EX VIVO APÓS APLICAÇÃO DE ULTRASSOM TERAPÊUTICO

REGIMENTO DO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA E TECNOLOGIA ESPACIAIS ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM ENGENHARIA E GERENCIAMENTO DE SISTEMAS ESPACIAIS

FACULDADE DE ENGENHARIA DE COMPUTAÇÃO. PROJETO FINAL I e II PLANO DE TRABALHO <NOME DO TRABALHO> <Nome do Aluno> <Nome do Orientador>

NOME COMPLETO DA SUA INSTITUIÇÃO. Nome completo do integrante A Nome completo do integrante B Nome completo do integrante C

IMPORTÂNCIA DA CURA NO DESEMPENHO DAS ARGAMASSAS IMPORTÂNCIA DA CURA NO DESEMPENHO DAS ARGAMASSAS

TECIDO CARTILAGINOSO. Observação com aumento total de 40x: Na mesma lâmina apareceu os dois órgãos traquéia e esôfago.

MODELO DE BULA. USO ADULTO E PEDIÁTRICO (crianças acima de dois anos de idade)

Referências internas são os artefatos usados para ajudar na elaboração do PT tais como:

- Pisos e revestimentos Industriais (pinturas especiais, autonivelantes, uretânicas, vernizes...);

Qual é a função dos pulmões?

A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO DE CUSTOS NA ELABORAÇÃO DO PREÇO DE VENDA

Instalações Máquinas Equipamentos Pessoal de produção

Controle da qualidade em uma fábrica de sorvetes de pequeno porte

Programa de Parcerias e Submissão de Propostas 2014/15

Implantação. Prof. Eduardo H. S. Oliveira

RESOLUÇÃO Nº 877, DE 15 DE FEVEREIRO DE 2008

MODELO CMM MATURIDADE DE SOFTWARE

ÉTICA NO USO DE ANIMAIS

FACULDADE SANTA TEREZINHA - CEST COORDENAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO CRONOGRAMA DE EXTENSÃO 2013

Transcrição:

ASPECTOS HISTOLÓGICOS DO IMPLANTE DE MATRIZES DE COLÁGENO NO TECIDO SUBCUTÂNEO DE RATOS Filadelpho, André Luís Pós-Graduando do Curso de Pós-Graduação em Cirurgia Veterinária FCAV/UNESP, Jaboticabal, SP. Artoni, Silvana Martinez Baraldi Docente do Curso de Pós-Graduação em Cirurgia Veterinária FCAV/UNESP, Jaboticabal, SP. Orsi, Antonio Marcos Docente do IBB/UNESP, Botucatu, SP. Dias, Luis Gustavo Gosuen Gonçalves Cabrini, Tatiana Monici Bariani, Mario Henrique Lot, Rômulo Francis Stangari Docentes da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia de Garça FAMED, Garça, SP. 1- INTRODUÇÃO Ao que parece, um dos grandes desafios da cirurgia moderna, atualmente, é a substituição de tecidos do organismo com biocompatilidade tecidual, que tem sido uma prática necessária no caso de perdas de estruturas anatômicas decorrentes de defeitos congênitos; seqüelas de trauma, ou injúria grave, e também em conseqüência da realização de cirurgias de reparo em Oncologia (Andrews, 1988; Filho et al., 2004). As substituições, implantes ou inclusão de tecidos de natureza biológica, ou de produtos sintéticos, ao nível cirúrgico, tem avançado ao longo dos anos recentes, e, principalmente, como decorrência do acervo de conhecimentos que originou a chamada Ciência dos Materiais e o seu desdobramento, posterior, na Engenharia de Materiais (Instituto Inovação, 2004). O desdobramento, antes citado, foi muito importante por ter lançado os alicerces, de base, e o ulterior desenvolvimento da Engenharia Biomédica. Essa vem desenvolvendo, com sucesso, importantes materiais biocompatíveis ( biomateriais, vide Fredel e Barra, 2004, para referência geral), visando-se, inclusive, a utilização destes materiais, ou produtos histocompatíveis, em Medicina Humana e em Medicina Veterinária.

O conceito de biomaterial, segundo Boretos e Eden (1984), se refere a qualquer nova substância desenvolvida, exceto as drogas medicamentosas, ou se reporta, ainda, à elaboração de uma combinação estável de substâncias, com origem sintética ou natural. Essas devem poder ser usadas, durante qualquer período de tempo, em parte, ou in totum, sobre uma parte de um sistema orgânico, ou em parte de um segmento orgânico, os quais se trata ou se repara cirurgicamente. Ademais, um biomaterial se configura num produto que possa substituir qualquer tecido; órgão, ou até mesmo beneficiar o ganho e re-equilíbrio de uma função orgânica, determinada, na parte somática do corpo ( Franke, 2003). Biocompatibilidade, segundo Williams (1987), se refere à habilidade de um desempenho adequado, ou favorável, entre um material produzido para implante cirúrgico, ou para inclusão biológica, e a obtenção de uma resposta orgânica apropriada do hospedeiro, em termos de uma aplicação específica daquele material, segundo alguns autores citados (vide Franke, 2003, para referência geral). Com a finalidade de se proceder implantes, e/ou inclusões, para reparo cirúrgico, muitos materiais foram utilizados, sendo tanto produtos sintéticos como materiais de natureza biológica (Marques, 1984). No Reino Unido ( UK, Commonwealth ), em 1937, iniciou-se a utilização de resinas sintéticas, tais como o polietileno e o metacrilato de metila, com objetivos de bio-implantação cirúrgica. Desde então, outros materiais foram desenvolvidos, tais como o silicone, o poli-tetra-fluor-etileno, o polietileno poroso e a poliamida, podendo ser veiculados em solução salina, ou em forma de gel (Marques et al., 1989; Filho et al., 2004). Scales (1953), definira as características de um implante sintético ideal, as quais englobariam cerca de nove parâmetros, conforme segue: 1) não causar modificação física no tecido ou órgão hospedeiro; 2) ser quimicamente inerte; 3) não ser um material carcinogênico; 4) não causar reação alérgica, ou reação de corpo estranho; 5) ter a comprovada capacidade de resistência a forças mecânicas, tais como a tração e a tensão físicas a que se possa submeter a área do implante; 6) poder ser fabricado na forma, ou na conformação, desejadas (e, se possível, em escala compatível com a

demanda); 7) poder ser submetido à esterilização; 8) existir, ou estar disponível, em diferentes tamanhos e formatos, e, 9) não necessitar de reparo, após ser realizado o implante (Scales, 1953; Filho et al., 2004). Logo, grandes esforços vêem sendo desprendidos na busca de um material (um produto ou uma substância), e/ou de um conjunto de materiais, que desenvolvam reação inflamatória mínima, quando, cirurgicamente, implantados, num tecido hospedeiro determinado, o qual quer se tratar, ou reparar (Antell e Smith, 1991). Assim sendo, foi sugerido, em relação ao emprego de materiais sintéticos de implantes, visando à utilização cirúrgica, que se obtivessem, de modo ideal, repostas inflamatórias agudas mínimas, assim como uma incorporação tecidual perfeita, ou adequada, a cujo conjunto pudesse se denominar de biocompatibilidade, e a ser consagrada pelo uso rotineiro e mediante aceitação universal (Nell, 1983). Materiais biocompatíveis, e seguros, foram considerados aqueles que ao serem submetidos a testes biológicos, e também a testes mecânicos, não mostraram resultados, de reatividade histopatológica, ou apenas uma reatividade inflamatória mínima, em termos de bio-incorporação e de histocompatibilidade (Holmes, 1990; Filho et al., 2004). Por outro lado, tem sido referido que a segurança e a efetividade dos materiais utilizados, para proceder reparos cirúrgicos, necessariamente, deveria incluir o conhecimento histopatológico da interface material-tecido. Deve-se, ainda, levar em consideração a possibilidade de ocorrência de um processo inflamatório crônico e/ou de uma resposta granulomatosa, presentes in loco (Silver e Mass, 1994). A última consideração exarada depõe favoravelmente ao objetivo, e à proposição, deste trabalho, quanto a analisar a histocompatibilidade, e possíveis decorrências histopatológicas leves, de implantes cirúrgicos de MLC (matriz liofilizada de colágeno, segundo Vulcani et al., 2008), em tecido subcutâneo do dorso de ratos Wistar. Verificar, ademais, os seus possíveis reflexos, decorrentes da implantação, no compartimento fascial e/ou na hipoderme (tecido subcutâneo), dos ratos albinos utilizados experimentalmente.

Concernente ao implante de substitutos biológicos, de procedência animal, muita importância tem sido dada ao pericárdio bovino, utilizado principalmente na cirurgia cardiovascular, em conseqüência de sua alta resistência e da fácil aquisição deste material, segundo Bartek et al. (1974) e Filho et al. (2004). Ademais, outras membranas biológicas têm sido utilizadas, experimentalmente, ou na prática médica, tal como o centro tendinoso do diafragma de cão, objetivando a reparação de defeitos musculares em ratos Wistar (Brun et al., 2004). Utilizaram-se, também, membranas da camada cortical óssea, desmineralizada e liofilizada, de bovino para implante subcutâneo em ratos (Yamatogi et al., 2005); a cartilagem auricular conservada em glicerina a 98%, e, as matrizes de colágeno, previamente preparadas em soluções alcalinas, por exemplo, no reparo cirúrgico da parede abdominal de eqüinos (Vulcani et al., 2008). Quanto à utilização de matriz de colágeno liofilizada (Vulcani et al., 2008), descreveram que o uso de matriz liofilizada de colágeno, no reparo cirúrgico da parede abdominal de eqüinos, após cirurgia, foi feita a partir do emprego do colágeno, presente em centros tendinosos diafragmáticos, previamente submetidos a soluções alcalinas por diferentes períodos de tempo. O biomaterial então obtido, genericamente chamado de matriz liofilizada de colágeno (MLC), decorreu da submissão do colágeno a diferentes testes físico-químicos, para a seguir ser usado como implante cirúrgico. As amostras, aparentemente, ideais para implante foram aquelas tratadas em meio alcalino, durante 72 horas, e liofilizadas, utilizando-se, como implante eficaz, as amostras de MLC submetidas a uma solução aquosa de glicerina a 98%. Esse será o biomaterial utilizado, neste delineamento experimental proposto. A aplicação de membranas biológicas (Brun et al., 2004; Yamatogi et al., 2005), como, por exemplo, o uso de um fragmento adequado de MLC (Vulcani et al., 2008), tem sido útil no reparo cirúrgico, constituindo-se num achado valioso para a técnica cirúrgica, e, que aparenta ser inquestionável. 2- MATERIAL E MÉTODO

No presente trabalho foram utilizados, aproximadamente, 30 ratos (Rattus norvegicus albinus), da variedade Wistar, adultos, machos com pesos corpóreos variando entre 320 e 400 gramas. Estes roedores serão divididos em dois grupos experimentais Grupo 1 (G1): implantes de blocos de MLC; e Grupo 2 (GC): incisão do dorso até o nível do tecido subcutâneo (hipoderma), caracterizando o grupo controle. Os períodos de observação pós-operatória, cujos dados e resultados foram analisados, fixando-se os períodos de tempos, após as cirurgias, respectivamente, em 15, 30 e 45 dias de pós-operatório. Nas fases que antecederam as cirurgias experimentais, bem como durante o período pós-operatório, que precedeu a eutanasia para observações e coletas de tecidos com o implante (MCL), biocompatiblizado, os ratos foram mantidos em cativeiro, isolados entre si, em ambiente adequado (Salas de Biotérios da FAMED e da UNESP), com a administração de alimentação sólida: ração Purina TM para roedores de laboratório, e água pura, ofertadas ad libitum. Como procedimento inicial, os roedores foram submetidos à anestesia geral, por meio de inalação de halotano. A assepsia da região do dorso torácico foi realizada com álcool iodado e procedeu-se uma cuidadosa tricotomia regional. Em seqüência, foi feita uma incisão longitudinal mediana adequada do dorso torácico, abaixo da borda caudal das duas escápulas, com posterior divulsão dos tecidos moles subjacentes, e, identificação da musculatura epaxial dorsal superficial. Na conclusão dos tempos experimentais, os roedores foram eutanasiados com saturação anestésica de quetamina, administrada por via intraperitoneal, e a seguir serão abertas as secções cirúrgicas que foram previamente suturadas, após a colocação dos implantes de MLC. As suturas, in loco, foram feitas com o uso de fio de nylon - monofilamento 5.0, segundo metodologia preconizada para suturas de planos externos do corpo (Leonard, 1968). Neste momento, foi analisada a condição macroscópica da região implantada, eventualmente, com a realização de fotografias in situ.

Fragmentos de tecidos com a incorporação dos materiais incluídos, ou amostra tissular circunjacente às inclusões, foram coletados e fixados, em fixadores específicos para estudos de microscopia de luz (MO), quais sejam: solução fixadora de formalina neutra tamponada e/ou solução de Bouin. Decorridos os tempos de fixação histológica, os tecidos serão conduzidos para a rotina habitual de MO, com obtenção de cortes histológicos incluídos em parafina histológica e/ou em paraplast. De todos os materiais, processados para MO, foram obtidos cortes histológicos de 5 a 7 µm de espessura, que serão corados com HE e tricrômicos de Masson e de Mallory. Os cortes foram analisados e documentados em microscópico óptico de pesquisa Olympus BH-2 (Japão). 3- RESULTADOS Ao analisar-se o material processado a MO verificou-se os seguintes resultados: G1-15 DIAS : Processo inflamatório crônico (ao exame microscópico nota-se infiltrado inflamatório predominantemente mononuclear (linfócitos, plasmócitos e histiócitos) intensa quantidade de células mononucleares ao redor de arteríolas e vênulas, moderada quantidade de células gigantes tipo corpo estranho associado à presença de tecido conjuntivo fibroso em fase de maturação e intensa proliferação fibroblástica periférica (tentativa de encapsulamento) (Fig 1). - 30 DIAS: Processo inflamatório crônico (ao exame microscópico nota-se infiltrado inflamatório mononuclear associado a proliferação de fibroblastos, neovascularização e inicio de maturação de tecido conjuntivo fibroso (Fig. 2). - 45 DIAS: Processo inflamatório crônico (ao exame microscópico nota-se infiltrado inflamatório crônico com predomínio de células mononucleares, macrófagos, circunscritos por tecido conjuntivo fibroso (tecido de granulação =

cápsula) com necrose e calcificação central. Observa-se ainda proliferação de glândulas serosas (Fig. 3). GC - 15, 30 e 45 DIAS: Neste observou-se a evolução gradativa de um processo cicatricial, com tecido cicatricial maduro (ao exame microscópico nota-se fibras colágenas coradas em verde, raros vasos sanguíneos e fibroblastos (fibrócitos). 4- CONCLUSÃO Observou-se que no material processado do GRUPO 01, aos 15 dias a matriz liofilizada de colágeno encontrava-se com grandes dimensões quando comparada ao material coletado 30 e 45 dias de implantação. A membrana biológica é absorvida à medida que os dias vão aumentando e nota-se dentro de algumas células gigantes do tipo Langerhans uma área mais clara sem afinidade pelos corantes (HE, tricrômicos de Masson e Mallory) que podem ser fragmentos da membrana biológica fagocitada, porém não notou-se a absorção total em nenhum dos animais dentro deste grupo. Finalmente, não houve rejeição em nenhum dos animais do experimento e frente à análise histológica, fica evidenciada a biocompatibilidade da matriz liofilizada de colágeno no tecido subcutâneo destes animais. 5- FIGURAS Fig.1- MLC (setas) 15 dias(15 x) Fig.2- MLC (seta) 30 dias(15 x) Fig.3- MLC (seta) 45 dias (20 x)

6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Andrews, J.M. Biomateriais em cirurgia plástica. In: Mélega, J.M., Zanini A.S. e Psillacks, J.M. Cirurgia plástica reparadora e estética. 3 o ed. Rio de Janeiro: MEDSI Editora Médica Científica; 1998. p.111-118. Antell, D.E. e Smith, J.W. Implantation of materials. In: Smith, J.W., Aston S. e Smith G. (ed.). Plastic surgery. 4 o ed. Boston: Little Brown. 1991. p.107-125. Bartek, I.T. et al. Frame mounted tissue heart valves techniques of reconstruction. Thorax 1974. v. 29, p. 51-55. Boretos, J. W. e Eden, M. (ed.) Contemporary biomaterials: material and host response: clinical application. In: New Technology and legal aspects. 1984. Park Ridge, NJ: Noyes Med. Publ. 1984. Brun, M.V. et al. Solução hipersaturada de sal ou glicerina a 98%, como conservantes de centros frênicos caninos utilizados na reparação de defeitos musculares em ratos Wistar. Ciência Rural, Santa Maria, 2004. v. 34, p. 147-153. Filho, D.H. et al. Estudo comparativo das reações teciduais ao implante de pericárdio bovino e a inclusão de politetrafluoroetileno expandido em ratos. Acta Cirúrgica Brasileira 2004. v. 19, p. 131-135. Franke, M. Biomateriais. Universidade Federal de Santa Catarina (ed.), Florianópolis, 2003. Fredel, M.C. e Barra, G. Tópicos especiais: biomateriais, Universidade Federal de São Carlos (ed.), São Carlos, 2004. Holmes, R.E. Alloplastic implants. In: McCarthy, J.C. (ed) Plastic surgery. 4 o ed. Philadelphia: Saunders. 1990. p.698-731. Instituto Inovação: Da pedra lascada aos nanomateriais. Belo Horizonte, Instituto Inovação (ed.), 2004. Leonard, E.P. Fundamentals of small animal surgery. Philadelphia: Saunders, 1968. 269p.

Marques, A.F. Pericárdio bovino na reparação da parede abdominal de cães (Tese Mestrado). Universidade Federal de São Paulo Escola Paulista de Medicina. 1984. Marques, A.F. et al. Biomateriais na substituição de tecidos moles. Acta Cirúrgica Brasileira 1989. v. 4, p. 158-167. Nell, B. Implants of gore-tex. Archives of Otorhinolaryngology 1983. v.109, p. 427-433. Scales, J. Tissue reaction to synthetic materials. Proceedings of the Royal Society of Medicine 1953. p. 466-647. Silver, F.H. e Mass, C.S. Biology of synthetic facial implant materials. Facial Plastic Surgery Clinics of North America, New York, 1994. v. 2, p.241-253. Vulcani, V. A. S. et al. Obtenção, caracterização e aplicação cirúrgica de matrizes de colágeno na parede abdominal de eqüinos. 2008. Ciência Animal Brasileira, v. 9, p. 778-785. Yamatogi, R.S. et al. Histologia da associação de membranas biológicas de origem bovina, implantadas no tecido subcutâneo de ratos. Ciência Rural, Santa Maria, 2005. v. 35, p.837-842.