INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR: AS TESSITURAS DO PROCESSO

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Transcrição:

02523 INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR: AS TESSITURAS DO PROCESSO Resumo Zenilda Botti Fernandes Universidade da Amazônia UNAMA Este trabalho apresenta o processo de inclusão de estudantes universitários na Universidade da Amazônia (UNAMA), e tem por objetivos promover debates, aprofundar saberes que vêm sendo construídos sobre a deficiência e compartilhar a experiência iniciada em 2005, com 473 alunos atendidos até 2014, que contam com um Núcleo de Atendimento ao Estudante (NAE), formado por uma equipe multiprofissional que recebe o apoio das clínicas-escola, mantidas pela universidade. Duas reflexões básicas têm orientado as ações: Como se efetiva o processo de inclusão na educação superior? Quais as contribuições da Universidade para a intensificação da inclusão dentro e fora dela? Formar estudantes com deficiência, tem-se revelado um processo multifacetado, comparado a uma tessitura, que requer a construção coletiva de ações especializadas, de condições de infraestrutura, suporte de serviços; oportunidades de convívio social, cultural e desportivo; adequação curricular, e sobretudo, professores aptos a criarem situações de ensino, de recursos e de relacionamento para incluir os alunos no círculo da aprendizagem. Os procedimentos utilizados são o estudo de caso, vivências, entrevistas, observação participante, intervenções e ações que promovam o desenvolvimento profissional dos professores e gestores, para melhor compreensão da problemática do aluno. Desenvolver ações inclusivas na universidade é comprometer-se com os conteúdos da relação frente à deficiência e à diversidade; a negação e a aceitação existentes na ação dos educadores e da família. A experiência de trabalhar há nove anos na perspectiva inclusiva, tem demonstrado que a universidade com todo o seu saber e sua ciência, deve estar a serviço da sociedade e daqueles que nela depositam a esperança de desenvolverem suas potencialidades e terem seus direitos de cidadania assegurados para poderem viver bem consigo mesmos e com os outros. Palavras chaves: Educação Superior; Inclusão; Atendimento Educacional Especializado. INTRODUÇÃO Este artigo apresenta a experiência do processo de inclusão na educação superior, em andamento na Universidade da Amazônia (UNAMA) e tem por objetivo abordar a problemática envolvida na acessibilidade condição para utilização dos espaços com segurança e autonomia a partir da eliminação de barreiras arquitetônicas e atitudinais, a promoção plena de condições para acesso e permanência na educação superior, por meio de procedimentos metodológicas e avaliações alternativas; flexibilização curricular, tecnologia assistiva - para possibilitar a aprendizagem dos alunos em interface com a gestão, a docência e as relações familiares. PROBLEMÁTICA

02524 A inclusão na educação superior tem sido um grande desafio em todo o país, confirmado pelo Censo da Educação de 2011 que mostra a baixa inserção desse segmento no ambiente acadêmico. Dos 6.739.689 de alunos matriculados, apenas 23.250 deficientes tiveram acesso à educação superior, representando 0,35% da população universitária brasileira. Desse total, 72% das matrículas de estudantes com deficiência, estão em Instituições Privadas de Educação Superior e apenas 28% estão em Instituições Públicas. A Região Norte possui 520.274 alunos matriculados, sendo 1.979 deficientes, e representam 0,38% do total. No Estado do Pará, o Censo informa que, dos 152.862 alunos matriculados, há 803 deficientes, o que representa 0,53% do total, uma média um pouco acima dos percentuais da Região Norte e do país. O acesso das pessoas com deficiência à educação superior vem se ampliando significativamente, em consequência do desenvolvimento inclusivo na educação básica, entretanto, as políticas afirmativas governamentais tem se mostrado insuficientes para atender as demandas cada vez mais crescentes no país e na região amazônica. Tal cenário não condiz com os ideais democráticos de oferta de educação para todos, portanto, é de grande relevância que a Universidade promova ações inclusivas dentro de sua esfera de atuação. Para o desenvolvimento das atividades destinadas aos alunos deficientes, foi criado em 2009, o Núcleo de Atendimento ao Estudante (NAE), composto por uma equipe multiprofissional formada por Pedagogos, Fonoaudióloga, Psicopedagoga, Psicóloga e Assistente Social e outras especialidades quando houver demandas. A equipe do NAE atua na identificação, avaliação e estudo de procedimentos para que o estudante, desde o seu ingresso, possa expressar todo o seu potencial, evitando que as suas limitações ou dificuldades não se tornem a causa de exclusão acadêmica. O atendimento ao estudante inicia por ocasião do processo seletivo, e durante o curso, por duas vias: a espontânea, quando é motivada pelo próprio aluno ou sua família, e a dirigida, quando é sugerida por um professor ou a coordenação do curso - feito pessoalmente, por telefone, requerimento ou por e-mail. Em qualquer dos casos, recomenda-se a apresentação de um laudo, para a identificação da necessidade e para o cadastro no NAE. O referencial metodológico adotado para o desenvolvimento das atividades se apoia na abordagem qualitativa, na perspectiva crítico-reflexiva, por se tratar de uma

02525 experiência/investigação sobre práticas inclusivas em desenvolvimento que considera a complexidade, as especificidades de cada curso, por meio de ações preventivas, e interventivas a partir de um planejamento pedagógico, acadêmico-financeiro, de pessoal e de infraestrutura, em articulação com os demais setores da instituição. Os procedimentos metodológicos incluem: estudo de caso, vivências, entrevistas, observação e intervenções, ora planejadas, ora emergenciais; registros narrativos dos atendimentos; análise de laudos dos estudantes por especialistas; visitas domiciliares, e encontros periódicos de formação continuada de professores e gestores em cada semestre, dentre outros, para melhor compreensão da problemática de cada aluno. CONSIDERAÇÕES/RECOMENDAÇÕES As discussões teórico-práticos apontam que a inclusão se faz a partir de múltiplos entrelaçamentos, que configuram uma verdadeira tessitura do latim tessere est, que quer dizer: fazer tecido, construir, entrelaçando tecidos, fios (HOUAISS 2001, p. 2.708). Fazendo uma transposição do termo, pode-se afirmar que a inclusão, no seu sentido mais amplo, precisa ser tecida por muitas mãos e um conjunto de ações especializadas, oportunidades de convívio social, cultural e desportivo, além de professores aptos a criarem situações de ensino para que os alunos tenham oportunidades de serem inseridos nos círculos de aprendizagem, e devem abranger toda a instituição. Assim como uma tessitura, a inclusão também está relacionada à diversidade - do latim diversitas - que significa contradição, diferença, variedade. A atenção à diversidade pressupõe a compreensão e a atuação diante das dificuldades causadas pelo preconceito, pela discriminação e pela exclusão. Como espaço democrático, a Universidade abriga pessoas possuidoras de valores, culturas, crenças, atitudes e potencialidades tão diversas quanto ricas de possibilidades de desenvolvimento. Tendo em conta os referenciais teóricos e o ordenamento jurídico atual, a Universidade fez o mapeamento dos atendimentos, que somam 473 alunos desde 2005. Desse total, observa-se a predominância de estudantes com Transtornos Globais do Desenvolvimento, que passaram a ser maioria desde o ano 2009. No ano de 2014, dos 91 alunos cadastrados, eles representam 78,7%. Os deficientes físicos, visuais, e auditivos, representam 16,2% do alunado que contam com Intérpretes de Linguagem Brasileira de Sinais (Libras); profissionais especializados para orientar a realização de pesquisas

02526 acadêmicas, provas e atividades nos laboratórios feitas por ledores, e disponibilização dos Programas DOSVOX e JAWS (leitores de tela) em todas as bibliotecas e laboratórios de informática dos campi. Na área da deficiência física, a adequação da infraestrutura predial, de mobiliário, de comunicação e de equipamentos, tem sido efetivada por meio de ações permanentes, a fim de proporcionar a acessibilidade e facilitar a mobilidade, o conforto e a segurança. Prática igualmente importante tem sido o atendimento especial aos alunos com doenças infecto contagiosas, os que sofrem acidentes, ou alunas que se tornam mães estes grupos recebem apoio domiciliar e hospitalar de profissionais do NAE - que conta com o auxilio da tecnologia, para promover a aprendizagem em ritmo próprio e nas condições que lhe são apropriadas até retornarem em definitivo para a universidade. O atendimento ao estudante tem sido complementado com o suporte estrutural administrativo e de logística das clínicas-escola de Fisioterapia, Nutrição, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional, Enfermagem e Psicologia; do Núcleo de Laboratórios, da Coordenação de Tecnologia, do Departamento de Manutenção e Construção dos campi, da Secretaria Acadêmica e da Biblioteca. Considerando que o modo de conduzir o processo de inclusão não está descrito em manual e nem é possível antecipar o rol de providências e a utilização de estratégias que sejam adequadas, sem que os sujeitos estejam presentes, e suas condições sejam compreendidas, só é possível aprender a tecer os fios da inclusão de modo coletivo. Esta experiência tem apontado que o conhecimento sobre a prática pedagógica com alunos especiais não está restrito à Universidade, e não há como contemplar a heterogeneidade do alunado em seus interesses, suas motivações para aprender sem o exercício coletivo da responsabilização e a tomada de consciência de que a aprendizagem em qualquer contexto e para qualquer ser humano se alicerça em um sentimento amoroso e respeitoso frente às suas potencialidades. Dessa perspectiva pergunta-se: como seriam as coisas e as pessoas antes que lhes tivéssemos dado o sentido de nossa esperança e visão humanas? (LISPECTOR, 2004, p.114). Em outros termos, o que seria da universidade com todo o seu saber e sua ciência, se não estivesse a serviço da sociedade e daqueles que nela depositam a esperança de desenvolverem suas potencialidades e terem seus direitos de cidadania assegurados?

02527 De maneira mais ampla, a inclusão das pessoas com deficiência na educação superior deve assegurar-lhes, o direito à participação plena na comunidade universitária ao possibilitar-lhes frequentar ambientes comuns e desenvolver atividades que ampliem suas funcionalidades. Igualmente, a condição de deficiência não deve definir a área de seu interesse profissional. Para a efetivação deste direito, as instituições precisam disponibilizar serviços e recursos de acessibilidade que promovam a plena participação dos estudantes, pois nenhum outro espaço social é tão predisposto ao exercício da prática da igualdade de oportunidade e da busca do consenso para atender as diferentes demandas, como a universidade. Este artigo apresentou o processo de inclusão e o seu modus operandi numa instituição de educação superior que vem buscando construir caminhos para o cumprimento da sua missão, e afirmar sua presença na região amazônica. A contar pelos egressos que concluem com sucesso os cursos que escolheram, pode-se encontrar evidências de um fazer inclusivo na UNAMA. REFERÊNCIAS. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Brasília, 1996.. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial. Brasília:MEC/SEESP, 1994. HOUAISS, Antonio. (et. al).instituto. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. LISPECTOR, Clarice. Aprendendo a viver. Rio de Janeiro: Rocco, 2004. SANTOS, Monica Pereira. O papel do ensino superior na proposta de uma educação inclusiva. Revista da Faculdade e Educação da UF n. 7.p.78-91. Maio, 2003. THOMA, Adriana S.A inclusão no ensino superior: ninguém foi preparado para trabalhar com esses alunos (...). Isso exige certamente uma política especial (...). Caxambú:MG: 29ª Reunião Anual da ANPED, 2008.