EDUCAÇÃO FÍSICA E AS NOVAS PROPOSIÇÕES: COMO ENSINAR ESPORTES COLETIVOS? Karine Beltrame Alessandra Galvão José Ribamar Santiago Júnior Fernanda Ragonha Vanessa Camargo Augusto Lima Silva Betina Bastos Delmar da Silva Mariângela Gallina Miriam Zanchetta Poliana da Silva Rafael Souza Elton Galvão Heitor Rodrigues Taihnee Bernardes Luís Fernando Rosário Suraya Darido Resumo: Em função da importância do esporte no contexto sócio-político, bem como da sua grande penetração na escola, a questão que se coloca neste estudo é como se deve ensinar os esportes frente às novas concepções de Educação Física e Esportes construídas nos últimos anos. Especificamente o objetivo desta pesquisa é investigar junto aos alunos do último ano de um curso de Educação Física de Licenciatura e de Bacharelado como ele compreendem a pedagogia do esporte. Para atingir este objetivo será realizada uma pesquisa de natureza qualitativa e do tipo descritiva, na qual 40 alunos serão entrevistados, em seguida as informações serão transcritas, categorizadas e interpretadas. 1. Introdução A Educação Física e seus professores, vêm colecionando diversas críticas à sua atuação, dentre as quais pode-se destacar o seu caráter recreativo, descompromissado e alienante, ou a sua ligação exclusiva com a prática esportiva, selecionando os alunos mais aptos, e ignorando parte deles nas aulas de Educação Física escolar. A partir dos anos 80 essas críticas, resultaram num período de crise da Educação Física que culminou com o lançamento de diversos livros e artigos que buscavam além de criticar as características reinantes da área, elaborar propostas e pressupostos que viessem a aproximar a Educação Física da realidade e da função escolar. Já nos anos 90, com a aprovação da Nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB/96) a Educação Física passa de atividade curricular para componente curricular obrigatório. Como Componente Curricular da Educação Básica, ela recebe o mesmo status das demais áreas de conhecimento representadas no Sistema Educacional. Antes da promulgação dessa LDB, a Educação Física como Atividade do Currículo Escolar, causou vários problemas para os professores, entre eles o baixo status e as dispensas das aulas. Há que se considerar, entretanto, que a atribuição em
termos legais de uma condição de componente curricular não significa necessariamente que a Educação Física tenha passado a desempenhar tal papel (CAPARRÓZ et al., 2001). De toda forma, quer pelos aspectos legais, quer pela necessidade de adequação aos novos pressupostos educacionais apontados por grande parte da produção acadêmica é preciso introduzir mudanças no ensino da Educação Física escolar para que ela cumpra, verdadeiramente, o seu papel educativo. Um ponto de destaque nessa nova significação atribuída à Educação Física é que a área ultrapassa a idéia única de estar voltada apenas para o ensino do gesto motor correto. Muito mais que isso, cabe ao professor de Educação Física problematizar, interpretar, relacionar, compreender com seus alunos as amplas manifestações da cultura corporal de movimento. Como particularidade da Educação Física, as práticas corporais são aquelas que se apresentam na forma de jogos, brincadeiras, ginásticas, lutas, esportes, danças, práticas corporais alternativas. Todo esse conjunto de atividades, culturalmente produzidas e historicamente situadas, convencionou-se chamar de cultura corporal de movimento. Neste trabalho buscaremos analisar um dos aspectos centrais da busca da ressignificação da Educação Física na escola, qual seja, como encaminhar o ensino dos esportes numa perspectiva voltada para a formação do cidadão, já que o esporte é uma das manifestações da cultura corporal de movimento. Mais especificamente, neste estudo procuraremos levantar como os alunos do último ano de um curso de Educação Física de Licenciatura e de Bacharelado compreendem a iniciação esportiva dos esportes mais tradicionais, quais sejam: Basquetebol, Voleibol, Handebol e Futebol. 2. Revisão bibliográfica O Esporte, na atualidade, vem adquirindo espaço e importância cada vez maiores em nossa sociedade, basta olharmos à nossa volta para que comprovemos isto. O espaço dedicado pela mídia é cada vez mais crescente. Como exemplo na última Olimpíada (Atenas/2004) foram disponibilizados 4 canais só para a transmissão deste evento. Além disso, é uma atividade que envolve muito dinheiro e movimenta a industria de lazer, turismo, roupas, equipamentos esportivos, alta tecnologia e pesquisas cientificas; ele se tornou, inclusive, um estilo de vida, tanto que Cagigal (1972) chegou a afirmar que o Esporte é um dos hábitos que caracteriza o nosso tempo, ou como ressalta Tubino (2001) o maior fenômeno do século XX. A questão que se coloca é a seguinte: com toda a força social do esporte como ele deve ser tratado nas aulas de Educação Física e na iniciação esportiva? Como lidar com todas estas influências? Para este estudo optou-se por investigar os esportes coletivos Basquetebol, Voleibol, Futebol e Handebol, pois além de serem os mais freqüentes nas aulas de Educação Física escolar (DARIDO, 2003), possuem aspectos comuns entre si (SCAGLIA, 2003). Os esportes coletivos, segundo Gonzales (2004), exigem a coordenação das ações de duas ou mais pessoas, de forma colaborativa, para o desenvolvimento da ação esportiva. Este é um fenômeno mais ligado ao esporte moderno, pois são pouquíssimos os registros desta espécie de competição entre as civilizações mais antigas. De acordo com Kolyniak Filho (1997) estas modalidades são resultados de uma produção cultural mais recente, ocorrida ao final do século XIX e início do XX. O autor classifica os esportes coletivos em duas categorias: esportes coletivos em que não há interação com o oponente, como a Ginástica Rítmica Desportiva, o Remo e o Nado Sincronizado; e os esportes coletivos com interação com o oponente, que são os mais populares como: futebol, basquetebol, voleibol, dentre outros.
Talvez, o fator determinante para este grande interesse pelas modalidades esportivas coletivas seja, justamente, o fato de ser disputado em grupos, o que reforça a necessidade humana de socialização, além, obviamente do elemento lúdico envolvido na disputa do tipo jogo. Bracht (2000/2001) faz uma análise muito interessante sobre os maus entendimentos a respeito do papel do Esporte nas aulas de Educação Física. Para o autor criticar o esporte não é ser contra o esporte, tratar criticamente o esporte nas aulas de Educação Física não é ser contra a técnica esportiva e que tratar criticamente do esporte na escola não é abandonar o movimento em favor da reflexão. Concordamos com as posições do autor assumindo ser possível tratar o esporte na escola. Mas, permanece a questão: como ensinar? Tradicionalmente a Educação Física na escola se ateve ao ensino das habilidades das diferentes modalidades esportivas, e não sobre a evolução, contexto e sentidos de tais práticas. A compreensão do conceito de conteúdos permite uma ampliação da perspectiva do que ensinar em esportes e de como ensinar. Senão vejamos. Atualmente, há uma tentativa, de acordo com Zabala (1998), de ampliar o conceito de conteúdo e passar a referenciá-lo como tudo quanto se tem que aprender, que não apenas abrangem as capacidades cognitivas, como incluem as demais capacidades. Desta forma, poderá ser incluído de forma explícita nos programas de ensino o que antes estava apenas no currículo oculto. Entende-se por currículo oculto aquelas aprendizagens que se realizam na escola, mas que não aparecem de forma explícita nos programas de ensino. Esta classificação corresponde às seguintes questões "o que se deve saber?" (dimensão conceitual), "o que se deve saber fazer?" (dimensão procedimental), e "como se deve ser?" (dimensão atitudinal), com a finalidade de alcançar os objetivos educacionais. Na verdade, quando se opta por uma definição de conteúdos tão ampla, não restrita aos conceitos, permite-se que este currículo oculto possa se tornar manifesto e que possa se avaliar a sua pertinência como conteúdo de aprendizagem e de ensino (ZABALA, 1998). A Educação Física, contudo, ao longo de sua história, priorizou os conteúdos numa dimensão quase que exclusivamente procedimental, o saber fazer e não o saber sobre a cultura corporal ou como se deve ser. Embora esta última categoria aparecesse na forma do currículo oculto. Assim, dentro de uma perspectiva de Educação e também de Educação Física seria fundamental considerar os procedimentos, fatos, conceitos, as atitudes e os valores como conteúdos, todos no mesmo nível de importância (DARIDO, 2001). Na prática concreta de aula significa que o aluno deve aprender a jogar queimada, futebol de casais ou basquetebol, mas, juntamente com estes conhecimentos, deve aprender quais os benefícios de tais práticas, porque se pratica tais manifestações da cultura corporal hoje, quais as relações dessas atividades com a produção da mídia televisiva, imprensa, dentre outras. Dessa forma, mais do que ensinar a fazer, o objetivo é que os alunos e alunas obtenham uma contextualização das informações como também aprendam a se relacionar com os colegas, reconhecendo quais valores estão por trás de tais práticas. A questão que se coloca por ora é a seguinte: que conteúdos os alunos deverão adquirir a respeito do Esporte a fim de se tornarem preparados e aptos para enfrentar as exigências da vida social, exercício da cidadania, e nas lutas pela melhoria das condições de vida, de trabalho e de lazer? Como ensinar estes aspectos? Estas questões serão investigadas neste trabalho ouvindo os alunos de graduação em Educação Física, no sentido de compor um quadro mais amplo das possibilidades. 3. Metodologia
A presente pesquisa é de natureza qualitativa e do tipo descritiva. Através desta abordagem procurou-se registrar, descrever, analisar e interpretar as opiniões dos alunos do Curso de Educação Física a respeito de como ensinar os esportes tradicionais. Pesquisas deste tipo não admitem visões parceladas ou isoladas, desenvolvendo-se numa interação dinâmica com o processo histórico social que vivenciam os sujeitos. Participaram deste estudo alunos do Curso de Educação Física da Unesp, em torno de 20 da Licenciatura e 20 do Bacharelado. O Curso conta com 60 vagas no total, 30 para cada um dos cursos. As questões contidas no questionário procuraram abordar os seguintes temas; - quais as finalidades do esporte na escola, - quais atividades devem ser tratadas, - por onde iniciar o ensino do esporte na escola, - e o ensino do esporte na escola a partir das três dimensões dos conteúdos. Desta forma, procurou-se abranger um amplo espectro de questões relacionadas ao ensino do esporte. É importante frisar que, nas respostas obtidas através dos questionários, avalia-se a representação que os alunos têm a respeito dos seus valores e procedimentos e não propriamente o que eles fazem ou pensam de fato. Os questionários foram aplicados pelos membros do LETPEF durante os períodos em que os respondentes tinham disponibilidade de tempo. Após a coleta dos dados referentes à aplicação dos questionários com os alunos as informações foram transcritas, categorizadas e interpretadas. 4. Resultados e discussão Os resultados preliminares deste estudo indicam que os alunos consultados têm uma perspectiva de metodologia do ensino do esporte tradicional, que se inicia com as partes e caminha para o todo. Poucos apontaram para uma perspectiva mais global. Além disso, os resultados mostram que os respondentes têm uma perspectiva de que os alunos devem aprender esporte na dimensão procedimental exclusivamente, e que o objetivo de ensinar/aprender esporte relaciona-se à ampliação do repertório motor e o seu usufruto no tempo livre de lazer. Os autores, Karine Beltrame, Alessandra Galvão, José Ribamar Santiago Júnior, Fernanda Ragonha, Vanessa Camargo, Augusto Lima Silva, Betina Bastos, Delmar da Silva, Mariângela Gallina, Miriam Zanchetta, Poliana da Silva, Rafael Souza, Elton Galvão, Heitor Rodrigues, Taihnee Bernardes, Luís Fernando Rosário e Suraya Darido fizeram este estudo como membros do Laboratório de Estudos e Trabalhos Pedagógicos em Educação Física (LETPEF da UNESP- Campus Rio Claro). Bibliografia BRACHT, V. Esporte na escola e esporte de rendimento. Revista Movimento, ano VI, n 12, p.xiv- XXIV, 2000/2001. CAGIGAL, J. M. Deporte: Pulso de Nuestro Tiempo. Madrid: Nacional, 1972. CAPARRÓZ, Francisco Eduardo et al. Educação Física Escolar: política, investigação e intervenção. Vitória: Proteoria, 2001. DARIDO, S. C. Educação Física na escola: questões e reflexões. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2003. DARIDO, S.C. Os conteúdos da Educação Física escolar: influências, tendências dificuldades e possibilidades. Perspectivas da Educação Física escolar. UFF, v.2, n.1, p. 5-25, 2001. GONZALES, F. J. Sistema de classificação de esportes com base nos critérios: cooperação, interação com o adversário, ambiente, desempenho comparado e objetivos táticos da ação. Revista Digital, ano 10, nº 71 Abril de 2004. Buenos Aires, 2004 em www.efdeportes.com/efd71/esportes.htm acessado em 17/04/2004.
KOLYNIAK FILHO, C. O esporte como objeto da Educação Física ou da ciência da motricidade humana, In: Discorpo, v7, p. 31 46, 1997. SCAGLIA, A. J. O futebol e os jogos/brincadeiras de bola com os pés: todos semelhantes, todos diferentes. (Tese de Doutorado). Campinas: Faculdade de Educação Física, - UNICAMP, 2003. TUBINO, M.J.G. Dimensões sociais do esporte. São Paulo: Cortez, 2001. ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.