UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GEOLOGIA

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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GEOLOGIA ELISA NUNES SANTOS DA SILVA A SEDIMENTAÇÃO NA PLATAFORMA CONTINENTAL DO MUNICÍPIO DE CONDE (LITORAL NORTE DA BAHIA) DESDE O ÚLTIMO MÁXIMO GLACIAL: INTEGRAÇÃO DE DADOS SEDIMENTOLÓGICOS E GEOFÍSICOS Salvador 2008

ELISA NUNES SANTOS DA SILVA A SEDIMENTAÇÃO NA PLATAFORMA CONTINENTAL DO MUNICÍPIO DE CONDE (LITORAL NORTE DA BAHIA) DESDE O ÚLTIMO MÁXIMO GLACIAL: INTEGRAÇÃO DE DADOS SEDIMENTOLÓGICOS E GEOFÍSICOS Trabalho Final de Graduação apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia pela Universidade Federal da Bahia. Orientador: Prof. José Maria Landim Dominguez Salvador 2008

TERMO DE APROVAÇÃO ELISA NUNES SANTOS DA SILVA A SEDIMENTAÇÃO NA PLATAFORMA CONTINENTAL DO MUNICÍPIO DE CONDE (LITORAL NORTE DA BAHIA) DESDE O ÚLTIMO MÁXIMO GLACIAL: INTEGRAÇÃO DE DADOS SEDIMENTOLÓGICOS E GEOFÍSICOS Trabalho Final de Graduação aprovado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora: José Maria Landim Dominguez - Orientador Livre Docente e Dr. em Geologia e Geofísica Marinha pela Universidade de Miami UFBA Cícero da Paixão Pereira Geólogo Pesquisador do Convênio ANP-UFBA Osmário Rezende Leite Livre Docente e Dr. em Tectônica de Oceanos pela Université Pierre et Marie Curie Paris VI UFBA Salvador, 29 de agosto de 2008

i AGRADECIMENTOS Aos meus pais, Julival e Graça, pelo bom exemplo que são em minha vida. Aos meus irmãos Ana Paula, Luciano, Alice e Julio, por me auxiliar ser uma pessoa melhor. Aos meus padrinhos, Wellington e Milu, por estarem sempre presentes. À André, pelo companheirismo, carinho e compreensão. Ao meu orientador, Landim, pela confiança, apoio e incentivo. Ao CNPq pela concessão da bolsa de iniciação científica (Pibic). Aos membros da banca examinadora: Geólogo Cícero da Paixão Pereira e Prof. Dr. Osmário Rezende Leite. À Profa. Angela, minha eterna gratidão. À Mércia, pelo auxílio e torcida. À César Uchoa (Cesinha!), pelo bendito dia que ele me disse que é geólogo e pelas inesquecíveis viagens à Chapada Diamantina. À Heli Sampaio, pela minha primeira aula de geologia e pelos meses que estagiei no Museu Geológico. Aos professores Osmário e Paulo Avanzo, por me apresentarem o maravilhoso mundo da Geologia. Aos professores Telésforo, Flávio, Marcos, Ruy Kikuchi, Luiz Rogério, Olívia, Joaquim Xavier, Joil, Johildo, Simone, Haroldo Sá, Tânia Araújo, Roberto Rosa, Arno Brichta, Félix, Reginaldo, Castro, César, Mesquita, Débora Rios, Gisele, Antônio Fernando, Marcelo Lima, Godofredo e Maria José. Aos meus colegas e ex-colegas do LEC: Esmeraldino, Marcus, Pedro, Alita, Júnia, Renata, Lucas, Adeylan, Juliana, Lisandra, Geana, Carol Gaúcha, Ângela, Israel, Soraia, Janaína, Raissa, Mauricio, Tais, Carol Vieira e Leonardo. À Profa. Dária, pela amizade.

ii A todos os meus colegas de graduação, em especial: Fernandinha, Rafael Santana, Carlos Victor, Antônia, Daniel, Nívia, Cleiton, Thiene, Bruno Ribeiro, Jailma, Patrícia, Ana Luiza, Carlito, Eraldo, Jofre, Gilcimar, Portugal, Andreza, Zilda, Edu, André (Caribes), Lucas (Tranqüilo), Lisálvaro, Marcel, Priscila Martins, Mônica, Lusandra, Wilson, Guilherme Barbosa, Guiga, Dudu, Judiron, Danilo, Adelino, Aninha, Amanda, Eldes, Rodrigo e Ádila. Aos meus amigos, parentes... Enfim, a todos que colaboraram e/ou vem colaborando, de alguma forma, para meu crescimento como pessoa e profissionalmente.

iii Queira, basta ser sincero e desejar profundo Você será capaz de sacudir o mundo (Raul Seixas)

iv RESUMO O presente trabalho tem como objetivo principal caracterizar a sedimentação na plataforma continental do município de Conde (Litoral Norte da Bahia) desde o Último Máximo Glacial (16.000-20.000 anos AP), a partir da integração de dados sedimentológicos e geofísicos (sonar de varredura lateral e perfilador de sub-fundo). Com esta finalidade, foram confeccionados o mapa de isópacas dos sedimentos holocênicos e os mapas de fácies texturais e de composição dos sedimentos superficiais de fundo. Estes dados foram integrados a batimetria, sendo também traçada a evolução da inundação da plataforma continental do município de Conde e calculada as taxas de sedimentação. As áreas de maior acúmulo de sedimentos correspondem à feição denominada vale inciso do rio Itapicuru e aos paleocanais existentes na área, onde foi possível perceber a geometria dos seus depósitos no mapa de isópacas. Os sedimentos superficiais da plataforma continental do município de Conde são predominantemente arenosos e cascalhosos, sendo encontrada lama apenas em frente à desembocadura do rio Itapicuru e em depressões presente na plataforma em frente aos rios Itariri e Itapicuru. São predominantemente bioclásticos, com altos teores de alga coralina. Sua inundação após o Último Máximo Glacial (16.000 20.000 anos AP) teve início em 11.300 anos AP, sendo completamente afogada em 7.500 anos AP. As maiores taxas de sedimentação foram atribuídas ao vale do rio Itapicuru e aos paleocanais. Para o melhor detalhamento do estudo da sedimentação holocênica na plataforma continental do município de Conde, recomenda-se a coleta de testemunhos, a fim de se estudar a evolução estratigráfica da área. Para um aprofundamento no estudo do Vale Inciso do Rio Itapicuru, é necessário o mapeamento de sua porção continental, com a realização de furos de sondagem. Assim, poderá ser feita a integração da evolução quaternária da zona costeira e plataforma continental adjacente. Palavras-chave: Plataforma Continental; Município de Conde; Sedimentação Holocênica; Sonar de Varredura Lateral; Perfilador de Sub-fundo; Vale Inciso do Rio Itapicuru.

v SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS...vii LISTA DE TABELAS...x 1 INTRODUÇÃO...1 1.1 A PLATAFORMA CONTINENTAL BRASILEIRA...1 1.2 TRABALHOS ANTERIORES NA PLATAFORMA CONTINENTAL DO ESTADO DA BAHIA...4 2 OBJETIVOS...6 2.1 OBJETIVO GERAL...6 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS...6 3 ÁREA DE ESTUDO...7 3.1 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA...7 4 METODOLOGIA...8 4.1 LEVANTAMENTO DE DADOS PRETÉRITOS...8 4.2 LEVANTAMENTOS GEOFÍSICOS E SEDIMENTOLÓGICOS...8 4.3 DETERMINAÇÃO DO EMBASAMENTO ACÚSTICO E CONFECÇÃO DO MAPA DE ISÓPACAS...9 4.4 CONFECÇÃO DOS MAPAS DE FÁCIES SEDIMENTARES...10 4.5 INTEGRAÇÃO DE DADOS EM SIG E RECONSTITUIÇÃO DA HISTÓRIA DA INUNDAÇÃO...12 4.6 CÁLCULO DAS TAXAS DE SEDIMENTAÇÃO...12 5 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO...13 5.1 HIDROGRAFIA...13 5.2 CLIMA...14 5.3 GEOLOGIA...14 5.3.1 Geologia da Porção Emersa...15 5.3.1.1 Domínio Pré-Cambriano...15 5.3.1.2 Domínio Terciário...15 5.3.1.3 Domínio Quaternário...16

vi 5.3.1.3.1 Leques Aluviais Pleistocênicos...17 5.3.1.3.2 Dunas...18 5.3.1.3.3 Terras Úmidas...18 5.3.1.3.4 Terraços Marinhos Pleistocênicos e Holocênicos...19 5.3.1.3.5 Depósitos Litorâneos Atuais...19 5.3.1.3.6 Arenitos de Praia...19 5.3.2 Geologia da Porção Submersa...20 5.4 ASPECTOS OCEANOGRÁFICOS...22 5.4.1 Marés...22 5.4.2 Ondas...22 5.4.3 Deriva Litorânea...23 5.4.4 Correntes na Plataforma...24 6 AS VARIAÇÕES DO NÍVEL DO MAR DURANTE O QUATERNÁRIO...25 6.1 O ÚLTIMO MÁXIMO GLACIAL...25 7 RESULTADOS E DISCUSSÃO...27 7.1 MORFOLOGIA DA PLATAFORMA CONTINENTAL...27 7.2 ESPESSURA DO DEPÓSITO HOLOCÊNICO...29 7.3 DISTRIBUIÇÃO E COMPOSIÇÃO DOS SEDIMENTOS SUPERFICIAIS...32 7.4 HISTÓRIA DA INUNDAÇÃO DA PLATAFORMA CONTINENTAL DO MUNICÍPIO DE CONDE...40 7.5 TAXAS DE SEDIMENTAÇÃO...49 8 CONCLUSÕES...51 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...53

vii LISTA DE FIGURAS Figura 01 - Localização da área de estudo....7 Figura 02 Perfis levantados com o perfilador de sub-fundo....9 Figura 03 Linhas levantadas com o sonar de varredura lateral. Mosaico dos registros do sonar de varredura lateral confeccionado utilizando-se o aplicativo SonarWiz.MAP (Chesapeake Technology Inc.)...10 Figura 04 Diagrama triangular para a nomenclatura de sedimentos baseada na granulometria, modificado de Folk (1974)....11 Figura 05 - Mapa da Geologia-Geomorfologia simplificado do município de Conde (ESQUIVEL, 2006)....16 Figura 06 - Carta estratigráfica da bacia sedimentar do Jacuípe (Fonte: Bizzi et al. 2003)....21 Figura 07 - Seção da Bacia Sedimentar do Jacuípe (Fonte: Bizzi et al. 2003)....22 Figura 08 Sentidos da deriva litorânea efetiva de sedimentos no Litoral Norte do Estado da Bahia (modificado de LIVRAMENTO, 2008). Notar que na área de estudo a deriva litorânea apresenta sentido SW-NE...23 Figura 09 Curvas de variação do nível do mar para Barbados a partir do Último Máximo Glacial (20.000 a 16.000 anos AP), baseada na datação por 14 C e 230 Th/ 234 U de exemplares de A. palmata (FAIRBANKS, 1990)....26 Figura 10 - Mapa Batimétrico da Plataforma Continental do Município de Conde. Nota-se a quebra da plataforma na isóbata de 45 m....27 Figura 11 Trechos do perfil 9 do perfilador de sub-fundo. a) Ravina encontrada na reentrância das isóbatas em frente ao rio Itariri; b) Antiga desembocadura do rio Itapicuru e ravina, encontradas na reentrância das isóbatas em frente ao rio Itapicuru....28 Figura 12 Mapa de Isópacas dos Sedimentos Holocênicos Depositados na Plataforma Continental do Município de Conde....29 Figura 13 Interpretação da paleodrenagem e delimitação da porção marinha do Vale Inciso do Rio Itapicuru...30 Figura 14 Detalhe do perfil 7 mostrando três paleocalhas fluviais. A linha vermelha representa o embasamento acústico; a seqüência 1 é a seqüência pleistocênica e a seqüência 2 é a seqüência holocênica...31 Figura 15 - Mapa de fácies dos sedimentos superficiais da plataforma continental do município de Conde, baseado na classificação textural de sedimentos de Folk

viii (1974). Fácies A(c) = areia com cascalho subordinado; Fácies Ac: areia cascalhosa; Fácies Alc = areia lamosa com cascalho; Fácies Al = areia lamosa; Fácies Cla = cascalho lamoso arenoso; Fácies Ca = cascalho arenoso; Fácies La = lama arenosa....33 Figura 16 Registros do sonar de varredura lateral da plataforma continental do município de Conde. A) Fácies Ca - Coeficiente de reflexão alto e marcas de ondulação de granulação grossa com comprimento de onda de 1,5 m. B) Fácies Ca Textura rugosa interpretada como afloramento rochoso. C) Fácies Ac Coeficiente de reflexão médio, textura rugosa e marcas de ondulação. D) Fácies Alc Coeficiente de reflexão médio a baixo, mostrando um bolsão de textura lisa e baixo coeficiente de reflexão, interpretado como lama, além de textura rugosa. E) Fácies Cla Coeficiente de reflexão alto, textura lisa e bolsão de coeficiente de reflexão baixo. F) Fácies A(c) Coeficiente de reflexão médio e textura lisa...35 Figura 17 - Composição do sedimento baseada em Larsonneur (1977 apud ALBINO, 1999) integrada às fácies texturais do sedimento superficial de fundo do município de Conde. Fácies A(c) = areia com cascalho subordinado; Fácies Ac: areia cascalhosa; Fácies Alc = areia lamosa com cascalho; Fácies Al = areia lamosa; Fácies Cla = cascalho lamoso arenoso; Fácies Ca = cascalho arenoso; Fácies La = lama arenosa...36 Figura 18 Teores de alga coralina nos sedimentos superficiais da plataforma continental do município de Conde. Fácies A(c) = areia com cascalho subordinado; Fácies Ac: areia cascalhosa; Fácies Alc = areia lamosa com cascalho; Fácies Al = areia lamosa; Fácies Cla = cascalho lamoso arenoso; Fácies Ca = cascalho arenoso; Fácies La = lama arenosa....37 Figura 19 Teor de carapaças de foraminíferos no sedimento superficial da plataforma continental do município de Conde. Fácies A(c) = areia com cascalho subordinado; Fácies Ac: areia cascalhosa; Fácies Alc = areia lamosa com cascalho; Fácies Al = areia lamosa; Fácies Cla = cascalho lamoso arenoso; Fácies Ca = cascalho arenoso; Fácies La = lama arenosa....38 Figura 20 Teor de moluscos bivalvos nos sedimentos superficiais da plataforma continental do município de Conde. Fácies A(c) = areia com cascalho subordinado; Fácies Ac: areia cascalhosa; Fácies Alc = areia lamosa com cascalho; Fácies Al = areia lamosa; Fácies Cla = cascalho lamoso arenoso; Fácies Ca = cascalho arenoso; Fácies La = lama arenosa....39 Figura 21 Paleogeografia da plataforma continental e porção superior do talude continental do município de Conde durante o Último Máximo Glacial. O paleorelevo foi determinado a partir da subtração da espessura dos sedimentos holocênicos da batimetria atual da plataforma...41 Figura 22 - Paleogeografia da plataforma continental do município de Conde em 11.300 anos AP. Nível do mar situado 50m abaixo do atual...42

ix Figura 23 Paleogeografia e paleobatimetria da plataforma continental do município de Conde em 11.000 anos AP, quando o nível do mar estava situado 45m abaixo do atual....43 Figura 24 Paleogeografia e paleobatimetria da plataforma continental do município de Conde em 10.700 anos AP, quando o nível do mar encontrava-se 40m abaixo do atual....44 Figura 25 Paleogeografia e paleobatimetria da plataforma continental do município de Conde em 10.000 anos AP, com o nível do mar posicionado 35m abaixo do atual....45 Figura 26 Paleogeografia e paleobatimetria da plataforma continental do município de Conde em 9.500 anos AP, com o nível do mar situado 30m abaixo do atual....46 Figura 27 Paleobatimetria e paleogeografia da plataforma continental do município de Conde em 9.000 anos AP. Nível do mar 25m abaixo do atual...47 Figura 28 Paleobatimetria e paleogeografia da plataforma continental do município de Conde em 8.400 anos AP. Nível do mar 20m abaixo do atual...48 Figura 29 Paleobatimetria da plataforma continental do município de Conde em 7.500 anos AP. Nível do mar próximo ao atual....49 Figura 30 Taxas de sedimentação durante o Holoceno na plataforma continental do município de Conde....50

x LISTA DE TABELAS TABELA 1 Esquema de classificação de sedimentos superficiais, modificado de Larsonneur (1977, apud ALBINO, 1999)...11

1 1 INTRODUÇÃO 1.1 A PLATAFORMA CONTINENTAL BRASILEIRA A plataforma continental é a porção submersa dos continentes, a qual apresenta normalmente gradientes suaves (inferiores a 1:1000), sendo limitada internamente pela linha de costa e externamente pela região de aumento substancial do gradiente topográfico, chamada de quebra da plataforma continental (BAPTISTA NETO E SILVA, 2004). Pela definição de Friedman et al. (1992 apud FREIRE, 2006), a plataforma continental representa uma feição fisiográfica que bordeja uma massa continental de um lado e uma bacia de águas profundas do outro. As águas que a recobrem estão sujeitas às marés astronômicas, e as propriedades da coluna d água podem variar em função da interação ar-água. Ainda existem poucos estudos sobre a plataforma continental brasileira, sendo o mais extensivo o Projeto Remac (Reconhecimento Global da Margem Continental Brasileira), iniciado em abril 1972 e concluído em 1975. Este projeto incluiu estudos geológicos, morfológicos e geofísicos marinhos, os quais resultaram em uma coletânea de 11 volumes, denominada Série Projeto REMAC (Petrobrás, DNPM, CPRM, DHN, CNPq). No âmbito do Projeto REMAC, Francisconi et al. (1974) caracterizaram a geologia costeira e sedimentos da plataforma continental brasileira. Neste estudo, os autores buscaram definir as possíveis relações existentes entre os sedimentos de fundo da plataforma e a geologia costeira contígua. Milliman e Amaral (1974) avaliaram o potencial econômico dos sedimentos da margem continental brasileira,

2 destacando as areias e os cascalhos (siliciclásticos ou bioclásticos) como os mais importantes depósitos econômicos. França et al. (1976) caracterizaram os sedimentos superficiais da margem continental nordeste brasileira, onde foram discutidas a mineralogia, a química e a composição dos sedimentos, definindo essa área como uma das poucas áreas do mundo onde uma plataforma aberta e estável se apresenta quase completamente coberta por carbonatos biogênicos. Damuth e Hayes (1977) relacionaram os padrões de echo character da margem continental leste brasileira com os processos sedimentares. O Programa de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira (LEPLAC) teve sua fase de aquisição de dados iniciada em junho de 1987 e concluída em novembro de 1996. Este programa foi realizado pelo governo brasileiro, sob a coordenação da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), tendo como propósito o estabelecimento do limite exterior da plataforma continental brasileira no seu enfoque jurídico, conforme os critérios estabelecidos no Art. 76 da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM). Os limites da plataforma jurídica deverão ser estendidos além das 200 milhas, na qual o Brasil exercerá direitos de soberania para a exploração e o aproveitamento dos recursos naturais do leito e subsolo marinho. Este programa acumulou um grande acervo de dados geofísicos importantes para o conhecimento da estrutura da margem continental brasileira. Outros trabalhos sobre a plataforma continental brasileira são apresentados como capítulos de livros, os quais a caracterizam de uma maneira geral, sem apresentar maiores detalhes, tais como os trabalhos publicados por Petri e Fúlfaro (1983) e Palma (1984). Petri e Fúlfaro (1983) tratam das feições geomórficas e da sedimentação quaternária na plataforma continental brasileira. Eles subdividiram a cobertura sedimentar quaternária da plataforma continental brasileira em três regiões geográficas: região norte, região nordeste-leste e região sul. Esses autores caracterizaram a plataforma continental na região nordeste-leste, entre a foz do rio Parnaíba e Vitória, como de predominância de fácies carbonáticas. Inferiram ainda que parte da cobertura carbonática inconsolidada seria produto de retrabalhamento de edifícios recifais de idades mais antigas, onde os paleocanais sobre os recifes

3 atestam fases de emersão ligadas às glaciações quaternárias. As fácies terrígenas são mais desenvolvidas ao largo do Ceará e da foz dos rios mais importantes da região (São Francisco, Mucuri, São Mateus e Doce). Palma (1984) apresenta um resumo da fisiografia da área oceânica, caracterizando as feições presentes na margem continental brasileira. Segundo este autor, as maiores larguras da plataforma continental brasileira correspondem à parte fronteira ao golfão Amazônico (350 km), à região de Abrolhos (246 km) e ao setor Sudeste-Sul, onde atinge cerca de 200 km, em frente de Santos-Cananéia. Já as menores larguras são atribuídas à plataforma nordeste e leste, com um mínimo de 8 km em frente a Salvador. O limite externo ou quebra da plataforma situa-se a profundidades entre 75-80 m no setor Norte; 40-80 m no Nordeste-Leste; 100-160 m no Sudeste-Sul. Ainda de acordo com o mesmo autor, as características de largura da plataforma e de profundidade de sua borda refletem condições de deposição, possivelmente associadas a diferentes comportamentos tectônicos em cada um destes setores. No caso do setor Nordeste-Leste, a pequena largura da plataforma e de sua borda mais rasa indicam que ali a progradação de sedimentos terrígenos teve pouca influência em sua modelagem. Na sua seqüência sedimentar rasa predominam os depósitos bioclásticos quaternários com crescimento local de construções biogênicas, o que sugere restrições no aporte de sedimentos terrígenos e possivelmente ausência de subsidência pelo menos em alguns trechos. Finalmente têm sido realizados alguns trabalhos pontuais na plataforma continental brasileira, geralmente associados a demandas das companhias de petróleo. Essas companhias têm interesse tanto em estudos de subsuperfície (que caracterizam as seqüências deposicionais rasas e profundas) como de superfície, que são importantes informações para a instalação de dutos, jaquetas e outros equipamentos. Abreu e Calliari (2005) estudaram os paleocanais da plataforma continental interna do Rio Grande do Sul (RS), utilizando o sistema acústico Sparker. De acordo com esses autores, esses paleocanais se desenvolveram sobre um ambiente

4 de planície costeira, anterior à transgressão ocorrida no final do Pleistoceno e início do Holoceno. Artusi e Figueiredo Jr. (2007) estudaram o pacote sedimentar e o embasamento acústico da plataforma continental de Cabo Frio Araruama RJ, a fim de compreender a sua história evolutiva. Para a aquisição dos dados sísmicos de reflexão foram utilizados uma fonte, um banco de capacitores e um gerador de sinais da EG&G, um sparker com três eletrodos e uma enguia de hidrofones com oito elementos. Na região Nordeste do Brasil, Lima (2006) caracterizou geomorfologicamente a plataforma continental adjacente a foz do rio Apodi, Município de Mossoró, Rio Grande do Norte Brasil, para melhor entendimento de sua evolução paleogeográfica. Camargo et al. (2007) estudaram a morfologia da plataforma continental interna adjacente ao Município de Tamandaré, sul de Pernambuco. 1.2 TRABALHOS ANTERIORES NA PLATAFORMA CONTINENTAL DO ESTADO DA BAHIA Na Bahia, existem alguns trabalhos na plataforma continental, tais como os realizados por Freire (2006), Vieira (2007), Silva et al. (2007a), Silva et al. (2007b) e Silva e Dominguez (2008). Freire (2006) estudou a seqüência holocênica da plataforma continental central do Estado da Bahia Costa do Cacau. Mapeou a distribuição dos sedimentos superficiais e interpretou com base nos conceitos de Estratigrafia de Seqüências as seqüências deposicionais holocênicas através de linhas sísmicas obtidas com um perfilador de sub-fundo. Vieira (2007) caracterizou os sedimentos de fundo da plataforma continental, entre as localidades de Serra Grande e Olivença, porção central do Estado da Bahia. A autora também avaliou o potencial exploratório dos granulados marinhos na área de estudo. Silva et al. (2007a), Silva et al. (2007b) e Silva e Dominguez (2008) estudaram a plataforma continental em frente ao rio Almada, sul da Bahia, utilizando registros obtidos com um perfilador de sub-fundo, onde Silva et al. (2007a) caracterizaram a geometria do preenchimento do Canhão do Almada, produzindo um mapa de isópacas da área. Silva et al. (2007b) utilizando os valores do coeficiente de reflexão dos sedimentos de fundo, obtidos nos registros de

5 navegação do perfilador de sub-fundo, e integrando-os a mapas de teores de lama, areia e cascalho, confeccionou um mapa de fácies sedimentares. Silva e Dominguez (2008) caracterizaram as ocorrências de estruturas rasas de gás em sedimentos da plataforma continental em frente ao rio Almada a partir de registros sísmicos de alta freqüência. A plataforma continental do Município de Conde foi estudada anteriormente apenas por Netto (2002). Este autor analisou a morfologia e a sedimentologia desta plataforma, caracterizando seus depósitos sedimentares, e dando ênfase aos sedimentos carbonáticos de origem biogênica. Sua malha de amostragem foi distribuída em seis perfis perpendiculares à linha de costa, dispostos entre os rios Itariri e Itapicuru, se estendendo desde a zona de arrebentação até a quebra da plataforma continental. Foram coletadas 88 amostras de sedimento superficial, com média de 15 amostras por perfil, utilizando um busca fundo do tipo Van Veen com capacidade para 5 litros. A batimetria foi obtida através de uma ecossonda, marca SPIPPER 417, totalizando 83 km de registro em ecobatímetro. O trabalho aqui realizado expande o trabalho realizado anteriormente por Netto (2002), incorporando uma nova amostragem de sedimentos e dados geofísicos (perfilador de sub-fundo e sonar de varredura lateral) para melhor compreender a evolução da sedimentação quaternária nesta área.

6 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Caracterizar a sedimentação na plataforma continental do Município de Conde (Litoral Norte da Bahia) desde o Último Máximo Glacial (16.000-20.000 anos AP), a partir da integração de dados sedimentológicos e geofísicos (sonar de varredura lateral e perfilador de sub-fundo). 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS a) Determinação da espessura de sedimentos que se depositaram neste trecho da plataforma continental desde a sua inundação durante o Holoceno; b) Elaboração de um mapa de fácies sedimentares a partir da integração das amostras de sedimento superficial de fundo e dos registros com o sonar de varredura lateral; c) Integração dos dados sedimentares com a batimetria; d) Integração dos dados obtidos com a história da subida do nível do mar durante o Holoceno e a história de inundação da plataforma continental.

7 3 ÁREA DE ESTUDO 3.1 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA A área de estudo (Fig. 01) está localizada no Litoral Norte do Estado da Bahia, em frente aos rios Itapicuru e Itariri, Município de Conde, distando aproximadamente 180 km de Salvador pela BA-099 (Linha Verde). Está limitada geograficamente pelas seguintes coordenadas geográficas: 11º 38 e 12º 05 de latitude sul e 37º 15 e 37º 48 de longitude oeste, abrangendo uma área de cerca de 980 km². Situa-se na Bacia Sedimentar do Jacuípe, onde a plataforma continental apresenta em média 20 km de largura e sua quebra situa-se a 45 m de profundidade. Figura 01 - Localização da área de estudo.

8 4 METODOLOGIA 4.1 LEVANTAMENTO DE DADOS PRETÉRITOS A primeira etapa consistiu no levantamento de trabalhos sobre o tema, tais como os de García-Gil et al. (2000) e García-García et al. (2005), bem como dados geológicos, hidrográficos, oceanográficos e climáticos da região de estudo. 4.2 LEVANTAMENTOS GEOFÍSICOS E SEDIMENTOLÓGICOS Para a realização da caracterização da sedimentação holocênica da plataforma continental do município de Conde, foram utilizados dados coletados no âmbito do Projeto Vales Origem e Evolução dos Vales Incisos da Plataforma Continental do Estado da Bahia Estudo de Casos: Rio Itapicuru e Lagoa Encantada, durante os anos de 2006 e 2007. As amostras dos sedimentos superficiais foram coletadas em abril de 2006, com um busca-fundo do tipo Van Veen, totalizando 78 amostras. Estas amostras foram analisadas para composição e textura (lama, areia e cascalho) no âmbito deste projeto. Neste mesmo período foi levantada a batimetria utilizando-se uma ecossonda modelo GP-1650 (FURUNO), também no âmbito do Projeto Vales. Em janeiro de 2007, realizou-se o levantamento com o sonar de varredura lateral (modelo 272-TD, EdgeTech), operando na freqüência de 100 khz. Foram levantadas 12 linhas, totalizando 336 km. Também foram levantados os perfis sísmicos de alta freqüência utilizando um perfilador de sub-fundo (SB-216S, EdgeTech) operando na freqüência de 2 a 15 khz. Foram levantados 6 perfis: 4 paralelos a linha de costa e 2 perpendiculares (Fig. 02).

9 Figura 02 Perfis levantados com o perfilador de sub-fundo. 4.3 DETERMINAÇÃO DO EMBASAMENTO ACÚSTICO E CONFECÇÃO DO MAPA DE ISÓPACAS Para a determinação da espessura de sedimentos que se depositaram na plataforma continental em frente ao rio Itapicuru desde a sua inundação durante o Holoceno, foram utilizados os perfis sísmicos de alta freqüência, os quais foram tratados utilizando o aplicativo SonarWiz.MAP (Chesapeake Technology Inc.). Neste aplicativo foi feita a interpretação dos perfis, tendo sido digitalizadas duas superfícies: o fundo marinho e o embasamento acústico, isto é, o refletor mais profundo. Considerou-se a embasamento acústico como representando o contato entre o pacote sedimentar pleistocênico e o holocênico, tendo sido utilizado este critério para cálculo da espessura do pacote sedimentar holocênico. Os dados obtidos foram exportados para o aplicativo ArcMap 8 (ArcGIS - ESRI), onde foram convertidos em arquivos de ponto do tipo shapefile. Os valores de espessura do pacote sedimentar holocênico foram interpolados pelo método Inverso da Distância (IDW Inverse Distance Weighted) sendo confeccionado o Mapa de Isópacas dos

10 Sedimentos Holocênicos Depositados na Plataforma Continental do Município de Conde. 4.4 CONFECÇÃO DOS MAPAS DE FÁCIES SEDIMENTARES O mapa de fácies sedimentares texturais foi confeccionado a partir da integração dos dados de textura dos sedimentos superficiais e os dados do sonar de varredura lateral. Os registros do sonar de varredura lateral foram tratados utilizando também o aplicativo SonarWiz.MAP (Chesapeake Technology Inc.), onde foi confeccionado um mosaico com as 12 linhas levantadas (Fig. 03). Esse mosaico foi exportado no formato Geotiff para utilização no ArcMap 8 (ArcGIS - ESRI), onde foi integrado aos mapas de teores de lama, areia e cascalho. Os limites entre as fácies sedimentares foram definidos utilizando-se os valores do diagrama triangular para a nomenclatura de sedimentos baseada na granulometria, proposto por Folk (1974) (Fig. 04). Figura 03 Linhas levantadas com o sonar de varredura lateral. Mosaico dos registros do sonar de varredura lateral confeccionado utilizando-se o aplicativo SonarWiz.MAP (Chesapeake Technology Inc.).

11 Figura 04 Diagrama triangular para a nomenclatura de sedimentos baseada na granulometria, modificado de Folk (1974). Os teores de sedimentos bioclásticos e litoclásticos foram utilizados para a confecção do mapa de composição dos sedimentos superficiais baseado na classificação de Larsonneur (1977, apud ALBINO, 1999), que está apresentada na tabela 1. Considera-se litoclástos fragmentos de rochas e bioclástos, fragmentos de organismos carbonáticos. Este mapa foi integrado ao mapa de fácies texturais. Também foram integrados ao mapa de fácies texturais as curvas de iso-contorno dos teores de alga coralina, foraminíferos e moluscos bivalvos. TABELA 1 Esquema de classificação de sedimentos superficiais, modificado de Larsonneur (1977, apud ALBINO, 1999). SEDIMENTOS SEDIMENTOS SEDIMENTOS SEDIMENTOS LITOCLÁSTICOS LITOBIOCLÁSTICOS BIOLITOCLÁSTICOS BIOCLÁSTICOS Carbonatos <30% 30 a 50% 50 a 75% >75%

12 Os mapas de fácies e de composição foram integrados a batimetria, afim de caracterizar a distribuição da textura e da composição dos sedimentos superficiais em função da profundidade. 4.5 INTEGRAÇÃO DE DADOS EM SIG E RECONSTITUIÇÃO DA HISTÓRIA DA INUNDAÇÃO Todos os dados obtidos ao longo desse trabalho formam integrados em um SIG. Posteriormente, utilizando uma álgebra de mapas, foi subtraído do mapa batimétrico o mapa de isópacas, obtendo-se o mapa da paleobatimetria da plataforma continental durante o Último Máximo Glacial. Integrando-se este mapa com a curva de variação do nível do mar após o Último Máximo Glacial apresentada em Fairbanks (1990), foi elaborada a história de inundação da plataforma continental do município de Conde. 4.6 CÁLCULO DAS TAXAS DE SEDIMENTAÇÃO As taxas de sedimentação dos sedimentos holocênicos foi calculada utilizando uma álgebra de mapas, sendo dividido o mapa de isópacas pelo mapa paleobatimétrico com os valores da idade de inundação de cada porção da plataforma ao invés da profundidade, confeccionando-se o mapa das taxas de sedimentação durante o Holoceno na plataforma continental do município de Conde.

13 5 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 5.1 HIDROGRAFIA Os rios Itapicuru e Itariri são rios que desembocam na área de estudo, sendo suas principais fontes de sedimentos continentais. A bacia hidrográfica do Itapicuru possui 36.440 km², com vazão média de 30m 3 /s (SRH, 1995). O rio Itapicuru é formado a jusante de Queimadas, após a confluência dos rios Itapicuru-Mirim e Açu, os quais têm origem nas escarpas das serras do Tombador e Jacobina respectivamente (STAMFORD et al., 1983). Essas serras são compostas por metassedimentos, principalmente por metarenito e quartzito. Ainda de acordo com esses autores, o médio curso dessa bacia caracteriza-se pela predominância de litologias impermeáveis (gnaisses e migmatitos do Complexo Caraíba-Paramirim) e de um relevo plano a suave ondulado, em cotas variando de 300 a 500 m. O baixo curso do rio Itapicuru compreende as rochas sedimentares da Bacia Sedimentar de Tucano e os depósitos tércio-quaternários costeiros, que são importantes fornecedores de sedimentos para este rio. Grande parte da bacia do rio Itapicuru encontra-se em regiões semi-áridas, de temperaturas maiores que 25º C e pluviosidade inferior a 800 m (SRH, 1995). A bacia hidrográfica do rio Itariri apresenta uma área de 1000 km² e baixas vazões. Seu principal efluente é o Rio Mocambo e sua foz está situada na localidade de Barra do Itariri, pertencente ao município de Conde. O regime hidrológico do rio Itariri vem sendo modificado, devido à retirada das dunas móveis de sua desembocadura pela intensificação da ocupação humana, com construções na areia, havendo também a retirada de um trecho dos arenitos de praia para facilitar a entrada de barcos no estuário (VASCONCELOS et al., 2003). Apresenta nascente

14 nos terrenos sedimentares da Bacia do Recôncavo, atravessando as litologias précambrianas, terciárias e as coberturas recentes quaternárias. 5.2 CLIMA O clima da zona costeira nordeste do Estado da Bahia pode ser caracterizado como quente e úmido, de homogeneidade relativa, apresentando médias térmicas elevadas e altos índices pluviométricos, distribuídos de forma regular ao longo do ano (ESQUIVEL, 2006). Ainda segundo o mesmo autor, essas características refletem a sua posição geográfica, entre as latitudes 11º e 12º, encontrando-se dentro da zona intertropical, a qual lhe confere altos índices de radiação e por estar na faixa litorânea oriental do Atlântico Sul, que é acompanhada por uma corrente marítima quente que favorece a instabilidade atmosférica e altas taxas de pluviosidade anual. As chuvas são bem distribuídas ao longo do ano e os índices pluviométricos anuais variam espacialmente no sentido Sul-Norte de cerca de 2.000 mm, na região de Salvador, a menos de 1.200 mm, na divisa com Sergipe. Seus maiores valores são verificados entre os meses de março e agosto (outono inverno) devido a uma maior atuação dos sistemas frontais de origem subantártica neste período. Na região litorânea de Conde as médias pluviométricas anuais variam entre 1.700 mm e 1.500 mm. De acordo com Lyrio (1996), o município do Conde apresenta variações mensais e anuais de temperatura de 23 a 25 C, com amplitudes térmicas entre 3 e 6 C. Os valores de insolação são normalmente superiores a 2000 horas anuais e os índices de umidade relativa do ar são superiores a 70%. 5.3 GEOLOGIA O Estado da Bahia encontra-se quase totalmente situado sobre o Cráton do São Francisco e, em parte sobre o bordo de algumas faixas de dobramentos do ciclo geocronológico Brasiliano (500 700 Ma AP) (MARTIN et al., 1980). Durante o Neojurássico foi instalada no Cráton do São Francisco-Congo uma grande depressão conhecida como Depressão Afro-Brasileira. Essa depressão evoluiu para um sistema rifte, no qual desenvolveu-se uma junção tríplice que gerou o

15 aulacógeno da Bacia do Recôncavo-Tucano-Jatobá e prosseguiu sua ruptura separando a América do Sul da África, formando o Oceano Atlântico (MOHRIAK, 2003). 5.3.1 Geologia da Porção Emersa O trabalho mais recente sobre a geologia da porção emersa do município de Conde foi realizado por Esquivel (2006), onde foi produzido um mapa simplificado da geologia-geomorfologia (Fig. 5). Dos quatro domínios geocronológicos encontrados no Litoral Norte do Estado da Bahia, apresentados por Martin et al. (1980), apenas do domínio Juro-Cretácico não foi mapeado por Esquivel (2006), sendo então apresentados os domínios Pré-Cambriano, Terciário e Quaternário. 5.3.1.1 Domínio Pré-Cambriano O domínio Pré-Cambriano é representado pelo embasamento cristalino, constituído por rochas metamórficas do tipo granulíticas-gnáissicas de alto grau de metamorfismo (predominantemente fácies granulito) do Cinturão Salvador- Esplanada (BARBOSA e DOMINGUEZ, 1996). Consiste de um segmento crustal estruturado na direção NE-SW, limitado por zonas de cisalhamento transcorrentes sinistrais (SILVA et al. 2002). 5.3.1.2 Domínio Terciário O Domínio Terciário é representado pela Formação Barreiras, que é conhecido também morfologicamente como Tabuleiros Costeiros. Encontra-se dissecado por vales de fundo chato em forma de U, ocupados por zonas úmidas e separados por interflúvios planos. A Formação Barreiras é constituída por sedimentos arenoso-argilosos. Segundo Martin et al. (1980), antes da deposição da Formação Barreiras, o clima deveria ter sido quente e úmido durante um longo período, ocasionando a formação de um manto de alteração. Após este período, o clima tornou-se mais seco, diminuindo a cobertura vegetal e dando lugar à erosão do manto de alteração, depositando essa formação aos sopés das encostas sob forma de cones aluviais coalescentes, de grande extensão.

16 Figura 05 - Mapa da Geologia-Geomorfologia simplificado do município de Conde (ESQUIVEL, 2006). 5.3.1.3 Domínio Quaternário O Quaternário foi um período marcado por grandes variações climáticas e do nível dos oceanos. Esses eventos resultaram na formação de depósitos sedimentares ao longo da costa do Estado da Bahia, que podem ser englobados em dois grandes tipos: depósitos marinhos, deixados por grandes episódios

17 transgressivos, e depósitos continentais, ligados a mudanças climáticas que tiveram lugar durante os períodos regressivos (MARTIN et al., 1980). Os depósitos quaternários podem ser subdivididos quanto sua origem em: continentais e marinhos transicionais. a) Depósitos continentais: Estes depósitos foram acumulados em ambientes tipicamente continentais, incluindo as seguintes unidades: Depósitos de Leques Aluviais Pleistocênicos; Depósitos Eólicos (Dunas); Depósitos Fluviais e Depósitos de Terras Úmidas de Água Doce. b) Depósitos marinhos transicionais: Estes depósitos são resultantes da ação de processos marinhos tais como a ação das ondas, correntes marinhas e marés. Na área de estudo são encontradas as seguintes unidades: Terraços Marinhos Pleistocênicos e Holocênicos, Arenitos de Praia e os Manguezais. 5.3.1.3.1 Leques Aluviais Pleistocênicos Os Leques Aluviais Pleistocênicos tem origem continental, sendo formados por fluxos de enxurradas esporádicas e violentas ocorridas em período de clima semi-árido. São caracterizados pela ausência de estratificação e selecionamento dos grãos e por ter uma distribuição caótica dos componentes grosseiros na matriz mais fina do sedimento (MARTIN et al., 1980). Segundo Esquivel (2006), no grande vale do rio Itapicuru, esta unidade ocorre como depósitos de preenchimento de vales, formando rampas suaves a moderadamente suaves, que apresentam uma declividade média de 3,5 %, ou então apresentam-se sob a forma de pequenas elevações isoladas no interior da planície de inundação deste rio, indicando serem remanescentes de depósitos mais extensos que foram retrabalhados por este rio e pelo mar durante as duas últimas transgressões marinhas.

18 5.3.1.3.2 Dunas O principal tipo de duna presente na área de estudo é o blow-out. Este termo é geralmente utilizado para descrever uma depressão ovalada (bacia de deflação) formada como resultado da erosão eólica (deflação) sobre um depósito de areia pré-existente, principalmente onde a cobertura vegetal foi destruída ou perturbada. As acumulações de areia adjacentes (lóbulos), derivadas desta depressão, estão comumente incluídas nesta feição (DOMINGUEZ, 2006). Também ocorrem na região dunas do tipo frontal (cordão-duna), as quais possuem forma de crista alongada, formada pela ação do vento na margem interna do prisma de praia, mais ou menos no limite da maré alta. A duna frontal é formada por areia retirada da face da praia pelo vento, e depositada por influência da turbulência gerada pela vegetação do pós-praia, crescendo verticalmente in situ sem experimentar movimentação lateral. 5.3.1.3.3 Terras Úmidas As terras úmidas constituem ambientes de transição, entre as áreas terrestres e aquáticas, as quais apresentam o nível d`água aflorante ou solo saturado de água, com acúmulo de material orgânico de origem vegetal (ESQUIVEL, 2006). Na área de estudo são encontradas três categorias de zonas úmidas: Brejo, Pântano e Manguezal. Os Brejos ocupam áreas deprimidas da zona costeira que são sazonalmente alagadas. Separam diferentes unidades arenosas (depósitos de leques aluviais, terraços marinhos pleistocênicos e holocênicos) e margeando os rios mais expressivos da região: Itapicuru, Itariri e Inhambupe. Os Pântanos são caracterizados por apresentar uma vegetação de maior porte (arbóreo-arbustiva) e por estarem localizados em áreas um pouco mais elevadas que as unidades de Brejo (ESQUIVEL, 2006). Os Manguezais são unidades de transição entre os ambientes terrestres e marinhos que apresentam um substrato constituído por sedimentos depositados em ambiente estuarino, nas áreas deltáicas ou próximas a desembocadura dos vales fluviais afogados, onde existe uma grande influência das marés (ESQUIVEL, 2006).

19 5.3.1.3.4 Terraços Marinhos Pleistocênicos e Holocênicos Os Terraços Marinhos Pleistocênicos e Holocênicos, de acordo com Bittencourt et al. (1978), foram formados pela progradação da linha de costa que ocorreu em períodos de regressão marinha. Segundo os mesmos autores, os Terraços Marinhos Pleistocênicos foram formados a cerca de 120 mil anos atrás, após o máximo da Penúltima Transgressão. Já os Terraços Marinhos Holocênicos foram desenvolvidos após o máximo da Última Transgressão, a cerca de 5.100 anos atrás. Esses terraços são constituídos predominantemente de areia quartzosa fina a média, arredondada a subarredondada, com grãos de minerais máficos e matéria orgânica particulada. Apresentam estratificação plano-paralelas com leve mergulho (1º a 3º) em direção ao mar. 5.3.1.3.5 Depósitos Litorâneos Atuais A face de praia é formada por areias quartzosas de granulometria média a fina. Em alguns trechos do prima praial, eventualmente ocorrem sedimentos biodetríticos formados, sobretudo por rodolitos e conchas de bivalvos provenientes da zona sublitoral, os quais são lançados à face de praia pela ação das ondas e marés (NETTO, 2002). Segundo o mesmo autor, a comunidade bentônica produtora de carbonato de cálcio que se estabelece sobre os arenitos de praia pode contribuir com o fornecimento de sedimentos biodetríticos para a face de praia e a zona submersa próxima. 5.3.1.3.6 Arenitos de Praia Localizam-se desde a zona de antepraia até dezenas de metros mar adentro, estando sempre alinhados paralelamente ou sub-paralelamente à linha de costa. Ocorrem formando corpos rochosos tabulares estratificados constituídos predominantemente por areias quartzosas e fragmentos de conchas, possuindo cimento carbonático. Apresentam sistemas de fraturas paralelas e ortogonais a linha de costa.

20 5.3.2 Geologia da Porção Submersa A plataforma continental do município de Conde está situada na Bacia Sedimentar do Jacuípe. Segundo Mohriak (2003), essa bacia estende-se da cidade de Salvador até o limite entre os estados da Bahia e Sergipe (210 km) e tem uma largura média de 35 km até a isóbata de 2.000 m. Apresenta uma área total de aproximadamente 7.500 km 2, sendo que cerca de 4.500 km 2 localizam-se sob lâmina d água de até 400 m. De acordo com Mohriak (2003), o arcabouço estratigráfico da bacia do Jacuípe (Fig. 06) é composto por duas megasseqüências, correspondentes às fases sinrifte (continental) e pós-rifte (marinha). A fase sinrifte, pouco desenvolvida na plataforma, é representada pela Formação Rio de Contas (Cretáceo Inferior), composta de arenitos, conglomerados e folhelhos. A fase pós-rifte apresenta a seqüência marinha transgressiva da Formação Algodões (Albiano-Turoniano), predominantemente carbonática, e da Formação Urucutuca (Cretáceo Superior), predominantemente argilosa. A seqüência marinha regressiva possui caráter progradante, sendo representada pelas fácies arenosa proximal e litorânea da Formação Rio Doce, pela fácies carbonática de plataforma da Formação Caravelas e pelos folhelhos de talude da Formação Urucutuca (Terciário Quaternário). Ainda segundo o mesmo autor, o arcabouço estrutural simplificado da bacia (Fig. 07) consiste em dois domínios distintos. Próximo à costa, na região da plataforma continental, ocorre um patamar com embasamento raso, limitado por uma falha de grande rejeito, a qual coincide com a quebra atual da plataforma, separando o patamar de embasamento raso do domínio de embasamento profundo, onde o pacote sedimentar pode atingir 7.000 m de espessura.

Figura 06 - Carta estratigráfica da bacia sedimentar do Jacuípe (Fonte: Bizzi et al. 2003). 21

22 Figura 07 - Seção da Bacia Sedimentar do Jacuípe (Fonte: Bizzi et al. 2003). 5.4 ASPECTOS OCEANOGRÁFICOS 5.4.1 Marés As marés na área de estudo podem ser classificadas como micromarés semidiurnas sem desigualdades, ou seja, a maré cujo período é de aproximadamente 12 horas. Sua amplitude média de sizígia situa-se em torno de 1,8 m 1,9 m (DOMINGUEZ et al., 2003). 5.4.2 Ondas De acordo com Dominguez et al. (2003), não existem disponíveis medidas de longa duração do regime de ondas para a região costeira do Estado da Bahia. As estatísticas de ondas disponíveis mostram a relação direta entre a direção e velocidade dos ventos alísios e a direção, altura e período das ondas. Ainda segundo os mesmo autores, na área de estudo e vizinhanças, durante o outono e o inverno são comuns ondas do octante E-SE com altura média de 1,5 m e período médio de 6,5 s. Durante a primavera e o verão, ondas do octante N-NE com altura média de 1 m e período médio de 5 s dominam na costa.

23 5.4.3 Deriva Litorânea Segundo Livramento (2008), a deriva litorânea efetiva de sedimentos na área de estudo apresenta sentido SW-NE (Fig. 08). Área de estudo Figura 08 Sentidos da deriva litorânea efetiva de sedimentos no Litoral Norte do Estado da Bahia (modificado de LIVRAMENTO, 2008). Notar que na área de estudo a deriva litorânea apresenta sentido SW-NE.

24 5.4.4 Correntes na Plataforma Não foram encontrados dados de correntes na plataforma na área de estudo. Em uma porção localizada mais ao sul da área de estudo, região de Arembepe, essas correntes foram medidas, sendo percebido que estas seguem normalmente a direção dos ventos dominantes, fluindo predominantemente para SW no verão, enquanto, no inverno, correntes fluindo para NE também estão presentes (DOMINGUEZ et al., 2003).

25 6 AS VARIAÇÕES DO NÍVEL DO MAR DURANTE O QUATERNÁRIO As variações do nível do mar durante o Quaternário têm sido registradas em várias partes do mundo (MARTIN et al., 1980; MARTIN et al., 1998; PILLANS et al. 1998; YOKOYAMA et al. 2000; LAMBECK et al. 2002; HANEBUTH et al. 2003), geralmente associadas a mudanças climáticas. As oscilações do nível do mar causam mudanças no equilíbrio da zona costeira, e interferem na arquitetura e na estratigrafia dos depósitos costeiros. Durante uma transgressão marinha, os depósitos costeiros migram no sentido do continente. Durante uma regressão marinha o inverso ocorre e os depósitos costeiros migram no sentido da bacia. 6.1 O ÚLTIMO MÁXIMO GLACIAL O Último Máximo Glacial corresponde ao período entre 16.000 a 20.000 anos AP, quando o nível do mar esteve cerca de 120 m abaixo do nível do mar atual (Fig. 09). Durante este período, as calotas de gelo ocupavam grandes áreas no hemisfério norte e a temperatura global era mais baixa do que a atual. Yokoyama et al. (2000) estimou a época e a massa das calotas de gelo usando datações pelo radiocarbono e um modelo glacio-isostático para o Golfo de Bonaparte (Austrália). Os resultados indicaram o período entre 19.000 a 22.000 anos AP, como aquele em que as calotas de gelo eram cerca de 52,5 x 10 6 km 3 maiores que as atuais.

26 Figura 09 Curvas de variação do nível do mar para Barbados a partir do Último Máximo Glacial (20.000 a 16.000 anos AP), baseada na datação por 14 C e 230 Th/ 234 U de exemplares de A. palmata (FAIRBANKS, 1990). Durante o Ultimo Máximo Glacial, a plataforma continental brasileira esteve exposta total ou parcialmente, favorecendo a instalação da rede de drenagem sobre esta feição. Com a subida do nível do mar, os canais foram preenchidos, ocorrendo a retrogradação das fácies sedimentares.

27 7 RESULTADOS E DISCUSSÃO 7.1 MORFOLOGIA DA PLATAFORMA CONTINENTAL A plataforma continental do município de Conde apresenta largura média de 20 km, com valores mínimo de 16 km e máximo 22 km, e sua quebra situa-se geralmente na isóbata de 45 m, como pode ser visto no mapa batimétrico (Fig. 10). Sua declividade, em quase toda a extensão, não ultrapassa 0,5. Esta pequena largura deve-se talvez ao fato da Bacia do Jacuípe ter sido formada a partir da ruptura do Cráton de São Francisco-Congo (Alkimim, 2004). Figura 10 - Mapa Batimétrico da Plataforma Continental do Município de Conde. Nota-se a quebra da plataforma na isóbata de 45 m.

28 A topografia da plataforma continental exibe algumas irregularidades, que pode ser notada pela geometria das isóbatas e pela variação das distâncias entre si, ora mais próximas, ora mais afastadas. Este comportamento ressalta a presença de elevações, afloramentos rochosos, e depressões. A maior depressão encontrada na área de estudo, situa-se em frente ao rio Itapicuru e se estende da isóbata de 20 m até a quebra da plataforma. Na quebra da plataforma podem ser notadas quatro reentrâncias. Essas reentrâncias são atribuídas a ravinas e a antigas desembocaduras fluviais escavadas durante o Último Máximo Glacial, como pode ser observado no perfil 9 do perfilador de sub-fundo (Fig. 11). Foram consideradas antigas desembocaduras fluviais as depressões de até 120 m. Na reentrância mais ao sul, em frente à desembocadura do rio Itariri, são encontradas duas ravinas, uma com 150m e outra com mais de 200 m de profundidade no perfil 9 dos registros do perfilador de subfundo. A segunda reentrância possui três ravinas, com 170 m, 203 m e 193 m de profundidade. A terceira reentrância está situada em frente à desembocadura do rio Itapicuru, onde é composta por uma ravina de 270 m de profundidade e uma antiga desembocadura fluvial, 110 m de profundidade, que pode ser atribuída ao rio Itapicuru. Na quarta reentrância foi observada uma antiga desembocadura fluvial, com 105 m de profundidade, não sendo possível identificar o rio que a formou. Figura 11 Trechos do perfil 9 do perfilador de sub-fundo. a) Ravina encontrada na reentrância das isóbatas em frente ao rio Itariri; b) Antiga desembocadura do rio Itapicuru e ravina, encontradas na reentrância das isóbatas em frente ao rio Itapicuru.