DE BERNARDO À GABAGLIA: A CRIAÇÃO DO LABORATÓRIO DE QUÍMICA DO EXTERNATO DO COLÉGIO PEDRO II

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DE BERNARDO À GABAGLIA: A CRIAÇÃO DO LABORATÓRIO DE QUÍMICA DO EXTERNATO DO COLÉGIO PEDRO II 1. INTRODUÇÃO Edson de Almeida F. Oliveira 1 Em dezembro de 1831, o Seminário de São Joaquim foi reformado e entregue à inspeção da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, passando a ser um estabelecimento de ensino gratuito para órfãos, filhos de militares e funcionários públicos, admitindo, também, alunos pensionistas. (MOACYR, 1938) Durante a regência de Pedro de Araújo Lima, depois Marquês de Olinda, o Ministro de Negócios do Império Bernardo Pereira de Vasconcelos (1795-1850) converteu o seminário em colégio de instrução secundária. Por decreto de 2 de dezembro 1837, em homenagem ao Imperador-Menino no transcurso de seu décimo segundo aniversário, foi criado o Imperial Collegio de Pedro Segundo, inaugurado no dia 25 de março de 1838, em Sessão Solene que contou com as presenças do Imperador e suas irmãs, as Princesas D. Januária e D. Francisca, do Regente, de todo o Ministério e da elite do Município da Corte. (DÓRIA, 1997) Sendo instalado no casarão da Rua Larga, o Colégio de Pedro Segundo contava com a constante presença de D. Pedro II em suas dependências, onde participou desde sua inauguração até o último dia da monarquia, 14 de novembro de 1889, presente no concurso de Inglês. (SAMPAIO, 2004) 1.1. Primeiras impressões sobre o Colégio Pedro II A partir de 1838, o Colégio de Pedro II passou a desempenhar o importante papel de preparar os alunos para ingressarem nas instituições de ensino superior. O grau de Bacharel por ele concedido dava ao aluno o direito de ingressar em qualquer curso superior do Império sem prestar novos exames. (VECHIA, 1998) 1 Doutorando pelo Programa de Pós Graduação de História das Ciências, das Técnicas e da Epistemologia. Universidade Federal do Rio de Janeiro. edsonafo@yahoo.com.br

Na inauguração do Collegio, as decisões sobre os conteúdos curriculares foram

3 tomadas pelo Ministro do Império Bernardo de Vasconcelos, tendo como modelo o ensino Francês, transplantado do Collège Henri IV, de Paris, adotado como paradigma para o ensino secundário brasileiro. Como escreve José Carlos de Oliveira, A França, em torno de 1800, promoveu uma renovação na educação, respaldada pelo governo revolucionário, colocando a ciência no centro das modificações efetuadas (OLIVEIRA, 2005:60). O regulamento contendo os estatutos do colégio, detalhando o funcionamento pedagógico e administrativo foi distribuído em 239 artigos, decretados em 31 de Janeiro de 1838. No plano de estudos, o curso apresentava-se dividido em oito aulas ou anos letivos, em que se devia ensinar: Art 3º - "Neste collegio serão ensinadas as línguas latina, grega, franceza e ingleza, rhetorica e os princípios de geografia, historia, philosophia, zoologia, mineralogia, botânica, chimica, physica, aritmetica, álgebra, geometria e astronomia." (Collegio de Pedro Segundo, 1838, apud SAMPAIO, 2004:25). Fernando de Azevedo (1963:571) escreve que neste decreto houve uma larga concessão aos estudos científicos. Ainda falando do plano estabelecido nos estatutos, aprovados pelo decreto nº 8, de 31 de Janeiro de 1838 que anunciava senão uma vitória dos estudos científicos sobre os estudos literários, um esforço salutar para equilibrá-los, rompendo com a tradição do ensino exclusivamente literário e retórico (Idem, 1963:571). Nesse mesmo regulamento há uma orientação para haver um laboratório de Química no Colégio: Art 151º Haverá também um gabinete de Física, um laboratório de Chimica, e uma coleção elementar dos produtos dos três reinos, vegetal, animal e mineral" (Collegio de Pedro Segundo, 1838).Talvez até por influência francesa, visto que esse país tornou-se o centro da ciência mundial (OLIVEIRA, 2005:73) Oliveira (2005:22-23) aponta para algo interessante sobre a existência de laboratórios: As teorias elaboradas em torno da Física, da Química e da Biologia, principalmente, no início do século XIX pressupunham já um grau elevado de experimentação, que dava sustento às ideias sobre as propriedades das matérias nesses domínios do saber. Isso requisitava a existência de laboratórios, ou gabinetes, para levar a cabo experiências relativas a fatos científicos [...] A mera existência e o funcionamento de laboratórios já são portadores de condição para atividades científicas não triviais. Em 1874, 36 anos após o início das atividades do Colégio, o poder público determina o provimento das cadeiras por concurso, que constava de duas provas, uma de preleção e outra complementar. Posteriormente, pelo Ato nº 8.602, de 23 de junho de 1882, o concurso passava a constar de defesa de tese, prova escrita e oral e de provas práticas, estas para Física, Química e História Natural. (DÓRIA, 1997).

4 O programa de ensino para o ano de 1892 diz que: As licções de chimicadescriptiva serão acompanhadas de trabalhos práticos de laboratório, ensaios systematicos de analyses qualitativa, por via humida e pyrognostica. Além das recordações escriptas e oraes e dos trabalhos de laboratório, cada alumno apresentará, pelo menos, duas preparações (VECHIA, 1998:119). O objetivo deste trabalho é apresentar a criação do laboratório de Química do externato em 1838 e revelar a importância do espaço para a comunidade científica do Rio de Janeiro. Outrossim, esses primeiros resultados poderão compor os estudos que serão desenvolvidos em pesquisa de tese de doutorado. 2. PRIMEIRAS REFERÊNCIAS AO LABORATÓRIO DO EXTERNATO As primeiras referências encontradas sobre o gabinete de Physica e Chimica do Colégio Pedro II constam de um relatório apresentado pelo Diretor Dr. Carlos de Laet, apenas em 1919, onde relata "que coube ao Gabinete de physica e chimica do Internato a importância de 12:500$000, para sua reorganização (...). Igual quantia foi, também, consignada ao Gabinete de physica e chimica do Externato (...)" (LAET, 1920, apud GRANATO, 2010:133) Em outro relatório anual, de 1920, apresenta que "do saldo de 2:213$415, constante do relatório de 1919, foi consumida em 1920 a importância de 1:195$965." (LAET, 1921, apud GRANATO, 2010:133), e no de 1921 que: Dos saldos de 1920 foram mandados aplicar 2:499$462 para continuar o serviço de remodelação deste gabinete. O gabinete de physica e chimica do Externato consumiu até 31 de março de 1922 a importância de 14:936$335. Das verbas que foram consignadas para tal serviço existe o pequeno saldo de 63$127 (LAET, 1922, apud GRANATO, 2009:133). Com base nos relatórios apresentados pelo Diretor Laet referentes aos anos de 1919, 1920, 1921, 1922 e 1923, destaca-se a iniciativa, da parte dos professores em remodelar os laboratórios de ensino de suas disciplinas, o que indica o empenho dos catedráticos de física e química em implantar melhorias no ensino de sua área de atuação. Ao ensino teórico das disciplinas, foi então acrescentada a questão do ensino prático, a necessidade de modernização da didática e com isso a efetiva montagem de seus laboratórios próprios. (GRANATO, 2010) Sob a direção do Professor Euclides M. Guimarães Roxo, como consta em seu relatório referente aos anos de 1927 e 1929, foram equipados os laboratórios de Física,

5 Química, Geografia e História Natural, também sendo realizadas obras em suas dependências. (ROXO, 1930) Em referência ao programa de Chimica de 1926, há uma lista de 30 práticas a serem realizadas (VECHIA, 1998). No entanto, parece que o laboratório de Química do Externato somente ficou pronto no ano de 1938, pois no mesmo há uma placa bem na entrada: Foto 1: Placa no Laboratório do Externato Segundo Silvia Figueirôa (1997:77), o cuidado com a difusão da ciência não se restringiu aos níveis educacionais superiores, mas atingiu também a instrução secundária, mediante a criação, segundo modelo francês, do Imperial Colégio de Pedro II em 1838. Conforme os seus regulamentos e confirmado pela historiografia, a criação do Colégio Pedro II representou um avanço no ensino de ciências no Brasil. A simples menção nos estatutos da previsão de construção de um laboratório de Química mostra que o ensino desta disciplina deveria ser tratado também de forma prática, não se restringindo aos compêndios dos professores. Entretanto, no espaço que serviu para a construção do laboratório de Química do externato há uma placa em homenagem ao professor Fernando A. Raja Gabaglia, diretor do externato pelo período de 1933-1945, por sua contribuição à construção do laboratório (Foto 1). Essa placa diz que tal construção foi efetivada em 1938, ou seja, somente 100 anos após a regulamentação para que o laboratório fosse criado.

6 3. CONCLUSÕES PARCIAIS O Colégio Pedro II nasceu sendo o parâmetro curricular para as escolas de ensino secundário. Então, sua importância para a difusão das ciências no Brasil foi enorme. Ainda não foi feita nenhuma pesquisa sobre o laboratório de Química do externato. Portanto, é imperativo que se faça um inventário de todos os objetos científicos presentes no laboratório e expô-los para a comunidade científica seria um ganho inestimável. É necessário, também, entender os fatores que levaram a esse adiamento centenário da construção do laboratório, em quais circunstâncias o mesmo foi construído e quais os equipamentos que foram colocados à disposição de alunos e professores à época de sua construção. 4. BIBLIOGRAFIA AZEVEDO, Fernando. A Cultura Brasileira: Introdução ao estudo da cultura no Brasil. Brasília, Editora da UNB, 4ª edição, 1963. DÓRIA, Escragnolle. Memória histórica do Collegio de Pedro Segundo: (1837-1937). Comissão de Atualização da Memória Histórica do Colégio Pedro II, Roberto Bandeira Accioli, et al. Brasília, INEP, 1997. FIGUEIRÔA, Silvia. As Ciências Geológicas no Brasil: Uma história social e institucional, 1875-1934, São Paulo, Hucitec, 1997. GRANATO, Marcus; FERREIRA, Marcela de Almeida; BRASIL, Zenilda F.; CALVÃO, Alexandre. O conjunto de objetos de ensino do laboratório de física do colégio Pedro II. In: Marcus Granato e Martha C. Lourenço. Coleções Científicas Luso-Brasileiras: patrimônio a ser descoberto. Rio de Janeiro, MAST, 2010, p. 123-143. MOACYR, Primitivo. A instrução e o Império: subsídios para a educação no Brasil. São Paulo: Nacional, 1938. (Col. Brasiliana, v.1: 1823-1853; v.3: 1848-1889). Regulamento número 08-31 de Janeiro de 1838. Contém os Estatutos para o Collegio de Pedro Segundo. OLIVEIRA, José Carlos. D. João VI Adorador do Deus das Ciências: a constituição da Cultura Científica no Brasil (1808-1821). Rio de Janeiro, E-papers, 2005.

7 ROXO, Euclides de Medeiros Guimarães. Relatório concernente aos anos letivos de 1927 a 1929: apresentado ao Exmo. Sr. Diretor Geral do Departamento Nacional do Ensino pelo Prof. Euclides de Medeiros Guimarães Roxo. Rio de Janeiro: Colégio Pedro II, 1930. SAMPAIO, Glads Maria D'Elia. A História do Ensino de Física no Colégio Pedro II de 1838 até 1925. 2004, 157 p., (Dissertação) História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia, COPPE/UFRJ. Orientador: Luis Alfredo Vidal de Carvalho. VECHIA, Ariclê; LORENZ, Karl Michael, Programa de ensino da escola secundária brasileira: 1850-1951. Curitiba: Ed. do Autor, 1998.