TEMA: ALIMENTOS NO CÓDIGO CIVIL: ASPECTOS CONTROVERTIDOS



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Nele também são averbados atos como o reconhecimento de paternidade, a separação, o divórcio, entre outros, além de serem expedidas certidões.

Com a citada modificação, o artigo 544, do CPC, passa a vigorar com a seguinte redação:

35 a Câmara A C O R D A O * *

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº ( ) COMARCA DE GOIÂNIA AGRAVANTE : ANNA CRISTINA TORRES FIUZA DE ALENCAR RELATOR : DES

Transcrição:

PALESTRA DA ESA 20.07.2010 TEMA: ALIMENTOS NO CÓDIGO CIVIL: ASPECTOS CONTROVERTIDOS

CURRÍCULO PROFESSORA MESTRE PATRÍCIA FONTANELLA ADVOGADA ESPECIALISTA EM DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES; MESTRE EM CIÊNCIA JURÍDICA PELA UNIVALI; ESPECIALISTA EM DIREITO CIVIL PELA UNISUL; PROFESSORA DE DIREITO CIVIL DE CURSOS DE GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO; AUTORA DOS LIVROS: UNIÃO ESTÁVEL A EFICÁCIA TEMPORAL DAS LEIS REGULAMENTADORAS 2ª ED. (2006), UNIÃO HOMOSSEXUAL NO DIREITO BRASILEIRO: ENFOQUE A PARTIR DO GARANTISMO JURÍDICO (2006) CO-AUTORA DO DICIONÁRIO TÉCNICO JURÍDICO E LATIM FORENSE 3ª ED. (2009), PROFESSORA CONVIDADA DA ESCOLA PAULISTA DE DIREITO EPD E PERMANENTE DA ESA-OAB/SC).

Alguns princípios do Direito das Famílias Dignidade da pessoa humana; solidariedade familiar; pluralidade de entidades familiares; igualdade entre cônjuges e filhos e respeito à diferença; doutrina da proteção integral à criança e ao adolescente e o princípio do melhor interesse; afetividade.

Princípios norteadores do Código Civil de 2002 Miguel Reale Princípio da Socialidade (O Código busca superar o caráter individualista do C.C. de 1916); princípio da Eticidade (Procura superar o apego ao formalismo jurídico, inserindo normas genéricas ou cláusulas gerais); princípio da Operabilidade (Pretende solucionar problemas de interpretação de Institutos do antigo Código).

Alimentos em Direito de Família Valores, bens ou serviços destinados às necessidades existenciais da pessoa, em virtude de relações de parentesco, quando ela própria não pode prover, com seu trabalho ou rendimentos, a própria mantença. Em dinheiro (pensão alimentícia). In natura (naturais, coisas para consumo).

Origem Dever de sustento: dever dos pais (art. 1566, III). Direito à assistência material entre cônjuges e companheiros (arts. 1566, IV e 1724). Parentesco (1694 e ss.). Qualificação jurídica (Estatuto do Idoso).

Fundamentos A obrigação a alimentos funda-se, sob o ponto de vista da solidariedade, no art. 3º, I da CF/88. Em nível infraconstitucional temos: arts. 206, par. 2º, 1694 a 1710. ECA art. 22 e EI arts. 11 a 14. Normas residuais da LA e algumas normas dispersas.

Objetivos Preservação do o CC chama viver de modo compatível com a sua condição social, além de atender às necessidades de sua educação. A separação nunca preserva inteiramente a condição social, inclusive quanto aos filhos, pois despesas que eram compartilhadas agora passam a ser assumidas individualmente.

Características Personalíssimo: não pode ser objeto de cessão ou de natureza hereditária. Indisponíveis (ver LI, art. 13). Irrenunciáveis (ver CC, art. 1707). Incompensáveis. Irrepetíveis. Impenhorabilidade. Imprescritível. Transmissíveis (ver CC, art. 1700).

Requisitos Binômio possibilidade X necessidade (CC, art. 1694, par.1º). Razoabilidade (doutrina e jurisprudência). Cabe ao juiz não apenas verificar se há efetiva necessidade do titular, mas também a possibilidade do devedor e se o montante exigido é razoável e o grau de razoabilidade do limite oposto a este. O requisito da razoabilidade está presente no texto legal, quando alude a na proporção das necessidades. Não é mera operação matemática, pois tanto o credor quanto o devedor de alimentos devem ter assegurada a possibilidade de viver de modo compatível com as suas necessidades.

Alimentos e discussão de culpa CC, art. 1694, 2º Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia. CC, art. 1704, único Se o cônjuge declarado culpado vier a necessitar de alimentos, e não tiver parentes em condições de prestá-los nem aptidão para o trabalho, o outro cônjuge será obrigado a assegurá-los, fixando o juiz o valor indispensável à sobrevivência.

Alimentos pós-divórcio A discussão relativa à possibilidade da concessão de alimentos após a decretação do divórcio vem sendo discutida na doutrina e jurisprudência atuais e os juristas brasileiros têm divergido sobre o assunto.

Efeitos jurídicos da separação e do divórcio. Efeitos jurídicos da dissolução da união Efeitos jurídicos da dissolução da união estável.

Um primeiro posicionamento sobre o tema segue no sentido de que o artigo 1.708 do Código Civil dispõe que a obrigação alimentar se extingue somente com o casamento, união estável ou concubinato do credor. E ainda o seu parágrafo único afasta a obrigação em caso de procedimento indigno do credor em relação ao devedor. Conseqüentemente, não estando o divórcio ali elencado, plenamente possível a possibilidade de concessão de alimentos ao ex-cônjuge após a ruptura do vínculo.

Alimentos. Ex-marido interdito. Necessidades demonstradas. Dever de mútua assistência que persiste após o divórcio. Sentença mantida. Recurso improvido. SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. Apelação Cível n. 593.747.4/4-00. 8a Câmara de Direito Privado. Relator: Caetano Lagrasta. Julgado em 12.11.2008.

Nesse sentido, o fundamento maior para a continuação do dever de prestar alimentos pós-divórcio está calcado no dever de solidariedade familiar que não pode ser desprezado, não obstante a ruptura do vínculo conjugal.

Em sentido contrário, segunda corrente defende que, dissolvido o casamento válido pelo divórcio, desaparecem as obrigações entre os ex-cônjuges, salvo aquelas fixadas na sentença de divórcio. Portanto, se não foram fixados alimentos na sentença, nenhum dos ex-cônjuges tem o direito de pedi-la posteriormente, eis que a mútua assistência é própria do casamento.

AÇÃO DE ALIMENTOS. IRRESIGNAÇÃO DE EX- ESPOSA QUANTO À DECISÃO QUE REJEITOU O PEDIDO. VERBA NÃO ESTABELECIDA POR OCASIÃO DO DIVÓRCIO. VÍNCULO MATRIMONIAL DESFEITO. CARÊNCIA DE AÇÃO. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS NÃO FIXADOS. INTELIGÊNCIA DO ART. 17, V, DA LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL N. 155/97. TJSC. Apelação Cível n. 2008.003620-5. Relator: Desa. Maria do Rocio Luz Santa Ritta. 3ª Câmara de Direito Civil. Julgado em 30.06.2008.

Alimentos. Ação improcedente. Pretensão de ex-cônjuge que no divórcio consensual dispensou o auxílio do outro, sem qualquer ressalva. O divórcio extingue todo o vínculo conjugal existente por força do casamento, inclusive o dever de mútua assistência. Recurso improvido. TJSP, Apelação Cível n. 6159234600. Relator: Des. Maia da Cunha. 4ª Câmara de Direito Privado. Julgado em 18.12.2008.

DIREITO DE FAMÍLIA - SEPARAÇÃO JUDICIAL - CONVERSÃO EM DIVÓRCIO - DECORRIDO MAIS DE 1 ANO - ALIMENTOS - NÃO FIXAÇÃO NA SEPARAÇÃO - INDEVIDOS - RECURSO IMPROVIDO. Descabe ao cônjuge receber alimentos se tal direito não veio estipulado ou ressalvado na separação judicial. TJMG, Apelação Cível n. 1.0301.07.027484-2/001 Relator: Des. Carreira Machado. Julgado em 05.08.2008.

Renúncia aos alimentos Há muito gera controvérsias. O STJ, até 2002 tinha pacificado a questão no sentido da validade da cláusula de renúncia entre cônjuges e companheiros e da irrenunciabilidade apenas dos alimentos decorrentes do parentesco. O artigo 1707 do CC de 2002 inovou o direito brasileiro até então consolidado, estabelecendo que pode o credor não exercer, porém é vedado renunciar o direito a alimentos. Isso reabriu a discussão.

O tema é controvertido, não havendo unanimidade entre os autores, principalmente em se tratando de renúncia aos alimentos na separação. Sílvio de Salvo Venosa lembra: Sob o aspecto técnico, não há dúvida de que a renúncia aos alimentos pelo cônjuge é manifestação de vontade válida, pois apenas os alimentos derivados do parentesco são, em princípio, irrenunciáveis. O dever de mútua assistência entre os cônjuges rompe-se quando é desfeito o casamento. Ademais, o acordo firmado na separação por mútuo consentimento é negócio jurídico bilateral com plenitude de efeitos. Se as vontades manifestam-se livremente, não há aspecto de ordem pública a ser preservado na renúncia aos alimentos.[1] [1] VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: direito de família. 3 ed., São Paulo: Atlas, 2003, p. 225.

Nesse sentido, há quem defenda que qualquer cláusula nesse sentido, não obstante a autonomia dos que a celebram, considera-se nula, podendo o juiz declará-la de ofício (LOBO, p. 351).

STJ O Superior Tribunal de Justiça entendeu que, não havendo vínculo de parentesco entre cônjuges, é plenamente válida a renúncia aos alimentos efetivada no acordo de separação judicial não mais podendo recobrá-lo, sendo essa também a orientação de alguns Tribunais no país. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 701.902/SP. Julgador Min. Nancy Andrighi. 3ª Turma. Julgado em 15.09.2005. Disponível em www.stj.gov.br.

Tribunais Apelação cível. Alimentos. Ex-mulher. Anterior dispensa. Tendo em vista que a autora dispensou os alimentos quando da homologação da separação judicial, descabe o pleito alimentar após o pacto. Dissolvido o vínculo conjugal, expira o dever de mútua assistência e a conseqüente obrigação alimentar. Inaplicabilidade, no caso, do artigo 1.704 do CC/02. TJRS, Apc. Cível.

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE SEPARAÇÃO JUDICIAL - SENTENÇA - HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO - CLÁUSULA PREVENDO RENÚNCIA A ALIMENTOS ENTRE CÔNJUGES - IMPOSSIBILIDADE - DIREITO INDISPONÍVEL - EXEGESE DO ART. 1.707 DO CÓDIGO CIVIL E ART. 23 DA LEI DE ALIMENTOS (direito a alimentos, que, embora irrenunciável, pode ser provisoriamente dispensado) - DECISÃO REFORMADA - RECURSO PROVIDO. Não é passível de homologação a cláusula de separação que estabelece a RENÚNCIA ao direito a ALIMENTOS entre os cônjuges. TJSC. Apelação Cível n. 2006.011853-2, de Lauro Müller. Relator: Mazoni Ferreira. Juiz Prolator: Nao Informado. Órgão Julgador: Segunda Câmara de Direito Civil. Data: 26/04/2007.

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ALIMENTOS. PEDIDO POSTERIOR À DECRETAÇÃO DO DIVÓRCIO. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA. INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL. RENÚNCIA TÁCITA AOS ALIMENTOS. ADMISSIBILIDADE EM SE TRATANDO DE RELAÇÕES MATRIMONIAIS. RECURSO DESPROVIDO. I - Os cônjuges separados de fato ou judicialmente podem pleitear do outro consorte pensão alimentícia, em sintonia com o binômio possibilidade/necessidade. Por sua vez, a decretação do divórcio põe termo a todos os laços decorrentes da relação matrimonial, com os seus consectários, entre outros, o direito de postular ALIMENTOS, salvo se fixados anteriormente e ainda persistirem as necessidades do alimentando que deram azo a sua percepção.

II - A irrenunciabilidade aos ALIMENTOS de que trata o art. 1.707 do Código Civil refere-se somente à obrigação alimentar originada de vínculo de parentesco sangüíneo, não abrangendo as relações matrimoniais ou união estável desconstituídas. Nessa linha, se a mulher renuncia, ainda que de forma tácita, ao direito de percepção de ALIMENTOS em ação de divórcio, não poderá mais, a posteriori, requerer ao ex-cônjuge pensão alimentícia. TJSC. Apelação Cível n. 2007.014255-0, de Itajaí. Relator: Joel Figueira Júnior. Juiz Prolator: Joana Ribeiro Zimmer. Órgão Julgador: Primeira Câmara de Direito Civil. Data: 08/01/2008.

Obrigação Solidária ou Subsidiária? Os alimentos constituem obrigação derivada do princípio da solidariedade, mas não é obrigação solidária. A obrigação solidária não se presume: decorre de lei ou da vontade expressa das partes (art. 265, CC).

Não é obrigação solidária porque o credor de alimentos não pode escolher livremente um para pagá-los integralmente, uma vez que deve observar a ordem dos graus de parentesco em linha reta, que é infinita, e a de parentesco colateral, que é finita.

Quanto mais próximo o parente, mais indentificado fica o devedor, por força de lei ( recaindo a obrigação nos próximos em grau art. 1696 do Código Civil). Assim, em primeiro lugar são chamados os ascendentes, depois os descendentes, e apenas na falta destes, os colaterais, que constituem as classes de parentesco. Dentro da mesma classe, os de grau mais próximos preferem os mais distantes. Dentro da mesma classe, os de grau mais próximos preferem aos mais distantes. Dentro do mesmo grau, por fim, os parentes assumem obrigação necessariamente pro rata, em quotas proporcionais aos recursos financeiros de cada um.

Obrigação Alimentar Avoenga A obrigação é dos pais e, na ausência destes, transmite-se aos ascendentes (aos avós), que são os parentes em grau imediato mais próximo (art. 1.698). No caso de grau de parentesco subseqüente, p.ex., pais e avós, estes apenas complementam o valor devido pelos primeiros, que tiverem rendimentos insuficientes. Trata-se de obrigação subsidiária, não pode, em regra, a ação ser diretamente ajuizada contra os avós, sem comprovação de que o devedor originário esteja impossibilitado de cumprir com o seu dever.

O STJ tem entendido que se trata de obrigação sucessiva e também complementar (Resp. 579385/SP). Ou seja, se o pai não está pagando nada ou pouco, mister chamar-se os avós. DIREITO CIVIL. AÇÃO DE ALIMENTOS. RESPONSABILIDADE DOS AVÓS. OBRIGAÇÃO SUCESSIVA E COMPLEMENTAR. 1. A responsabilidade dos avós de prestar alimentos é subsidiária e complementar à responsabilidade dos pais, só sendo exigível em caso de impossibilidade de cumprimento da prestação ou de cumprimento insuficiente pelos genitores. 2. Recurso especial provido. STJ. REsp 831497 / MG. RECURSO ESPECIAL n. 2006/0053462-0.

TJSC Subsidiária AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE ALIMENTOS - FIXAÇÃO DE ALIMENTOS PROVISÓRIOS - PAI QUE RESIDE FORA DO PAÍS - IMPOSSIBILIDADE DE CUMPRIR COM A OBRIGAÇÃO ALIMENTAR - OBRIGAÇÃO SUBSIDIÁRIA DOS AVÓS PATERNOS - EXEGESE DO ART. 1.696 DO CÓDIGO CIVIL EM VIGOR - OBSERVÂNCIA DO BINÔMIO NECESSIDADE/POSSIBILIDADE - ART. 1.694, 1º, DO CÓDIGO CIVIL ATUAL - DECISÃO INTERLOCUTÓRIA MANTIDA - RECURSO NÃO PROVIDO. Faltando o pai com o dever de prestar alimentos, por estar residindo fora do país, devem os avós prestar alimentos aos netos na ausência daquele, porque tal obrigação é extensiva a todos os ascendentes, conforme regra insculpida no art. 1.696 do Código Civil em vigor. TJSC. Agravo de instrumento n. 2004.000500-8, de Criciúma. Relator: Wilson Augusto do Nascimento. Órgão Julgador: Terceira Câmara de Direito Civil. Data: 30/04/2004.

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE ALIMENTOS - GENITOR FORAGIDO, EM LUGAR INCERTO E NÃO SABIDO - IMPOSSIBILIDADE DE CUMPRIR COM A OBRIGAÇÃO ALIMENTAR - OBRIGAÇÃO SUBSIDIÁRIA DOS AVÓS PATERNOS - LEGITIMIDADE PASSIVA - EXEGESE DO ART. 1.696 DO CÓDIGO CIVIL EM VIGOR - SENTENÇA CASSADA - RECURSO PROVIDO. Faltando o pai com o dever de prestar alimentos, por estar em lugar incerto e não sabido, esta obrigação se transfere aos avós, em relação aos netos, eis que extensiva a todos os ascendentes, conforme regra insculpida no art. 1.696 do Código Civil em vigor. Apelação Cível n. 2004.011341-2, de Maravilha. Relator: Wilson Augusto do Nascimento. Órgão Julgador: Terceira Câmara de Direito Civil. Data: 10/09/2004.

CIVIL E PROCESSUAL. RECURSO ESPECIAL. ALIMENTOS. AVÓS. RESPONSABILIDADE SUCESSIVA E COMPLEMENTAR. PRECEDENTES. RECONHECIMENTO DA IMPOSSIBILIDADE DE PRESTAÇÃO PELO PAI PERANTE A INSTÂNCIA RECURSAL ORDINÁRIA. VALOR DOS ALIMENTOS. REVISÕES QUE DEPENDEM DE INCURSÃO NA MATÉRIA FÁTICA DA LIDE (SÚMULA 7 DO STJ). I. Nos termos da jurisprudência consolidada do STJ, a responsabilidade dos avós em prestar alimentos é sucessiva e complementar. II. Tendo a corte local reconhecido a impossibilidade do pai em prover os alimentos, rever o referido posicionamento quanto à sua capacidade impõe reexame da matéria fática da lide, o que é vedado em sede de recurso especial, conforme o enunciado nº 7 da Súmula do STJ. III. A revisão do valor dos alimentos fixado pelas instâncias ordinárias esbarra, igualmente, no reexame de matéria fática da lide (Súmula 7/STJ). IV. Recurso especial não conhecido. REsp 858506 / DF RECURSO ESPECIAL. 2006/0121252-4.

AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE ALIMENTOS - PROGENITOR DESEMPREGADO - ENCARGO ATRIBUÍDO AO AVÔ PATERNO - AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA INCAPACIDADE FINANCEIRA - ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM - PREFACIAL ACOLHIDA - EXTINÇÃO DO FEITO - ART. 267, VI, DO CPC - RECURSO PROVIDO Para que ocorra a legitimação do avô paterno em responder pelo sustento de seu neto em ações de alimentos, faz-se necessária a comprovação robusta de incapacidade financeira do progenitor para o encargo, sob pena de extinção da pretensão, por falta das condições da ação. TJSC. Agravo de Instrumento n. 2006.015270-9, de Criciúma. Relator: Fernando Carioni. Órgão Julgador: Terceira Câmara de Direito Civil. Data: 22/08/2006.

Chamamento dos avós paternos e maternos AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE ALIMENTOS INTENTADA SOMENTE CONTRA A AVÓ PATERNA -IMPOSSIBILIDADE DO GENITOR DE CUMPRIR COM A OBRIGAÇÃO ALIMENTAR - CHAMAMENTO DA AVÓ MATERNA PARA INTEGRAR A LIDE - FACULDADE CONFERIDA PELO ART. 1.698 DO CÓDIGO CIVIL - PLURALIDADE DE PESSOAS OBRIGADAS A PRESTAR ALIMENTOS - OBRIGAÇÃO DIVISÍVEL E SUBSIDIÁRIA - DECISÃO INTERLOCUTÓRIA REFORMADA - RECURSO PROVIDO. "Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide." (art. 1.698, CC). Inadimplida a obrigação principal pela inércia do pai no pagamento dos alimentos aos filhos, deve ser obedecida a ordem legal disposta em nosso ordenamento jurídico, distribuindo-se a obrigação entre os AVÓS paternos e maternos na medida de seus recursos. TJSC. Agravo de Instrumento n. 2006.041637-3, de Blumenau. Relator: Mazoni Ferreira. Órgão Julgador: Segunda Câmara de Direito Civil. Data: 29/03/2006.

Doutrina e Jurisprudência atuais Admissibilidade de pleito contra genitor e avô, simultaneamente. Possibilidade do pedido de complementação, de forma subsidiária, comprovada a impossibilidade de pagamento do necessário. A obrigação alimentar neste caso é divisível. Excepcionalmente, pedido diretamente contra avós, comprovada a impossibilidade desde logo.

Art. 12 da Lei 10.741/03 (Estatuto do Idoso) Art. 12. A obrigação alimentar é solidária, podendo o idoso optar entre os prestadores. DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO DE ALIMENTOS. RECURSO ADESIVO DA AUTORA NÃO CONHECIDO. INTERPOSIÇÃO A DESTEMPO. PENSÃO MENSAL FIXADA EM 10% (DEZ POR CENTO) DA REMUNERAÇÃO DA RÉ (FILHA DA AUTORA). DISPENSABILIDADE DA INTERVENÇÃO DOS DEMAIS DESCENDENTES NO PROCESSO. OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA À LUZ DO ART. 12 DO ESTATUTO DO IDOSO (LEI N. 10.741/03).

PLEITO QUE VISA À MINORAÇÃO DA VERBA ALIMENTAR AO ARGUMENTO DE QUE A QUANTIA É EXORBITANTE. CONJUNTO PROBATÓRIO DOS AUTOS DEVIDAMENTE CONSIDERADO PELA MAGISTRADA A QUO AO ESTIPULAR O QUANTUM DEVIDO. AUTORA QUE POSSUI 72 ANOS DE IDADE E APRESENTA PROBLEMAS DE SAÚDE. DECISÃO JUDICIAL QUE ATENDE AO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE INSCULPIDO NO ART. 1.694, 1º, DO CÓDIGO CIVIL. VERBA ALIMENTAR MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. TJSC. Apelação Cível n. 2010.015604-7, de Lages. Relator: Marcus Tulio Sartorato. Juiz Prolator: Mônica Grisolia de Oliveira. Órgão Julgador: Terceira Câmara de Direito Civil. Data: 04/06/2010.

Filiação Socioafetiva Caracterização: nome, trato e fama. APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA POSITIVA DE FILIAÇÃO POR ADOÇÃO - RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE PÓSTUMA POR VÍNCULO AFETIVO - POSSE DO ESTADO DE FILHO - SITUAÇÃO DE FATO - ELEMENTOS CARACTERIZADORES - NOMINATIO, TRATACTUS E REPUTATIO - FILHO DE CRIAÇÃO AUXÍLIO MATERIAL - AUSÊNCIA DO TRATAMENTO AFETIVO DISPENSADO AOS FILHOS BIOLÓGICOS.

FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA NÃO DEMONSTRADA - PEDIDO IMPROCEDENTE - SENTENÇA IRREPROCHÁVEL - RECURSO DESPROVIDO. A filiação sócioafetiva, fundada na posse do estado de filho e consolidada no afeto e na convivência familiar, pressupõe a existência de três elementos caracterizadores: o nomem - utilização do sobrenome paterno; o tratactus - pessoa deve ser tratada e educada como filho; e a reputatio - o reconhecimento pela sociedade e pela família da condição de filho. A ausência de um desses elementos conduz à improcedência do pedido de reconhecimento da paternidade póstuma por vínculo afetivo. TJSC. Apelação Cível n. 2009.025737-6, de Lages. Relator: Fernando Carioni. Juiz Prolator: Francisco Carlos Mambrini. Órgão Julgador: Terceira Câmara de Direito Civil. Data: 10/12/2009.

Causas que fazem cessar o dever de alimentar Art. 1.708. Com o casamento, a união estável ou o concubinato do credor, cessa o dever de prestar alimentos. Par. Único: Com relação ao credor cessa, também, o direito a alimentos, se tiver procedimento indigno em relação ao devedor.