Grãos: O jogo do clima 07 de junho de 2017 Com o clima adverso nos EUA, o mercado já começa a se preocupar com as condições das safras de grãos, em especial do milho. Como podemos ver no gráfico abaixo, as condições boas e ótimas começaram a safra 2017/18 abaixo dos últimos anos e também dos % que é a média dos últimos 10 anos. Ainda que as condições da safra de soja ainda não foram divulgadas nacionalmente, apenas alguns estados já divulgam suas estatísticas. O nível das condições de safra são compreensivelmente baixo, pois o clima durante o plantio americano foi extremo. Chuvas, granizo, neve, etc. castigaram as áreas de milho e soja nos últimos dois meses. No leste do Cornbelt, as chuvas são excessivas e a umidade do solo atrapalha os fazendeiros. Já nas Pradarias a falta de umidade do solo já ameaça a produtividade. Resumindo, o clima está bullish para os preços dos grãos. E não tem nada que os fundos gostem mais do que operar as variações climáticas durante a safra americana. Consequentemente, nas próximas semanas a volatilidade dos preços seguirá a divulgação dos relatórios semanais das condições e as revisões intradiárias das previsões de chuvas e temperatura. Desenvolvimento das condições da safra de milho nos EUA 85 Condições da safra de milho - boa/excelente (%) 75 65 55 26-mai 2-jun 9-jun 16-jun 23-jun -jun 7-jul 14-jul 21-jul 28-jul 4-ago 11-ago 18-ago 25-ago 1-set 8-set 15-set 22-set 29-set 6-out 13-out 20-out 2014 2015 2016 2017 media 10anos Como essas variações são de curto prazo, mas não, necessariamente, afetam o resultado final, fizemos um exercício para tentar compreender melhor esse efeito. Assim, comparamos as condições de safra no início da safra com as suas estatísticas finais. A simples comparação já revelam duas coisas: 1) as condições no início são em média maiores que as finais (tanto para soja quanto para o milho); e, 2)o desenvolvimento das condições se alteram muito de ano para ano. Sendo que uma safra que começa com um percentual alto de lavouras boas ou ótimas, não termina sempre em boas condições, e o inverso também é valido. Nos gráficos abaixo, comparamos as condições do início da safra contras as do final desde 1990 até o ano passado e o que podemos observar é que a dispersão é grande. Na nossa amostra, em 37% das vezes que as safras começaram com condições piores que a média, terminaram com condições melhores que a média, ou o inverso. Ou seja, as condições iniciais não determinam as condições finais, elas são influenciadas pelo clima no desenrolar do desenvolvimento das plantas (como era esperado). Apenas para explicar a interpretação do gráfico: quando a nuvem de pontos formar um círculo na intersecção dos eixos a correlação é próxima de zero. Enquanto, se ela formar uma faixa
diagonal no gráfico é porque existe correlação, e quanto mais estreita for essa faixa mais forte é a correlação. Condições iniciais X finais: Soja e Milho 90 Condições finais - Soja (% Bom/Ótimo) 90 Condições finais- Milho (%Bom/Ótimo) 20 Condições iniciais - Soja (% Bom/Ótimo) 20 Condições iniciais- Milho (%Bom/Ótimo) 90 90 O indicador de condição das lavouras é o melhor o indicador disponível, porém as condições iniciais não são determinantes da produtividade final da safra. Por causa disso fizemos um exercício para descobrir em qual momento do calendário essas estatísticas terão a maior relevância. Assim, comparamos a correlação das condições a cada semana com a produtividade final da safra. Como era de se esperar, a correlação aumenta com o passar do tempo. Começando na 22ª semana do ano, quando a correlação é quase zero, até a ª semana com correção próxima a 0,9 (lembrando que o máximo possível é um). No gráfico da soja, a forma da curva mostra a construção da produtividade e a mitigação dos riscos com o passar do tempo. Em termos de estatística, a correlação acima de 0,7 é forte o suficiente para utilizá-la na projeção da produtividade. Dessa forma, no gráfico abaixo, a partir de agosto as condições podem ser utilizadas plenamente. O fato de a soja ter uma forte capacidade de recuperação às adversidades ajudam a compreender a conclusão. Já no gráfico do milho, a correlação aumenta precocemente e a partir de Julho as condições já podem ser utilizadas para prever a produtividade (correlação acima de 0,8). Uma diferença expressiva comparado com o gráfico da soja. Acreditamos que isso se deve pelo fato da importância do florescimento na determinação da produtividade do milho (que ocorre em julho até o início de agosto). Na fase de reprodução, qualquer problema causa danos permanentes no rendimento do grão.
Correlação entre condições da lavoura e produtividade por semana do ano: Soja e Milho 100% 90% Correlação entre condições e produtividade (%) soja 100% 90% Correlação entre condições e produtividade (%) milho % % % % % % % % % % % % 20% 20% 10% 0% Semana do ano 10% 0% Semana do ano 22 23 24 25 26 27 28 29 31 32 33 34 35 36 37 38 39 22 23 24 25 26 27 28 29 31 32 33 34 35 36 37 38 39 Exemplo de 2012 Um bom exemplo da variação que pode ocorrer das condições durante a safra foi a safra 2012/13, quando um clima seco e quente prejudicou fortemente a safra americana. Como podemos observar no gráfico abaixo, as condições começaram bem e foram piorando rapidamente. Em julho (período de florescimento do milho) chegaram às mínimas e, a partir desse ponto, foram melhorando para a soja, mas não para o milho. No final, as produtividades apresentaram queda de 21,2% para o milho e 9,9% para a soja, contra a tendência de longo prazo. Assim, mostrando uma recuperação da oleaginosa, mas não do cereal. Desenvolvimento das condições da safra de milho e soja: 2012/13 90 20 Condições de safra (% boas/ótimas) milho soja 10 18-mai 25-mai 1-jun 8-jun 15-jun 22-jun 29-jun 6-jul 13-jul 20-jul 27-jul 3-ago 10-ago 17-ago 24-ago 31-ago 7-set 14-set 21-set 28-set 5-out 12-out Conclusão Claramente, as variações nas previsões e nos indicadores de curto prazo alteram os preços dos grãos, porém existem problemas de se basear exclusivamente neles para a tomada de
decisão, porém é necessário levá-la em conta nas análises. Afinal, todas as informações disponíveis devem ser levadas em consideração. Porém, outros pontos são importantes como as previsões meteorológicas de médio prazo e a incerteza que ainda reina. Assim, assumimos que no atual momento não conseguimos fazer afirmações contundentes sobre a produtividade, visto o estágio inicial da safra. Consequentemente, serão necessárias mais algumas semanas para fundamentarmos nossa opinião sobre o desenvolvimento das lavouras e quais serão as produtividades americanas. Logo, mantemos as projeções de produtividade iguais às tendências históricas, que são praticamente as mesmas utilizadas pelo USDA. Contudo, o mercado sempre tenta se antecipar aos fatos e os preços reagem antes da mudança de fundamentos. Ou seja, a reação prematura dos mercados ao clima nos EUA deve criar boas oportunidades de comercialização e de hedge dos grãos na CBoT. Research: Commodities - PINE Lucas Brunetti
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