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Transcrição:

Consulta n 66/2014 - CAOP Cível Objeto: Usucapião de bem imóvel rural sem registro Em tese, intervenção ministerial obrigatória, à luz do art. 5º, inc. XI, da Recomendação CNMP nº 16/2010 c/c art. 944 do CPC Dúvida quanto às providências ministeriais no tocante à repercussão havida em matéria de Registros Públicos. Interessado: Dr. Paulo Augusto Koslovski, d. Promotor de Justiça em atuação na Comarca de São João do Triunfo. CONSULTA N. 66/2014: 1. Trata-se de consulta formulada por meio de contato telefônico pelo Dr. Paulo Augusto Koslovski, d. Promotor de Justiça em atuação na Comarca de São João do Triunfo, em 11 de novembro de 2014, a respeito da necessidade de intervenção ministerial em ação de usucapião de imóvel rural sem registro e, sendo esse o caso, das repercussões no âmbito dos Registros Públicos a serem observadas pelo Parquet. É o que se cumpria relatar. Passa-se à manifestação. 2. Após pesquisa do tema na doutrina e na jurisprudência, encaminham-se as seguintes orientações. 1

2.1. A intervenção do Ministério Público nas ações de usucapião é considerada obrigatória, segundo o art. 944 do Código de Processo Civil 1. Entretanto, com os estudos sobre a racionalização da intervenção do MP no Processo Civil, a qual tem o objetivo de nortear a atuação institucional com viés ativo em prol de questões cuja repercussão e relevância social sejam marcadamente mais acentuadas, as causas precursoras da atuação do Parquet nas ações de usucapião - assim como em diversas outras demandas - foram analisadas em minúcias. Em excerto do Relatório elaborado pela Comissão para Racionalização da Intervenção do MP no Processo Civil do Conselho Nacional do Ministério Público é possível conferir a síntese das reflexões alcançadas e a delimitação conferida ao espaço de ingerência do Promotor de Justiça nas ações de usucapião: As causas em que se considera dispensável a intervenção do Ministério Público. A sugestão apresentada, em essência, sem ferir repita-se a independência funcional dos membros do Ministério Público, propugna a não-intervenção nas seguintes situações: (...) 1 Art. 944. Intervirá obrigatoriamente em todos os atos do processo o Ministério Público. 2

i) Ação de usucapião de imóvel regularmente registrado, ou de coisa móvel. Nas ações de usucapião de imóvel regularmente registrado, o interesse em obter o provimento jurisdicional para declaração do domínio é, sem dúvida, meramente individual e disponível ao autor. Nesse sentido, apesar da determinação legal de intervenção do Ministério Público estabelecida no art. 944 do Código de Processo Civil, tem-se que tal norma não restou recepcionada pela Constituição Federal de 1988, na medida em que é incompatível com as atuais funções institucionais do Ministério Público. Mais uma vez incide o princípio de que as normas da legislação infraconstitucional somente subsistem à nova ordem maior se com esta estiver em conformes. Na hipótese, o simples fato de exsurgir ação declaratória de domínio não é suficiente para determinar a intervenção, pois não há interesse público, interesse social ou interesse individual indisponível na mera alteração da titular idade de bem imóvel já registrado ou de bem móvel. Cumpre lembrar que a decisão judicial implica somente alteração na titulação da propriedade, conseqüência que pode ser alcançada em qualquer negócio jurídico (como a compra e venda de bem imóvel registrado) e onde não se cogita, por óbvio, da intervenção do Ministério Público, salvos se houver incapaz num dos pólos da relação processual. Poder-se-ia construir, contudo, que a justificativa estaria no fato de a ação respectiva ser direcionada contra todos, havendo interesse público em atenção à particular idade do processo. Todavia, não se pode esquecer que a ação de usucapião é tão somente declaratória de domínio, destinando-se o processo 3

apenas à verificação a respeito da presença, ou não, dos requisitos legais próprios ao juízo de declaração pertinente. O procedimento específico compreende e exige a citação pessoal do proprietário e de todos os confinantes - que são os diretamente interessados quanto ao imóvel -, não se justificando a intervenção do Ministério Público custos legis, ainda mais porque o direito de propriedade é disponível. Destarte, tão somente seria possível visualizar situação de intervenção ministerial na hipótese de o imóvel usucapiendo não ser registrado, haja vista o interesse social e também público em regularizar a propriedade e, muitas vezes, em verificar a existência de um loteamento irregular, até mesmo já consolidado de fato. Logo, a intervenção ministerial passa a ser facultativa se o imóvel possuir matrícula regular no registro imobiliário. Por outro lado, em se tratando de bem móvel, sinale-se que a lei não prevê rito especial, nem tampouco a intervenção do órgão ministerial. Vale lembrar que, até a instituição do rito sumário (Lei nº 9.245/95), o procedimento adotado era o sumaríssimo (artigo 275, inciso II, a, do Código de Processo Civil com a redação anterior). Por tais motivos, a jurisprudência vem entendendo desnecessária a intervenção do Ministério Público em hipóteses como as aqui versadas: Usucapião. Bem móvel. Rito sumaríssimo. Desnecessidade da intervenção do Ministério Publico. A dificuldade da apuração da vitima do furto do automóvel usucapiendo, para permitir sua citação pessoal, ante a adulteração do numero do chassi, e superável pela publicação de edital, na forma do art. 231, I, CPC, sem prejuízo do chamamento dos interessados certos, ou seja, aqueles que -ultimamente- mantiveram registrado o 4

veiculo em seus nomes. Sentença desconstituída. Apelo provido. (Grifou-se) Como resultado das conclusões obtidas pela Comissão foi editada a Recomendação n 16/2010 do Conselho Nacional do Ministério Público 2, que dispôs em seu art. 5, inc. XI, que: Art. 5º. Perfeitamente identificado o objeto da causa e respeitado o princípio da independência funcional, é desnecessária a intervenção ministerial nas seguintes demandas e hipóteses: (...) XI - Ação de usucapião de imóvel regularmente registrado, ou de coisa móvel, ressalvadas as hipóteses da Lei n 10.257, de 10 de julho de 2001; (Grifou-se). Em leitura do precitado dispositivo da Recomendação n 16/2010 do CNMP, observa-se a expressa ressalva de que a desnecessidade de intervenção do MP em ação de usucapião é restrita às demandas que versam sobre bem móvel e imóvel devidamente registrado. No Relatório da Comissão visualiza-se a justificativa para o tratamento distinto das ações de usucapião de bem imóvel sem registro. Entende a Comissão que, nesse caso, há destacado 2 Disponível no seguinte link: < http://www.cnmp.mp.br/portal/images/recomenda%c3%a7%c3%a3o_n%c2%ba_1 6._alterada_pelas_Recomenda%C3%A7%C3%B5es_ns%C2%BA_19_e_22.pdf> 5

interesse público e social na regularização da propriedade, bem como que é importante a averiguação de eventual loteamento irregular. Ao tratar do tema da intervenção cível com o fito de disciplinar a matéria no âmbito do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, a Comissão Especial responsável por apresentar proposta de otimização dos trabalhos institucionais naquele Estado esclareceu que o cerne dos fundamentos da obrigatoriedade de manifestação ministerial nas ações de usucapião é a segurança dos registros públicos, que se manifesta ululante nos casos de imóvel sem registro. Ademais, explica a Comissão formada no MPMG que a característica rural do imóvel objeto da ação de usucapião também enseja a participação do MP, ante a relevância da atuação institucional no campo do Direito Ambiental. Confira-se: A intervenção do Ministério Público na usucapião de bens imóveis está prevista no artigo 944 do CPC, e decorre da repercussão registrária que dela possa advir, porque, tratando-se de uma das formas de aquisição da propriedade imóvel, uma de suas conseqüências é o nascedouro de um novo registro imobiliário. Incumbindo-lhe zelar pela segurança dos registros públicos, deve o Ministério Público atuar toda vez que uma conseqüência registrária relevante se revelar. Indiscutível a importância dessa atuação, prevista expressamente na Lei de Registros Públicos (Lei n.º 6.015/73). 6

Todavia, nem toda usucapião trará alguma conseqüência registrária que implique o questionamento da segurança do registro público. Ao contrário da hipótese em que a área de que se pretende o domínio não possua nenhum registro (quer em nome do postulante, quer em nome de terceiros), quando se trata de área regularmente registrada (matriculada), a usucapião terá como conseqüência a mera transferência do domínio, como ocorre em todo registro de venda e compra de imóvel. Naquela hipótese (em que a área objeto da usucapião não possui registro), o Ministério Público deve atuar, principalmente, em razão da observância dos princípios registrários da disponibilidade e da continuidade, zelando para que o registro não recaia sobre área inexistente e, dessa forma, gere insegurança. Somente aí reside o interesse público e social relevante que justifica a intervenção ministerial. A obrigatoriedade de intervenção em todas as usucapiões, sem distinção, equivale a, nessa linha de raciocínio, obrigar o Ministério Público a atuar em todo ato que gere transmissão da propriedade de bem imóvel, no qual o interesse é meramente patrimonial das partes envolvidas. Obrigar o Promotor de Justiça a intervir em todas as ações de usucapião, apenas para verificar a regularidade das citações, da descrição do imóvel, como um verdadeiro auxiliar do Juiz, importa em atuação que não condiz com o atual perfil do Ministério Público modelado pela Carta Magna. Por essas razões, sugere-se facultar ao Promotor de Justiça deixar de manifestar-se nas ações individuais de usucapião de imóvel já regular e individualizadamente registrado em nome de terceiro, permanecendo a obrigatoriedade de manifestação nas hipóteses que envolvam parcelamento de solo para fins 7

urbanos ou rurais, bem como naquelas em que o imóvel se encontre inserido em área maior devidamente registrada em nome de terceiro. A intervenção nos casos que envolvam parcelamento ilegal do solo, por óbvio, encerra nítido interesse difuso. Em se tratando de parcelamento de solo urbano, o interesse se acha no campo urbanístico; em se tratando de solo rural, o interesse se revela no âmbito do meio ambiente (observância da reserva legal prevista na Lei n.º 4.771/65). (Grifou-se). Portanto, respeitada a independência funcional o d. Promotor de Justiça, acredita-se que a atuação do Parquet nas ações de usucapião de imóvel rural sem registro é obrigatória. 2.2. Quanto às implicações da matéria de Registros Públicos nas ações de usucapião de imóvel rural sem registro, cumpre tecer os seguintes comentários. Em exame da Lei n 6.015/73, afere-se que o diploma de Registros Públicos cuidou de disciplinar a atividade registral havida após a sentença declaratória de usucapião nos arts. 167, inc. I, n 28, 225 e 226. O art. 167, inc. I, n 28, estabelece que as sentenças declaratórias de usucapião serão anotadas no Registro de Imóveis. Tal diretriz normativa deve ser lida em conjunto com o art. 176, caput e 1, inc. I, que destina o Livro n 2 Registro Geral para as matrículas dos 8

imóveis e o registro ou averbação dos atos mencionados no art. 167 (dentro eles, a sentença de usucapião) e estipula que cada imóvel terá matrícula própria, que será aberta por ocasião do primeiro registro. Referidos dispositivos guardam correlação direta com o art. 945 do CPC, o qual prevê que a sentença, que julgar procedente a ação, será transcrita, mediante mandado, no registro de imóveis, satisfeitas as obrigações fiscais. Afinado ao sobredito comando do CPC, o art. 226 da Lei n 6.015/73 vai mais além, estabelecendo que no caso de usucapião os requisitos da matrícula devem constar no mandado judicial. Carlos Marcato 3 : De modo semelhante, esclarece a doutrina de Antonio Com efeito, prescreve o art. 167, I, n 28, da Lei n 6.015/73 (Lei de Registros Públicos) que no Registro de Imóveis, além da matrícula, será feito o registro: das sentenças declaratórias de usucapião. Para tanto, deverão, da sentença de usucapião, constar todos os dados sobre o imóvel, a fim de viabilizar esse registro, conforme dispõe ainda o art. 226 da mesma lei: Tratando-se de usucapião, os requisitos da matrícula devem constar no mandado judicial. O registro da propriedade a ser feito será a título originário, ficando sem efeito os registros anteriores, que inclusive poderão deixar de constar em futuras certidões 3 MARCATO, Antonio Carlos. Código de Processo Civil Interpretado. São Paulo: Atlas, 2ª ed., 2005, p. 2521. 9

de propriedade, a serem expedidas pelo cartório a respeito do imóvel objeto do usucapião (ver RF 121/74). Assim, o registro da sentença constituirá o elemento base necessário para que se façam os registros das alterações posteriores, que comporão os elos da cadeia registral. (Destacou-se). Considerando o teor das regras mencionadas até aqui e o reforço doutrinário, pode-se afirmar que, sendo procedente a ação de usucapião, a sentença declaratória deverá ser registrada no Registro de Imóveis, mediante a expedição de mandado judicial contendo todos os requisitos para a abertura da matrícula. Devido à importância de o mandado judicial de registro da sentença declaratória de usucapião conter todas as informações necessárias para a abertura da matrícula no Registro de Imóveis em obediência ao princípio da especialidade dos Registros Públicos -, o art. 225, caput, da Lei n 6.015/73 prescreve que: Art. 225 - Os tabeliães, escrivães e juízes farão com que, nas escrituras e nos autos judiciais, as partes indiquem, com precisão, os característicos, as confrontações e as localizações dos imóveis, mencionando os nomes dos confrontantes e, ainda, quando se tratar só de terreno, se esse fica do lado par ou do lado ímpar do logradouro, em que quadra e a que distância métrica da edificação ou da esquina mais próxima, exigindo dos interessados certidão do registro imobiliário. (Destacou-se). 10

Especificamente em relação aos imóveis rurais, o art. 225, 3, da Lei n 6.015/73 exige que os limites e as confrontações dos bens sejam obtidos a partir de memorial descritivo georreferenciado: 3 Nos autos judiciais que versem sobre imóveis rurais, a localização, os limites e as confrontações serão obtidos a partir de memorial descritivo assinado por profissional habilitado e com a devida Anotação de Responsabilidade Técnica ART, contendo as coordenadas dos vértices definidores dos limites dos imóveis rurais, georeferenciadas ao Sistema Geodésico Brasileiro e com precisão posicional a ser fixada pelo INCRA, garantida a isenção de custos financeiros aos proprietários de imóveis rurais cuja somatória da área não exceda a quatro módulos fiscais. (Grifou-se). Diante dessa exigência legal, o Superior Tribunal de Justiça já decidiu que a parte interessada na ação de usucapião de imóvel rural deve apresentar memorial descritivo georreferenciado, para efeito de registro público decorrente da sentença de procedência: DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. REGISTROS PÚBLICOS. AÇÃO DE USUCAPIÃO. IMÓVEL RURAL. INDIVIDUALIZAÇÃO. MEMORIAL DESCRITIVO GEORREFERENCIADO. NECESSIDADE. LEIS 6.015/1973 E 10.267/2001. 1- O princípio da especialidade impõe que o imóvel, para efeito de registro público, seja plenamente 11

identificado, a partir de indicações exatas de suas medidas, características e confrontações. 2- Cabe às partes, tratando-se de ação que versa sobre imóvel rural, informar com precisão os dados individualizadores do bem, mediante apresentação de memorial descritivo que contenha as coordenadas dos vértices definidores de seus limites, georreferenciadas ao Sistema Geodésico Brasileiro. Inteligência do art. 225, caput e 3, da Lei n. 6.015/1973. 3- Recurso especial provido. (STJ - REsp 1123850/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/05/2013, DJe 27/05/2013). (Grifouse). Os requisitos do memorial descritivo georreferenciado estão previstos no art. 9 e seguintes do Decreto n 4.449/02 4. No art. 9, 1, do precitado Decreto consta que cabe ao INCRA certificar que a poligonal objeto do memorial descritivo não se sobrepõe a nenhuma outra constante de seu cadastro 4 Art. 9 o A identificação do imóvel rural, na forma do 3 o do art. 176 e do 3 o do art. 225 da Lei n o 6.015, de 1973, será obtida a partir de memorial descritivo elaborado, executado e assinado por profissional habilitado e com a devida Anotação de Responsabilidade Técnica - ART, contendo as coordenadas dos vértices definidores dos limites dos imóveis rurais, georreferenciadas ao Sistema Geodésico Brasileiro, e com precisão posicional a ser estabelecida em ato normativo, inclusive em manual técnico, expedido pelo INCRA. 1 o Caberá ao INCRA certificar que a poligonal objeto do memorial descritivo não se sobrepõe a nenhuma outra constante de seu cadastro georreferenciado e que o memorial atende às exigências técnicas, conforme ato normativo próprio. 2 o A certificação do memorial descritivo pelo INCRA não implicará reconhecimento do domínio ou a exatidão dos limites e confrontações indicados pelo proprietário. (...) (Destacou-se). 12

georreferenciado e que o memorial atende às exigências técnicas, conforme ato normativo próprio. Acerca do comando legal de certificação do memorial descritivo georreferenciado pelo INCRA, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo já decidiu que a chancela do Instituto deve ocorrer antes do ingresso da sentença no registro imobiliário: REGISTRO DE IMÓVEIS Sentença de Usucapião Art. 225 p. 3º da Lei dos Registros Públicos Georreferenciamento Necessidade de certificação técnica do INCRA antes do ingresso do título no registro imobiliário Recurso não provido. (TJSP Apelação Cível n 0000002-95.2011.8.26.0450, Rel. José Renato Nalini, julgado em 13 de dezembro de 2012). (Grifou-se). No art. 2 do Decreto n 5.570/05, que alterou dispositivos do Decreto n 4.449/02, confere-se que a exigência do memorial descritivo georreferenciado previsto no art. 225, 3, da Lei de Registros Públicos, é imediata. Desse modo, acredita-se que nas ações de usucapião de imóvel rural o memorial descrito georreferenciado é documento indispensável à propositura da demanda (cf. art. 283 do CPC), bem como que o registro da sentença declaratória depende de prévia certificação do documento pelo INCRA. 13

Não se olvida, certamente, que também há necessidade de cumprimento da regra geral do art. 942 do CPC, o qual determina a apresentação de planta do imóvel acostada à exordial. 2.3. Cumpre informar que no caso específico de imóvel rural, a sentença declaratória de usucapião deve conter mandamento de intimação do INCRA, para fins de cadastramento do imóvel, conforme preceitua o art. 3 do Decreto n 4.449/02, o art. 22, 5, da Lei n 4.947/66 e os itens n 2.8.9 e 5.4.6 do Código de Normas da Corregedoria-Geral da Justiça do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná - Foro Judicial. Nota-se que o art. 3, 1, do Decreto n 4.449/02 esclarece que é possível imprimir celeridade ao processo de cadastramento do imóvel rural por meio da descrição do bem no mandado de intimação do INCRA conforme exposto no memorial descritivo georreferenciado, reforçando a importância do documento na ação de usucapião. Ademais, parece-se relevante pontuar que a conferência das características do imóvel, por meio da planta e do memorial descrito georreferenciado, também é importante para o computo do percentual da área de reserva legal na propriedade rural, cuja amplitude é identifica a partir da metragem do imóvel. 14

2.4. Acrescenta-se, no tocante à fase probatória da ação de usucapião, pertinente lição do Dr. Luiz Antonio Orlando 5, d. Promotor de Justiça de Registros Públicos do Ministério Público do Estado de São de Paulo, na qual o Parquet ensina que o exame pericial do imóvel é adequado quando o bem não estiver suficientemente caracterizado nos autos ou houver impugnação dos documentos trazidos pela parte requerente. Segundo o autor, eventuais controvérsias a respeito da posse sustentada pela parte autora, sobretudo se contestadas, podem ser dirimidas mediante a produção de prova oral em audiência de instrução e julgamento. Porém, não há óbice para o julgamento antecipado do feito. 2.5. Por fim, muito embora o mérito da ação de usucapião não seja objeto da dúvida apresentada pelo consulente, citase que este Centro de Apoio já se debruçou sobre o tema das ações de usucapião de imóvel sem registro na Consulta n 36/2013, disponível, caso haja interesse na leitura, no seguinte link: < http://www.civel.mppr.mp.br/arquivos/file/consulta_36_wenceslau_br az_usucapiao_municipio_praca_publica_imovel_sem_registro.pdf>. 3. Diante do questionamento formulado, são esses, em tese, os esclarecimentos que se entendem pertinentes. 5 ORLANDO, Luiz Antonio. Primeira Parte, Usucapião. Disponível no seguinte link: < http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/civel_geral/registros_publicos/diverso s_registros/roteiro%20pr%c3%a1tico%20de%20registros%20p%c3%bablicos%20- %20Luiz%20Orlando.htm> 15

Espera-se que o material e as reflexões encaminhadas auxiliem na condução dos feitos sob a apreciação do consulente, ressaltando-se que este Centro de Apoio permanece à disposição para quaisquer esclarecimentos ou dúvidas que possam surgir. Curitiba, 20 de novembro de 2014. Terezinha de Jesus Souza Signorini Procuradora de Justiça - Coordenadora Samantha K. Muniz Assessoria Jurídica Maria Clara de Almeida Barreira Assessoria Jurídica 16