V-Pasqualetto-Brasil-5 CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DOMÉSTICOS DO MUNICÍPIO DE CALDAS NOVAS GO Antônio Pasqualetto 1 Engenheiro Agrônomo formado pela UFSM, Mestre e Doutor em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa, professor da Universidade Católica de Goiás e do Centro Federal de Educação Tecnológica de Goiás. Heber da Fonseca Andrade Engenheiro Ambiental Marcelo Lemos do Prado Engenheiro Ambiental Giuliano Pompeu Rios de Pina Biólogo e Engenheiro Agrônomo, Perito Ambiental do Ministério Público de Goiás Endereço (1): Centro Federal de Educação Tecnológica CEFET Goiás. Rua 75, nº 46, Centro CEP 74055-110; Goiânia, Goiás, Brasil. TEL: 55(0xx62)212-5050; FAX: 55(0xx62)213-1451; Fone: (55) (0xx62) 32245500 ou 92443942; pasqualetto@cefetgo.br Universidade Católica de Goiás - UCG, Departamento de Engenharia, Av. Universitária, 1440, setor universitário, CEP 74605-010, Goiânia, Goiás, Brasil. Telefax 55(0xx62)39461179. pasqualetto@ucg.br RESUMO O trabalho teve por finalidade a caracterização quantitativa dos resíduos sólidos da cidade de Caldas Novas, visando a reativação da Usina de Triagem localizada na área de disposição final do município, levando em consideração a alta quantidade de resíduos sólidos gerados na cidade e o potencial de material reciclável existente no lixo produzido. A reativação da usina é necessária e viável ambientalmente e socialmente saudável. Palavras chave: Resíduos sólidos urbanos, caracterização física, Caldas Novas/GO 1 INTRODUÇÃO O município de Caldas Novas localiza-se na região sul do Estado de Goiás, à 167 Km da Capital Goiânia, abrangendo uma área de 1.594,7 Km², com altitude de 640m do nível do mar. Encontra-se na Bacia Hidrográfica do Rio Meia Ponte, sub-bacia do Rio Pirapitinga, limitando-se com os municípios de Santa Cruz de Goiás, Pires do Rio, Ipameri, Corumbaíba, Marzagão, Rio Quente, Morrinhos e Piracanjuba. As características climáticas correspondem ao clima tropical chuvoso de savana, quente e úmido, com chuvas de verão, com umidade relativa média de 68% e com temperatura média anual de 23º C podendo atingir mínima de 15º C nos meses secos e máxima de 35º C nos meses chuvosos. A pluviosidade média anual é da ordem de 1.500 mm com as precipitações concentrando-se no período de outubro a março e a estação seca no período de abril a setembro (GOIÁS, 2001). Censo de Caldas Novas em 2000 indicou, população fixa de 49.642 habitantes, entretanto, calcula-se atualmente um número aproximado de 60.000 habitantes (CALDAS NOVAS, 2004). A média de lixo gerado no município é de aproximadamente 60 t/dia em períodos normais e 80 t/dia em períodos de temporada (BARBOSA et al., 2002). Este fato ocorre devido Caldas Novas ser uma cidade potencialmente turística que possui papel de fundamental importância econômica e atrativa para o estado de Goiás e para o país, pois as cidades de Caldas Novas e Rio Quente, a Pousada do Rio Quente e a Lagoa do Pirapitinga são os principais pontos turísticos da região formando o mais importante pólo turístico do Estado de Goiás, conhecido nacionalmente e internacionalmente como um dos maiores volume de águas termais do mundo. (GOIÁS, 2001),
2 com infraestrutura capaz de receber cerca de um milhão de turistas ao ano (AMARAL, 2003) 1. Nos períodos de feriados e na temporada a cidade experimenta sensível aumento de população (população flutuante), alcançando até 200.000 habitantes ou mais (CALDAS NOVAS, 2004). Portanto, considerando que a cidade de Caldas Novas é um pólo turístico mundial no que se refere a águas termais, deve ser levado em consideração às características diferenciadas dos resíduos gerados pelo município nestas condições. As características do lixo podem variar em função de aspectos sociais, econômicos, culturais, geográficos e climáticos, ou seja, os mesmos fatores que também diferenciam a comunidades entre si e as próprias cidades (MONTEIRO et al., 2001). Segundo Barros (1999) a gestão integrada dos resíduos sólidos municipais é imprescindível para a obtenção e manutenção de boa qualidade de vida das comunidades, técnicas de tratamento, eliminação e de valorização das frações recicláveis contidas no lixo urbano, além da educação ambiental como balizamento e suporte a todas as ações a serem implementadas, são instrumentos eficientes nesta gestão. A caracterização dos resíduos constitui assim importante instrumento de gestão, devendo ser, em cada caso, adaptada e ajustada aos objetivos gerais e/ou específicos a que pretende dar reposta (LIPOR, 2000). Neste sentido o estudo foi focado na caracterização e quantificação dos resíduos sólidos domésticos da Cidade de Caldas Novas-GO avaliando seu potencial de aproveitamento, propondo a reativação da Usina de Triagem do município com vistas na melhoria do sistema de disposição final do lixo e nas condições de trabalho e na qualidade de vida dos catadores, oferecendo ao município de Caldas Novas subsídios para melhoria do sistema de serviços de limpeza urbana e na implantação do plano de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos (PIGRSU) no município, alertando as autoridades públicas para os problemas e conseqüências atuais e futuras acarretados pela má administração do lixo urbano no município. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Os sistemas de limpeza urbana são de competência municipal sendo de responsabilidade da prefeitura o lixo Domiciliar, Comercial e Público (varrição, capina, poda, e outros) e de responsabilidade do gerador os resíduos dos serviços de saúde, Industrial, Portos, Aeroportos, e terminais ferroviários e rodoviários, agrícola e entulho (PRANDINI et al., 1995). Os resíduos sólidos de origem urbana (RSU) compreendem aqueles produzidos pelas inúmeras atividades desenvolvidas em áreas com aglomerações humanas do município. Dentre os vários RSU gerados, são normalmente encaminhados para a disposição final sob responsabilidade poder municipal os resíduos de origem domiciliar ou aqueles com características similares, como os comerciais, e os resíduos da limpeza pública e até mesmo os resíduos hospitalares, que são de responsabilidade do próprio gerador mas o município acaba assumindo esta responsabilidade. Integram o sistema de limpeza urbana as etapas de geração, acondicionamento, coleta, transporte, transferência, tratamento e disposição final dos resíduos sólido, além da limpeza de logradouros públicos. (MONTEIRO et al., 2001). É certo que os serviços de limpeza urbana na maioria dos municípios brasileiros são deficientes e de incompetência generalizada, mas nota-se cada vez mais algum interesse, mesmo que insignificante em relação a magnitude dos problemas, por parte de alguns municípios. Segundo Monteiro et. al.(2001) A coleta do lixo é o segmento que mais se tem desenvolvido dentro do sistema de limpeza urbana e o que apresenta maior abrangência de atendimento junto à população, ao mesmo tempo em que é a atividade do sistema que demanda maior percentual de recursos por parte da municipalidade., porém devemos destacar a total ingerência e irresponsabilidade dos municípios por parte da disposição final do lixo urbano. Lançado em qualquer lugar ou inadequadamente tratado e disposto, o lixo é uma fonte dificilmente igualável de proliferação de insetos e roedores, com os conseqüentes riscos para a saúde pública que daí derivam, além de ser causa também de incômodos estéticos e de mau cheiro. (BRAGA, 2002). Campos citado por Oliveira (1997) afirma que, diagnosticando a situação dos resíduos sólidos no Brasil, alerta para a situação agravante que se encontra os cerca de 4.000
3 lixões espalhados por todo o País, causando uma série de prejuízos ambientais, sociais e para a saúde pública. São 241.614 toneladas de resíduos sólidos urbanos produzidos diariamente no Brasil, onde cerca de 90.000 toneladas por dia são de resíduos sólidos domésticos (algo em torno de 32 milhões de toneladas por ano) dispostos, a maioria, a céu aberto (PRANDINI et al.,1995). A disposição final e o tratamento dos resíduos sólidos urbanos no Brasil, conforme Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE (1991), era: 76% em céu aberto (lixão); 13% aterro controlado (lixão controlado); 10% aterro sanitário; 0,9% usina de compostagem; 0,1% usina de incineração. Ferreira (1994) cita que a taxa média de geração dos resíduos sólidos domiciliares em áreas urbanas é de, aproximadamente, 0,5kg por pessoa por dia em países subdesenvolvidos; na cidade de São Paulo a média é de 1,0 kg/pessoa por dia. Em países desenvolvidos pode chegar a 2,0 kg/pessoa por dia. Caldas Novas tem uma projeção nada diferente de outros lugares do planeta, se considerarmos que temos aproximadamente 60.000 habitantes, sendo que nos períodos de feriados e na temporada a cidade experimenta sensível aumento de população (população flutuante), alcançando até 200.000 habitantes ou mais (CALDAS NOVAS, 2004), cada um gerando em média de 1,0 Kg de lixo que é muito acima da média nacional de 0,6 Kg/hab/dia deparamos com uma fonte problemática alarmante, pois o município não possui nenhum tipo de tratamento adequado para o lixo (BARBOSA et al., 2002). Em Caldas Novas em períodos de férias escolares e temporadas turísticas a produção de lixo na cidade aumenta em média de 60 t/dia para 80t/dia (BARBOSA, 2002), provocando mudanças nas características dos resíduos produzidos. Caracterizar os resíduos sólidos urbanos de um município, ou determinar a composição física dos resíduos produzidos por uma população, é tarefa árdua, mas de primordial importância para qualquer projeto na área de resíduos sólidos (GOMES, citado por Oliveira, 1997). Gomes, verificou que os resultados obtidos na caracterização dos resíduos sólidos urbanos de um município, poderão ser comparados com os de outro local, ou até mesmo servirem como base para comunidades onde ainda não se tenha realizado esta caracterização, sendo que a utilização da composição física dos resíduos de outra cidade, só é válida quando as populações, e os próprios municípios, possuírem características muito semelhantes. Ainda assim, a autora recomenda que se utilize estes dados, copiados, em uma fase preliminar, partindo-se posteriormente para a caracterização dos resíduos sólidos da cidade e somente depois, de posse destes resultados, é que se deve dar continuidade ao projeto. Dos grupos de características, o mais importante é o das características físicas, uma vez que, sem o seu conhecimento, é praticamente impossível se efetuar a gestão adequada dos serviços de limpeza urbana (Monteiro et al., 2001). De acordo com Prandini et al. (1995) Os parâmetros físicos são expressos pelas características como umidade, densidade e poder calorífico, e a composição física do lixo municipal é obtida através da análise do percentual de seus componentes mais comuns, tais como: vidro, plástico, metais, papel, matéria orgânica e etc. CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS. A Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT - (1987) editou um conjunto de normas para padronizar nacionalmente a classificação dos resíduos: NBR 10004 Resíduos Sólidos Classificação NBR 10005 Lixiviação de Resíduos Procedimento NBR 10006 Solubilização de Resíduos Procedimento NBR 10007 Amostragem de Resíduos Procedimento A NBR 10.004, define resíduos sólidos como "resíduos nos estados sólidos e semi-sólidos, que resultam de atividades da comunidade de origem: urbana, agrícola, radioativa e outros (perigosos e/ou tóxicos). Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável seu lançamento na rede pública de esgoto ou corpos d água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis, em face à melhor tecnologia disponível".
4 Quanto aos riscos potenciais de contaminação do meio ambiente: de acordo com a norma NBR 10.004 - ABNT (1987), os resíduos sólidos são classificados em três categorias: resíduos da classe I (perigosos); Classe II (não inertes) e classe III (inertes Quanto a natureza e origem: a Associação de Normas Técnicas (ABNT) Classifica os resíduos quanto a natureza (residencial, comercial, oúblico, domiciliar especial e fontes especiais e origem associado a natureza CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS, NBR 10.004 (ABNT, 1987). Físicas: os resíduos podem ser classificados fisicamente em Geração per capta; Composição gravimétrica; Peso específico aparente; Teor de umidade e compressividade. Químicas: os resíduos podem ser classificados quimicamente em Poder calorífico; Potencial hidrogeniônico (ph); Composição química; Relação carbono/nitrogênio (C:N) Biológicas:As características biológicas do lixo são aquelas determinadas pela população microbiana e dos agentes patogênicos presentes no lixo que, ao lado das suas características químicas, permitem que sejam selecionados,métodos de tratamento e disposição final mais adequados. RECICLAGEM Entre as alternativas de tratamento ou redução dos resíduos sólidos urbanos, a reciclagem é aquela que desperta o maior interesse na população, principalmente por seu forte apelo ambiental. (Monteiro et al., 2001) e geração de recursos a famílias de baixa renda. Caldas Novas possui suas instalações de triagem e reciclagem localizadas na própria área do aterro, propiciando maior facilidade de operação. Segundo Braga (2002) As estações de triagem, comumente situadas no próprio transbordo ou junto à área de disposição e tratamento, são necessárias para tornar o lixo mais homogeneamente biodegradável, além de possibilitarem alguma recuperação e reciclagem de materiais aproveitáveis coletados junto com o lixo. Porém toda instalação está abandonada sem cumprir de fato o seu papel. Sociedade Goiana de Cultura (1997), comenta que deve-se reconhecer que os resíduos sólidos descartados pelo mercado de consumo, em escala muitas vezes maiores do que a administração pública poderia pretender para poder gerí-los com eficiência, são fontes de riqueza. Assim os diversos tipos de materiais e suas variadas possibilidades de classificação, para atingir em estágios seguintes, a sua industrialização plena ou parcial, ou no mínimo, seu preparo para o consumo a pleno mercado, estabelece-se a agregação de valores aos materiais recuperados, ampliando-se a renda dos segmentos populacionais envolvidos. CEMPRE (2004) cita os principais materiais descartados no lixo, sua composição, seu potencial reciclável e o mercado para os produtos reciclados. GERENCIAMENTO INTEGRADO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS GIRSU Uma das atividades do saneamento ambiental municipal é a gestão e o gerenciamento integrado de resíduos sólidos urbanos (GIRSU), tendo por objetivo principal propiciar a melhoria ou a manutenção da saúde, isto é, o bem estar físico, social e mental da comunidade. Gerenciar o lixo municipal de forma integrada significa limpar o município (com um sistema de coleta e transporte adequado) e tratar o lixo utilizando as tecnologias mais compatíveis com a realidade local, dando destino final ambientalmente seguro, tanto no presente como no futuro de acordo com um conjunto articulado de ações normativas, operacionais, financeiras e de planejamento, que uma administração municipal desenvolve, baseado em critérios sanitários, ambientais e econômicos para coletar, tratar e dispor o lixo da sua cidade. (PRANDINI et al.,1995). Segundo Luna Filho (2001) O gerenciamento integrado dos serviços de coleta pública e disposição dos resíduos sólidos deve ser desenvolvido segundo as exigências de controle ambiental na área urbana e da gestão sustentável de recursos ambientais naturais, como mananciais hídricos de superfície e aqüíferos subterrâneos; e buscar adequar as ações administrativas em saneamento e saúde coletiva, afetadas pela disposição do lixo gerado no município, afirma ainda que uma proposta de gerenciamento integrado para coleta pública e disposição dos resíduos sólidos urbanos municipais deve estimular o envolvimento da comunidade
5 destinatária dessas ações, na discussão de propostas de planejamento e gestão das soluções a serem implementadas. A disseminação e consolidação da conscientização comunitária a respeito dos princípios básicos orientadores da gestão e disposição de resíduos sólidos urbanos deve ser buscada, como meta da administração municipal. Assim, o princípio dos três R s (reduzir, reutilizar, reciclar) deve ser assumido como meta para planejamento e gestão da coleta pública e disposição municipal dos resíduos sólidos. (LUNA FILHO, 2001). De acordo com o Ministério do Meio Ambiente citado por Oliveira (1997) o plano de gerenciamento é um documento que apresenta a situação atual do sistema de limpeza urbana, com a pré-seleção das alternativas mais viáveis, com o estabelecimento de ações integradas e diretrizes sob os aspectos ambientais, econômicos, financeiros, administrativos, técnicos, sociais, e legais para todas as fases de gestão dos Resíduos Sólidos, desde a sua geração até a destinação final. METODOLOGIA A caracterização concentrou-se nos Resíduos Sólidos dos tipos domésticos e comercial constituindo o chamado lixo domiciliar (classe I e II). As amostragens foram realizadas nos dias 28/04 às 06:00 h e 29/04 às 12:00 h. As datas foram escolhidas pelos seguintes fatores: Baixo fluxo turístico na cidade durante as datas de 25 à 29 de abril; Término do período chuvoso, que vai de outubro à março, período este que se estendeu até o início do mês de abril neste ano. Os setores representativos foram selecionados de acordo com o nível sócio econômico, os dias e horários de coleta, concentração populacional e pela origem dos resíduos abrangendo 30% da população de Caldas Novas: Itanhangá I/Centro; Nova Vila/ Jd Roma; Centro. Os trabalhos de amostragem e caracterização física foram realizadas na área de disposição final de Resíduos Sólidos, localizado na zona rural do município de Caldas Novas, utilizando a técnica de quarteamento. A cidade de Caldas Novas experimenta sensível aumento de população (população flutuante) em todo ano principalmente em períodos de férias prolongadas, mas também há épocas do ano de notável diminuição no fluxo de turistas, sendo este número desprezível na contribuição de resíduos na cidade. Portanto procurou-se ao máximo evitar distorções de sazonalidade como: Coleta de amostras feitas em uma quarta e quinta-feira, pois Monteiro et al.(2001) descreve que a coleta de amostras, assim como a medição do lixo encaminhado ao aterro, jamais deve ser realizado num domingo ou numa segunda-feira. Preferencialmente as medições devem ser feitas de terça à quinta-feira para evitar distorções de sazonalidade. Escolheu-se uma data de baixo fluxo de turistas na cidade, pois Monteiro et al. (2001) afirma que em cidades turísticas, jamais deve-se efetuar a coleta de amostras em períodos de férias escolares ou de feriados. Feriados e períodos de férias escolares influenciarão a quantidade de lixo gerada em cidades turísticas. Foram determinados o peso específico aparente (kg/m 3 ), a geração percapta (kg/hab.dia) e a composição gravimétrica (Os resíduos foram separados em Papel/papelão, Metal (Alumínio, Ferroso e não ferroso) Plásticos, Vidro, Têxteis, Matéria orgânica e Outros. Foram classificados como outros todo o material que não se enquadrou na lista dos componentes. RESULTADOS E DISCUSSÃO A geração percapta foi de 0,72 Kg/hab.dia. O peso específico aparente foi respectivamente para cada bairro : Itanhangá/Centro = 217,9 kg/m³; Nova Vila/Jd Roma = 225,4 kg/m³; Centro = 201,8 kg/m³ Com relação aos resultados da composição dos resíduos Sólidos Urbanos Domiciliares do município de Caldas Novas (Quadro 1), as porcentagens em peso foram identificadas e observouse o seguinte: A porcentagem média de matéria orgânica encontrada foi de 58,61%, ou seja, 1,39% a menos que a média nacional de 60% (MONTEIRO et al., 2001). Apesar de ser diferença aproximada, justifica-se pois efetuou-se a caracterização em setores de nível sócio econômico
6 média e alta de origem residencial/comercial. São populações que produzem baixa quantidade de matéria orgânica. Observou-se aumento considerável na quantidade de matéria orgânica no setor Central considerado de origem comercial, devido ao horário de coleta ter sido efetuado no período matutino, chegando ao Lixão para a retirada das amostras por volta das 11:50 h, este aumento deve-se por haver vários restaurantes no setor Central de Caldas Novas. A porcentagem média de papel/papelão encontrada, foi de 13,36%, ou seja, 11,64% a menos que a média nacional (MONTEIRO et al., 2001). Observou-se que nos setores Itanhangá/Centro (residencial/comercial) e Setor Central (comercial) foram as maiores taxas 17,44% e 17,59% respectivamente, por serem setores de origem comercial e residencial de classe alta onde prevalece o consumo de mercadorias com embalagens desta origem em Caldas Novas. A porcentagem de metal encontrada foi de 2,14%, 1,86% a menos que a média nacional de 4% (MONTEIRO et al., 2001). A pequena quantidade percentual de metais na caracterização deve-se a presença de catadores em Caldas Novas motivados pela grande quantidade de embalagens e materiais de alumínio (Al) descartados em logradouros públicos e no lixo doméstico durante períodos de movimentação turística, que mesmo em épocas de baixo fluxo de turistas, esses catadores mantém suas atividades diariamente, reduzindo o volume desses materiais aos caminhões que transportam os resíduos ao Lixão. A porcentagem de plástico foi de 12,76%, 9,76% maior que a média nacional indicada por Monteiro et al. (2001) de 3%. Quadro 1 : Resultados da Composição Física dos R.S.U.D. de Caldas Novas. SETORES AMOSTRAS (KG) MAT.ORG. PAPEL/ PAPELÃO METAL PLÁSTICO (%) VIDRO TEXTEIS OUTROS 44,5 Al: 0,14 38,2 Itanhangá/ 43,5 52,12 17,44 M.F.: 0,95 15,10 1,56 1,97 10,50 Centro 46,5 45,2 M.N.F.:0,29 = 217,9 46,3 Al: 0,02 40,7 Nova Vila/ 46,7 59,40 5,05 M.F.: 1,56 14,19 2,12 1,77 14,86 Jd Roma 43,3 48,4 M.N.F.:1,01 = 225,4 36,5 Al: 0,39 41,0 Centro 39,7 64,32 17,59 M.F.: 1,49 9,01 1,19 4,56 4,56 35,6 49,0 M.N.F.:0,59 = 201,8 MÉDIA 215,0 58, 61 13,36 2,14 12,76 1,62 2,76 9,97 GERAL Al: Alumínio; MF: Metal Ferroso; MNF: Metal não Ferroso Caldas Novas é grande consumidor de produtos com embalagens de alumínio(al) e principalmente de embalagens plásticas, destacando as PET e outros desta origem, garantindo a principal fonte de renda para os catadores do Lixão, pois são os únicos coletores deste material na cidade justificando a alta porcentagem de plásticos. No setor Itanhagá/Centro, setores de origem residencial/comercial de alto nível sócio econômico foi a maior fração de plásticos verificada. Barros (1999) afirma que a medida que o nível de renda de uma comunidade cresce, percebe-se um
7 aumento na quantidade de papéis e de pláticos(hoje os principais formas de embalagens) transformadas em lixo. A porcentagem de vidro foi de 1,62%, 1,38 a menos que a média nacional relatada por Monteiro et al. (2001) que é de 3%. A população está cada vez mais consumindo produtos com embalagens de plástico e papelão, as próprias indústrias estão substituindo as embalagens de vidro por estes produtos. As embalagens Longa vida é um exemplo desta mudança. A porcentagem de outros foi de 9,97%, 4,03% a menos que a média nacional, que segundo Oliveira (1997) é 5%. Neste componente a porcentagem depende muito do que é considerado como outros (OLIVEIRA, 1997), neste caso foram considerados pneus, material higiênico, resíduos perigosos (classe I), materiais de difícil identificação, etc. Foi verificado que no setor Centro, a quantidade de outros foi bem maior que nos outros setores, isto devido ser de origem comercial, gerando maior índice de resíduos do tipo plástico e papel/papelão. Comparando os resultados de Caldas Novas com a cidade de Botucatu-SP e do Brasil (Figura 1), nota-se que a taxa média de resíduos do tipo plástico e Papel/papelão gerados em Caldas Novas, possui percentual elevado, verificando o potencial de resíduos recicláveis produzidos na cidade. Caldas Novas lança em média 60 t/dia de resíduos sólidos em períodos de fluxo normal, no Lixão. A usina de triagem comporta aproximadamente 30% do total de lixo gerado, em média 18 t/dia, ou seja, dois caminhões com capacidade média de 9 t por dia. Os setores avaliados contribuem com 21,5% dos resíduos gerados na cidade cerca de 15,36 t/dia, logo estes por si só supririam a demanda da usina de triagem. Figura 1 - Composição Física Média de Caldas Novas-GO, Botucatu-SP e do Brasil. De acordo com Sociedade Goiana de Cultura (1997) sendo implementada com eficiência, a triagem manual proporcionará a recuperação de materiais inertes componentes do lixo urbano em até 12% do peso total de lixo bruto. A Usina de Triagem de Caldas Novas comporta em operação 18 t/dia de resíduo bruto, portanto seu aproveitamento será de 2,1 t/dia podendo atingir satisfatoriamente uma quantidade superior a este valor devido ao potencial reciclável contido no lixo domiciliar da cidade. Caldas Novas é um município com características peculiares, sua economia gira em torno da atividade turística, com hábitos de consumo diferenciados, conseqüentemente a geração
8 de resíduos se destaca pela quantidade de materiais recicláveis que são lançados na área de disposição final de resíduos sólidos do município. São 28,26% de papel/papelão, plásticos e metais do total gerado, contra 19,83% de Botucatu e 32% da brasileira. Portanto a Usina de Triagem, se reativada, cooperará para melhor tratamento e aproveitamento desses resíduos, sendo destinados ao Lixão apenas os rejeitos da usina de triagem aumentando assim sua vida útil. A implantação de um programa de gerenciamento dos resíduos sólidos em Caldas Novas é uma questão que deve ser levada como prioridade na gestão pública. A reativação e o redimensionamento da Usina de Triagem poderá ser o primeiro passo deste programa, seguido da operação da área de disposição final como Aterro Sanitário. CONCLUSÃO A reativação da usina de triagem é algo necessário e viável ambientalmente, socialmente e economicamente em vista da grande geração de resíduos recicláveis no município. Os setores avaliados produzem o suficiente em resíduos sólidos para a reativação da Usina de Triagem, com aproveitamento de 2,1 t/dia de material reciclável em 18t/dia do Lixo bruto. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. 1987 (NBR 10.004). Resíduos sólidos - Classificação. Rio de Janeiro, 63p. 2. BARBOSA, Morgana et al. A Reciclagem do Lixo como forma de Transformação Econômica e Proteção do Meio Ambiente em Caldas Novas, Caldas Novas:UEG, 2002. 3. BARROS, Raphael T. de Vasconcelos. Resíduos Sólidos. Minas Gerais: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental(DESA), UFMG, 1999. 4. BRAGA, Benedito et al. Introdução à Engenharia Ambiental, São Paulo: Prentice Hall, 2002. 305p. 5. CALDAS NOVAS, Prefeitura Municipal - informações gerais. Disponível http://www.caldas.go.gov.br. Acesso em 11 de março de 2004. 6. CEMPRE. Compromisso Empresarial Para reciclagem - artigos. Disponível http://www.cempre.org.br. Acesso em 23 de maio de 2004. 7. FERREIRA, A. A questão dos resíduos sólidos urbanos: um projeto institucional da UNESP. São Paulo: FUNDUNESP, 1994. 74p. 8. GOIÁS, Governo Estadual, Parque Estadual se Serra de Caldas: Plano de manejo. Goiânia: Femago/CTE, 2001. 205 p. 9. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Anuários Estatísticos do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 1991-1992. 10. LIPOR. A Caracterização dos Resíduos Sólidos: Cadernos Técnicos Nº 1. Porto(POR): Lipor, 2000. 11. LUNA FILHO, Eury P. A Coleta e a Disposição Municipal de Resíduos Sólidos: Gestão Integrada. Aspectos Administrativos, Jurídicos e Gerenciais. Brasília: CIORD e UnB, 2001. 12. MONTEIRO, José H. P. et al. Manual Integrado de Gerenciamento de resíduos sólidos, Rio de Janeiro: IBAM, 2001. 197 p. 13. OLIVEIRA, Selene de. Caracterização física dos resíduos sólidos domésticos na cidade de Botucatu/SP.1997. 127p. Tese (Mestrado em Agronomia/Energia na Agricultura) Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista. Botucatu, 1997. 14. PRANDINI, Luiz Fernando et al. Lixo Municipal: manual de gerenciamento integrado. São Paulo: Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), e Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE), 1995. 278 p. 15. SOCIEDADE GOIANA DE CULTURA. Projeto Meia Ponte, Geração de Emprego e Renda Através da Recuperação e valorização de Resíduos. Goiânia: Instituto Dom Fernando, Universidade Católica de Goiás (UCG), 1997.