ESPACIALIZAÇÃO DA DESIGUALDADE SOCIAL NA CIDADE MÉDIA DE PASSO FUNDO Iuri Daniel Barbosa Graduando em Geografia UFRGS -

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Transcrição:

ESPACIALIZAÇÃO DA DESIGUALDADE SOCIAL NA CIDADE MÉDIA DE PASSO FUNDO Iuri Daniel Barbosa Graduando em Geografia UFRGS - iuribar@yahoo.com.br INTRODUÇÃO A cidade média de Passo Fundo, pólo de uma região fortemente marcada pelo dinamismo de uma agricultura modernizada, não reflete da mesma forma os benefícios da urbanização aos seus moradores. Desse modo, diversos problemas urbanos são reproduzidos devido ao caráter seletivo do seu crescimento. Como os benefícios da urbanização são desigualmente distribuídos, as áreas periféricas tornam-se carentes de infra-estruturas, equipamentos coletivos e serviços. Em Passo Fundo, os grupos sociais excluídos habitam as regiões mais periféricas da cidade, enquanto na área central estão àqueles com melhores condições socioeconômicas. Tal análise pode ser constatada a partir de mapas que construímos no software ArcView. Para isso, utilizamos dados do Censo de 2000, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), trabalhados ao nível dos setores censitários, utilizando a metodologia proposta por Melazzo (2007). Reproduzimos uma dessas produções no Mapa 1, que aborda a espacialização de chefes de família com baixa escolaridade. Mapa 1: Chefes com baixa escolaridade 1

ESPACIALIZAÇÃO DA DESIGUALDADE E PROGRAMAS HABITACIONAIS Nossa hipótese é que essa forma espacial da desigualdade social em Passo Fundo reflete a atuação do Estado na questão habitacional. Buscando compreender esta atuação, realizamos um histórico dos programas habitacionais realizados em Passo Fundo. A partir das diferentes lógicas de tais programas, dividimos cronologicamente em quatro períodos: de 1950 a 1964; de 1966 a 1990; de 1993 a 2004; por fim, de 2005 aos nossos dias. 2

No primeiro período, de 1950 a 1964, os programas estavam vinculados aos IAPs (Instituto de Aposentadorias e Pensões) e a Fundação Casa Popular. Porém, em Passo Fundo, poucas foram as habitações populares construídas (SILVA, 2006). O segundo período começa a partir dos governos civil-militares pós-1964, mudando substancialmente a lógica dos programas habitacionais. A construção de casas populares passa a ser gerenciada pelo Banco Nacional de Habitação (BNH), por meio das COHABs (Companhias de Habitação) dos Estados. Neste período as habitações foram construídas por empreiteiras, em projetos padronizados para todo país, quase sempre em grandes conjuntos habitacionais. As moradias foram destinadas a população de renda média baixa (com exceção do Pró-Morar, para baixíssima renda) através de financiamento do BNH aos mutuários (Habitação Popular, 1983 e 1988). Org. Iuri Barbosa Fontes: Kalil, 2001 e 2007 Assim como no restante do país, em Passo Fundo os conjuntos habitacionais da COHAB/BNH foram localizados em setores periféricos da cidade, originando diferentes bairros: Vila Lucas Araújo, Vila Planaltina, Bairro Edmundo Trein, Vila Luis Sechi e Bairro José Alexandre Zácchia. A construção desses conjuntos obrigou a necessidade de levar infraestrutura aos novos bairros. Desse modo, muitos terrenos desocupados passaram a ser incorporados ao mercado urbano de terras. Vários deles transformaram-se em vazios urbanos, aumentando a especulação imobiliária e o preço da terra urbana, fator que levou a população de baixa renda a morar em locais cada vez mais distantes do centro. O último dos conjuntos habitacionais realizado pela COHAB/RS em Passo Fundo ficou conhecido popularmente como Záchia. Esse programa revela um diferencial em relação aos outros do período por ser destinando a uma parcela da população de renda 3

extremamente baixa, entre zero a três salários mínimos. Sua construção pretendia eliminar algumas ocupações na cidade, realocando famílias para a nova área. Tratava-se do Programa Pró-morar, no qual cada família recebeu um lote com um embrião da casa, composto de um banheiro e mais uma peça (KALIL, 2001 e 2007). Mesmo com o avanço da malha urbana para as periferias da cidade, após 25 anos da sua construção, o Bairro Zácchia continua distante até mesmo do restante da periferia. A carência de infra-estrutura, equipamentos públicos, somado à grande distância, influenciou para que muitas famílias acabassem desistindo do bairro, muitas vezes ocupando áreas mais próximas ao centro. Com a falência do Sistema BNH na década de 1980, a retomada dos programas habitacionais vai ocorrer na década seguinte. Esse é nosso terceiro momento, que vai de 1993 até 2004. São desse período os programas Habitar Brasil, Pró-moradia, Melhor Morar, Subsídio à Habitação de Interesse Social (PSH), conforme nos mostra a Tabela 2. Org. Iuri Barbosa Fontes: Kalil, 2007; Wunder, 2006 A aplicação desses programas deu-se de forma pontual, em pequenos núcleos habitacionais, promovendo tanto a manutenção das famílias, como realocações. O público 4

alvo foi a população de baixíssima renda, moradores de áreas de risco e insalubres (KALIL, 2007; WUNDER, 2006). A localização dos núcleos foi extremamente periférica, principalmente nas realocações. Se comparado aos outros momentos, o número de habitações construídas nesse período foi muito pequeno. Por fim, o último dos períodos inicia-se em 2005 e vai até nossos dias. Neste há uma retomada da construção de grandes conjuntos habitacionais em Passo Fundo, através do PAR (Programa de Arrendamento Residencial), no qual são construídos apartamentos para pessoas de renda média baixa. Também foram mantidos e ampliados programas voltados à baixíssima renda. Org. Iuri Barbosa Fontes: Prefeitura Municipal de Passo Fundo, 2009 Outro diferencial encontra-se na elaboração de programas habitacionais em conjunto com os movimentos sociais, como o Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM). Um desses programas, localizado no bairro Bom Jesus, está em vias de construção, beneficiando 100 famílias. A partir das demandas das famílias, as moradias serão construídas em terreno próximo ao local onde moram atualmente, não havendo realocações para outras regiões da cidade. Também é um diferencial o tamanho da moradia: 62m², contendo 3 quartos cada uma (Prefeitura Municipal de Passo Fundo, 2010), sendo assim as maiores habitações populares já construídas na cidade. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Em todos esses momentos, a construção de moradias está intimamente relacionada aos programas de nível federal, executados de forma articulada com poder municipal e estadual. Também é característica dos programas habitacionais sua localização em áreas 5

periféricas (como pode ser visto no Mapa 2), distantes do centro da cidade. Isso foi fundamental na produção de um espaço urbano em que as moradias dos grupos sociais de renda mais baixa estão em áreas distantes do centro. Na maioria das vezes, os conjuntos habitacionais foram construídos em locais ausentes de infra-estrutura urbana. Esse fator acabou causando inúmeros problemas aos moradores: transporte deficiente, falta de escolas, creches, postos de saúde, etc. A exceção é o PAR, que embora não sendo central, foi construído em terrenos já incorporados à estrutura da cidade, com uma melhor oferta de equipamentos coletivos e serviços e próximos as principais vias de circulação. Mapa 2: Espacialização dos programas habitacionais em Passo Fundo Ainda assim, a atuação estatal na construção de moradias ficou distante de impedir o déficit habitacional na cidade, que atualmente chega a cerca de 7.000 moradias (cerca de 6

15% do total), segundo dados da Prefeitura Municipal e do MNLM. Essa situação manifesta-se mais claramente nas ocupações urbanas existentes em Passo Fundo. As que concentram maior número de moradias estão localizadas nas margens das linhas férreas, popularmente conhecidas como Beira-Trilho. As primeiras moradias começaram a ser construídas nesses locais a mais de três décadas e as ocupações continuam a avançar. Atualmente, encontra-se em estudo projetos que visam a transferência de uma parte dos trilhos e a urbanização de algumas área da Beira-Trilho. Além das ocupações espontâneas existem também as ocupações coletivas, organizadas por movimentos sociais ou pastorais de igrejas. Das ocupações coletivas, ressaltamos a importante atuação do MNLM em diferentes áreas da cidade. Mais de 1.000 famílias residem nas ocupações do movimento. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério das Cidades. Centro de Estudos da Metrópole. Assentamentos Precários no Brasil Urbano. Brasília: Ministério das Cidades, CEM, 2007. CORREA, R. L. O espaço urbano. 4 ed. São Paulo: Editora Ática, 2005. Habitação Popular: Inventário da ação governamental, vol. 2. Rio de Janeiro, FINEP, 1988. Habitação Popular: Inventário da ação governamental. Rio de Janeiro, FINEP, 1983 KALIL, R. M. L. Participação e satisfação do usuário: alternativas de gestão da habitação social em Passo Fundo, RS. São Paulo, 2001. 555 p. (Tese de doutorado).. Produção da habitação social em Passo Fundo (RS): Processo histórico e situação atual. VII Encontro de teoria e história da arquitetura. Passo Fundo, 2007 KALIL, R. M. L. et al. Cidade de todos: Diagnóstico sobre situação habitacional da Beira Trilho. 2008. Disponível em: <http://www.invi.uchile.cl/derechociudad/ponencias.html> Acesso em: 16 de janeiro de 2009. 7

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WUNDER, Laurita Regina. Avaliações durante operação dos sistemas hidráulicos prediais e urbanos de conjuntos habitacionais de interesse social no município de Passo Fundo. Dissertação de mestrado, UPF. Passo Fundo, 2006. 9