XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012



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Transcrição:

GESTÃO DE INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR PRIVADAS E AS COMPETÊNCIAS NECESSÁRIAS AOS COORDENADORES DE CURSO: DESAFIOS E SUGESTÕES Christiane Amaral Lunkes Argenta, Centro Universitário de Lavras (UNILAVRAS) Os objetivos deste estudo são: identificar os principais desafios na atuação dos coordenadores de curso de instituições de ensino superior privadas e diagnosticar as competências necessárias para responder aos mesmos. Esta investigação trabalhou com a abordagem qualitativa de pesquisa que orientou os procedimentos de coleta de dados e análise das informações obtidas. Os procedimentos utilizados foram a análise documental; entrevistas semiestruturadas, aplicação de questionário e transcrição do Encontro de Coordenadores de Curso. Os resultados identificam dez desafios para a atuação dos coordenadores de curso, como por exemplo o excesso de atribuições profissionais gerando sobrecarga e atuação mais operacional do que estratégica e a necessidade de formação administrativa e didático-pedagógica e, oferecem sugestões para superá-los, além de indicarem as competências necessárias aos coordenadores de curso a partir dos múltiplos olhares dos atores da gestão universitária. Assim, com base neste contexto, os coordenadores de curso poderão colaborar para que suas instituições atendam às exigências do MEC (SINAES) e do atual cenário do ensino superior brasileiro. Esta pesquisa poderá contribuir para o diálogo e reflexão crítica sobre a necessidade de comprometimento pelos coordenadores. Não é um trabalho acabado, a sua continuidade decorrerá da análise e adequação a outros contextos e do compromisso político que cada IES tem com a educação e com a qualidade de seus serviços, podendo representar uma oportunidade de aprendizagem organizacional. Este trabalho não encerra o debate, ao contrário, estimula o enfrentamento dos desafios de comprometimento, por parte dos coordenadores de curso e incentiva a construção de um Programa para sua formação. Palavras-chave: Gestão do Ensino Superior. Coordenador de Curso. Competências. Introdução Os atores da gestão de instituições de ensino superior- IES deparam-se constantemente com os dilemas desta gestão, diante de tantos desafios impostos da atualidade: legislação educacional; diretrizes curriculares; critérios de avaliação; possibilidade da abertura de IES com fins lucrativos; crescimento do número de IES e de cursos de graduação; educação a distância; limitação de verbas, dentre outros; além da resistência a gestão entre alguns dos atores da educação, mesmo entre os que atuam como gestores, talvez, em decorrência de sua formação. Por ser um dos parâmetros de avaliação da qualidade do ensino superior do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior- SINAES, a própria gestão também é um desafio imposto tanto pela turbulência do cenário educacional, quanto pela legislação e normas educacionais que regulam o ensino superior brasileiro. Livro 2 - p.001393

2 Neste contexto, para que a sobrevivência das IES, principalmente as privadas, não tenha que ocorrer à custa de um ensino superior de menor qualidade, estas instituições passaram a valorizar professores que demonstram ter competências para a gestão, mesmo que estes não tenham formação para tal, ultrapassando os limites das salas de aula, tornam-se gestores e atuam principalmente como coordenadores de curso. Esta pesquisa foi realizada durante os anos de 2010 até meados de 2011 e norteou-se pelo questionamento: quais os desafios e as competências necessárias aos coordenadores de curso de IES privadas, para que, partindo do seu contexto, colaborem para que suas instituições atendam às exigências do MEC (SINAES) e do atual cenário do ensino superior brasileiro? Assim, objetivou-se sob a ótica dos próprios gestores universitários: Identificar os principais desafios na atuação dos coordenadores de curso de instituições de ensino superior privadas e fornecer sugestões para a sua superação; Diagnosticar as competências necessárias aos coordenadores de curso de graduação. Os sujeitos desta pesquisa foram setenta e um gestores [4 (quatro) dirigentes institucionais, 17 (dezessete) gestores acadêmicos, 49 (quarenta e nove) coordenadores de curso e 1 (um) administrador] de quatro Centros Universitários privados, da região Centro sul de Minas Gerais presentes no Encontro de coordenadores. Com o objetivo de investigar e identificar respostas para as questões levantadas adotou-se a abordagem qualitativa das informações e os procedimentos utilizados para a coleta dos dados foram análise documental, entrevistas semiestruturadas, questionário e transcrição do Encontro de coordenadores. O ensino superior brasileiro: cenário atual O cenário atual do ensino superior brasileiro está sob a influência do entrelaçamento de inúmeros fatores, como a globalização, a sociedade da informação, as tecnologias de informação, entre outros, os quais interferem direta e indiretamente no papel do Estado, na estruturação da sociedade, no trabalho, na cultura e nas pessoas e, consequentemente, na educação (SACRISTÀN, 2007). Livro 2 - p.001394

3 Em decorrência desses e de outros inúmeros fatores, que a questão da formação dos profissionais torna-se extremamente importante, como afirma Feldmman (2003), a qualidade da mão de obra é considerada - não só no Brasil, mas também mundialmente - um dos maiores desafios na busca da produtividade e da competitividade. No Brasil a partir da década de 90, ocorreu uma forte expansão da iniciativa privada no ensino superior em decorrência da Constituição de 1988 (BRASIL, 2011) que determinou que o ensino será ministrado com base no princípio do pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional- LDB 9394/96 (BRASIL, 1996) e demais leis decorrentes desta. Esse fato, segundo dados do Censo da Educação Superior 2009 (BRASIL, 2011) e do Plano Nacional de Educação 2011-2020 (CONAE, 2010) levou a iniciativa privada a representar 89,4% das IES (com e sem fins lucrativos) e a se responsabilizar por 74,1% das matrículas da faixa etária entre 18 e 21 anos. Esses dados demonstram a relevância das instituições privadas no ensino superior brasileiro, pois sem elas, onde estudariam os 74,1% dos 5,9 milhões de alunos matriculados no ensino superior? Mesmo assim, apenas 12,1% dos jovens (entre 18 e 21 anos) cursam o ensino superior, fato que demonstra os antagonismos presentes e a polaridade histórica entre o público e o privado (CUNHA, 2002 e 2007) no Brasil. Em relação à autonomia das IES e ao seu processamento pelo Estado, o mecanismo estabelecido para realizar o controle de qualidade do ensino superior brasileiro foi também estruturado na LDB - a qual manifesta que a validade da autorização de funcionamento de instituições é limitada e o reconhecimento de cursos deve ser renovado periodicamente a partir da realização de avaliações - e no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior - SINAES (BRASIL, 2004). Nesse cenário complexo estão incluídos as oportunidades e os desafios implícitos e explícitos na educação superior no Brasil, principalmente para aqueles que a percebem como um bem público, independentemente da classificação de suas instituições entre privadas ou públicas. Os desafios e as oportunidades da atualidade para as IES Diversos autores, entre eles Cardim (2004 e 2010); Braga (2005 e 2011); Braga e Monteiro (2005); Barreyro (2008); Colombo (2010); Colombo et.al (2010); Livro 2 - p.001395

4 Pereira (2006) cada um com sua própria ênfase, destacam os inúmeros desafios e oportunidades que se apresentam para as IES na atualidade, como as legislações; a gestão financeira; a gestão de pessoas; a gestão educacional, e outros. A maioria das oportunidades e desafios se relaciona com questões do mercado educacional. Assim, necessário se faz considerar que as IES, principalmente as privadas, ainda que submetidas à economia e às regras mercadológicas, devem se manter compromissadas com a educação e com a formação para a cidadania visando à transformação social para enfrentamento crítico e consciente das forças hegemônicas. Nesse contexto, cada instituição se percebe agora com maior oferta de serviços; com preços, infraestrutura, metodologias e estratégias de mercado diferentes; e com novos mantenedores mais ou menos agressivos, mais ou menos ortodoxos (CARDIM, 2004). Os desafios e as oportunidades partem da percepção e da aprendizagem de cada IES e de seu posicionamento que entre extremos podem ser identificadas: uma instituição fechada em uma abordagem de administração tradicional ou em uma instituição em constante troca com o ambiente interno e externo em uma abordagem sistêmica e contingencial; uma gestão tradicional ou democrática e participativa; uma submissão às regras do mercado ou o preparo para se inserir nele, com o compromisso com a transformação social por intermédio da educação. Em suma, para o êxito da gestão de IES é necessário que a formação dos gestores universitários e, se possível, dos professores contemple as competências necessárias para a gestão, a reflexão, a crítica e o compromisso com a educação. Dessa forma, orientados pelos conhecimentos da administração e da gestão escolar; e, comprometidos com a qualidade do ensino, os serviços prestados, a sobrevivência da IES, a legislação educacional vigente e a responsabilidade social, evitariam que, juntamente com seus atores, transformem-se em refém do mercado. O novo gestor das IES: o coordenador de curso e as competências necessárias para a gestão Administrador, diretor, supervisor, chefe de departamento e dirigente, entre outros, são nomes utilizados e, muitas vezes encontrados na literatura, para se referir ao gestor de instituições de ensino. Mas, no contexto da LDB n 9394/96, entre as pessoas envolvidas na administração ou gestão da escola, surge o coordenador de curso, Livro 2 - p.001396

5 profissional que tem uma visão preponderantemente didático-pedagógica, mas que não pode negligenciar a gestão administrativa e/ou econômico-financeira. Assim, o coordenador de curso passou a ser exigido pelo MEC/INEP na estrutura organizacional das IES e a ser avaliado em relação a sua dedicação à gestão do curso caracterizada pelo atendimento aos discentes e docentes; inserção institucional da coordenação; dialogicidade, transparência e liderança no exercício das funções; acessibilidade a informações; conhecimento e comprometimento com o Projeto Pedagógico do Curso. (VASCONCELOS, 2010) Reis (2003) afirma que o coordenador é o primeiro responsável pelos resultados do desempenho pedagógico e administrativo do curso torna-se ainda mais desafiadora. Nesse sentido, para Hessel (2003), ele precisa perceber que a articulação do administrativo e pedagógico representa a coordenação do trabalho coletivo na escola, o qual por meio de uma prática mais participativa supõe o compartilhamento de responsabilidades. Neste trabalho, a partir de alguns autores como Perrenoud (2002), Colombo (2010) e Rovai (2010), a competência é considerada uma característica pessoal e contextualizada que pode ser construída tanto na formação inicial, quanto no dia a dia da profissão. Ela permite que o trabalho seja planejado a partir das experiências práticas; a criatividade diante de novas situações; mobiliza saberes e agrega valor ao trabalho realizado, não de forma instrumental, mas emancipatória. Sem perder o olhar consciente dos pressupostos básicos de Paro (2003) para a administração escolar - o caráter conservador da administração escolar vigente; a natureza do processo de produção pedagógico da escola e administração escolar para a transformação social - é possível elencar e analisar criticamente as habilidades necessárias ao administrador, as quais podem ser consideradas como a base para as competências de gestores de outras áreas. Como descritas por diversos autores entre eles Chiavenato (2004) e Andrade e Amboni (2007), essas habilidades podem ser denominadas como técnica, humana (também denominada como interpessoal ou de comunicação) e conceitual ou de decisão. É possível afirmar que essas habilidades descritas para os administradores são necessárias também a outros profissionais, entre eles os Livro 2 - p.001397

6 profissionais da educação, desde que estes se adaptem às percepções de Masetto (2003) de que se necessita de profissionais com capacidade para exercer sua profissão, voltados para promover o desenvolvimento humano, social, político e econômico do país. Mas, não é difícil identificar professores formados dentro de velhas estruturas que acabam por reproduzir o mesmo modelo na sala de aula ou em funções de gestão (CHRISTÓVAM, 2004). Esses professores necessitam rever sua postura, pois conforme afirma Sacristàn (2007), se educar para a vida é educar para um mundo em que nada nos é estranho, e se cremos que a educação deve servir a um projeto humano e de sociedade, teremos que aproveitar as possibilidades da globalização e correr o risco de formar pessoas para reorientá-la. Entre as inúmeras habilidades gerenciais, a que mais se destaca é a liderança, enfatizada por diversos autores como Hessel (2003), Vieira (2003), Libâneo (2004), Luck et al. (2005), Andrade e Amboni (2007), Luck (2008), Santos (2008) e Vasconcellos (2010). Mas, assumir a liderança de uma IES não é tarefa fácil, pois vai muito além de ter sonhos e visões. É necessário que a visão esteja em sintonia com a missão organizacional e inserida no planejamento institucional. Também é necessário que o gestor perceba o caráter transformador de sua ação e os estabelecimentos de ensino como unidades sociais, de organismos vivos que estão em constante mudança. Neste trabalho, na busca pela identificação das competências necessárias ao coordenador de curso, assume-se que este, apoiado pelos dirigentes e, juntamente com os professores do curso, é o responsável por realizar o vínculo entre a IES e a sociedade, entre o curso e as oportunidades emergentes, entre os discentes e o mercado de trabalho, ao estimular o debate sobre as diversas legislações e cenários, ao estabelecer parcerias, ao participar dos encontros e ao procurar informação e estimular processos avaliativos que permitam a melhoria e a qualidade do curso e da IES. Os múltiplos olhares dos sujeitos da pesquisa: os desafios e as competências necessárias aos coordenadores de curso Tendo ouvido e refletido sobre as opiniões dos autores a respeito da gestão de IES e de características para uma Coordenação, tornou-se de vital importância conhecer a percepção compartilhada pelas quatro IES pesquisadas sobre a relevância do Livro 2 - p.001398

7 comprometimento dos coordenadores de curso (gestores universitários) com a gestão das IES e a necessidade de formação para que assumam seu papel frente à gestão. O principal papel do gestor percebido pelas IES está diretamente relacionado a coordenar, dirigir, supervisionar e liderar. Os gestores acadêmicos se percebem mais no papel de resolver problemas. Já os coordenadores de curso que se percebem mais na interseção, ou elo entre os professores, os alunos, o curso e a IES. Assim, diante da percepção desses papéis, foram identificados os dez principais desafios da atuação dos coordenadores de curso e as respectivas sugestões para superálos: 1º. Excesso de atribuições profissionais gerando sobrecarga e atuação mais operacional do que estratégica do coordenador. Sugeriram apoio da IES para a atuação mais estratégica do coordenador e melhor distribuição de tarefas, além de melhor definição das atribuições e a parceria entre todos os atores da IES; 2º. Necessidade de acesso às informações administrativas e financeiras com sugestão de participação no planejamento; 3º. Falta de comprometimento do Núcleo Docente Estruturante NDE e dos professores. Efetivação do NDE; 4º. Necessidade de reconhecimento de autoridade e autonomia. A sugestão é dar maior agilidade aos processos reconhecendo maior autonomia; 5º.Necessidade de formação administrativa e didático-pedagógica.investimento em formação e troca de informações entre os atores e as IES; 6º. Falta de estabilidade. Sugerem-se parcerias entre as IES na contratação e remuneração compatível; 7º. Necessidade de comprometimento por parte dos coordenadores. Emergiu a proposta de um maior diálogo entre gestores acadêmicos e coordenadores de curso sobre a IES; 8ª. Necessidade de desenvolvimento de competências (entre elas conhecimentos de relações humanas, características pessoais, conhecimento de leis). Implementação de programa de capacitação de coordenadores de curso; Livro 2 - p.001399

8 9º. Aumento de titulação pelos coordenadores. Investimento para que os coordenadores busquem maior titulação; 10º.Captação e manutenção de alunos. Envolvimento do coordenador como representante da IES junto ao aluno. Num passo seguinte, impulsionadas por esta pesquisa e ultrapassando os limites da parceria, as quatro IES transformaram-se em coautoras para pensar e definir competências necessárias para os Coordenadores. A partir da categorização dos dados e com o apoio da literatura, os coordenadores de curso consideraram como competências necessárias na sua formação como gestores: 1. Desenvolvimento de características pessoais (negociação, responsabilidade, proatividade, organização e criatividade); 2. Aquisição de conhecimento administrativo (formação para a gestão, habilidade gerencial, planejamento estratégico); 3. Desenvolvimento de relações interpessoais (saber ouvir, autocontrole, política, cooperação); 4. Aquisição do conhecimento didático-pedagógico (metodologias, experiência, conhecimento pedagógico do curso, capacitação didático pedagógica, a liderança motivação do grupo, capacidade de decisão e trabalho em equipe); 5. Aquisição do conhecimento da legislação. Ressalta-se que este é um resultado dinâmico que necessita de uma postura política da IES, além de seu compromisso com a transformação social e com a educação de qualidade, pois uma postura administrativa pode trazer mudanças frente aos critérios de avaliação do MEC e do mercado de trabalho, porém, mais do que isto, uma postura administrativa participativa poderá fazer toda a diferença na sobrevivência e posterior crescimento da instituição e também de seus coordenadores de curso. Esta pesquisa poderá contribuir para o diálogo e reflexão crítica sobre a necessidade de comprometimento pelos coordenadores, mas não é um trabalho acabado, a sua continuidade decorrerá da análise e adequação a outros contextos e do compromisso político que cada IES tem com a educação e com a qualidade de seus serviços, podendo representar uma oportunidade de aprendizagem organizacional. Livro 2 - p.001400

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