CARTILHA DE ORIENTAÇÃO EM SAÚDE MENTAL



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Transcrição:

CARTILHA DE ORIENTAÇÃO EM SAÚDE MENTAL Um Caminho para a Inclusão Social 1

SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL Subsecretaria de Atenção à Saúde Gerência de Enfermagem Núcleo de Saúde Mental Gerência de Enfermagem/SAS/SES/DF DISAT - SEPS 712/912, conj D, bloco 02, Brasília-DF. CEP: 70.390 125 Telefone e e-mail: (61) 3214.3845 / 3346.6222 / gedpas@hotmail.com ELABORAÇÃO DA CARTILHA: Enfº Wellington Antônio da Silva Gerente de Enfermagem/SAS/SES/DF Marineusa Aparecida Bueno Nucleo de Saude Mental Gerencia de Enfermagem/SAS/SES/DF COLABORAÇÃO: Drº Leonardo Gomes Moreira Gerente de Saude Mental/SAS/SES/DF Enfª Daniela Martins Machado Enfª Ana Maria Vieira CAPS_Paranoá Enfª Ana Maria Ferreira Azevedo Enfª Débora Moraes Campos Enfª Célia de Goés Silva Lima Enfª Laura Tavares Barbosa Enfª Olane de herédia Gonçalves HSVP Enfª Sônia Mochiutti CAPS-Guará Aux. Enf. Silene da Silva Marinho P. EDITORAÇÃO: Meyriane Silva Simões - ASCOM/GAB/SES-DF Ludmila Maria Gonçalves - ASCOM/GAB/SES-DF Bruno Simões - ASCOM/GAB/SES-DF 2

Governador do Distrito Federal JOSÉ ROBERTO ARRUDA Vice-Governador do Distrito Federal PAULO OCTÁVIO ALVES PEREIRA Secretário de Estado de Saúde do DF AUGUSTO CARVALHO Secretário-Adjunto de Saúde FLORÊNCIO FIGUEIREDO CAVALCANTE NETO Subsecretária de Atenção à Saúde TÂNIA TORRES ROSA Gerente de Enfermagem WELLINGTON ANTÔNIO DA SILVA Núcleo de Saúde Mental MARINEUSA APARECIDA BUENO 3

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CARTILHA DE ORIENTAÇÃO EM SAÚDE MENTAL - Um Caminho para a Inclusão Social - - Janeiro/2009 5

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Índice Apresentação...09 1. O que é Saúde Mental... 11 2. O que é sofrimento mental... 12 2.1. A depressão... 13 2.2. A mania... 14 2.3. A dependência química... 14 3. Políticas públicas de atenção à saúde mental... 16 3.1. O que é Centro de Atenção psicossocial - CAPS... 17 3.2. Tipos de CAPS... 18 3.3. O que é Serviço Residencial Terapêutico - SRT... 19 4. Onde procurar ajuda... 20 4.1. Na rede pública... 21 4.2. Na comunidade... 22 5. O papel da comunidade na atenção à saúde mental... 24 6. Considerações finais... 26 7. Bibliografia...27 7

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Apresentação A Gerência de Enfermagem da Subsecretaria de Atenção à Saúde/SES e as Chefias de Enfermagem dos Serviços de Saúde Mental da SES/DF têm a satisfação de oferecer à comunidade esta cartilha que tem como principal objetivo levar informações relevantes sobre a saúde mental e a rede de atenção. Aqui você vai encontrar explicações sobre o que é saúde mental, o que é o sofrimento mental, que recursos assistenciais estão disponíveis para o atendimento das pessoas que apresentam este sofrimento e orientações para ações que a própria comunidade pode adotar no sentido de melhorar a qualidade de vida destas pessoas. Sempre que você tiver oportunidade, poderá informar outras pessoas sobre o que aprendeu e valer-se das informações aqui fornecidas para buscar ajuda para si ou ajudar alguém que precisa de atendimento em saúde mental. Esta será uma ótima maneira de contribuir para uma sociedade mais justa e solidária. 9

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1. O que é saúde mental certo que os conceitos de saúde e doen- É ça mudam conforme mudam também as sociedades. Os avanços tecnológicos, científicos e até a economia influenciam nesta definição e na forma como as pessoas são tratadas. Houve um tempo em que as pessoas eram consideradas saudáveis ou doentes somente por se medir sua capacidade de trabalho. Dizia-se que era saudável aquele que conseguia trabalhar mais; já aquele que não conseguia era considerado doente. Hoje, sabe-se que saúde não é coisa simples. Ser saudável não significa apenas não ter doenças, depende de muitos fatores como boa alimentação, uma moradia adequada, contar com água e esgoto na comunidade. Também é condição de saúde ter trabalho e renda, educação, segurança, acesso aos serviços de saúde, lazer e acesso a bens e serviços disponíveis na comunidade. Vê-se que para ter saúde não basta o sujeito sozinho, mas é preciso uma série de fatores externos que vão contribuir para o seu bem estar geral. É preciso olhar para o sujeito como um todo: seu corpo, sua mente e o contexto onde vive e considerar suas necessidades integrais. Assim, só se tem saúde integral quando se tem saúde mental, equilíbrio social e boas condições de vida. 11

2. O que é sofrimento mental N o decorrer da história das sociedades humanas, já se ouviu falar de sofrimento mental de várias formas diferentes. O louco já foi considerado possuído pelo diabo e a loucura já foi considerada castigo de Deus, preguiça de trabalhar, desculpa de malandro, coisa de gente ruim, doença contagiosa e sem cura e até já se acreditou que a pessoa ficava louca por vontade própria. Hoje se tem uma visão diferente da loucura. Ao olharmos um sujeito em sofrimento mental, não destacamos nele somente suas fragilidades e limitações, procuramos destacar também seu lado saudável, suas potencialidades e capacidades. Ninguém está em sofrimento mental o tempo todo e ninguém é completamente doente. Há muitos aspectos saudáveis preservados e é através deles que 12 as pessoas podem ser resgatadas para uma vida o mais normal possível. Neste contexto, entendese a importância de se respeitar os modos diferentes de ser e de viver que cada pessoa tem, seu jeito de ver o mundo e de se relacionar com ele e com as pessoas. Alguns são mais coração, outros razão; alguns são mais calmos, outros mais agitados; alguns gostam de certas coisas, outros desgostam, e assim vai. O que vale mesmo é o respeito, a cordialidade e a conduta de cada um voltada para o bem comum. Se ninguém é melhor que ninguém, também não existe quem seja pior. Agir com preconceito e indiferença só contribui para um mundo desigual. É por isso que podemos e devemos ajudar a quem precisa, observar quem está numa con-

dição de maior vulnerabilidade e acolhê-lo nas suas necessidades. Isso inclui as pessoas em sofrimento mental. É comum observarmos nestas pessoas algumas fragilidades e limitações que podem variar de uma pequena confusão mental, até um quadro de agitação intensa, como vemos nas situações a seguir: 2.1. A depressão é um tipo de sofrimento mental bastante comum. Quando a pessoa está deprimida ela pode perder a vontade de tudo e ter dificuldade de fazer as coisas que era acostumada a fazer; às vezes, não consegue trabalhar, cuidar dos filhos ou estudar; ela fica com uma tristeza que não passa, desanimada, pode perder o apetite, sentir angústia, aflição; pode querer ficar todo o tempo sozinha, isolada em um ambiente; pode também ficar nervosa e apresentar dificuldades para se relacionar; pode ter vontade de morrer e fazer planos para acabar com a própria vida. 13

2.2. A mania é outro tipo de sofrimento mental muito comum. Nesses casos a pessoa pode ficar muito eufórica, apresentar desorientação, confusão mental, uma conversa acelerada e difícil de entender, ter idéias de grandeza; pode ouvir vozes e ver coisas perturbadoras, não conseguindo se aquietar ou dormir; ela fica agitada e pode, por conta desse estado de sofrimento intenso, colocar em risco a sua integridade física e de outras pessoas. 2.3. A dependência química é um problema sério que ocorre quando a pessoa faz uso de substâncias psicoativas como álcool e tóxicos (maconha, cocaína, merla e tantos outros). Caracteriza-se principalmente pela vontade incontrolável de consumir a droga e pelo sofrimento intenso - físico e mental, que acontece na abstinência (quando a pessoa fica impossibilitada de consumir a substância). É difícil conseguir se curar sozinha.para se livrar do vício a pessoa precisa de ajuda especializada. Existem muitos outros tipos de sofrimento mental e outras manifestações comuns; algumas ocasionadas por alterações clínicas associadas a doenças como diabetes, problemas de tireóide, algumas doenças infecciosas etc. Quando você vir alguém que apresente as características descritas acima, principalmente várias delas juntas, é importante conversar com ela, ver se está precisando de ajuda e orientá-la. 14

Pode ser preciso levá-la a uma unidade de saúde, como um Centro de Atenção Psicossocial CAPS, para receber atendimento personalizado ou procurar outros recursos da comunidade alguns deles estão listados nesta cartilha. 15

3. Políticas Públicas de Atenção em Saúde Mental Nos primórdios da atenção à saúde mental, acreditou-se que a pessoa louca podia melhorar se ficasse isolada da sociedade, encerrada em hospitais psiquiátricos, só tomando remédios, eletrochoques ou ficando amarrada ao leito por horas a fio. Até hoje existem instituições, chamadas hospícios ou manicômios, onde as pessoas são deixadas para tratamento e lá são esquecidas; elas desaprendem como viver fora do hospital, perdem a referência de mundo e se tornam dependentes dos cuidados de outras pessoas para sobreviver. O Governo Federal e os estaduais não investem mais nesse tipo de atendimento. As políticas públicas de atenção à saúde mental hoje preconizam: Redução de leitos hospitalares e a progressiva extinção dos manicômios; Investimento em atenção básica com foco também na saúde mental, por exemplo, Programa de Saúde da Família, Grupos de Terapia Comunitária e outros; Atenção especializada a dependentes químicos e loucos infratores; Formação de recursos humanos para trabalhar em saúde mental; Participação da comunidade na elaboração das políticas e no controle social; Criação de serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico, como os Centros de Atenção Psicossocial e os Serviços Residenciais Terapêuticos. 16

3.1. O que é o Centro de Atenção Psicossocial É um serviço de atenção diária fora de unidade hospitalar destinado ao atendimento de pessoas em sofrimento mental. Ele deve estar situado próximo às áreas residenciais para facilitar o atendimento. O projeto terapêutico desta unidade prevê o atendimento individualizado e personalizado para cada usuário, feito por profissionais de diversas áreas como psiquiatras, psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais, profissionais da enfermagem e outros. Seu principal objetivo é investir na reabilitação das pessoas, ou seja, os sujeitos devem ser capazes de se manter no contexto da família e da comunidade, com oportunidades de moradia, convívio, trabalho e lazer. A manutenção dos laços sociais para estas pessoas, o é um grande passo para a não institucionalização da pessoa em sofrimento mental. No CAPS, o atendimento é feito durante o dia e o usuário do serviço volta para casa todos os dias, isso ajuda a reduzir as internações hospitalares. Entre as suas estratégias de atendimento, o CAPS deve incluir o acolhimento de familiares, atendimento individual e grupal, oficinas terapêuticas diversas como de artesanato, música, informática, mosaico, reciclagem de materiais e outras. 17

O CAPS III deve se instalar em municípios com população superior a 200 mil habitantes e seu funcionamento deverá ser contínuo, durante Existe ainda o CAPS i II, para atendimento de crianças Saúde Mental - Inclusão Social 3.2. Tipos de CAPS Os CAPS podem constituir-se em diversas modalidades por ordem crescente de tamanho, complexidade do atendimento e o tamanho da comunidade que deve atender. Ele deve respeitar os princípios do SUS quanto à regionalização, descentralização e hierarquização. O CAPS I deve ser instalado prioritariamente em municípios com população entre 20 mil e 70 mil habitantes, deve funcionar de 8h às 18h, nos cinco dias úteis da semana. O CAPS II é referência para uma população entre 70 mil e 200 mil habitantes e pode funcionar em um terceiro turno até as 21h, ao longo dos dias úteis da semana. as 24h do dia, incluindo feriados e finais de semana. e adolescentes com transtornos mentais e o CAPS ad II, para atendimento de pacientes com transtornos decorrentes do uso e dependência de álcool e outras drogas 18

3.3. O que é um Serviço Residencial Terapêutico No processo de desinstitucionalização das pessoas em sofrimento mental, preconiza-se primeiramente o seu retorno ao contexto familiar. Em muitos casos, no entanto, os vínculos familiares ou sociais destas pessoas já se perderam em razão dos anos que passaram confinadas nos hospícios. Para estas pessoas, o retorno para casa já não é possível. Nem por isso elas devem ser deixadas nos hospitais. Pensando nelas é que se criou as Residências Terapêuticas, como forma de proporcionar aos ex-internos de hospitais um novo espaço de moradia, um lar mais digno que o manicômio. As residências ou casas devem facilitar a reintegração de seus moradores na comunidade. Seu funcionamento deve estar centrado nas necessidades dos moradores, visando à construção 19 progressiva da sua autonomia e independência para a realização das atividades da vida cotidiana, para a vida no lar. As equipes de saúde mental devem respeitar o espaço da casa, como espaço privado de seus moradores, devem respeitar o seu jeito de fazer as coisas como, por exemplo, dispor os móveis e fazer o seu próprio jantar. Na casa, o técnico é colaborador, ele deve focar a liberdade do morador para decidir e resolver seus problemas com responsabilidade, amparando-o nas suas

dificuldades. Os moradores das Residências Terapêuticas devem estar vinculados a um CAPS ou um serviço ambulatorial especializado em saúde mental o mais próximos de suas casas; é nestes serviços que eles deverão receber o atendimento em saúde mental de que necessitam. A vizinhança tem papel fundamental no acolhimento e na amizade que pode dispensar a essas pessoas, facilitando sua adaptação à comunidade. 4. Onde procurar ajuda É possível cuidar da saúde mental de muitas formas diferentes. Podemos começar pensando em tudo o que nos dá prazer e nos ajuda a aliviar o estresse do dia a dia, da vida corrida entre o trabalho e a casa. Podemos tomar medidas simples como dormir o suficiente para restabelecer as energias do corpo e da mente, praticar esportes, ter horários definidos para alimentar-se e consumir alimentos saudáveis; passar horas agradáveis ao lado de pessoas queridas, cuidar da nossa espiritualidade, valorizar a vida e as pequenas e belas coisas que estão a nossa volta. 20

No entanto, quando estas atitudes não conseguem garantir nossa saúde e nos percebemos em sofrimento mental ou alguém do nosso convívio, é preciso procurar ajuda. Podemos fazer isso buscando os recursos disponíveis na comunidade de acordo com nossas necessidades. 4. 1. Na Rede Pública de Saúde do DF TIPO DE ATENDIMENTO Para atendimento de pessoas com dependência química Para atendimento infantil Para atendimento de adolescentes Para atendimento dia de adultos com transtornos mentais NÃO associados ao uso de substâncias psicoativas Para atendimento emergencial em saúde mental, de transtornos mentais NÃO associados ao uso de substâncias psicoativas UNIDADE DE SAÚDE CAPS-ad Guará - QE 23 A/E s/nº Subsolo do C. de Saúde nº 02 Guará II DF Telefone: (01) 3381-6957 CAPS-ad Sobradinho - Área Residencial 17 Chác. 14 Sobradinho II DF (61) 3485-2286 Nucleo de Ação Intergrada/ NAI/NAUAD Orientação a usuarios de alcool e outras drogas/ses Local: Touring/ frente ao Conic Fone: (61) 3322-5491 CAPS-i / Centro de Orientação Médico Psicopedagógico COMPP - SMHN conj A BL 02 Fone: 3326-3201 Hospital Regional da Asa Sul - SGAS Q. 608, Módulo A av. L2 Sul Telefone: 3445-7506 CAPSi-ad Adolescentro SGAS 605 lotes 32/33 Brasília DF Telefone: (61) 3443-1855 Instituto de Saúde Mental Granja do Riacho Fundo I EPNB Km 04 A/E s/nº Núcleo Bandeirante - DF Telefones: (61) 3399-3600 ou 3399-3910 CAPS II Paranoá Quadra 02 conjunto K A/E nº 01 Setor Hospitalar do Paranoá Brasília DF Telefone: (61) 3369-9934 ou 3369-9933 CAPS II - Taguatinga QSA 09 casa 09 Taguatinga Sul DF Telefone: (61) 3351-7332 Hospital São Vicente de Paulo HSVP CSC 01 A/E Taguatinga DF Telefone: (61) 3563-6111 ou 3451-9746 Unidade de Psiquiatria do Hospital de Base do Distrito Federal SMH Sul Q 301 Brasília DF Telefone: (61) 3325-4512 * As pessoas com agravamentos clínicos decorrentes do uso de álcool e outras drogas devem procurar ou ser levadas à emergência do hospital geral mais próximo de sua residência. 21

4. 2. Na Comunidade estão disponíveis muitos outros recursos não-hospitalares, que podem auxiliar as pessoas em suas necessidades, citaremos aqui somente alguns deles, como Organizações Não Governamentais: AA - ALCOÓLICOS ANÔNIMOS: Endereço/Brasília-DF: SDS, Conj. D, n o 60. Ed. Eldorado, Sala 313 Telefone: (61) 32260091 Endereço/Taguatinga-DF: Ed. Paranoá Center, C12, Sala 211 Telefone: 33519644 Site: www.alcoolicosanonimos.org.br AMA - ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DOS AUTISTAS: Endereço: Granja do Riacho Fundo I EPNB Km 04 A/E s/nº Núcleo Bandeirante DF (dentro da área do Instituto de Saúde Mental) Telefone: (61) 33994555 E-mail: amadf@globo.com APAE ASSOCIAÇÃO DOS PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS DO DF: Endereço: Q. 711/911 norte, Conj. E, Brasília-DF Telefone: (61) 21010460 Site: www.apaedf.org.br ASSIM - ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DA SAÚDE MENTAL: Endereço: AC 03, Lotes 14/15, Riacho Fundo I - Distrito Federal Telefone: (61) 33993900 Site: www.saudemental.org.br CVV - CENTRO DE VALORIZAÇÃO DA VIDA: Endereço: SRTV-N Q. 702, Ed. Brasília Rádio Center, Sala 05 Telefone: (61) 33264111 Site: www.cvv.org.br 22

INVERSO INSTITUTO DE CONVIVÊNCIA E RECRIAÇÃO DO ES- PAÇO SOCIAL: Endereço: SCLN 408 sul, Bl. B, loja 60-subsolo Brasília, DF. Telefone: (61) 32734175 Site: www.inverso.org.br MISMEC MOVIMENTO INTEGRADO DE SAÚDE COMUNITÁRIA DO DISTRITO FEDERAL/ GRUPOS DE TERAPIA COMUNITÁRIA: Endereço: SCLN 107, Bl. A, subsolo - Brasília-DF Telefone: (61) 34478563 Site: www.mismecdf.org OUTROS SITES E TELEFONES IMPORTANTES: www.na.org.br Narcóticos Anônimos Telefone: 92389606 http://grops.yahoo.com/desassossego - Desassossego (Auto-ajuda Bipolar) www.neuróticosanonimos.org.br www.aids.gov.br www.antidrogas.org.br www.antimanicomial.blogspot.com www.assistenciasocial.org.br www.cidania.org.br DISQUE SAÚDE: 0800 61 1997 ATENDIMENTO AO CIDADÃO: Telefone 156 DISQUE SAÚDE: 0800 61 1997 PROVIDA - 3224 9692 PROSUS - Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde:3343 9440 NAI - Nucleo de Ação Integrada: 3322 5491 23

5. O papel da comunidade na atenção à saúde mental A comunidade tem um papel muito importante na atenção à saúde mental. Para que alcancemos a inclusão social das pessoas em sofrimento mental, sobretudo daquelas que foram privadas do convívio social por ter permanecido muitos anos internadas em manicômios, é preciso que a comunidade esteja melhor informada sobre o que é o sofrimento mental, como lidar com ele e, principalmente, é preciso vencer idéias e preconceitos quase sempre associados às pessoas que receberam um diagnóstico psiquiátrico. É ai que entra a comunidade. As famílias precisam ser Os amigos nem sempre conseguem levantar você, mas fazem de tudo para não deixar você cair... É certo que estas pessoas não são incapazes ou perigosas como se mostram nos filmes de ficção ou como se diz na cultura popular. Se por um lado elas precisam ser acolhidas e cuidadas em suas fragilidades e limitações, por outro, elas precisam ser estimuladas e apoiadas para desenvolver suas potencialidades e capacidades. 24

acolhidas e fortalecidas para que possam ter um convívio próximo e constante com seus familiares adoecidos e a comunidade precisa, do mesmo modo, ser mais tolerante com as diferenças. As escolas de ensino formal e profissionalizante, as instituições sociais, as empresas, os espaços de lazer precisam estar preparados e abertos a receberem as pessoas em sofrimento mental, dar-lhes a oportunidade do convívio saudável, da ampliação de sua rede social e do usufruto dos recursos comunitários, como educação, trabalho e lazer. Há muitas histórias de pessoas que passaram por momentos difíceis de sofrimento mental e que quando tiveram oportunidade retomaram suas vidas, o convívio com familiares, e voltaram ou começaram a estudar, trabalhar, tornando-se pessoas produtivas e felizes. Uma coisa é certa, nenhuma delas venceu sem o apoio dos familiares e amigos e sem o respeito às suas diferenças. 25

6. Considerações finais Quando as pessoas que foram internadas, têm a oportunidade de sair dos hospitais psiquiátricos, ir para as residências terapêuticas e freqüentar os CAPS, elas têm muitas chances de conseguir sua inclusão na sociedade. Elas então ganham a oportunidade de voltar a ser cidadãs, podendo circular nas diversas esferas sociais sem serem vítimas de tantos preconceitos. Podemos ampliar nossa perspectiva e pensar não só nos que sofreram internações, mas em cada pessoa como sujeito potencialmente saudável ou potencialmente doente. Dessa forma seremos capazes de reconhecer que nossas ações individuais ou coletivas refletem não só em nossas próprias vidas como também no todo. Nesse sentido, devemos estar atentos não só aos nossos direitos, mas também aos nossos deveres civis e sociais. Se focarmos nossa atenção menos nos problemas e mais nas possibilidades de solução e, sobretudo, naquilo que cabe a cada um de nós - no que está a nosso alcance fazer, talvez tenhamos um mundo melhor, não só no futuro, mas aqui e agora mesmo. Contamos com você! 26

7. Bibliografia - COSTA-ROSA, A. O modo psicossocial: um paradigma das práticas substitutivas ao modo asilar in AMARANTE, P Ensaios: subjetividade, saúde mental, sociedade, Rio de janeiro: Fiocruz, 2000. - DSM-III-R Manual de Diagnóstico e Estatística dos Distúrbios Mentais, São Paulo: Manole. 1989. Tradução da 3 a ed. Revisada do original americano - FOUCAULT, M. História da loucura na idade clássica. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 1997. - INVERSO. Apresentação. http://www.inverso.org.br/index.php/content/view/13.html. Acesso em 03/07/2007. - MINISTÉRIO DA SAÚDE, II Conferência Nacional de Saúde mental/ relatório Final, Brasília, 1992. III Conferência Nacional de Saúde mental /relatório final, Brasília, 2002. Legislação em saúde mental 1990-2004, 5ª ed. ampliada, Brasília, 2004. - MACHADO, D.M. A descontrução do manicômio interno como determinante para a inclusão social da pessoa em sofrimento mental. Dissertação (mestrado). FCS-Universidade de Brasília. 2006. 173p - MISMEC - Movimento Integrado de Saúde Comunitária do DF Terapia comunitária, Definição. Disponível em http://mismecdf.br.tripod.com/terapiacomunitaria.htm. Acesso em 06/11/2007 às 20h30. - OLIVEIRA, C. A. da S. Os direitos das pessoas portadoras de deficiências, Brasília: COR- DE, 2001. 27

GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL SECRETARIA DE ESTADO DO SAÚDE DO DF 28