Fonte: José Cláudio Gomes

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Transcrição:

Fonte: José Cláudio Gomes

DO TODO À PARTE O professor, arquiteto e urbanista José Cláudio Gomes formou-se, em 1953, com a primeira turma da FAUUSP. Influenciou a formação de centenas de alunos que, entusiasmados, assistiam às suas aulas naquela escola, de 1961 a 1991, e, posteriormente na UNESP de Bauru, até 1998, quando se aposentou. Recentemente, num encontro com um grupo de interessados em seu trabalho, ele falou a respeito do método de projeto que intitulou Do todo à parte. É justamente do que trata o ensaio visual deste número da revista. Reunimos aqui uma síntese de sua fala e um conjunto inédito de desenhos, que revelam uma vigorosa reflexão projetual. Como a gente começa um projeto? Cláudio Gomes responde que esse tipo de questão vale um curso inteiro de arquitetura, pois envolve problemas de método. Mas há algum método de arquitetura? Ele responde que arte não se aprende, recordando-se da aula inaugural de Mário de Andrade, O artista e o artesão, na Universidade do Distrito Federal do Rio de Janeiro, em 1938. Ele continua: arquitetura ainda é arte. É verdade que há processos de aprendizado que ajudam a desenvolver o projeto, mas não se trata de arte, mas de artesanato que, este sim, é possível ensinar. O artesanato lida com o objeto a construir, com o fabricar, com o método de fazer arte, como executá-la. O artesanato permite, enfim, ensinar ao menos o que é possível aprender. Há método, mas cada um tem o seu. Portanto, o meu método pessoal é o meu projeto pessoal, e disso é possível falar. Feita a introdução, vamos ao método. O conceito de estrutura é sempre fundamental. Na arquitetura, na cidade, no edifício. Qual o contexto em que se coloca tal objeto? Há sempre um contexto histórico, algo que preexiste e será alvo de uma abordagem estrutural, de contexto, das variáveis que preexistem ao lugar. Se não se souber a contextualização, não se saberá coisa alguma. Um exemplo, a Serra do Espinhaço, as pedras que estão lá, Diamantina [...]. E por que Diamantina, por que aquele lugar? Desde a primeira viagem que Cláudio Gomes fez à região, em 1974, foi despertado para entender racionalmente porque achei aquele lugar tão fundamental. Foi o começo de reflexões, de projetos e estudos que desenham particularmente sua trajetória metodológica. Nas linhas básicas do lugar, o genius locci surge e jamais haverá dois iguais. É a leitura da paisagem, o princípio de tudo, que, também, se pode ensinar. E lembra- -se de Lúcio Costa, o maior arquiteto brasileiro, de seus bloquinhos de Portugal e do mesmo deslumbramento que Diamantina lhe despertara em 1924. Algum anjo bom os juntou para verem o que era arquitetura em Diamantina. E a chave disso tudo repousava lá, no lugar. Qual o espírito do lugar? O que diz sua estrutura vegetal,

mineral, natural? E, prosseguindo com a precisão da análise, qual a forma que esse contexto atinge, buscando a compreensão do que o olho vê, das grandes paisagens ao jardim do quintal? Em Diamantina, a estrutura selvagem assusta todo mundo. O Ribeirão do Inferno retrata bem a rusticidade da paisagem mineral do lugar. A forma é sempre dura, e, em meio a outros elementos, como a luz, surgem angulosidades pontiagudas, coloridas, vermelhas, arroxeadas, perfurando o espaço, mesclando-se à paisagem da floresta. O fundamental da paisagem do Espinhaço é a rudeza. A forma, os desenhos da forma, o caráter formal da paisagem despontam dessa estrutura básica. Do primitivo Arraial do Tejuco, sobre o qual se erigiu Diamantina como intendência tão logo Portugal se dera conta das riquezas minerais do lugar, à aproximação com a forma da cidade e do urbano. A arquitetura da cidade, a arquitetura urbana, as unidades da linguagem do lugar, dos materiais e das técnicas são processos artesanais que movimentam o material, dizem sobre suas exigências, e isso pode ser ensinado. Eles são os elementos do projeto e é o que se vê na se sequência de desenhos de seus diários de viagens de estudos. Um esquema geral de seu processo de projeto foi extraído de um estudo desenvolvido para o centro de Bauru. Os demais, formando uma série extraída entre inúmeros desenhos, ilustram estudos sobre o lugar de sua predileção: a região de Diamantina, em Minas Gerais, e detalhes da cidade e de sua arquitetura. Manoel Lemes da Silva Neto Prof. Dr. do Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da PUC Campinas

Fonte: José Cláudio Gomes

Fonte imagens: José Cláudio Gomes

Fonte imagens: José Cláudio Gomes

Fonte imagens: José Cláudio Gomes

Fonte imagens: José Cláudio Gomes

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