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Transcrição:

TÍTULO: COMPARAÇÃO ENTRE OS AGENTES TÓXICOS ENVOLVIDOS NAS INTOXICAÇÕES POR RATICIDAS NOTIFICADOS AO CENTRO DE ASSISTÊNCIA TOXICOLÓGICA DA PARAÍBA (CEATOX/PB) E A SINTOMATOLOGIA DESENVOLVIDA AUTORES: Solange Alves Canavieiras (solangecanavieiras@ig.com.br); Gigliola Marcos Bernardo de Lima; Ednilza Pereira Farias Dias INSTITUIÇÃO: Centro de Assistência Toxicológica da Paraíba CEATOX/PB. Andar Térreo do Hospital Universitário Lauro Wanderley Campus I João Pessoa / PB Fone: (83) 216-7007 Fax: (83) 224-6688 E-mail: ceatox@hulw.ufpb.br Área temática: Saúde INTRODUÇÃO: O estudo toxicológico das substâncias com atividade raticida passou a ter importância na primeira metade do século XX, quando começaram a ser sintetizados produtos para combater ratos e seus semelhantes, responsáveis por prejuízos em lavouras, armazéns de alimentos e pela transmissão de doenças infecto-contagiosas. O raticida ideal é aquele eficaz na eliminação destes animais e com poucos efeitos indesejáveis sobre os homens. No entanto, a maioria desses produtos pode causar intoxicação grave em seres humanos.

Inicialmente, foram usados raticidas derivados de plantas como estricnina e o red squill, ou de compostos inorgânicos, como o tálio e o arsênico. Atualmente, os compostos organossintéticos, como os derivados cumarínicos, substituíram os antigos produtos devido a sua menor toxicidade para os homens. Além deles, diversas classes de produtos químicos (inseticidas, herbicidas e fungicidas) também têm sido utilizados como raticidas de forma ilegal. Alguns dos raticidas utilizado no passado tiveram seu uso proscrito pela alta toxicidade ou pouca especificidade, porém ainda são encontrados clandestinamente como resultado de fabricações ilegais, entre estes produtos à base de compostos inorgânicos, como a estricnina e o aldicarb. O presente estudo avalia 158 ocorrências registradas pelo CEATOX/PB referentes às intoxicações por raticidas em crianças, jovens e adultos até 81 anos, o tipo do produto envolvido e a sintomatologia desenvolvida. OBJETIVO: Reconhecer os agentes tóxicos mais utilizados como raticidas pela população da cidade de João Pessoa/PB e o quadro clínico desenvolvido, comparando com a sintomatologia descrita na literatura consultada, com vistas ao desenvolvimento de uma abordagem preventiva e curativa nessa comunidade. METODOLOGIA: Foi realizada uma análise retrospectiva de 158 ocorrências (telefônicas e hospitalares) registradas no período de janeiro de 1999 a agosto de 2002, analisando-se as classes de raticidas relacionadas às intoxicações registradas e a sintomatologia desenvolvida. RESULTADOS E DISCUSSÕES:

Como diversas classes de substâncias estão envolvidas nas intoxicações por raticidas, é importante saber as sintomatologias desenvolvidas para o estabelecimento de uma correta conduta. Os raticidas anticoagulantes, cumarínicos e compostos derivados indênicos, tem como principal manifestação clínica: sangramento gengival e nasal; tosse, urina, vômitos e fezes com sangue; hematomas e equimoses. Como exemplos de compostos cumarínicos podem ser citados a warfarina, o brodifacoum, o bromadiolone, etc. Os indênicos são a difacinona, o pindone, o valone, entre outros. A estricnina tem seu uso proibido como raticida, porém a distribuição clandestina tem levado a casos de intoxicação. A principal manifestação clínica após ingestão dessa substância é a convulsão, seguida de distúrbios respiratórios. O óbito ocorre devido à insuficiência respiratória. O fluoracetato de sódio tem uso como raticida restrito a situações muito especiais e com o uso comercial proibido. Suas manifestações clínicas são variadas, podendo existir desconforto epigástrico e vômitos (raros); apreensão, alucinação auditivas, nistagmo, fasciculações, alterações da sensibilidade na região da face; excitação do sistema nervoso central, progredindo para convulsões generalizadas; severa depressão neurológica; distúrbios de ritmo cardíaco, pulso alternado, longas seqüências de batimentos ectópicos e taquicardia ventricular podem evoluir para fibrilação ventricular e morte. O Aldicarb, um inseticida potente do grupo dos carbamatos e utilizado ilegalmente como raticida, tem sido responsável por um grande número de óbitos no país. As manifestações clínicas principais são derivadas de uma crise colinérgica aguda, como descritas a seguir: 1. Manifestações muscarínicas: broncoespasmo, dificuldade respiratória, amento de secreção brônquica, cianose, edema pulmonar; falta de apetite, náuseas, vômitos, cólicas abdominais, diarréia, incontinência fecal, dor ao defecar; lacrimejamento, salivação, suor excessivo; pupilas contraídas, visão turva; incontinência urinária; bradicardia. 2. Manifestações nicotínicas: fasciculações musculares, cãimbas, fraquezas, ausência de reflexos, paralisia muscular; hipertensão, taquicardia, palidez, pupilas dilatadas.

3. Manifestações no sistema nervoso central: inquietação, labilidade emocional, cefaléia, tremores, sonolência, confusão, marcha incoordenada, fraqueza generalizada, depressão do centro respiratório, coma. Diversas classes de substâncias foram envolvidas nas notificações registradas, sendo a classe dos compostos cumarínicos e carbamatos (Aldicarb ) os mais comumente utilizados (Gráfico 1). Esses dados nos trazem um perfil preocupante das intoxicações, haja vista que o Aldicarb, puro ou misturado com outros carbamatos e/ou organofosforados vem sendo comercializado ilegalmente como raticida, com o nome vulgar de chumbinho. O produto ilícito, por vezes, contém ainda materiais espúrios, como pólvora, semente (alpiste), areia, entre outros. Observamos também que além do chumbinho, outros compostos ilegais são amplamente utilizados como a estricnina e o fluoracetato de sódio. Gráfico 1 - Compostos mais comuns nas intoxicações por raticidas Difethialone chumbinho Estricnina Nº de casos 60 40 20 0 2 54 37 40 12 Raticidas 3 1 9 Comostos cumarínicos Desconhecido Fluoracetato de sódio Cianeto Não classificado As substâncias mais utilizadas foram, respectivamente, o carbamato Aldicarb, vulgarmente conhecido como chumbinho, totalizando 33,96% dos casos notificados, seguidos pelos raticidas cumarínicos (23,27%) e estricnina (7,54%). A falta de informação correta sobre o tóxico no que se refere ao nome do produto químico e/ou devido à procedência ilícita deste, dificultaram a classificação dos raticidas e foram responsáveis pela elevada porcentagem de raticidas desconhecidos (32,70%). A sintomatologia desenvolvida foi descrita na tabela 1. Tabela 1 Manifestações clínicas observadas nas intoxicações por raticidas LOCAL AFETADO MANIFESTAÇÕES

Sistema Nervoso Central Sonolência (5); Coma (5); Torpor (5); Tremores (3); Convulsões (2); Cianose (1); Inconsciência (1); Agitação (1); Vertigens (1); Cefaléia(1). Olhos Miose (8); Visão turva (1). Aparelho Respiratório Sistema Cardiovascular Aparelho Digestivo Glândulas Sudoríparas Gânglios Simpáticos Manifestações Sistêmicas Distúrbios Hidro- Eletrolíticos Aumento de secreção (5); Broncoespasmo (2); Dispnéia (2); Taquipnéia (1); Cianose (1); Tosse(1). Taquicardia (7); Hipertensão (24); Bradicardia (1); Hipotensão (1); Hemorragia (1); Dor precordial (1); Parada Cárdio-respiratória (1). Êmese (27); Dor epigástrica (9); Diarréia (7); Sialorréia (5); Náuseas (1); Dor abdominal/cólicas (1). Sudorese aumentada (7). Palidez (3); Hipertensão(1). Hipotermia (1). Hemorragia (1); Desidratação (1). Assintomáticos (33). Não relatados (14). * Os valores contidos nos parênteses correspondem à quantidade de registros das manifestações clínicas. As principais sintomatologias descritas foram àquelas relacionadas com os distúrbios muscarínicos (miose, sudorese, sialorréia, etc), o que confirma a maior incidência de intoxicação por raticidas da classe dos carbamatos na população atendida pelo CEATOX/PB no período de janeiro de 1999 a agosto de 2002. Foram relatados dois casos de óbitos, um pelo uso do chumbinho e o outro devido à associação do chumbinho com o fluoracetato de sódio.

CONCLUSÃO: Através desse estudo observou-se uma correlação da sintomatologia desenvolvida e os raticidas mais comuns nas intoxicações, traçando um perfil de intoxicações por raticidas diferente do restante do Brasil, onde o maior responsável por intoxicações refere-se a compostos cumarínicos. A importância da sintomatologia está na decisão da conduta clínica frente às intoxicações, haja vista que nem sempre os produtos referidos no rótulo refletem a real composição, podendo haver misturas entre compostos (o que dificulta a conduta) e falta de informação sobre o tóxico. É preocupante o crescimento vertiginoso da comercialização ilegal de produtos pela falta de controle pelos órgãos competentes, neste caso as superintendências de vigilância sanitária e a própria polícia. Muitos ambulantes falsificam os produtos, misturando grafite, milho moído, farinha de trigo ou areia. E mais: há casos de misturas cuja composição reúne também organofosforados (pesticidas de alto poder de toxicidade) e cumarínicos (raticidas de fato), o que dificulta o tratamento médico no caso de ingestão acidental. O flagrante de uma negociação ilegal do Aldicarb pode levar à cadeia tanto quem vende como quem compra. O fornecedor e o receptador infringem o artigo 56 da Lei 9.605 (crimes ambientais), de 1998, podendo ser condenados a penas de um a quatro anos de reclusão. O crime é inafiançável, segundo a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente. No caso de estabelecimentos comerciais, o proprietário ainda corre o risco de ter de pagar uma multa que varia entre R$ 5 mil e R$ 2 milhões. Na reincidência, o estabelecimento pode ser fechado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ANDRADE FILHO, A.; CAMPOLINA, D.; DIAS, M.B. Toxicologia na Prática Clínica. Belo Horizonte: Folium, 2001, pp. 133-136, 167-168 e 295-299. 2. CALDAS, LUI QUIRINO DE ARAUJO. Intoxicações Exógenas Agudas por Carbamatos, Organofosforados, Compostos Bipiridílicos e Piretróides. Niterói (RJ): 2000, pp. 5-25.

3. CENTRO DE INFORMAÇÃO TOXICOLÓGICA/RS. Aldicarb. In: Monografias em Toxicologia de Urgência. Vol 4, Porto Alegre: ATOX, 2000, pp. 031-040. 4. CENTRO DE INFORMAÇÃO TOXICOLÓGICA/RS. Brodifacoum. In: Monografias em Toxicologia de Urgência. Vol 1, Porto Alegre: ATOX, 2000, pp. 069-074. 5. CENTRO DE INFORMAÇÃO TOXICOLÓGICA/RS. Bromadiolone. In: Monografias em Toxicologia de Urgência. Vol 3, Porto Alegre: ATOX, 2000, pp. 171-174. 6. CENTRO DE INFORMAÇÃO TOXICOLÓGICA/RS. Estricnina. In: Monografias em Toxicologia de Urgência. Vol 6, Porto Alegre: ATOX, 2000, pp. 171-174. 7. CENTRO DE INFORMAÇÃO TOXICOLÓGICA/RS. Fluoracetato de sódio. In: Monografias em Toxicologia de Urgência. Vol 3, Porto Alegre: ATOX, 2000, pp. 171-174. 8. CENTRO DE INFORMAÇÃO TOXICOLÓGICA/RS. Warfarin. In: Monografias em Toxicologia de Urgência. Vol 2, Porto Alegre: ATOX, 2000, pp. 255-262. 9. LARINI, LOURIVAL. Toxicologia. São Paulo: Manole, 1987, pp. 240-246 e 290-292. 10. SCHVARTSMAN, SAMUEL. Intoxicações Agudas. 4 ed, São Paulo: SARVIER, 1991. pp. 280-283. 11. ZENECA. Tratamento de intoxicações por raticidas anticoagulantes. São Paulo: Zeneca, 1996. 12. WONG, A.; GIKAS, R.C.; FRUCHTENGARTEN, L. Intoxicações por Inseticidas e Raticidas. São Paulo: Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo.