Produto Interno - Mauri C. Nascimento - Depto. de Matemática - FC UNESP Bauru

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Transcrição:

1 Produto Interno - Mauri C. Nascimento - Depto. de Matemática - FC UNESP Bauru Neste capítulo vamos considerar espaços vetoriais sobre K, onde K = R ou K = C, ou seja, os espaços vetoriais podem ser reais ou complexos, dependendo de ser K = R ou K = C. Definição 0.1 Seja V um espaço vetorial. Um produto interno sobre V é uma função de V V em K, denotada por,, satisfazendo: a) v, v 0 e v, v = 0 v = O, para todo v V ; b) au + bv, w = a u, w + b v, w, para todos u, v, w V, a, b K; c) = v, u, para todos u, v V. A partir da definição, podemos também concluir que: d) w, au + bv = a w, u + b w, v, para todos u, v, w V, a, b K, por (b) e (c); e) u + v, w = u, w + v, w, u, v + w = + u, w, para todos u, v, w V, por (b), (c) e (d); f) av, w = a v, w e v, aw = a v, w, para todos v, w V, a K, por (b), (c) e (d); g) av, bw = ab v, w, para todos v, w V, a, b K, por (f); h) v, O = v, 0v = 0 v, v = 0, para todo v V, por (d). Observe que no caso em que K = R, temos: c) = v, u ; d) w, au + bv = a w, u + a w, v ; Exemplo 0.1 O produto escalar no R 2, definido por (x 1, y 1 ), (x 2, y 2 ) = x 1 x 2 + y 1 y 2 é um produto interno sobre R 2 (verificar). Exemplo 0.2 O produto interno do exemplo anterior pode ser expandido para qualquer espaço K n : para u = (x 1, x 2,..., x n ) e v = (y 1, y 2,..., y n ), = x 1 y 1 + x 2 y 2 + + x n y n é um produto interno sobre K n (verificar). O produto interno definido acima é chamado de produto interno usual do K n. Podemos ter vários produtos internos para um mesmo espaço. No exemplo a seguir, definimos um outro produto interno sobre R 2. Exemplo 0.3 Em R 2, para u = (x 1, y 1 ) e v = (x 2, y 2 ), definimos = 2x 1 x 2 x 1 y 2 x 2 y 1 + y 1 y 2 é um produto interno, pois: a) se v = (x 1, y 1 ) então v, v = 2x 1 x 1 x 1 y 1 x 1 y 1 +y 1 y 1 = 2x 2 1 2x 1y 1 +y 2 1 = x2 1 +x2 1 2x 1y 1 +y 2 1 = x 2 1 + (x 1 y 1 ) 2 0 e x 2 1 + (x 1 y 1 ) 2 = 0 x 1 = 0 e x 1 + y 1 = 0 x 1 = y 1 = 0. Assim, v, v 0 e v, v = 0 v = (0, 0). Como exercício, verifique os ítens (b) e (c) da definição de produto interno. Exemplo 0.4 Para V, o espaço das funções contínuas reais no intervalo [a, b], verifica-se facilmente, a partir de propriedades de integrais, que f, g = b a f(x)g(x)dx onde f, g V, é um produto interno em V.

2 0.1 Bases Ortogonais Definição 0.2 Seja V um espaço vetorial com produto interno. Dizemos que dois vetores u e v de V são ortogonais se = 0. Notação: u v quando u e v são ortogonais. Exemplo 0.5 No espaço R 2 com o produto interno usual, os vetores u = (1, 2) e v = (2, 1) são ortogonais, pois = 1 2 + 2 ( 1) = 0. Teorema 0.1 Seja V um espaço vetorial com produto interno. Então: a) O v, para todo v V ; b) u v v u, para todos u, v V ; c) u v au v, para todos u, v V e para todo a K; d) u w e v w (u + v) w, para todos u, v, w V ; e) u v para todo v V u = O. De (c) e (d) do teorema anterior, temos que se u w e v w (au + bv) w, para todos u, v, w V e a, b K. Teorema 0.2 Sejam v 1, v 2,..., v n vetores não nulos e ortogonais dois a dois. Então o conjunto {v 1, v 2,..., v n } é L.I.. Definição 0.3 Uma base ortogonal é uma base formada por vetores que são dois a dois ortogonais. Como um conjunto com n vetores L.I. em um espaço com dimensão n formam uma base, então n vetores que são dois a dois ortogonais formam uma base num espaço de dimensão n. Exemplo 0.6 Vimos que no espaço R 2 com o produto interno usual, os vetores u = (1, 2) e v = (2, 1) são ortogonais. Como dim(r 2 ) = 2, então B = {(1, 2), (2, 1)} é uma base ortogonal de R 2. Verifica-se facilmente que {(1, 0), (1, 2)} é uma base não ortogonal de R 2. Exemplo 0.7 As bases canônicas de R n e de C n são bases ortogonais. Quando se trabalha com bases ortogonais fica mais simples a determinação das coordenadas de vetores em relação à base. Considere B = {v 1, v 2,..., v n } base ortogonal de um espaço vetorial V. Se v é um vetor de V, seja a representação de v na base B dada por v = a 1 v 1 +a 2 v 2 + +a n v n. Então v, v 1 = a 1 v 1 +a 2 v 2 + +a n v n, v 1 = a 1 v 1, v 1 +a 2 v 2, v 1 + +a n v n, v 1 = a 1 v 1, v 1 +a 2 0+ +a n 0 = a 1 v 1, v 1. Assim, a 1 = v, v 1 v 1, v 1. De modo análogo verifica-se que para cada i, a i = v, v i v i, v i. Exemplo 0.8 Para R 2 com o produto interno usual, tomando a base ortogonal B = {(1, 2), (2, 1)}, vamos determinar as coordenadas de ( 2, 5) em relação a B: ( 2, 5), (1, 2) = 2 + 10 = 8; ( 2, 5), (2, 1) = 4 5 = 9; (1, 2), (1, 2) = 1 + 4 = 5; (2, 1), (2, 1) = 4 + 1 = 5. Assim, ( 2, 5), (1, 2) a 1 = (1, 2), (1, 2) = 8 5 e a ( 2, 5), (2, 1) 2 = (2, 1), (2, 1) = 9 5 = 9 5, ou seja, ( 2, 5) = 8 5 (1, 2) 9 (2, 1). [ ] 5 8/5 Logo, [( 2, 5)] B =. 9/5

3 0.2 Norma Definição 0.4 Seja V um espaço com com produto interno. A norma de um vetor v em relação a esse produto interno é definida por v = v, v. Quando v = 1 dizemos que v é um vetor unitário. Observe que se v é um vetor não nulo, então o vetor u = v u = v, v 1 1 = v, v = v v 2 v 2 v 2 = 1. v v é um vetor unitário, pois Propriedades da norma. Seja V um espaço com produto interno. Para u, v V e r K tem-se: a) v 0 e v = 0 se, e somente se, v é o vetor nulo b) rv = r v c) u v ( desigualdade de Schwarz) d) u + v u + v (desigualdade triangular) Na geometria analítica a fórmula de ângulo definido por dois vetores é dada por cos(θ) =. Na desigualdade de Scwarz temos que 1. Assim, temos que u v u v 1 u v 1, o que nos permite estender a definição de ângulo de vetores em um espaço com produto interno, a partir da fórmula cos(θ) = u v Definição 0.5 Seja V um espaço com com produto interno. Uma base ortonormal é uma base formada por vetores unitários e que são dois a dois ortogonais. Assim, para uma base ortonormal B = {v 1, v 2,..., v n } valem v i, v i = 1 e v i, v j = 0, caso i j. Recordamos que para uma base ortogonal B = {v 1, v 2,..., v n }, se a representação de v na base B dada por v = a 1 v 1 + a 2 v 2 + + a n v n, então a i = v, v i. Se a base for ortonormal, temos v i, v i v i, v i = v i 2 = 1. Logo, a i = v, v i, ficando mais simples ainda encontrar as coordenadas do vetor de v em relação à base ortonormal. Exemplo 0.9 As bases canônicas de R n e de C n são bases ortonormais. 0.3 Complemento ortogonal Definição 0.6 Seja S um subconjunto não vazio de um espaço V com produto interno. O complemento ortogonal de S é o conjunto dos vetores de V que são ortogonais a todos os vetores de S. Notação: S = {v V v w para todo w S} Exemplo 0.10 Para R 2 com o produto interno usual, tomando a base ortogonal B = {(1, 0), (0, 1)} e S = {(1, 2)}. Então S = {(x, y) R 2 (x, y), (1, 2) = 0} = {(x, y) R 2 x + 2y = 0} = {( 2y, y) R 2 y R}. Teorema 0.3 Seja V um espaço vetorial com produto interno. Então: a) S é um subespaço de V, para cada subconjunto não vazio S de V ; b) V = W W, para cada subespaço W de V.

4 Exercício 0.1 Página 247 do livro do Boldrini - exercícios 2, 10, 11a, 12a, 13a. Página 315 do livro do Lipschutz - exercícios 6.3, 6.4, 6.5, 6.14, 6.15, 6.17 6.18. No livro do Lipschutz, o produto interno dos vetores v e w no R 2 e R 3 é denotado também por v w. 0.4 Operadores Auto-adjuntos ou Hermitianos Definição 0.7 Seja T um operador linear sobre um espaço com produto interno V. Dizemos que T é um operador auto-adjunto ou hermitiano se T (u), v = u, T (v). Exemplo 0.11 Seja T : R 2 R 2 definida por T (x, y) = (2x+y, x 3y) e vamos considerar o produto interno usual do R 2. Para u = (x 1, y 1 ) e v = (x 2, y 2 ) temos: T (x 1, y 1 ), (x 2, y 2 ) = (2x 1 + y 1, x 1 3y 1 ), (x 2, y 2 ) = 2x 1 x 2 + y 1 x 2 + x 1 y 2 3y 1 y 2 e (x 1, y 1 ), T (x 2, y 2 ) = (x 1, y 1 ), (2x 2 + y 2, x 2 3y 2 ) = x 1 2x 2 + x 1 y 2 + y 1 x 2 + y 1 ( 3)y 2 = 2x 1 x 2 + x 1 y 2 + y 1 x 2 3y 1 y 2. Logo, para todos u, v R 2 vale T (u), v = u, T (v), ou seja, T é um operador hermitiano. Teorema 0.4 Seja B = {v 1,..., v n } uma base ortonormal de um espaço vetorial com produto interno V e seja T um operador hermitiano sobre V. Então: a) [T ] B = (a ij ) tal que a ij = a ji ; b) a diagonal de [T ] B consiste de números reais; c) se V é um espaço vetorial real então [T ] B é uma matriz simétrica. Prova: a) Como B é uma base ortonormal então v i, v j = 0 de i j e v i, v i = 1. Como B é uma base de V, cada vetor T (v i ) se escreve como combinação linear dos vetores de V : T (v i ) = a 1i v 1 + + a ji v j + + a ni v n. Assim, T (v i ), v j = a 1i v 1, v j + + a ji v j, v j + + a ni v n, v j = = a 1i v 1, v j + + a ji v j, v j + + a ni v n, v j = a ji ; T (v j ) = a 1j v 1 + + a ij v i + + a nj v n. Assim, v i, T (v j ) = v i, a 1j v 1 + + v i, a ij v i + + v i, a nj v n = = a 1j v i, v 1 + + a ij v i, v i + + a nj v i, v n = a ij. Como T é um operador hermitiano então T (v i ), v j = v i, T (v j ). Logo, a ji = a ij, para todos i, j. b) Por (a), a ii = a ii. Logo, a ii é um número real. c) Se todo a ij R então a ij = a ij = a ji, ou seja, [T ] B = (a ij ) é uma matriz simétrica. Exercício 0.2 Seja T : R 3 R 3 definida por T (x, y, z) = ((2x y + 3z, x + y, 3x 2z) e vamos considerar o produto interno usual do R 3. Verifique que: 1) T é hermitiano; 2) Encontre a matriz de T em relação à base B = {(1, 0, 0), (1, 1, 0), (1, 1, 1)}. Teorema 0.5 Seja T um operador hermitiano sobre V. Então: a) T (v), v é um número real; b) todos os autovalores de T são números reais; c) autovetores associados a autovalores distintos são ortogonais; d) existe uma base ortonormal de V formada por autovetores. Em vista do ítem (d) do teorema anterior, se T é um operador hermitiano então T é diagonalizável, e a matriz de T em relação à base ortonormal formada por autovetores é uma matriz diagonal, onde a diagonal da matriz consiste de autovalores.

5 Exemplo 0.12 Seja T : R 3 R 3, T (x, y, z) = (6x 3y, 3x 2y, 15z). T é hermitiano, pois para u, v 3, u = (x, y, z), v = (x 1, y 1, z 1 ), (T (u), v = (6x 3y, 3x 2y, 15z), (x 1, y 1, z 1 ) = 6xx 1 3yx 1 + 3xy 1 2yy 1 + 15zz 1 ; (u, T (v) = (x, y, z), (6x 1 3y 1, 3x 1 2y 1, 15z 1 ) = 6xx 1 3xy 1 + 3yx 1 2yy 1 + 15zz 1. Logo, (T (u), v = (u, T (v), portanto, T é hermitiano. Vamos encontrar uma base ortonormal formada por autovetores. Tomando B = {(1, 0, 0), (0, 1, 0), (0, 0, 1)} encontramos 6 3 0 6 λ 3 0 [T ] B = 3 2 0 e P (λ) = det 3 2 λ 0 0 0 15 0 0 15 λ Assim, os autovalores são λ 1 = 7, λ 2 = 3 e λ 3 = 15. 6x 3y = 7x Para λ 1 = 7, temos 3x 2y = 7y Assim, z = 0 e x = 3y e os autovetores são da forma 15z = 7z ( 3y, y, 0), y 0. 6x 3y = 3x Para λ 2 = 3, temos 3x 2y = 3y Assim, z = 0 e y = 3x e os autovetores são da forma 15z = 3z (x, 3x, 0), x 0 6x 3y = 15x Para λ 3 = 15, temos 3x 2y = 15y Assim, x = y = 0 e z é qualquer. Os autovetores são da 15z = 15z forma (0, 0, z), z 0. = = (7 λ)( 3 λ)(15 λ) Tomando os autovetores v 1 = ( 3/ 10, 1/ 10, 0), v 2 = (1/ 10, 3/ 10, 0) e v 3 = (0, 0, 1), verificamos que são ortogonais v 1, v 2 = ( 3/ 10, 1/ 10, 0), (1/ 10, 3/ 10, 0) = 3/ 10 1/ 10 + 1/ 10 3/ 10 + 0 0 = 0; v 1, v 3 = = 0; v 2, v 3 = = 0. Resta somente verificar que v 1, v 2, e v 3 são unitários e formam uma base de R 3. exercício. Isso fica como Exercício 0.3 Nos casos abaixo, verifique se T é um operador hermitiano. Caso seja, encontre uma base formada por autovetores. a) T : R 2 R 2, T (x, y) = (2x + y, x + 2y); b) T : R 2 R 2, T (x, y) = (3x + 6y, 6x 2y); c) T : R 2 R 2, T (x, y) = (2x y, x 2y); d) T : R 3 R 3, T (x, y, z) = (x, 2y + z, y + 2z); e) T : R 3 R 3, T (x, y, z) = (x + y, y + z, x + z). Bibliografia 1. BOLDRINI, J. L. e outros. Álgebra linear. 3 a Ed. São Paulo: Harper e Row do Brasil, 1986. 2. LIPSCHUTZ, S. Álgebra linear. 3 a Ed. São Paulo: Editora Makron Books, 1994. 3. COELHO, F. U., LOURENÇO, M. L. Um curso de álgebra linear. 2 a Ed. São Paulo: EDUSP, 2005.