Estados Unidos
Ganhando fôlego Mais um ano se passou e a economia norte-americana segue em ritmo de recuperação da crise financeira mundial. A política monetária implementada pelo Banco Central norte-americano tem persistido na busca de uma recuperação firme do país. Os indicadores econômicos, que são o termômetro para mostrar os sinais de melhora, se encontram em fase de ajustes. Os dados de emprego nem sempre acompanham as perspectivas do mercado, ora pioram, como no início de 2014, ora melhoram. Porém, no fim do primeiro trimestre deste ano, os setores da indústria e de serviços, incluindo vendas de automóveis, vinham sinalizando o fortaleci- 1.1 PARTICIPAÇÃO Do setor NO PIB 2012 4,5% 2013 4,0% Fonte: Nacs 1.2 COMPOSIÇÃO DO FATURAMENTO Combustíveis 72% 71% Outros produtos 28% 29% Total (em bilhões de US$) 700,3 695,5 mento da economia. Enquanto a economia prossegue com oscilações, os norte-americanos buscam melhores alternativas de consumo para favorecer o orçamento familiar entre os itens de gastos necessários, como é o caso dos combustíveis. Segundo o NACS Retail Fuels Report 2014, cerca de 40 milhões de americanos buscam postos com melhores preços e locais mais convenientes para abastecer seus veículos. No ano passado, os postos de combustíveis dos Estados Unidos registraram faturamento de US$ 695,5 bilhões, o que corresponde a participação de 4% do PIB norte-americano. As vendas com combustíveis representaram 71% do total do faturamento, uma redução de um ponto percentual em relação a 2012. Enquanto que as lojas de conveniência cresceram um ponto percentual, para 29% no mesmo período. Cada vez menos O mercado da revenda norte-americano não é mais o mesmo. Há algumas décadas, as principais empresas de petróleo eram proprietárias dos postos e operavam com uma significativa margem de lucro. Atualmente, menos de 0,4% dos postos, que também atuam com as lojas de conveniência, são de propriedade das grandes companhias. Cerca de 95% do total são empresas independentes, ligadas a operadores de lojas de conveniência ou cadeias regionais. Ao contrário da revenda brasileira, o carro-chefe do negócio norte-americano é a loja de conveniência. Os empresários lucram com a diversificação de produtos e serviços oferecidos pela conveniência, e o ganho com a venda de combustíveis é mínimo. Desde 2007, as grandes empresas petroleiras começaram a deixar a revenda varejista para investir seus recursos na produção e nas operações de refino. A redução tem sido significativa ao longo do tempo. No ano passado, por exemplo, ExxonMobil e a BP North America encerraram suas atividades na operação de postos. Das cinco maiores companhias de petróleo, a Chevron é a que mantém o maior número de postos, 406 no país e, mesmo assim, vem diminuindo sua operação. No ano passado, a companhia encerrou 2013 com nove postos a menos em relação a 2012. A Shell fechou 15 postos e terminou 2013 com 23 unidades. Dos 152.995 postos de abastecimento no país, cerca de 31% trazem a marca de grande companhia de petróleo e outros 19% carregam a marca das companhias de refino. Nos Estados Unidos, aproximadamente, 50% dos postos não têm bandeira. Estes estabelecimentos são, frequentemente, de propriedades de empresas com marca independente e adquiriram combustíveis no mercado aberto ou por meio de contratos com refinarias ou distribuidores. Tais dados não tiveram alteração em relação a 2012. 1.3 POSTOS DE PROPRIEDADE DAS COMPANHIAS DE PETRÓLEO Chevron 415 406 Shell 38 23 ExxonMobil 13 0 BP North America 3 0 ConocoPhillips Inc. 2 1 TOTAL 471 430 Relatório Anual da Revenda de Combustíveis 2014 7
Estados unidos Canais de venda Os norte-americanos abastecem seus carros cerca de quatro a cinco vezes por mês, em no varejo de combustíveis 1.4 hipermercados que atuam aproximadamente 153 mil postos de abastecimento em todo o país. Os postos com lojas de Walmart 21,2% 21,0% Kroger 22,3% 22,6% conveniência (126.658 estabelecimentos) vendem mais de 80% do combustível adquirido Safeway 7,0% 6,6% Sam s Club 9,4% 9,4% nos Estados Unidos. Durante a última década, o Costco 6,9% 7,2% número de lojas de conveniência cresceu 21,1% Outros 33,3% 33,2% (de 104.600 a 126.658 lojas). Enquanto que o TOTAL 4.893 5.093 número total de locais de abastecimento de combustível caiu 8,7% (de 167.571 a 152.995 locais). Dentre os canais de vendas de combustíveis, os hipermercados vêm se fortalecendo ao longo dos anos. Segundo a NACS Retail Fuels Report 2014, os 5.093 hipermercados venderam cerca de 12,6% dos combustíveis nos Estados Unidos. Esses locais comercializaram aproximadamente 280 mil galões por mês, mais que o dobro do volume de um revendedor varejista tradicional. Atualmente, dos cinco principais hipermercados que operam postos de serviços, no topo do ranking vem Kroger, com 22,6% do total; seguido pelo Wal-Mart com 21%; Sam s Club com 9,4%; Cotsco, 7,2% e Safeway 6,6%. 1.5 Proprietários de postos por número de estabelecimentos 58,6% 58,3% 2012 2013 4,9% 4,5% 9,4% 9,1% 6,0% 6,5% 5,7% 6,3% 14,7% 16,1% 1 loja 2-10 lojas 11-50 lojas 51-200 lojas 201-500 lojas a partir de 501 lojas 8 Relatório Anual da Revenda de Combustíveis 2014
Preços Os preços dos combustíveis no varejo nos Estados Unidos são afetados por quatro conjuntos de custos: petróleo bruto, impostos, custos de refino e distribuição e comercialização. Os preços do petróleo têm, de longe, o maior efeito sobre os preços do varejo. Seus custos são responsáveis por cerca de dois terços das despesas de um galão de gasolina. No ano passado, o preço da gasolina caiu 1% ante 2012, fechando 2013 em US$ 0,926 por litro. O custo do petróleo bruto representou maior crescimento na composição de preços, chegou a 68% do preço de varejo da gasolina, aumento de dois pontos percentuais sobre 2012. Em contrapartida, o custo do refino diminuiu de 12% para 11% e os impostos aumentaram um ponto percentual, para 12%, de um ano para outro. No período, as margens permaneceram iguais, em 9%. Em relação ao diesel, o preço ficou em US$ 1,036 por litro. Assim como a gasolina, no ano passado, o preço caiu 1% em comparação a 2012. As margens da comercialização tiveram incremento de um ponto percentual, atingindo 15% em 2013. O petróleo bruto, maior custo na composição de preços do produto, não apresentou alteração, permanecendo em 61% do total e o custo do refino teve queda de um ponto percentual, registrando 12%. Enquanto que a arrecadação de impostos continuou inalterada, em 12%. 1.6 COMPOSIÇÃO DO PREÇO DA GASOLINA NO VAREJO Petróleo 66% 68% Refino 12% 11% Margens 9% 9% Impostos 11% 12% Preço (Em US$ por litro) 0,936 0,926 1.7 COMPOSIÇÃO DO PREÇO DO DIESEL NO VAREJO Petróleo 61% 61% Refino 13% 12% Margens 14% 15% Impostos 12% 12% Preço (Em US$ por litro) 1,049 1,036 1.8 VENDAS DE GASOLINA E DIESEL (Em milhões de m 3 ) Gasolina 481 482 Diesel 199 201 1.9 BIODIESEL (Em milhões de m 3 ) Produção 3,7 5,1 Consumo 3,3 5,2 1.10 ETANOL (Em milhões de m 3 ) Produção 50,0 50,4 Consumo 48,8 49,9 Relatório Anual da Revenda de Combustíveis 2014 9
Estados unidos Por que o diesel é mais caro? Há uma série de razões pelas quais o diesel é mais caro do que a gasolina. Em primeiro lugar, como o mercado da gasolina norte-americano é dominante, a infraestrutura de refino é voltada para a produção de gasolina. A partir de um barril de petróleo, nas refinarias dos EUA, é possível produzir de 18 a 21 galões de gasolina e 10 a 12 galões de diesel. Os rendimentos das refinarias podem, de certa forma, sofrer alterações, mas para produzir mais é preciso investir bilhões de dólares em melhorias. Outro aspecto é que, enquanto os Estados Unidos mantêm predominantemente sua matriz veicular dependente da gasolina, outros países são dependentes do diesel. O combustível é utilizado na maioria dos novos veículos de passageiros na Europa. Há uma demanda forte por diesel, tanto de veículos quanto de parques industriais nos países em desenvolvimento. Os preços do diesel, assim como na gasolina, baseiam-se em uma série de fatores e não dependem apenas da demanda interna, mas também de preços externos, já que as vendas do combustível em outros países interfere na dinâmica do mercado americano. Tendências Os veículos movidos a diesel podem ganhar significativa participação de mercado nos próximos anos, já que os fabricantes querem utilizar esta tecnologia para melhorar a eficiência de suas frotas. Os veículos movidos a diesel fazem de 20% a 40% mais milhas por galão em comparação a gasolina. Quanto ao crescimento de diesel, as previsões da EIA afirmam que os motoristas vão consumir 17,1% a mais do produto em 2023 e cerca de 26% a mais, em 2040. Em contrapartida, a demanda por gasolina deverá diminuir 14,8% em 2023; e 24%, em 2040. Para que o mercado de diesel possa expandir conforme a previsão tanto da EIA quanto do Instituto de Combustíveis, o comportamento do consumidor precisa mudar. Um dos fatores limitantes para aumentar a demanda do consumidor por veículos movidos a diesel é o preço por galão. Em uma pesquisa realizada em maio de 2013, 69% dos consumidores afirmaram que a probabilidade de considerar um veículo a diesel era improvável, sendo que 54% citaram o preço do produto como um fator preponderante para a falta de interesse. Este resultado não surpreende, considerando que, em 2013, a média do preço do diesel era US$ 0,42 centavos por galão acima do preço da gasolina. 10 Relatório Anual da Revenda de Combustíveis 2014
Paradas de descanso Ao contrário do Brasil, nos Estados Unidos os pontos de paradas de descanso para caminhoneiros são bastante comuns. Os locais surgiram ainda na década de 1950, quando foi criado o Sistema de Rodovias Interestaduais. Porém, na época, com o receio de que os negócios locais nas cidades pudessem ser prejudicados pelo novo sistema, o Congresso norte-americano proibiu a instalação de serviços comerciais, como alimentação e combustíveis, nas áreas de descanso comerciais em vias públicas interestaduais. Desde então, tais serviços foram agrupados em locais estabelecidos nas saídas das rodovias. De acordo com a NATSO (Associação Nacional dos Operadores de Paradas de Caminhões), entidade norte-americana que representa os donos e operadores de paradas de caminhão e praças de viagem, as áreas de descanso comerciais prejudicam as empresas privadas por oferecerem monopólios virtuais na venda de serviços. Em 2012, os parlamentares norte- -americanos chegaram a cogitar a possibilidade de derrubar a proibição das áreas de descanso comerciais, mas acabou sendo vetada pela maioria do Congresso. A entidade calcula que, se a medida tivesse sido aprovada, mais de 97 mil negócios e 2,2 milhões de empregos poderiam ter sido prejudicados. No Brasil, o tema pontos de parada permanece indefinido, e depende das alterações na Lei 12.619, que segue em discussão ao longo deste ano. No entanto, cogita-se utilizar os espaços dos postos de combustíveis como paradas de descanso dos caminhoneiros. A realidade nacional é bem diversa da dos Estados Unidos. Lá os operadores de paradas de caminhão são os maiores distribuidores de diesel e gasolina daquele país. Combustíveis renováveis O debate atual sobre combustíveis renováveis não é, necessariamente, uma novidade, embora a discussão venha ganhando relevância dadas as circunstâncias atuais. Afinal, o etanol foi usado pela primeira vez como combustível nos primeiros automóveis no final dos anos 1890. Mais tarde, foi estimulado pelo governo no final de 1970. O consumo de combustíveis renováveis no mercado norte-americano, em grande parte, tem o apoio dos programas de governo, e há grande diversidade de novos produtos, como, por exemplo, os tipos E85, B20, E15, que estão tentando aumentar sua participação de mercado. Esta situação cria complexidades em todo o mercado e força os varejistas a tomar decisões sobre os negócios ligados aos combustíveis. Os biocombustíveis ajudam a aumentar a oferta para o consumo e contribuem elevar a competição do mercado. Como a eficiência da frota de veículo melhora e a procura global por gasolina declina, o mercado de outros combustíveis tende a se tornar mais competitivo. Paralelamente, os varejistas estão tentando tirar proveito dessas novas oportunidades. Alguns projetos estão sendo desenvolvidos para auxiliar os combustíveis renováveis a ganhar participação de mercado, entre os quais se destacam: Veículos mais novos estão sendo projetados para diferentes teores de etanol: muitos modelos de veículos produzidos hoje têm garantia para operar com combustíveis contendo nível diferenciado de etanol, como o E15. Além disso, alguns fabricantes de automóveis estão avaliando as perspectivas para a concepção de motores de alto desempenho que irão operar nos chamados renewable super premium (super premium renovável) - um combustível de alta octanagem que inclui entre 20% e 30% de etanol. Se esse mercado se consolidar, cria-se uma oportunidade para os combustíveis renováveis expandirem sua participação de mercado. Biocombustíveis mais avançados em desenvolvimento: o mercado de combustíveis renováveis hoje é dominado pelo etanol de milho e o biodiesel de soja, enquanto que o etanol de celulose segue em fase de testes. No entanto, investimentos significativos continuam sendo feitos para melhorar a produção de novas alternativas de combustíveis. No futuro, o mercado de combustíveis pode adotar estes produtos, assim que seus custos de produção diminuírem e os volumes começarem a aumentar para atender às demandas do mercado. Relatório Anual da Revenda de Combustíveis 2014 11