Significado da Elevação de Segmento ST na Miocardite Aguda



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Transcrição:

Serviço de Cardiologia Hospital de Santa Maria Centro Hospitalar de Lisboa Norte Significado da Elevação de Segmento ST na Miocardite Aguda Um Novo Paradigma? Nobre Menezes, Miguel; Magalhães, Andreia; Silva, Doroteia; Silva, Gustavo Lima Da; Brito, Dulce; Guimarães, Tatiana; Francisco, Ana Rita G.; Costa, Paula; Satendra, Milan; Nunes Diogo, A; Almeida, Ana G.

INTRODUÇÃO A miocardite aguda exibe frequentemente alterações electrocardiográficas (ECG) cujo significado não está bem estabelecido A ressonância magnética cardíaca (RMC) permite objectivar a localização, extensão e tipo de lesões na miocardite aguda A RMC poderá contribuir para a compreensão das alterações electrocardiográficas verificadas nesta patologia

OBJECTIVO Correlacionar as alterações electrocardiográficas verificadas em doentes com miocardite aguda com o tipo e distribuição de lesões aferida por RMC

MÉTODOS Estudo observacional prospectivo de doentes consecutivos com o diagnóstico de miocardite aguda confirmada por RMC de acordo com os critérios Lake Louise Todos os doentes efectuaram ECG na admissão e seriadamente em internamento

MÉTODOS Para efeitos de correlação com os achados imagiológicos, foram analisadas as seguintes alterações ECG: o Inversão de ondas T (InvT) o Infra-desnivelamento de segmento ST (InfraST) o Supra-desnivelamento de segmento ST (SupraST)

MÉTODOS Na análise por RMC foram utilizadas para comparação com os achados electrocardiográficos a presença de: o Hiperintensidade em T2 (traduzindo edema) o Realce tardio com gadolíneo (traduzindo necrose)

MÉTODOS Para análise topográfica comparativa com o ECG foram consideradas as seguintes localizações: o Anterior (septo anterior e parede anterior; V1-V4) o Lateral (paredes lateral e posterior; V5, V6, avl, I) o Inferior (parede inferior e septo inferior; II, III, avf) Considerou-se resultado positivo a existência de alteração em 1 derivações ECG Para análise de associação de localização topográfica entre as alterações ECG e de RMC, utilizaram-se o teste de Quiquadrado e o teste exacto de Fisher

RESULTADOS Dados Gerais Parâmetro Resultado N 61 Idade Média 33,5 ± 11,8 Sexo Masculino 54 (91%) Alterações electrocardiográficas 61 (100%) Supra-desnivelamento segmento ST 32 (53%) Infra-desnivelamento segmento ST 6 (10%) Inversão de onda T 17 (28%) Hipersinal T2 em 1 segmento 61 (100%) Realce Tardio em 1 segmento 60 (98%)

RESULTADOS Distribuição topográfica global Parâmetro Uma localização Anterior Lateral Inferior Duas localizações Três localizações Supra ST 4 2 2 9 15 Infra ST 2 1 2 1 0 Inversão T 0 8 2 4 3 Hipersinal T2 2 23 2 25 8 Realce Tardio 1 13 0 32 15

RESULTADOS Distribuição topográfica global Parâmetro Uma localização Anterior Lateral Inferior Duas localizações Três localizações Supra ST 4 2 2 9 15 Infra ST 2 1 2 1 0 Inversão T 0 8 2 4 3 Hipersinal T2 2 23 2 25 8 Realce Tardio 1 13 0 32 15

RESULTADOS Distribuição topográfica global Parâmetro Uma localização Anterior Lateral Inferior Duas localizações Três localizações Supra ST 4 2 2 9 15 Infra ST 2 1 2 1 0 Inversão T 0 8 2 4 3 Hipersinal T2 2 23 2 25 8 Realce Tardio 1 13 0 32 15

RESULTADOS Verificou-se associação estatisticamente significativa entre a localização de supra-desnivelamento de segmento ST e a localização de realce tardio (teste exacto de Fisher p=0,023)

RESULTADOS Distribuição por localização individual Elevação Segmento ST Elevação Segmento ST Elevação Segmento ST Anterior Inferior Lateral Realce Tardio Sim Não Sim 29,5 % 6,6 % Não 31,1 % 32,8 % Realce Tardio Sim Não Sim 13,1 % 32,8 % Não 24,6 % 29,5 % Realce Tardio Sim Não Sim 42,6 % 0 % Não 52,5 % 4,9 % p=0,011 p=0,173 p=0,126

RESULTADOS Considerando a distribuição topográfica em cada localização individualmente, verificou-se associação estatisticamente significativa entre a localização de supra-desnivelamento de segmento ST e a localização de realce tardio nos casos em que houve envolvimento da parede anterior (Χ 2 = 6,46 p=0,011)

RESULTADOS Não se verificou associação estatisticamente significativa entre a distribuição das demais alterações electrocardiográficas e de realce tardio Não se verificou associação estatisticamente significativa entre a distribuição de hiperintensidade em T2 alterações electrocardiográficas e quaisquer

CONCLUSÕES Serviço de Cardiologia Hospital de Santa Maria Centro Hospitalar Lisboa Norte O supra-desnivelamento do segmento ST correlacionou-se topograficamente com a necrose, mas não com o edema, na miocardite aguda. As restantes alterações não exibiram nenhuma correlação topográfica com lesão miocárdica.

Serviço de Cardiologia Hospital de Santa Maria Centro Hospitalar Lisboa Norte Atendendo ao carácter mesoparietal e/ou subepicárdico da necrose na miocardite aguda, é possível que o supra-desnivelamento do segmento ST possa traduzir também fenómenos de lesão miocárdica não subendocárdicos e não apenas lesão transmural como a verificada no enfarte agudo do miocárdio CONCLUSÕES