MUNDO MEU RELATO DE EXPERIÊNCIA DA UTILIZAÇÃO DA MÚSICA COM CRIANÇAS AUTISTAS

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Transcrição:

MUNDO MEU RELATO DE EXPERIÊNCIA DA UTILIZAÇÃO DA MÚSICA COM CRIANÇAS AUTISTAS Sandra Beltrão Tavares Costa (1); Mario César Pedroso Lira (1) Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales UCES sbtcosta@hotmail.com Resumo: Mundo meu, título do projeto músico-pedagógico, que faz referência à individualização, comum às crianças autistas, nasceu da percepção sobre a importância da música no acompanhamento de crianças com essa característica intelectual. Cantar e contar estórias são atividades estimulantes para qualquer criança. No entanto, a reação dos autistas revela uma interação com a música e com a poesia, que vai além da diversão. O projeto, que inclui um livro de estórias e um DVD, tem sua inspiração no trabalho desenvolvido no CEMPA - Centro Multiprofissional de Potencialização da Aprendizagem e conta com a participação de alguns dos alunos da instituição como atores no processo de gravação do DVD. Este material busca atender às expectativas de alunos e professores, com a utilização de músicas em sala de aula e apresentar a criança autista como um transmissor de conteúdos pedagógicos relevantes para crianças. As estórias falam de crianças com limitações motoras, visuais e intelectuais, que descobrem nas rotinas (banho, pentear cabelos, escovar dentes etc.), soluções para seu cotidiano. As canções abordam temas semelhantes aos textos. O objetivo deste artigo é descrever o projeto, da elaboração à execução, apontando os desafios e as possibilidades do trabalho com as crianças autistas através deste recurso didático-pedagógico. Palavras-chave: Autismo, Mundo Meu, CEMPA Introdução Transtorno do Espectro do Autismo Existem várias correntes teóricas que procuram compreender os motivos que levam ao quadro de Autismo, todas acordam na caracterização principal da síndrome: a inadequação vincular. (ASSUNPÇÃO JR, 1993, SCHWATZMAN, 1995, AMI, 2006). Observamos na prática educacional, em sala de aula, e na prática clínica, em consenso com a literatura, que o autista apresenta diferentes formas de inadequação vincular, ou seja, um déficit apresentado na interação social (pessoa-pessoa), na interação lúdica (pessoa-objeto) e na interação perceptual (pessoa-música). Segundo Wing (1993, p.161 a 168), vários estudos sobre o desenvolvimento da habilidade biológica de interagir com os outros já foram realizados com bebês típicos, demonstrando que a deficiência nestes aspectos é um dos déficits considerados a causa dos problemas das pessoas autistas, ocasionada por uma "disfunção cerebral física". Ressalta que o "transtorno no reconhecimento social" revela-se de modos distintos em cada caso, desde "procurarem ativamente um contato social de forma inadequada e unilateral (...) onde a sua tentativa de contato é feita em

função do próprio interesse, de uma ideia repetitiva e idiossincrática", "não procurarem espontaneamente o contato social" ou, em casos mais graves, "não demonstrarem habilidade de reconhecer os outros seres humanos, tendendo ao isolamento e indiferença às pessoas e evitar ativamente o contato social ou físico com outros". Segundo ainda alguns teóricos, O defeito original no desenvolvimento fetal do cérebro pode ser uma das causas de anormalidades neuroquímicas e é provavelmente o responsável pela resistência do bebê a ser tocado e reconfortado, evidenciando uma incapacidade da criança Autista (BERTOLUCHI, 2011, p. 161). A estimulação táctil, através de carícias e abraços, pode promover um desenvolvimento mais normal, mesmo que o bebê se mostre indiferente aos carinhos. Por isso, mesmo frente à resistência ao toque, o bebê precisa ser gradualmente "treinado" a tolerá-lo, pois quanto mais viver sem experimentar o sentimento de ser reconfortado, maior é a probabilidade de que os circuitos cerebrais envolvidos no desenvolvimento de contato emocional com os outros sejam prejudicados. A inadequação vincular mostra-se, no autismo, também na forma de comportamentos estereotipados, onde o indivíduo se auto-estimula gerando prazer para si mesmo. As pesquisas no trabalho de musicalização aplicada ao autismo apóiam ser este o caminho como primeira maneira de aproximação ao autista, possibilitando-lhe também a abertura de canais de comunicação. Sendo particularmente recomendada para o autismo infantil, por poder ser a primeira técnica de aproximação e por gerar, dessa forma a ampliação comunicativa da criança autista com seus pares. CEMPA SOCIAL A Missão do CEMPA-SOCIAL é oferecer um atendimento especializado de excelência a crianças e adolescentes com Transtorno do Neurodesenvolvimento (Down, Autismo e Deficiência intelectual), independente de sua classe social. O CEMPA- SOCIAL tem como objetivo propiciar atendimento Psicoeducacional: Pedagógico Modelo TEACCH, Musicoterapia e Atividade Motora/Integração Sensorial a crianças e jovens carentes com Transtorno do Desenvolvimento Autismo, Síndrome de Down, Paralisia Cerebral e Autismo. De acordo com nossa proposta de atendimento, a criança ou jovem permanece em atendimento de 4 a 12 horas semanais. Atuamos também no diagnóstico precoce, através de

consulta com Neuropediatra, além de atendimento Psicológico, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional. Acreditamos que um atendimento integrado favorece muito mais o desenvolvimento de nossas crianças, por isso realizamos reuniões bimestrais, onde a família acompanha a evolução de seu filho e posteriormente visitamos as escolas frequentadas por estes no contra turno, quando expomos nosso PDI- Plano de Desenvolvimento Individualizado, com sugestões para que a verdadeira inclusão aconteça no ambiente escolar. O AME+, dirigido pela psicóloga Dr. Patrícia Lemos é um grupo de apoio aos pais das crianças que se encontram em tratamento. Oferece ajuda, troca de experiências, discussão sobre o tratamento de cada criança (permitindo que outros pais identifiquem novas oportunidades de tratamento), além de proporcionar auxílio na condução e conscientização de cada caso. Vencer o preconceito é um dos principais desafios. Buscamos também ampliar e difundir conhecimentos a profissionais, familiares e professores através de palestras e workshops. O atendimento Socioeducacional é parte de nossos objetivos. Este programa tem como finalidade a qualificação profissional, realizada através de treinamentos, capacitações e oportunidades. Com início aos 14 anos (treinamento de 02 anos), quando são promovidas oficinas com durações prefixadas; são avaliadas as aptidões profissionais de cada adolescente, capacidade cognitiva e instrumental. É realizada ainda uma pesquisa para identificação e mapeamento de postos de trabalho na cidade de Petrolina e região com o auxílio do SENAI e SENAC. Outro alvo é a assessoria Jurídica, que tem como objetivo orientar e proteger as pessoas com necessidades especiais, independentes de sua etiologia, e seus familiares, dos seus direitos sociais e civis. O CEMPA-SOCIAL tem como público alvo, crianças de jovens com Transtorno do Desenvolvimento, todas as famílias devem comprovar renda inferior a 2 salários mínimos. Nosso processo começa com um agendamento de uma entrevista, onde deverão ser apresentados os documentos que comprovem a renda familiar e posteriormente será avalizado por uma administração. E finalmente são agendadas as avaliações necessárias. O Serviço ambulatorial é responsável pela avaliação de pacientes e reabilitação clínica. O CEMPA dispõe de uma equipe multiprofissional que reúne: Neuropediatra, Psicóloga, Psicopedagoga, Fisioterapeuta, Fonoaudióloga, e Terapeuta Ocupacional. Os atendimentos são realizados de forma individual ou em grupo. O objetivo é o diagnóstico precoce para que a

intervenção clínica e educacional especializada possa ser iniciada o mais breve possível, propiciando, assim, um prognóstico mais favorável. O Projeto Mundo Meu O objetivo geral deste projeto foi desenvolver um livro educativo, ilustrado e com tipologia poética (rima), com textos que abordem o cotidiano de crianças com limitações variadas. Ainda preparar um DVD, com canções voltadas para os temas do livro e com participação de crianças autistas, objetivando protagonizar estes indivíduos, demonstrando sua capacidade de interação em projetos artísticos, como O Mundo Meu. Este livro e DVD foram distribuídos em Escolas Públicas Municipais e, associado a esta distribuição, palestras sobre o autismo acompanharam a exibição dos vídeos e as contações de estórias presentes no Livro. Tivemos ainda como objetivos específicos proporcionar às crianças de nossa região um material didático que fala de inclusão com música e poesia. Além disso, mostrar às crianças músicas com atmosfera regional, através de cordéis e canções, como também disponibilizar esse material para outras crianças autistas da região. METODOLOGIA

Mundo Meu O presente Projeto foi desenvolvido junto às instalações do Centro do Centro Multiprofissional de Potencialização da Aprendizagem CEMPA, Petrolina PE. Participaram deste sete crianças, entre 8 e 12 anos, de ambos os sexos, diagnosticadas como autistas (Transtorno do Espectro do Autismo TEA). Mundo meu, título que faz referência a individualização, comum às crianças autistas, nasceu da composição de uma canção sobre a realidade dos alunos do CEMPA. Cantar e contar estórias, durante as aulas de musicalização são atividades estimulantes para qualquer criança. No entanto, a reação dos autistas revela uma interação com a música e com a poesia, que vai além da diversão. A maioria do material utilizado durante as aulas de musicalização tem uma abordagem distante da realidade regional de nossos alunos. Assim, decidimos produzir, com a participação de alguns dos nossos alunos, um material que, ao mesmo tempo, atenda às expectativas de alunos e professores, e que contenha características locais, como a rima e alguns ritmos. As histórias, falam de crianças com limitações motoras, visuais e intelectuais, que descobrem nas rotinas (banho, pentear cabelos, escovar dentes etc.), soluções para seu cotidiano. As canções abordam temas semelhantes aos textos. O projeto mundo meu, resume-se a contas estórias e cantar canções. Fazer isso, no entanto, de maneira a protagonizar a criança autista através desse material. Para a concretização do projeto, solicitamos a autorização dos pais ds crianças, tanto para a participação destas no projeto, como para a divulgação das imagens. Discussão dos resultados Estudos indicam que as áreas do processamento da linguagem em pessoas autistas têm ativação diminuída (ASSUNPÇÃO JR, 1993). No entanto, as habilidades musicais são comumente conservadas. As regiões cerebrais associadas à linguagem e à música se sobrepõem, o que apóia a possibilidade de reabilitação desta através da música, trazendo melhora na conduta social e comunicativa através da ampliação da atenção compartilhada (GERETSEGGER et. al., 2012).

Pesquisas assinalam melhoras na neuroplasticidade e comprovam que intervenções fundamentadas em música podem ser usadas para fortalecer conexões entre as regiões frontal e temporal, que exibem anormalidades nos autistas (WAN; SCHLAUG, 2010). Atividades de musicalização envolvem imitação e sincronização, levando ao acionamento de áreas que contêm neurônios-espelho e proporcionando o desenvolvimento da cognição social, atividades nas quais pessoas autistas caracteristicamente mostram problemas. As crianças que participaram do Projeto apresentaram melhoras significativas no nível de atenção, imitação motora e vocal, levando a melhoras na comunicação. Desenvolveram também a interação social.

Considerações Finais A musicalização direcionada a autistas, mostrou ser uma fermenta eficaz na melhoria da capacidade de resposta interpessoal. Ela proporciona prazer, desenvolvimento intelectual e emocional, interação com outras pessoas, treinamento de habilidades linguísticas e motoras. Contudo, futuros estudos nesta área devem ser estimulados para proporcionar uma avaliação mais aprofundada destas hipóteses. REFERÊNCIAS AMI, Klin. Autismo e síndrome de Asperger: uma visão geral. Rev Bras Psiquiatr. 2006;28(Supl I):S3-11. ASSUMPÇÃO JR. FB. Autismo infantil: um algoritmo clínico [tese de livre docência]. São Paulo: Faculdade de Medicina da USP; 1993. BERTOLUCHI, M. A. Autismo, musicalização e musicoterapia, Artigos Meloteca, 2011.

Comunicação no Autismo Infantil, Goiânia: Sociedade Pestalozzi de Goiânia, (projeto), 1999. GUERRER, B. L. e MENEZES, J. L. Percepção musical em crianças autistas: melhora de funções interpessoais, 2014. GAUDERER, E. C. Autismo e outros atrasos do Desenvolvimento: uma atualização para os que atuam na área: do especialista aos pais (Trad. Ângela Moura, Linda Lemos), Brasília: CORDE, 1993. GERETSEGGER M, HOLCK U, GOLD C. Randomised controlled trial of improvisational music therapy s effectiveness for children with autism spectrum disorders (TIME-A): study protocol. BMC Pediatrics. 2012; 12(2): 1-9. SCHWARTZMAN, S., ASSUNPÇÃO JR, BAPTITA, F. Autismo Infantil. São Paulo: Memnon, 1995. WING, L. O contínuo das características autísticas,1993.