VANTAGENS E DESVANTAGENS DA LEI COMPLEMENTAR Nº 123/2006 NA SUSTENTABILIDADE DAS INDÚSTRIAS DE CONFECÇÃO DO ESTADO DO CEARÁ



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Transcrição:

FACULDADE LOURENÇO FILHO CURSO DE BACHARELADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS JOESYO LOPES BORGES VANTAGENS E DESVANTAGENS DA LEI COMPLEMENTAR Nº 123/2006 NA SUSTENTABILIDADE DAS INDÚSTRIAS DE CONFECÇÃO DO ESTADO DO CEARÁ FORTALEZA 2010

JOESYO LOPES BORGES VANTAGENS E DESVANTAGENS DA LEI COMPLEMENTAR Nº 123/2006 NA SUSTENTABILIDADE DAS INDÚSTRIAS DE CONFECÇÃO DO ESTADO DO CEARÁ Monografia apresentada à Faculdade Lourenço Filho como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Contábeis Orientador: Prof. Ms. José da Silva Barros FORTALEZA 2010

JOESYO LOPES BORGES VANTAGENS E DESVANTAGENS DA LEI COMPLEMENTAR Nº 123/2006 NA SUSTENTABILIDADE DAS INDÚSTRIAS DE CONFECÇÃO DO ESTADO DO CEARÁ Monografia apresentada à Faculdade Lourenço Filho como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Contábeis. Monografia aprovada em: / / Nota obtida: Prof. Ms. José da Silva Barros Orientador Prof.ª Esp. Cristiane Ramos 1ª Examinadora Prof.ª Ms. Suelene Silva Oliveira 2ª Examinadora

Aos meus eternos companheiros, José Borges e Maria Rosilea, a quem recorri para buscar inspiração e força para a conclusão desse trabalho. 3

4 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por me ter dado a vida, inteligência e força para continuar a caminhada em busca dos meus objetivos; Aos meus pais, José Borges e Maria Rosilea, pela minha existência, que me iniciaram no mundo da educação e mostraram-me o caminho da humildade como filosofia de vida; Aos meus Irmãos, pelo estímulo dado para obter êxito em mais uma jornada; Ao meu orientador José Barros, pela paciência e dedicação dada à realização da monografia; Ás professoras Suelene Silva e Cristiane Ramos por fazerem parte da banca examinadora; E a todos os meus amigos, pelo incentivo e apoio durante a realização deste trabalho.

Para eu obter algo que nunca tive, preciso fazer algo que nunca fiz. Chico Xavier 5

6 RESUMO As empresas do ramo da indústria de confecção do Estado do Ceará optantes pelo Simples Nacional, classificadas como empresas de pequeno porte, são o foco do presente trabalho. Com a sanção da LC n 123/2006 diversas inovações, no que diz respeito às obrigações tributárias principais e acessórias vieram à tona, fazendo surgir vários questionamentos sobre qual o verdadeiro impacto dessas inovações no setor da indústria de confecção do estado do Ceará. Através de uma pesquisa bibliográfica analisou-se de uma forma geral, a evolução histórica dos benefícios legais garantidos às microempresas e empresas de pequeno porte. Em seguida, relacionaram-se as principais inovações advindas da LC n 123/2006, enfatizando o setor foco deste trabalho. Os resultados da pesquisa bibliográfica demonstram que as regras inovadoras estabelecidas pela Lei Complementar n 123/2006, em suma, não trazem benefícios reais para as indústrias de confecção do estado do Ceará, pois com a LC nº 123/2006 o setor citado sofrerá um aumento indireto da carga tributária, concluindo-se, assim, que o setor da indústria de confecção do Estado do Ceará não está tento o tratamento constitucionalmente garantido, o tratamento simplificado e favorecido dispensado às microempresas e empresas de pequeno porte. Palavras-chave: Empresas de Pequeno Porte. Indústria de Confecção. Lei Complementar n 123/2006. Carga Tributária.

7 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS SEBRAE - Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas PIB - Produto Interno Bruto LC - Lei Complementar SIMPLES - Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte OTN - Obrigações do Tesouro Nacional PIS - Programa de Integração Social PASEP - Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público FINSOCIAL - Fundo de Investimento Social CF - Constituição Federal ME - Microempresa RAIS - Relação Anual de Informações Sociais CLT - Consolidação das Leis do Trabalho CAGED - Cadastro Geral de Empregados e Desempregados GFIP - Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social CTPS - Carteira de Trabalho e Previdência Social ICMS - Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação ISSQN - Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza COFINS - Contribuição para Financiamento da Seguridade Social CGSN - Comitê Gestor de Tributação das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte DIEF - Declaração de Informações Econômicas e Fiscais

8 IPI - Imposto sobre Produtos Industrializados EPP - Empresa de Pequeno Porte RFB - Receita Federal do Brasil FCPJ - Ficha Cadastral da Pessoa Jurídica DDS - Declaração Digital de Serviços CPBS - Cadastro de Produtores de Bens e Serviços DAE - Documento de Arrecadação IRPJ - Imposto de Renda da Pessoa Jurídica CSLL - Contribuição Social sobre o Lucro Líquido INSS - Instituto Nacional de Seguridade Social MPE's - Microempresas e Empresas de Pequeno Porte Ufir - Unidade Fiscal de Referência Sefin - Secretaria de Finanças Sefaz Ce - Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará

9 LISTA DE QUADROS Quadro 1 Classificação das MPE s Segundo o SEBRAE...16 Quadro 2 Sublimites de receita bruta adotados pelos estados brasileiros...34 Quadro 3 Tabela para cálculo do valor devido a título de Simples Nacional pelas indústrias de confecção do estado do Ceará...69 LISTA DE GRÁFICO Gráfico 1 Temas mais importantes que devem constar na proposta da Lei Geral (agregação por áreas)...49

10 SUMÁRIO INTRODUÇÃO... 11 1 A MICROEMPRESA E A EMPRESA DE PEQUENO PORTE... 15 1.1 Conceitos... 15 1.2 Evolução Histórica da Legislação... 18 2 ESTATUTO NACIONAL DA MICROEMPRESA E DA EMPRESA DE PEQUENO PORTE LC N 123/2006...26 2.1 Novidades Introduzidas pela Lei Complementar n 123/2006... 27 2.1.1 Simples Nacional Aspectos Tributários... 27 2.1.2 Estatuto Nacional Aspectos Trabalhistas e Previdenciários, Mercadológicos e Estruturais...40 2.2 Sistema Normativo Relacionado à Lei Complementar n 123/2006. 52 3 A INDÚSTRIA DE CONFECÇÃO DO ESTADO DO CEARÁ E A LEI COMPLEMENTAR N 123/2006...53 3.1 Regime de Tributação Municipal e Alterações Promovidas pela LC n 123/2006...53 3.1.1 Obrigações Principais...54 3.1.2 Obrigações Acessórias...55 3.2 Regime de Tributação Estadual e Alterações Promovidas pela LC n 123/2006... 58 3.2.1 Obrigações Principais... 58 3.2.2 Obrigações Acessórias... 65 3.3 Regime de Tributação Federal e Alterações Promovidas pela LC n 123/2006... 67 3.3.1 Obrigações Principais... 68 3.3.2 Obrigações Acessórias... 71 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 72 REFERÊNCIAS... 74

11 INTRODUÇÃO O tratamento diferenciado e favorecido dispensado às microempresas e às empresas de pequeno porte no Brasil teve seu início na metade da década de 80 (oitenta) com a sanção da lei n 7.256, de 27 de novembro de 1984. Esta lei regulou apenas o campo das microempresas, pois a mesma não dispôs sobre o conceito de empresa de pequeno porte, figura jurídica esta que só veio surgir 4 (quatro) anos depois com a promulgação da Carta Magna de 1988. Apesar da primeira lei sobre o tratamento especial dispensado às MPE s datar do ano de 1984, os marcos legais na legislação brasileira, que fundamentam as medidas e ações de apoio às micro e pequenas empresas, são os artigos 146, 170 e 179 da Constituição Federal de 1988. A partir desta legislação, as microempresas e as empresas de pequeno porte passaram a ter um embasamento legal sólido, já que diferentemente de uma lei, como em 1984, agora uma Constituição garantia um tratamento diferenciado, simplificado e favorecido para essas empresas. Após a Constituição Federal de 1988 diversas leis, em sentido amplo, surgiram para regular o campo das MPE s, dentre elas pode-se citar: lei n 8.864, de 28 de março de 1984, lei n 9.317, de 05 de dezembro de 1996, lei n 9.841, de 05 de outubro de 1999, Decreto n 3.474, de 19 de maio de 2000 e etc. Todas essas legislações criadas tinham intenções semelhantes: proteger, simplificar e beneficiar os atos das MPE s para que essas entidades pudessem ser concorrentes, duradouras e continuassem a impulsionar a economia brasileira. No entanto, por diversos motivos, as microempresas e as empresas de pequeno porte não sentiam os reais benefícios garantidos constitucionalmente. As microempresas e as empresas de pequeno porte sempre foram e são peças fundamentais para a economia nacional. Segundo uma pesquisa do SEBRAE, intitulada de LEI GERAL DA MICRO E PEQUENA EMPRESA O início de um ciclo de desenvolvimento para os pequenos negócios e para o Brasil, divulgada em 2003, as MPE s eram responsáveis por: 56,1% da força de trabalho formalizada, 26% da massa salarial, 20% do PIB e existiam em um número de 5 (cinco) milhões

12 de estabelecimentos formais, o que representava uma proporção de 99% das empresas formais brasileiras. Apesar da importância econômica, as MPE s eram carentes de políticas públicas que trouxessem ao campo pragmático os reais benefícios constitucionais garantidos a elas, assim observando a realidade brasileira, em 2003 o SEBRAE iniciou uma articulação para o surgimento de uma nova legislação para as MPE s. Desde esse ano, conforme mostra uma sondagem de opinião divulgada pelo SEBRAE em setembro de 2005 denominada de Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas Sondagem de Opinião, por meio de mobilizações e discussões de mais de 6 (seis) mil lideranças, em todo o país, o projeto do surgimento de uma nova legislação foi ganhando definições e transformou-se no anteprojeto de lei que foi encaminhado ao Congresso Nacional, pela Frente Empresarial pela Lei Geral, no dia 8 de junho de 2005, anteprojeto esse que 18 (dezoito meses) depois fez surgir o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, instituído pela Lei Complementar n 123, de 14 de dezembro de 2006, a qual foi alterada pela Lei Complementar n 127, de 14 de agosto de 2007. O Estatuto Nacional, apesar do elevado número de polêmicas ao seu respeito, surge com a responsabilidade de promover o desenvolvimento econômicofinanceiro sustentável das microempresas e das empresas de pequeno porte. O objetivo geral deste trabalho é o de relacionar as inovações introduzidas pela Lei Complementar n 123, de 14 de dezembro de 2006 (Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte), analisando as suas possíveis influências na sustentabilidade econômico-financeira das empresas de pequeno porte do ramo da indústria de confecções do estado do Ceará, estabelecidas em Fortaleza. Como objetivos específicos, este trabalho propõe discorrer sobre a evolução histórica da legislação aplicável às MPE s, Apresentar de forma ampla os dispositivos trazidos pela LC n 123/2006 e por fim analisar os resultados desses dispositivos na sustentabilidade econômico-financeira das indústrias de confecção do estado do Ceará. A metodologia de pesquisa utilizada neste trabalho é o método dedutivo, já que se parte de premissas genéricas e aplicam-se as mesmas a um objeto de

13 estudo específico. Considerar leis como premissas para deduções torna-se um procedimento bastante crítico, já que as conclusões obtidas poderão ser falsas. O método comparativo auxiliará nos resultados desse trabalho. Para Gil (2000, p. 32) os métodos de abordagem esclarecem acerca dos procedimentos lógicos, que deverão ser seguidos no processo de investigação cientifica dos fatos da natureza e da sociedade. Esses métodos possibilitam ao pesquisador decidir acerca do alcance de sua investigação, das regras de explicação dos fatos e da validade de suas generalizações. Este trabalho será realizado por meio de pesquisa bibliográfica, utilizando a pesquisa qualitativa com a revisão do estudo especifico e fundamentação teórica. Tem como pesquisa também a exploratória, este tipo de estudo visa proporcionar um maior conhecimento para o pesquisador acerca do assunto, a fim de que esse possa formular problemas mais precisos ou criar hipóteses que possam ser pesquisadas por estudos posteriores (GIL, 1999, p. 43). As pesquisas exploratórias, segundo Gil (1999, p. 43) visam proporcionar uma visão geral de um determinado fato, do tipo aproximativo. Além da Introdução e da Conclusão, este trabalho é estruturado em capítulos, da seguinte forma: Em seu primeiro capítulo, o trabalho expressa a diversidade de conceitos de microempresa e de empresa de pequeno porte que eram utilizados antes da LC n 123/2006, relata sobre a importância socioeconômica das MPE s apresentando dados estatísticos para comprovação de tal fato, assim como apresenta toda a evolução histórica da legislação a respeito das MPE s. No segundo capítulo o trabalho ocupa-se em elencar e analisar as principais inovações introduzidas pela LC n 123/206 em todos os seus aspectos, assim como relaciona todo o sistema normativo voltado à LC n 123/2006, a nível Federal e Estadual. No terceiro capítulo o presente trabalho, buscando a delimitação do tema, trata do regime de tributação das indústrias de confecções do estado do Ceará, mais especificamente as estabelecidas no município de Fortaleza, no que diz respeito às três esferas: municipal, estadual e federal, assim como analisa os impactos das

14 inovações trazidas pela LC n 123/2006 na sustentabilidade econômico-financeira das empresas de pequeno porte do ramo da indústria de confecções do Estado do Ceará, estabelecidas em Fortaleza. A conclusão de todo esse trabalho resultará em um planejamento tributário nas indústrias de confecção do estado de Ceará ou de uma urgente alteração na legislação nº 123/2006, pois o setor de confecção contribui bastante no estado do Ceará.

15 1 A MICROEMPRESA E A EMPRESA DE PEQUENO PORTE 1.1 Conceitos No Brasil a conceituação e classificação das MPE s não é algo unânime, há mais de um conceito válido de microempresa e de empresa de pequeno porte. A variação conceitual persiste por causa dos variados critérios que podem ser adotados para tal conceituação, dentre os mais utilizados estão o montante do faturamento e o número de empregados. A conceituação e a classificação das MPE s são um assunto de extrema relevância, pois é com base na classificação e/ou conceituação que se determinará, a priori, se uma empresa terá ou não direito a certos benefícios garantidos em lei, logo uma classificação errônea poderá prejudicar uma empresa ou até mesmo todo um ramo de atividade econômica, assim como desvirtuar pesquisas de utilidade pública. Antes da sanção da Lei Complementar n 123/2006, alterada pela Lei Complementar n 128/2008, os três principais conceitos das MPE s eram os conceitos da Lei n 9.841, de 5 de outubro de 1999, da Lei n 9.317, de 5 de dezembro de 1996 e o publicado pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SEBRAE. A Lei n 9.317/96, que instituiu o Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte SIMPLES alterada por diversas leis, sendo a última alteração dada pela Lei n 11.196/2005, definiu microempresa e empresa de pequeno porte da seguinte forma: Art. 2º Para os fins do disposto nesta Lei, considera-se: I - microempresa a pessoa jurídica que tenha auferido, no ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais); II - empresa de pequeno porte a pessoa jurídica que tenha auferido, no ano-calendário, receita bruta superior a R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 2.400.000,00 (dois milhões e quatrocentos mil reais). A Lei 9.841/99, que instituiu o Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, dispondo sobre o tratamento jurídico diferenciado, simplificado e favorecido previsto nos arts. 170 e 179 da Constituição Federal utilizava o critério do faturamento para a definição, conforme determinava o seu art. 2 a seguir transcrito:

16 Art. 2 Para os efeitos desta Lei, ressalvado o disposto no art. 3, considera-se: I - microempresa, a pessoa jurídica e a firma mercantil individual que tiver receita bruta anual igual ou inferior a R$ 244.000,00 (duzentos e quarenta e quatro mil reais); II - empresa de pequeno porte, a pessoa jurídica e a firma mercantil individual que, não enquadrada como microempresa, tiver receita bruta anual superior a R$ 244.000,00 (duzentos e quarenta e quatro mil reais) e igual ou inferior a R$ 1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil reais). Conforme estabelece o art. 2, II, do Decreto 3.474/2000, o qual regulamentou a Lei 9.841/99, entende-se por receita bruta: Art. 2º Para os efeitos da Lei no 9.841, de 1999, e deste Decreto, considera-se: I [...]; II - receita bruta, como o produto da venda de bens nas operações de conta própria, o preço dos serviços prestados e o resultado auferido nas operações de conta alheia, não incluídos as vendas canceladas, os descontos incondicionais concedidos e os impostos não cumulativos cobrados, destacadamente, do comprador ou contratante, dos quais o vendedor dos bens ou prestador dos serviços seja mero depositário. O SEBRAE, além do critério utilizado no estatuto da microempresa e da empresa de pequeno porte, conceitua e classifica as MPE s de acordo com a quantidade de funcionários, conforme quadro a seguir: PORTE Nº DE EMPREGADOS Microempresa Comércio e serviços: até 9 empregados Indústria: até 19 Empresa de Pequeno Porte empregados Comércio e serviços: de 10 a 49 empregados Indústria: de 20 a 99 empregados Quadro 1 Classificação das MPE s Segundo o SEBRAE Fonte: Adaptado pelo autor a partir de dados do SEBRAE (2007) O critério adotado pelo SEBRAE vem sendo alvo de muitas críticas, pois a quantidade de funcionários não é uma boa medida para classificação de porte empresarial, já que existem determinados ramos empresariais que naturalmente possuem um quadro funcional pequeno, devido a automatização, e um elevado faturamento, como é o caso das empresas de capital intensivo que investem grande

17 parte do capital em tecnologia da automação reduzindo assim a quantidade de funcionários, como é o caso das montadoras de veículos. Além dos conceitos baseados no faturamento, os quais tiveram como fontes de direito, leis federais, existiam ainda as classificações para fins de enquadramento a níveis estadual e municipal. Com isso percebe-se a imensidão de classificações e conceitos que existiam, dificultando as políticas que tinham o objetivo de garantir o tratamento simplificado e diferenciado garantidos constitucionalmente. Com o advento da LC n 123/2006, alterada pela Lei Complementar n 128/2008, os conceitos presentes nas leis n 9.317/96 e n 9.841/99 foram revogados dando lugar a uma conceituação única, no que diz respeito ao volume de receita bruta anual. A partir do dia 1 de julho de 2007, as microempresas e as empresas de pequeno porte passaram a ser conceituadas legalmente, para fins de enquadramento no estatuto das MPE s e no Simples Nacional, como: Art. 3 Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou empresas de pequeno porte a sociedade empresária, a sociedade simples e o empresário a que se refere o art. 966 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, devidamente registrados no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que: I no caso das microempresas, o empresário, a pessoa jurídica, ou a ela equiparada, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais); II no caso das empresas de pequeno porte, o empresário, a pessoa jurídica, ou a ela equiparada, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 2.400.000,00 (dois milhões e quatrocentos mil reais). A LC n 123/2006, alterada pela Lei Complementar n 128/2008, disciplinada pelos artigos 970 e 979 da Lei n 10.406, de 10 de janeiro de 2002, Novo Código Civil, introduziu ainda um novo conceito, o de pequeno empresário, segundo o novo estatuto, em seu artigo 68, pequeno empresário é o empresário individual que caracterizado como microempresa na forma do parágrafo anterior aufira receita bruta anual de até R$ 36.000,00 (trinta e seis mil reais). Para os propósitos deste estudo utilizar-se-ão os conceitos e classificações introduzidas pela LC n 123/2006, alterada pela Lei Complementar n 128/2008.

18 1.2 Evolução Histórica da Legislação O tratamento especial dispensado às microempresas e às empresas de pequeno porte MPE s - brasileiras teve seu início no final do ano de 1984, no final da ditadura militar, com a sanção da lei n 7.256, de 27 de novembro de 1984, o Estatuto da Microempresa, instrumento legal que estabeleceu normas relativas ao tratamento diferenciado, simplificado e favorecido nos campos administrativo, tributário, previdenciário, trabalhista, creditício e de desenvolvimento empresarial. A lei n 7.256/84 estabeleceu normas relativas tão somente à Microempresa, concluindo-se assim que naquele momento inexistia a figura da empresa de pequeno porte. Para essa lei, microempresa era a pessoa jurídica e as firmas individuais que auferissem receita bruta anual de até 10.000,00 Obrigações do Tesouro Nacional OTN. Apesar da lei citar a expressão receita bruta, a mesma não chegou a expressar o que seria considerado como tal, ou seja, faltou a conceituação. Em resumo, a lei n 7.256/84 trouxe os seguintes benefícios para as entidades que satisfizessem os requisitos e se cadastrassem como microempresas: No campo administrativo: Em seu artigo 4, a lei separa as microempresas das demais empresas atribuindo obrigações burocráticas específicas, reduzindo assim o nível de burocracia para as empresas beneficiárias de tal lei, assim como facilitou a baixa de empresas inativas que possuíam débitos com a fazenda pública, já que redimiu tais créditos tributários. No campo tributário: No campo tributário a lei trouxe novidades para as obrigações principais e acessórias das microempresas, pois em seu artigo 11 a mesma isentava tais empresas dos seguintes tributos: Imposto sobre a Renda e Proventos de qualquer Natureza, Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro e sobre Operações Relativas a Títulos e Valores Mobiliários, Imposto sobre Serviços de Transporte e Comunicações, Imposto sobre a Extração, a Circulação, a Distribuição

19 ou Consumo de Minerais do País, contribuições ao Programa de Integração Social - PIS, e ao Fundo de Investimento Social FINSOCIAL, e ainda taxas federais vinculadas exclusivamente ao exercício do poder de polícia, com exceção da taxa rodoviária única, da taxa de controles metrológicos e das contribuições devidas aos órgãos de fiscalização profissional. Outro benefício foi a dispensa no cumprimento das obrigações acessórios decorrentes dos tributos citados no parágrafo anterior. No campo previdenciário e trabalhista: Conforme artigo 19 e incisos, as microempresas e seus empregados recolhiam as contribuições destinadas ao custeio da Previdência Social pelo menor percentual existente na legislação em vigor na época. No campo trabalhista, as microempresas estavam dispensadas de comunicar ao Ministério do Trabalho e aos sindicatos representativos de classe, o início e o término das férias coletivas. No campo creditício e do desenvolvimento empresarial: Desde o princípio houve a preocupação com a captação de recursos pelas microempresas. A lei n 7.256/84 em seu capítulo VI assegurou um tratamento diferenciado a tais empresas por parte das instituições financeiras públicas e privado, pois forçou a redução das taxas de juros e facilitou a liberação do crédito quando obrigou as instituições financeiras a não exigir, para operações de até 5.000 (cinco mil) OTN, saldos médios, aprovação de projetos, planos de aplicação, nem comprovação do cumprimento de obrigações, inclusive fiscais, perante quaisquer órgãos ou entidades da administração pública. Apesar do primeiro corpo legal a dar tratamento diferenciado às microempresas ser datado de 1984, os marcos legais que fundamentam as medidas e ações de apoio às micro e pequenas empresas no Brasil são os artigos 146, 170 e 179 da Constituição Federal de 1988.

20 A alínea d, do inciso III, do artigo 146 da Carta Magna de 1988, incluído pela Emenda Constitucional n 42, de 19 de dezembro de 2003, reza que somente uma lei complementar poderá definir regime diferenciado de tributação para as MPE s, e em seu parágrafo único expressa que essa mesma lei poderá instituir um regime unificado de impostos e contribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, conforme dispositivo abaixo transcrito: Art. 146. Cabe à lei complementar: (...) III estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre: a) [...] b) [...] c) [...] d) definição de tratamento diferenciado e favorecido para as microempresas e empresas de pequeno porte, inclusive regimes especiais ou simplificados no caso do imposto previsto no art. 155, II, das contribuições previstas no art. 195, I e 12 e 13, e da contribuição a que se refere o art. 239. Parágrafo único. A lei complementar de que trata o inciso III, d, também poderá instituir um regime único de arrecadação dos impostos e contribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, observado que: I - será opcional para o contribuinte; II - poderão ser estabelecidas condições de enquadramento diferenciadas por Estado; III - o recolhimento será unificado e centralizado e a distribuição da parcela de recursos pertencentes aos respectivos entes federados será imediata, vedada qualquer retenção ou condicionamento; IV - a arrecadação, a fiscalização e a cobrança poderão ser compartilhadas pelos entes federados, adotado cadastro nacional único de contribuintes. O artigo 170 da CF/88, alterado pela Emenda Constitucional n 6, de 1995, insere as MPE s nos princípios gerais da ordem econômica, garantindo tratamento diferenciado e favorecido a essas empresas, a seguir transcrito: Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...)

21 IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. Parágrafo único. É assegurado a todos, o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei. Para finalizar os marcos constitucionais, resta o artigo 179 da CF/88, o qual estabelece que a administração pública deve dispensar tratamento jurídico diferenciado às MPE s, visando a incentivá-las pela simplificação ou redução das obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, por meio de leis, conforme transcrição: Art. 179. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou redução destas por meio de lei. No ano de 1994, um novo estatuto foi aprovado, a lei n 8.864 de 28 de março de 1994, o qual previa tratamento diferenciado e simplificado nos campos administrativo, trabalhista, previdenciário, fiscal, creditício e de desenvolvimento empresarial, tratamento este previsto no art. 179 da CF/88. Diferentemente da lei n 7.256/84, a qual tratou apenas das microempresas - ME, a Lei n 8.864/94 conceituou e estendeu os seus benefícios para as empresas de pequeno porte EPP. Apesar desta última ter sido sancionada após a Constituição Federal de 1988, seus benefícios propostos são, praticamente, idênticos aos previstos no estatuto publicado antes da carta magna, ou seja, a Lei n 7.256/84. Vale ressaltar que no estatuto de 1994, o legislador não tratou dos benefícios tributários específicos que as MPE s teriam no que diz respeito à isenção ou redução da carga tributária, concluindo-se assim que tal matéria foi transferida para a regulamentação que deveria vir no prazo de 90 (noventa) dias após a publicação da lei n 8.864/94, no entanto tal fato não chegou a acontecer, o que tornou tais benefícios inaplicáveis. Os dois estatutos citados iniciaram o ordenamento jurídico no campo das microempresas e das empresas de pequeno porte, porém devido à falta de

22 regulamentação, os mesmos não trouxeram benefícios reais e plausíveis para tais entidades, que apesar de representarem uma grande fatia da economia e força empregatícia brasileira, não sentiam os reais benefícios constitucionais a elas estabelecidos. Então, em 1996, como que uma tentativa de dar representatividade às MPE s, uma ação do SEBRAE juntamente com as instituições representativas das empresas de pequeno porte junto ao Congresso Nacional, resultou em um grande feito no campo tributário, a aprovação da lei n 9.317, de 05 de dezembro de 1996, a qual aprimorou e ampliou o sistema de pagamentos de tributos já em vigor para as microempresas e empresas de pequeno porte, instituindo o Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte SIMPLES, sistema esse que possibilitou às empresas beneficiadas uma arrecadação única dos impostos e contribuições da União, Estados e Municípios, desde que esses dois últimos possuam convênios de aderência a tal lei conforme dispõe o artigo 4 da lei n 9.317/96. A lei n 9.317/96 passou a produzir efeitos a partir do dia 1 de janeiro de 1997, e diferentemente dos dois estatutos citados, tratou única e exclusivamente sobre a parte tributária das MPE s. A mesma implementou regras bem definidas relativas ao ingresso no sistema, aos tributos abrangidos, às alíquotas aplicáveis, obrigações acessórias e etc. Assim, os dois estatutos e a lei n 9.317/96, conhecida como a lei do SIMPLES, eram as normas reguladoras das microempresas e das empresas de pequeno porte. Os estatutos legislavam sobre os aspectos administrativos, creditícios, desenvolvimento empresarial, previdenciário e trabalhista, enquanto a lei do SIMPLES regulava o campo tributário cumprimento de obrigações principais e acessórias. Até o final do ano de 1996, a parte tributária das MPE s era legislada pela lei n 7.256/84, a qual isentava as mesmas de alguns tributos já citados. Com a sanção da lei n 9.317/96, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, as micros e pequenas empresas passaram a ter suas receitas e rendimentos tributados na forma dessa lei, o que de certa forma significou um aumento da carga tributária. Juntamente com a lei n 9.317/96 surgiu um novo conceito de microempresa e de empresa de pequeno porte. A partir deste momento passaram a existir dois conceitos para as MPE s. Um conceito para fins de enquadramento e gozo dos

23 benefícios previstos nos estatutos e outro conceitos para fins de enquadramento e recolhimento dos impostos e contribuições pelo SIMPLES. A principal diferença existente entre os dois conceitos era o limite de faturamento anual, onde para fins de enquadramento no estatuto, uma empresa poderia faturar até 700.000 (setecentas mil) Unidades Fiscais de Referência Ufir vigentes nos respectivos meses, e para gozar dos benefícios do SIMPLES, a empresa poderia atingir um faturamento anual de até R$ 720.000,00, e com as alterações posteriores este limite chegou a atingir o montante de R$ 2.400.000,00, conforme lei n 11.196, de 2005. No ano de 1999, um novo estatuto foi aprovado, a lei n 9.841/99, a qual foi regulamentada pelo Decreto n 3.474/00 e revogou os dois estatutos anteriormente existentes, a lei n 7.256/84 e a lei n 8.864/84. Este novo Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, conforme dispõe em seu art. 1, parágrafo único, tinha o objetivo de facilitar a constituição e o funcionamento da microempresa e da empresa de pequeno porte, de modo a assegurar o fortalecimento de sua participação no processo de desenvolvimento econômico e social. Tal estatuto também regulava os artigos 170 e 179 da Constituição Federal, no entanto o mesmo inovou as ações em defesa das MPE s e trouxe algumas mudanças em diversos campos, dentre elas destaca-se: No campo do enquadramento: Alterou o limite de enquadramento de ME para um faturamento anual de R$ 244.000,00 e o de EPP para um faturamento anual de R$ 1.200.000,00; Reduziu as possibilidades das empresas serem desenquadradas devido ao excesso de receita bruta, já que segundo o art. 8, 2, somente ocorrerá tal fato se o excesso ocorrer durante dois anos consecutivos ou três anos alternados, em um período de cinco anos. No campo tributário e fiscal: Não legislou sobre a parte tributária e fiscal, deixando a mesma para a lei n 9.317/96, já que revogou o capítulo V da lei n 8.864/94.

24 No campo previdenciário e trabalhista: Dispensou as MPE s de afixação do quadro de horários, anotação das concessões de férias no livro ou fichas de registro dos empregados, da entrega ao Ministério do trabalho da Relação Anual de Empregados, vale a pena ressaltar que tal relação não diz respeito à Relação Anual de Informações Sociais RAIS; dispensa de matrícula nos cursos dos Serviços Nacionais de Aprendizagem do número de aprendizes equivalentes a 5%, no mínimo, e de 15%, no máximo, dos trabalhadores existentes em cada estabelecimento, cujas funções demandem formação profissional, de controlar os períodos de férias de seus empregados e por fim dispensou as MPE s da posse do livro denominado de Livro de Inspeção do Trabalho ; Apesar deste estatuto trazer novas dispensas para as MPE s, como especificou o parágrafo anterior, o mesmo voltou a obrigar às mesmas a comunicarem ao Ministério do Trabalho e aos sindicatos representativos de classe, o início e o término das férias coletivas conforme dispõe o art. 139, 3 da Consolidação das Leis do Trabalho CLT, passou a obrigar a apresentação do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados CAGED e da Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social GFIP; A lei n 9.841/99 ainda reforçou o caráter de orientação das fiscalizações trabalhistas, quando em seu art. 12 dispõe que para a lavratura do auto de infração, faz-se necessário a segunda visita do agente fiscalizador, salvo quando for constatada infração por falta de registro de empregado, ou anotação da Carteira de Trabalho e Previdência Social - CTPS, ou ainda na ocorrência de reincidência, fraude, resistência ou embaraço à fiscalização; No campo creditício: Criou a obrigação das Instituições Financeiras oficiais que operavam com crédito para o setor privado a manterem linhas de créditos específicas para as MPE s, devendo as formas de acesso ao crédito e o montante destinado ser objeto de planejamento e amplamente divulgado, assim como essas mesmas instituições

25 deveriam publicar, semestralmente, um relatório detalhado dos recursos planejados e aqueles efetivamente utilizados nas linhas de créditos citadas. No campo de desenvolvimento empresarial: Destinou o percentual mínimo de 20% dos recursos federais aplicados em pesquisa, desenvolvimento e capacitação tecnológica na área empresarial para o segmento das microempresas e das empresas de pequeno porte; Garantiu um tratamento diferenciado e favorecido no que diz respeito ao acesso a serviços de metrologia e certificação de conformidade prestados por entidades tecnológicas públicas; Estabeleceu tratamento diferenciado as MPE s que atuarem no mercado internacional, seja importando ou exportando produtos e serviços para o que o poder público facilitará e reduzirá a burocracia; Tal estatuto previu ainda que a política de compras governamentais dará prioridade às MPE s, individualmente ou de forma associada, no entanto o Decreto n 3.474/00 não regulamentou este assunto como previa a lei n 9.841/99 em seu art. 24 a seguir transcrito: Art. 24 - A política de compras governamentais dará prioridade à microempresa e à empresa de pequeno porte, individualmente ou de forma associada, com processo especial e simplificado nos termos da regulamentação desta Lei. Um grande avanço para as MPE s foi a criação do Fórum Permanente da Microempresa e Empresa de Pequeno Porte, no âmbito do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, pelo Decreto 3.474/00, o qual tem a finalidade de orientar e assessorar na formulação e coordenação da política nacional de desenvolvimento das microempresas e empresas de pequeno porte, bem como acompanhar e avaliar a sua implantação. Outra inovação foi a possibilidade da criação da sociedade de garantia solidária, uma sociedade com personalidade jurídica com o fim de conglomerar empresas com os mesmos interesses.

26 2 ESTATUTO NACIONAL DA MICROEMPRESA E DA EMPRESA DE PEQUENO PORTE LC N 123/2006 Todos os textos legais publicados a cerca do tratamento constitucional diferenciado dispensado às MPE s, buscaram de uma forma geral, proteger, simplificar e beneficiar os atos dessas empresas, no entanto algumas pesquisas, inclusive uma realizada pelo SEBRAE em 2007 denominada de Sobrevivência e Mortalidade das MPE Fatores Condicionantes, mostraram certa instabilidade financeira e econômica, e consequentemente um alto grau de mortalidade das MPE s, o que, por um lado, mostra que o conjunto de normas que regulam essas entidades ainda é carente de leis aplicáveis e benéficas ao desenvolvimento das microempresas e das empresas de pequeno porte, e por outro, evidencia certo despreparo e má gerenciamento das MPE s por parte dos empresários. Observando a realidade brasileira, em 2003 o SEBRAE iniciou uma articulação para o surgimento de uma nova legislação para as MPE s. Desde esse ano, conforme mostra uma sondagem de opinião divulgada pelo SEBRAE em setembro de 2005 denominada de Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas Sondagem de Opinião, por meio de mobilizações e discussões de mais de 6 (seis) mil lideranças, em todo o país, o projeto do surgimento de uma nova legislação foi ganhando definições e transformou-se no anteprojeto de lei que foi encaminhado ao Congresso Nacional, pela Frente Empresarial pela Lei Geral, no dia 8 de junho de 2005, anteprojeto esse que 18 (dezoito meses) depois fez surgir o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, instituído pela Lei Complementar n 123, de 14 de dezembro de 2006, a qual foi alterada pela Lei Complementar n 127, de 14 de agosto de 2007, depois pela Lei Complementar n 128, de 19 de dezembro de 2008. O Estatuto Nacional, apesar do elevado número de polêmicas ao seu respeito, surge com a responsabilidade de promover o desenvolvimento econômicofinanceiro sustentável das microempresas e das empresas de pequeno porte.

27 2.1 Novidades Introduzidas pela Lei Complementar n 123/2006 Antes da Lei Complementar n 123/2006 entrar em vigor, duas principais leis regulavam as matérias relacionadas às MPE s: a Lei n 9.317/96 e a Lei n 9.841/99, a primeira, instituidora do SIMPLES, regulava o campo tributário e a segunda, denominada de estatuto das MPE s, legislava sobre os benefícios estatutários das microempresas e das empresas de pequeno porte relacionados à economia, ao mercado, à área trabalhista e etc. Devido à coincidência temporal nas vigências das duas legislações citadas, e das mesmas tratarem de assuntos diferentes, havia, antes da vigência da LC n 123/2006, dois conceitos legalmente válidos para as MPE s, fato esse que provocava certa dificuldade no manuseio dessas normas para os empresários, estudantes, enfim, para o público em geral que tratava com tais legislações. Com o advento do Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, as leis n 9.317/96 e 9.841/99 foram revogadas, fato este que implicou em uma unificação de normas, conceitos e classificações, fazendo transparecer assim, um dos primeiros benefícios trazidos pela Lei Complementar n 123/2006. Como conseqüência da unificação das normas citada no parágrafo anterior, as matérias tributárias antes legisladas pela Lei n 9.317/96, passaram a compor um capítulo da LC n 123/2006, no caso o capítulo IV, e as matérias antes legisladas pela Lei n 9.841/99, de um modo genérico, completam os outros capítulos do Estatuto Nacional das MPE s. Para fins pedagógicos e com o intuito de melhor explanar as inovações trazidas pela LC n 123/2006, tais inovações serão evidenciadas em dois momentos distintos: as inovações relacionadas ao Simples Nacional aspectos tributários e as inovações relacionadas ao Estatuto Nacional aspectos administrativos, mercadológicos e estruturais. 2.1.1 Simples Nacional Aspectos Tributários As inovações trazidas pela LC n 123/2006 relacionadas à parte tributária passaram a vigorar somente a partir de 1 de julho de 2007, conforme dispõe o art. 88 dessa mesma norma a seguir transcrito:

28 Art. 88. Esta Lei Complementar entra em vigor na data de sua publicação, ressalvado o regime de tributação das microempresas e empresas de pequeno porte, que entra em vigor em 1 de julho de 2007. Seguem as principais alterações: Aumento da abrangência dos impostos incluídos no regime A LC n 123/2006, de acordo com o seu art. 13, incisos VII e VIII incluiu no rol dos impostos abrangidos pelo Simples Nacional, o Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação ICMS e o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza ISSQN. Antes, para que esses impostos fossem abrangidos pelo SIMPLES, era necessário que a unidade federada ou município se manifestassem mediante adesão de convênio com a União. No que diz respeito ao ICMS, a opção pelo Simples Nacional não exclui a incidência de tal tributo relacionado aos casos a seguir, conforme dispõe o art. 13, 1, inciso XIII: Art.13. [...] 1. O recolhimento na forma deste artigo não exclui a incidência dos seguintes impostos ou contribuições, devidos na qualidade de contribuinte ou responsável, em relação aos quais será observada a legislação aplicável às demais pessoas jurídicas: XIII ICMS devido: a) nas operações ou prestações sujeitas ao regime de substituição tributária; b) por terceiro, a que o contribuinte se ache obrigado, por força da legislação estadual ou distrital vigente; c) na entrada, no território do Estado ou do Distrito Federal, de petróleo, inclusive lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos dele derivados, bem como energia elétrica, quando não destinados à comercialização ou industrialização; d) por ocasião do desembaraço aduaneiro; e) na aquisição ou manutenção em estoque de mercadoria desacobertada de documento fiscal; f) na operação ou prestação desacobertada de documento fiscal; g) nas operações com mercadorias sujeitas ao regime de antecipação do recolhimento do imposto, bem como do valor relativo à diferença entre a alíquota interna e a interestadual, nas aquisições em outros Estados e Distrito Federal, nos termos da legislação estadual ou distrital.

29 No que diz respeito ao ISS, o Simples Nacional não exclui a incidência de tal tributo relacionado à importação de serviços e aos serviços sujeitos à retenção na fonte ou à substituição tributária, conforme dispõe o art. 13, 1, inciso XIV. O fato da LC n 123/2006 ter incluído o ICMS e o ISS na abrangência do sistema resultou, sem sombra de dúvidas, em uma simplificação no recolhimento dos tributos a que estão sujeitas as MPE s e a uma redução na alíquota de tais impostos, já que a alíquota do ICMS no estado do Ceará, para empresas optantes, varia de 1,25% a 3,95% e para não optantes pode atingir os 17%; e a alíquota do ISS varia de 2,00% a 5,00%. As microempresas e as empresas de pequeno porte optantes pelo Simples Nacional não farão jus à apropriação nem transferirão créditos relativos a impostos ou contribuições abrangidos pelo Simples Nacional, conforme dispõe o art. 23, 1 2, 3, 4, 5, 6 e art. 24. 1º As pessoas jurídicas e aquelas a elas equiparadas pela legislação tributária não optantes pelo Simples Nacional terão direito a crédito correspondente ao ICMS incidente sobre as suas aquisições de mercadorias de microempresa ou empresa de pequeno porte optante pelo Simples Nacional, desde que destinadas à comercialização ou industrialização e observado, como limite, o ICMS efetivamente devido pelas optantes pelo Simples Nacional em relação a essas aquisições. 2º A alíquota aplicável ao cálculo do crédito de que trata o 1º deste artigo deverá ser informada no documento fiscal e corresponderá ao percentual de ICMS previsto nos Anexos I ou II desta Lei Complementar para a faixa de receita bruta a que a microempresa ou a empresa de pequeno porte estiver sujeita no mês anterior ao da operação. 3º Na hipótese de a operação ocorrer no mês de início de atividades da microempresa ou empresa de pequeno porte optante pelo Simples Nacional, a alíquota aplicável ao cálculo do crédito de que trata o 1º deste artigo corresponderá ao percentual de ICMS referente à menor alíquota prevista nos Anexos I ou II desta Lei Complementar. 4º Não se aplica o disposto nos 1º a 3º deste artigo quando: I - a microempresa ou empresa de pequeno porte estiver sujeita à tributação do ICMS no Simples Nacional por valores fixos mensais; II - a microempresa ou a empresa de pequeno porte não informar a alíquota de que trata o 2º deste artigo no documento fiscal; III - houver isenção estabelecida pelo Estado ou Distrito Federal que abranja a faixa de receita bruta a que a microempresa ou a empresa de pequeno porte estiver sujeita no mês da operação. IV - o remetente da operação ou prestação considerar, por opção, que a alíquota determinada na forma do caput e dos 1º e 2º do art. 18 desta Lei Complementar deverá incidir sobre a receita recebida no mês. 5º Mediante deliberação exclusiva e unilateral dos Estados e do Distrito Federal, poderá ser concedido às pessoas jurídicas e àquelas a elas

30 equiparadas pela legislação tributária não optantes pelo Simples Nacional crédito correspondente ao ICMS incidente sobre os insumos utilizados nas mercadorias adquiridas de indústria optante pelo Simples Nacional, sendo vedado o estabelecimento de diferenciação no valor do crédito em razão da procedência dessas mercadorias. 6º O Comitê Gestor do Simples Nacional disciplinará o disposto neste artigo. Art. 24. As microempresas e as empresas de pequeno porte optantes pelo Simples Nacional não poderão utilizar ou destinar qualquer valor a título de incentivo fiscal. Faz-se importante ressaltar que a não transferência total de créditos não abrange o PIS e a Cofins, ou seja, as microempresas e as empresas de pequeno porte podem transferir créditos relativos a tais tributos, conforme determina o Ato Declaratório Interpretativo RFB n 15, de 26 de setembro de 2007, a seguir transcrito: Artigo único. As pessoas jurídicas sujeitas ao regime de apuração não cumulativa da Contribuição para o PIS/Pasep e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), observadas as vedações previstas e demais disposições da legislação aplicável, podem descontar créditos calculados em relação às aquisições de bens e serviços de pessoa jurídica optante pelo Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Simples Nacional), instituído pelo art. 12 da Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006. Aumento do número de atividades desimpedidas de optarem pelo sistema. A nova legislação aumentou o leque de atividades que podem vir a optar por recolher seus tributos por meio do Simples Nacional, no entanto apesar desse rol de atividades ter sido aumentado, muitas das novas atividades abrangidas pelo sistema deverão recolher a Contribuição para a Seguridade Social como recolhiam antes da LC n 123/2006, pois o art. 13, inciso VI, trás uma exceção a regra, quando relaciona algumas atividades que não terão tal contribuição abrangida pelo Simples Nacional. Faz-se importante salientar que conforme artigo 13, 3, da LC n 123/2006, as MPE s estão dispensadas de recolher as contribuições destinadas a entidades

31 privadas de serviços sociais e de formação profissional vinculadas ao sistema sindical, conforme dispositivo abaixo transcrito: Art. 13. [...] 3o As microempresas e empresas de pequeno porte optantes pelo Simples Nacional ficam dispensadas do pagamento das demais contribuições instituídas pela União, inclusive as contribuições para as entidades privadas de serviço social e de formação profissional vinculadas ao sistema sindical, de que trata o art. 240 da Constituição Federal, e demais entidades de serviço social autônomo. Com o intuito de facilitar o entendimento da LC n 123/2006, o Comitê Gestor do Simples Nacional elaborou por meio da Resolução CGSN n 06/2007, alterada pela Resolução CGSN n 50/2008, uma lista das atividades impedidas de optarem pelo Simples Nacional, assim como uma lista de atividades que estão ao mesmo tempo aptas e inaptas à adesão ao sistema. Metodologia de Apuração do Valor a ser Recolhido. O novo estatuto da microempresa e da empresa de pequeno porte tornou um tanto quanto complexa a sistemática de apuração do valor a recolher no Simples Nacional. O novo sistema, assim como o antigo, introduzido pela Lei n 9.317/96, constituem-se em uma forma unificada de recolhimento de tributos por meio da aplicação de percentuais favorecidos, incidentes sobre uma única base de cálculo, a receita bruta, no entanto a forma de apurar tais tributos sofreu enormes alterações. A primeira modificação diz respeito ao período a ser considerado para o acúmulo da receita, ou seja, houve uma mudança no enfoque de receita bruta acumulada para fins de apuração do Simples Nacional. Para a Lei n 9.317/96, segundo o art. 5, 1, a receita acumulada a ser considera para identificar o percentual a ser aplicado sobre a receita mensal era aquela acumulada durante o ano até o próprio mês de apuração, já para o novo estatuto, conforme dispõe o artigo 18, 1, para fins de determinação da alíquota a ser aplicada sobre a receita mensal, a receita bruta acumulada a ser considerada será aquela dos 12 (doze) meses anteriores ao do período de apuração. Caso a empresa não possua 12 (doze) meses de atividade para o cálculo da receita bruta acumulada, a mesma deve

32 utilizar a média aritmética da receita bruta total dos meses anteriores ao do período de apuração, multiplicada por 12 (doze), conforme determina o artigo 5, 3, da Resolução CGSN n 05, de 30 de maio de 2007. No primeiro mês de atividades, a receita mensal deve ser multiplicada por 12 (doze) para identificar a alíquota a ser aplicada. A mudança na determinação da base de cálculo (receita bruta acumulada) do Simples Nacional, implica em um aumento substancial da mesma, o que a priori levaria a um aumento da carga tributária, no entanto houve uma simultânea redução nas alíquotas, o que de certa forma compensou o aumento da base de cálculo resultante da mudança do critério de determinação, chegando a haver redução da carga tributária em muitas atividades. Outra enorme modificação trazida pela LC n 123/2006 quanto à forma de apuração do Simples Nacional foi a quantidade de tabelas utilizadas na apuração. Na sistemática antiga pode-se dizer que havia apenas uma tabela para determinação da alíquota, na atual, são aproximadamente 60 (sessenta) tabelas constantes no anexo da Resolução CGSN n 51, de 22 de dezembro de 2008, onde desse número, 9 (nove) são tabelas principais e as restantes são tabelas auxiliares, criadas pelo Comitê Gestor de Tributação das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte CGSN para auxiliar o cálculo do tributo, já que conforme o artigo 18, 3 da LC n 123/2006, o contribuinte deverá segregar as receitas tendo como critério a sua atividade, se comércio, indústria ou serviços, tipo de produto, se sujeito ao regime de substituição tributária ou não, e destinação da mercadoria, se para o mercado interno ou externo, além de outros. Conforme exposto no parágrafo anterior, os cálculos do Simples Nacional serão diferenciados para cada tipo de atividade, assim a LC n 123/2006 trouxe em seus anexos, tabelas destinadas a cada tipo de atividade, as quais estão dispostas da seguinte maneira: Anexo I Comércio; Anexo II Indústria; Anexo III Atividades de prestação de serviços; Anexo IV - Atividades de prestação de serviços;

33 Anexo V - Atividades de prestação de serviços. A metodologia de cálculo do valor devido a título de Simples Nacional sofreu ainda mais uma modificação. Na nova sistemática a LC n 123/2006, juntamente com o artigo 7 da Resolução CGSN n 05, de 30 de maio de 2007, fez surgir a figura do, aqui denominado, fator r, o qual diz respeito a relação entre a folha de salários, incluídos encargos, em 12 (doze) meses e a receita bruta total acumulada nos 12 (doze) meses anteriores ao períodos de apuração, conforme demonstrado a seguir: r = Folha de salários, nos 12 (doze) meses anteriores ao período de apuração Receita bruta acumulada nos 12 (doze) meses anteriores ao período de apuração A relação demonstrada acima é utilizada para cálculo do Simples Nacional devido somente pelas atividades previstas no anexo V da Lei 123/2006. Conforme dispõe o artigo 18, 24, combinado com artigo 7, 1 da Resolução CGSN n 05/2007, o qual foi alterado pelo artigo 6 da Resolução CGSN n 14, de 23 de julho de 2007, considera-se folha de salários, incluídos encargos: Art. 7. [...] 1. [...] o montante pago, nos 12 (doze) meses anteriores ao do período de apuração, a título de salários, retiradas de pró-labore, acrescidos do montante efetivamente recolhido a título de contribuição para a Seguridade Social destinada à Previdência Social e para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço. Consideram-se salários para fins de cálculo da relação citada, conforme artigo 7, 2 da Resolução CGSN n 05/2007, o qual foi alterado pelo artigo 7 da Resolução CGSN n 14, de 23 de julho de 2007: Art. 7 [...] 2 Para efeito do disposto no 1, consideram-se salários o valor da base de cálculo da contribuição prevista nos incisos I e III do art. 22 da Lei n 8.212, de 24 de julho de 1991, agregando-se o valor do décimo - terceiro salário na competência da incidência da referida contribuição, na forma do caput e dos 1 e 2 do art. 7 da Lei n 8.620, de 5 de janeiro de 1993. (Redação dada pela Resolução CGSN n 14, de 23 de julho de 2007).

34 Com a inclusão do ICMS e do ISS na abrangência do Simples Nacional, a LC n 123/2006 em seu artigo19, permite que cada estado adote sublimites específicos para as faixas de receita bruta anual. Esses sublimites serão estabelecidos conforme a participação do estado no Produto Interno Bruto PIB brasileiro. Para estados com participação no PIB de até 1% (um por cento), o sublimite da faixa de receita bruta anual poderá ser de até R$ 1.200.000,00; para uma participação maior que 1% (um por cento) e menor que 5% (cinco por cento), R$ 1.800.000,00; e para uma participação igual ou maior que 5% (cinco por cento), não haverá sublimites, ou seja, estes estados estão obrigados a adotarem todas as faixas de receita bruta anual. Por meio da Resolução CGSN n 69, de 24 de novembro de 2009, o Comitê Gestor do Simples Nacional tornou público os sublimites adotados pelos estados brasileiros, os quais estão dispostos a seguir: Estados com o Sublimite de até R$ 1.200.000,00 Acre, Amapá, Alagoas, Paraíba, Piauí, Rondônia, Roraima, Sergipe e Tocantins Estados com Sublimite de até R$ 1.800.000,00 Ceará, Maranhão, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará e Pernambuco Estados sem Sublimites Amazonas, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e Santa Catarina Quadro 2 Sublimites de receita bruta adotados pelos estados brasileiros Fonte: adaptado da Resolução CGSN n 69/2009 A adoção pelos estados dos sublimites acima evidenciados importará na adoção dos mesmos sublimites de receita bruta anual para fins de recolhimento do ISS nos municípios neles localizados, assim como o ISS devido no Distrito Federal, conforme determina o artigo 20 da LC n 123/2006, a seguir transcrito: Art. 20. A opção feita na forma do art. 19 desta Lei Complementar pelos Estados importará adoção do mesmo limite de receita bruta anual para

35 efeito de recolhimento na forma do ISS dos Municípios nele localizados, bem como para o do ISS devido no Distrito Federal. Conforme se pode observar, o cálculo do Simples Nacional tornou-se complexo, prevendo isso, a LC n 123/2006 em seu artigo 18, 15 afirma que será disponibilizado um sistema eletrônico para a realização do cálculo do valor mensal devido referente ao Simples Nacional, sistema este disponível na internet conforme artigo 15 da Resolução CGSN n 05, de 30 de maio de 2007. Prazo de Recolhimento Antes da LC n 123/2006 entrar em vigor, os valores devidos a título de Simples Federal deveria ser recolhido sem nenhum acréscimo moratório até o 20 (vigésimo) dia do mês subseqüente àquele em que houver sido auferida a receita bruta, conforme artigo 6 da Lei 9.317/96, alterado pela Lei 11.196/2005, a seguir transcrito: Art. 6 O pagamento unificado de impostos e contribuições devidos pela microempresa e pela empresa de pequeno porte inscritas no Simples será feito de forma centralizada até o 20º (vigésimo) dia do mês subseqüente àquele em que houver sido auferida a receita bruta. (Redação dada pela Lei nº 11.196, de 2005). Com novo estatuto o prazo foi diminuído e conforme o artigo 21, inciso III, o tributo deve ser recolhido até o último dia útil da primeira quinzena do mês subseqüente àquele a que se referir. O Comitê Gestor lançou a Resolução CGSN n 56/2009 com o art. 7, inciso II, alterando o art. 18 da Resolução CGSN nº 51, de 2008 que diz: Art. 7º O art. 18. Os tributos devidos, apurados na forma desta Resolução, deverão ser pagos: II - até o dia 20 do mês subseqüente àquele em que houver sido auferida a receita bruta, para os fatos geradores ocorridos a partir de 1º de março de 2009.

36 Obrigações Acessórias As obrigações acessórias das microempresas e das empresas de pequeno porte, com a edição da LC n 123/2006 sofrerão acréscimos, exigindo assim um pouco mais de critérios na rotina fiscal das MPE s. Essas obrigações foram impostas pelos artigos 25 a 27 da Lei Complementar n 123/2006 e regulamentadas em parte pela Resolução CGSN n 10/2007. Uma das principais alterações relacionada ao campo das obrigações acessórias foi a competência para fiscalizar as microempresas e as empresas de pequeno porte, no que diz respeito ao Simples Nacional, pois com a abrangência do ICMS e do ISS no Simples Nacional e por força do artigo 33 da LC n 123/2006 as MPE s podem ser fiscalizadas pela Receita Federal do Brasil, Secretarias de Fazenda ou de Finanças dos Estados e do Distrito Federal e, caso a empresa seja contribuinte do ISS, poderá ser fiscalizada ainda pelas Secretarias de Finanças de cada Município, conforme transcrição do dispositivo: Art. 33. A competência para fiscalizar o cumprimento das obrigações principais e acessórias relativas ao Simples Nacional e para verificar a ocorrência das hipóteses previstas no art. 29 desta Lei Complementar é da Secretaria da Receita Federal e das Secretarias de Fazenda ou de Finanças do Estado ou do Distrito Federal, segundo a localização do estabelecimento, e, tratando-se de prestação de serviços incluídos na competência tributária municipal, a competência será também do respectivo Município. 1o As Secretarias de Fazenda ou Finanças dos Estados poderão celebrar convênio com os Municípios de sua jurisdição para atribuir a estes a fiscalização a que se refere o caput deste artigo. Assim como a lei n 9.317/96 previa a entrega de uma declaração anual simplificada, a LC n 123/2006 também regulou tal obrigação acessória em seu artigo 25, o qual diz: Art. 25. As microempresas e empresas de pequeno porte optantes do Simples Nacional apresentarão, anualmente, à Secretaria da Receita Federal declaração única e simplificada de informações socioeconômicas e fiscais, que deverão ser disponibilizadas aos órgãos de fiscalização tributária e previdenciária, observados prazos e modelos aprovados pelo Comitê Gestor. Conforme determina o artigo citado, o Comitê Gestor aprovará o modelo e o prazo a serem observados pelas MPE s para a satisfação de tal obrigação

37 acessória, assim por meio da Resolução CGSN n 10/2007, ficou definido que tal declaração será entregue por meio da internet até o último dia do mês de março do ano calendário subseqüente ao da ocorrência dos fatos geradores dos tributos previstos no Simples Nacional. Faz-se importante salientar que as informações prestadas à Receita Federal por meio da Declaração única e Simplificada de Informações Socioeconômicas e Fiscais serão compartilhadas com os entes tributantes estaduais e municipais, assim como, será apresentado aos mesmos entes relação dos contribuintes que não entregaram tal declaração. Concluindo-se que o poder de fiscalização desses entes tributantes aumentou. O que ocasionará, fatalmente, uma redução na sonegação fiscal e um conseqüente aumento na arrecadação. Além da declaração citada no parágrafo anterior, as MPE s deverão ainda apresentar a Declaração Eletrônica de Serviços, quando exigida pelo Município, a qual evidencia todos os serviços tomados e prestados pelo contribuinte, conforme determina o artigo 6, da Resolução CGSN n 10/2007, a seguir: Art. 6 As ME e EPP optantes pelo Simples Nacional ficam obrigadas à entrega da Declaração Eletrônica de Serviços, quando exigida pelo Município, que servirá para escrituração mensal de todos os documentos fiscais emitidos e documentos recebidos referentes aos serviços prestados, tomados ou intermediados de terceiros. A Declaração Eletrônica de Serviços, conforme determina o parágrafo único do artigo 6 da Resolução CGSN n 10/2007, substituirá alguns livros fiscais, ficando os mesmos dispensados de escrituração e apresentação aos órgãos competentes caso o Município obrigue a apresentação da Declaração, os livros são os seguintes: I. Livro Registro dos Serviços Prestados; II. Livro Registro dos Serviços Tomados; Cabe ainda a cada estado regular a entrega ou dispensa de alguma declaração, como é o caso do estado do Ceará que por meio do Decreto n 27.710, de 14 de fevereiro de 2005 instituiu a Declaração de Informações Econômicas e Fiscais - DIEF e que ainda continua obrigando às MPE s a satisfação dessa obrigação e faz isso com base no parágrafo 6, do artigo 4, da Resolução CGSN n

38 10/2007, o qual estabelece que a exigência da declaração única não desobriga a apresentação de informações a terceiros. As alterações nas obrigações acessórias atingiram também a questão dos documentos fiscais que devem ser emitidos pelas microempresas e pelas empresas de pequeno porte, no entanto, conforme artigo 2 da Resolução CGSN n 60/2009 constando no campo de informações complementares ou no corpo da nota fiscal por meio de qualquer meio gráfico indelével as seguintes expressões: DOCUMENTO FISCAL EMITIDO POR ME OU EPP OPTANTE PELO SIMPLES NACIONAL, e NÃO GERA DIREITO A CRÉDITO FISCAL DE IPI. Caso o contribuinte já possua documentos fiscais aprovados pelos respectivos órgãos, os mesmo podem ser utilizados até o limite do prazo previsto desde que as condições acima sejam satisfeitas. Com relação aos livros fiscais, as MPE s optantes pelo Simples Nacional deverão adotar para o registro e controle das operações por elas realizadas os seguintes livros, conforme determina o artigo 3 e incisos, da Resolução CGSN n 10/2007: Art. 3º As ME e as EPP optantes pelo Simples Nacional deverão adotar para os registros e controles das operações e prestações por elas realizadas: I - Livro Caixa, no qual deverá estar escriturada toda a sua movimentação financeira e bancária; II - Livro Registro de Inventário, no qual deverão constar registrados os estoques existentes no término de cada ano-calendário, quando contribuinte do ICMS; III - Livro Registro de Entradas, modelo 1 ou 1-A, destinado à escrituração dos documentos fiscais relativos às entradas de mercadorias ou bens e às aquisições de serviços de transporte e de comunicação efetuadas a qualquer título pelo estabelecimento, quando contribuinte do ICMS; IV - Livro Registro dos Serviços Prestados, destinado ao registro dos documentos fiscais relativos aos serviços prestados sujeitos ao ISS, quando contribuinte do ISS; V - Livro Registro de Serviços Tomados, destinado ao registro dos documentos fiscais relativos aos serviços tomados sujeitos ao ISS; VI - Livro de Registro de Entrada e Saída de Selo de Controle, caso exigível pela legislação do Imposto sobre Produtos Industrializados IPI. 1º Os livros discriminados neste artigo poderão ser dispensados, no todo ou em parte, pelo ente tributante da circunscrição fiscal do estabelecimento do contribuinte, respeitados os limites de suas respectivas competências. 2º Além dos livros previstos no caput, serão utilizados:

39 I - Livro Registro de Impressão de Documentos Fiscais, pelo estabelecimento gráfico para registro dos impressos que confeccionar para terceiros ou para uso próprio; II - Livros específicos pelos contribuintes que comercializem combustíveis; III - Livro Registro de Veículos, por todas as pessoas que interfiram habitualmente no processo de intermediação de veículos, inclusive como simples depositários ou expositores. Esses Livros citados no parágrafo anterior são fundamentais para as microempresas e empresas de pequeno porte, pois servem como registro e controle das operações realizadas. Exclusão do Simples Nacional A exclusão do Simples continua com as mesmas modalidades: a pedido ou de ofício, no entanto os motivos que levarão a microempresa ou a empresa de pequeno porte a serem excluídas de ofício do Simples Nacional aumentaram, pois a partir de 1 de julho de 2007, conforme artigo 29 da LC n 123/2006, a exclusão de ofício das empresas optantes pelo Simples Nacional dar-se-á quando: Art. 29. [...] I verificada a falta de comunicação de exclusão obrigatória; II for oferecido embaraço à fiscalização, caracterizado pela negativa não justificada de exibição de livros e documentos a que estiverem obrigadas, bem como pelo não fornecimento de informações sobre bens, movimentação financeira, negócio ou atividade que estiverem intimadas a apresentar, e nas demais hipóteses que autorizam a requisição de auxílio da força pública; III for oferecida resistência à fiscalização, caracterizada pela negativa de acesso ao estabelecimento, ao domicílio fiscal ou a qualquer outro local onde desenvolvam suas atividades ou se encontrem bens de sua propriedade; IV a sua constituição ocorrer por interpostas pessoas; V tiver sido constatada prática reiterada de infração ao disposto nesta Lei Complementar; VI a empresa for declarada inapta, na forma dos arts. 81 e 82 da Lei no 9.430, de 27 de dezembro de 1996, e alterações posteriores; VII comercializar mercadorias objeto de contrabando ou descaminho; VIII houver falta de escrituração do livro-caixa ou não permitir a identificação da movimentação financeira, inclusive bancária; IX for constatado que durante o ano-calendário o valor das despesas pagas supera em 20% (vinte por cento) o valor de ingressos de recursos no mesmo período, excluído o ano de início de atividade;

40 X for constatado que durante o ano-calendário o valor das aquisições de mercadorias para comercialização ou industrialização, ressalvadas hipóteses justificadas de aumento de estoque, for superior a 80% (oitenta por cento) dos ingressos de recursos no mesmo período, excluído o ano de início de atividade. XI - houver descumprimento da obrigação contida no inciso I do caput do art. 26 desta Lei Complementar; (Incluído pela Lei Complementar n 127, de 14 de agosto de 2007) (Vide art. 4 da Lei Complementar n 127, de 14 de agosto de 2007) XII - omitir da folha de pagamento da empresa ou de documento de informações previsto pela legislação previdenciária, trabalhista ou tributária, segurado empregado, trabalhador avulso ou contribuinte individual que lhe preste serviço. (Incluído pela Lei Complementar n 127, de 14 de agosto de 2007) (Vide art. 4 da Lei Complementar n 127, de 14 de agosto de 2007). A exclusão de ofício será formalizada por meio da publicação de Ato Declaratório por parte da Receita Federal do Brasil. Conforme se podem perceber alguns motivos que levarão as MPE s a serem excluídas de ofício tentam persuadir a estas empresas adotarem um sistema de escrituração contábil, pois sem o mesmo será extremamente complexo o controle dos valores pagos relativos às compras, às despesas, estoques e etc., controle esse fundamental para que as microempresas e as empresas de pequeno porte não sejam excluídas de oficio do Simples Nacional. 2.1.2 Estatuto Nacional Aspectos Trabalhistas e Previdenciários, Mercadológicos e Estruturais As inovações trazidas pela LC n 123/2006 relacionadas a assuntos antes legislados pela Lei n 9.841/99 passaram a vigorar a partir do dia 1 de janeiro de 2007, já que conforme dispõe o art. 88 da LC n 123/2006, somente a parte tributária entraria em vigor a partir de 1 de julho de 2007. No entanto, em seu artigo 89 a mesma lei dispõe que tanto a Lei n 9.317/96 (Lei do Simples) quanto a Lei n 9.841/99 (antigo estatuto das MPE s) ficam revogadas a partir de 1 de julho de 2007. Percebe-se que houve certa desarmonia por parte dos legisladores. Assim também relata Santos e Barros (2007, p. 12):

41 A revogação somente a partir dessa data para a Lei n 9.317/1996 é coerente, por que as novas normas tributárias somente a partir dela entrarão em vigor. Todavia, quanto ao antigo Estatuto, parece-nos que a revogação poderia ter sido declarada de imediato. Divergências, ou pequenos deslizes dos legisladores a parte, este trabalho passará a tratar das principais modificações trazidas pelo novo Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. Criação do Comitê Gestor de Tributação das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte Também denominado de Comitê Gestor do Simples Nacional CGSN instituído pelo Decreto n 6.038, de 07 de fevereiro de 2007, esse órgão vinculado ao Ministério da Fazenda é composto por 8 (oito) membros das seguintes esferas: dois representantes da Receita Federal do Brasil, dois representantes da Secretaria da Receita Previdenciária, dois representantes dos Estados, e dois representantes dos Municípios. O comitê citado será presidido e coordenado por um dos representantes da União. Atualmente, o comitê é presidido pelo senhor Jorge Antônio Deher Rachid e possui as seguintes atribuições, conforme artigo 3 do Decreto n 6.038/2007, a seguir transcrito: Art. 3 Compete ao CGSN tratar dos aspectos tributários da Lei Complementar nº. 123, de 2006, especialmente: I - apreciar e deliberar acerca da necessidade de revisão dos valores expressos em moeda na Lei Complementar nº. 123, de 2006; II - elaborar e aprovar seu regimento interno, no prazo máximo de trinta dias após sua instalação; III - estabelecer a forma de opção pelo Simples Nacional da pessoa jurídica enquadrada na condição de microempresa e empresa de pequeno porte, fixando termos, prazos e condições; IV - regulamentar a opção automática e o indeferimento da opção pelo Simples Nacional, previstas nos 5º e 6º do art. 16 da Lei Complementar nº 123, de 2006; V - regulamentar a forma de opção pela determinação do valor a ser recolhido tendo por base o valor da receita bruta recebida no mês, prevista no 3º do art. 18 da Lei Complementar nº 123, de 2006; VI - definir a forma como os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no âmbito de suas respectivas competências, poderão estabelecer valores fixos mensais para o recolhimento do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadoria e Prestação de Serviço de Transporte

42 Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação - ICMS e do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza - ISS devido por microempresa que aufira receita bruta, no ano-calendário anterior, de até R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais); VII - definir a forma da redução proporcional ou ajuste do valor a ser recolhido, na hipótese em que os Estados, o Distrito Federal ou os Municípios concedam isenção ou redução do ICMS ou do ISS devido por microempresa ou empresa de pequeno porte, ou determinem recolhimento de valor fixo para esses tributos; VIII - regulamentar a aplicação de limites estaduais diferenciados de receita bruta para efeito de recolhimento do ICMS e do ISS no Simples Nacional, conforme o disposto nos arts. 19 e 20 da Lei Complementar nº 123, de 2006; IX - instituir o documento único de arrecadação; X - regulamentar o prazo para o recolhimento dos tributos devidos no Simples Nacional; XI - credenciar os bancos integrantes da rede arrecadadora do Simples Nacional; XII - decidir sobre requerimento para a adoção pelo Estado, Distrito Federal ou Município de sistema simplificado de arrecadação do Simples Nacional; XIII - regular o pedido de restituição ou compensação dos valores do Simples Nacional recolhidos indevidamente ou em montante superior ao devido; XIV - definir o sistema de repasses dos valores arrecadados pelo Simples Nacional, inclusive encargos legais, nos termos do art. 22 da Lei Complementar nº 123, de 2006; XV - aprovar o modelo e o prazo de entrega da declaração única e simplificada de informações socioeconômicas e fiscais do Simples Nacional; XVI - disciplinar os documentos fiscais a serem emitidos pelos optantes do Simples Nacional; XVII - disciplinar a comprovação da receita bruta dos empreendedores individuais com receita bruta anual de até R$ 36.000,00 (trinta e seis mil reais); XVIII - disciplinar as hipóteses de dispensa de emissão de documento fiscal dos empreendedores individuais com receita bruta anual de até R$ 36.000,00 (trinta e seis mil reais); XIX - estabelecer outras obrigações fiscais acessórias, observado o disposto no 4º do art. 26 da Lei Complementar nº 123, de 2006; XX - dispor sobre a declaração eletrônica do Simples Nacional; XXI - regulamentar a contabilidade simplificada para os registros e controles das operações realizadas pelos optantes do Simples Nacional; XXII - regulamentar a exclusão do Simples Nacional, observado o disposto na Seção VIII do Capítulo IV da Lei Complementar nº 123, de 2006; XXIII - disciplinar a fiscalização do Simples Nacional, observado o disposto na Seção IX do Capítulo IV da Lei Complementar nº 123, de 2006; XXIV - definir a forma da intimação prevista no art. 38 da Lei Complementar nº 123, de 2006; XXV - disciplinar a forma pela qual serão solucionadas as consultas relativas aos tributos de competência estadual ou municipal;

43 XXVI - disciplinar a forma pela qual os Estados, Distrito Federal e Municípios prestarão auxílio à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional em relação aos tributos de suas competências; XXVII - expedir as instruções necessárias para a implementação do Simples Nacional até 14 de junho de 2007, conforme previsto no art. 77 da Lei Complementar nº123, de 2006; XXVIII - regulamentar as regras para parcelamento de tributos e contribuições para ingresso no Simples Nacional, conforme previsto no art. 79 da Lei Complementar nº 123, de 2006; e XXIX - expedir resoluções necessárias ao exercício de sua competência. O Comitê Gestor citado no parágrafo anterior, é um órgão que tem por finalidade gerir e normatizar os aspectos tributários do Estatuto Nacional da microempresa e empresa de pequeno porte. Criação do Fórum Permanente das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte O Fórum Permanente conta com a participação dos órgãos federais competentes e das entidades vinculadas ao setor, e está incumbido de tratar dos demais assuntos de interesse das MPE s que não seja de competência do Comitê Gestor, conforme determina o artigo 2, inciso II, da Lei Complementar n 123/2006, devendo, para tanto, orientar e assessorar a formulação e coordenação da política nacional de desenvolvimento das MPEs, bem como acompanhar e avaliar a sua implantação. Definição de ME e EPP Como foi exposto anteriormente, a LC n 123/2006 unificou os conceitos existentes nas Leis n 9.317/96 e n 9.841/99, assim com a revogação da Lei n 9.841/99, houve uma redução do limite até o qual a empresa pode ser enquadrada como ME; e aumentou o limite máximo de enquadramento como EPP. Antes da LC, segundo a lei n 9.841/99, considerava se ME a pessoa jurídica com receita bruta anual de até R$ 433.755,14 e EPP aquela com receita bruta anual maior que R$ 433.755,14 e igual ou inferior a R$ 2.133.222,00. Na atual sistemática, conforme artigo 3 da LC n 123/2006, considera-se: Art. 3 [...] microempresas ou empresas de pequeno porte a sociedade empresária, a sociedade simples e o empresário a que se refere o art. 966 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, devidamente registrados no

44 Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que: I no caso das microempresas, o empresário, a pessoa jurídica, ou a ela equiparada, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais); II no caso das empresas de pequeno porte, o empresário, a pessoa jurídica, ou a ela equiparada, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 2.400.000,00 (dois milhões e quatrocentos mil reais). No caso de início das atividades no próprio ano-calendário, os limites citados acima serão proporcionais ao número de meses em que a empresa houver exercido atividade, considerando nessa hipótese as frações de mês, mais uma novidade, já que o antigo estatuto mandava desconsiderar tal fração. Vedação a Opção pelo Simples Nacional A nova legislação das MPE s trouxe novos critérios a serem atendidos para que uma empresa não possa optar pelo Simples Nacional, assim conforme determina o artigo 3, 4, da LC n 123/2006: Art. 3. [...] 4 Não se inclui no regime diferenciado e favorecido previsto nesta Lei Complementar, para nenhum efeito legal, a pessoa jurídica: I de cujo capital participe outra pessoa jurídica; II que seja filial, sucursal, agência ou representação, no País, de pessoa jurídica com sede no exterior; III de cujo capital participe pessoa física que seja inscrita como empresário, ou seja, sócia de outra empresa que receba tratamento jurídico diferenciado nos termos desta Lei Complementar, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo; IV cujo titular ou sócio participe com mais de 10% (dez por cento) do capital de outra empresa não beneficiada por esta Lei Complementar, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo; V cujo sócio ou titular seja administrador ou equiparado de outra pessoa jurídica com fins lucrativos, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo; VI constituída sob a forma de cooperativas, salvo as de consumo; VII que participe do capital de outra pessoa jurídica; VIII que exerça atividade de banco comercial, de investimentos e de desenvolvimento, de caixa econômica, de sociedade de crédito,

45 financiamento e investimento ou de crédito imobiliário, de corretora ou de distribuidora de títulos, valores mobiliários e câmbio, de empresa de arrendamento mercantil, de seguros privados e de capitalização ou de previdência complementar; IX resultante ou remanescente de cisão ou qualquer outra forma de desmembramento de pessoa jurídica que tenha ocorrido em um dos 5 (cinco) anos-calendário anteriores; X constituída sob a forma de sociedade por ações. Percebe-se que a legislação antes preocupada somente com participação dos sócios isoladamente, passou a preocupar-se com a pessoa do administrador, o que demonstra um amadurecimento da legislação, pois acontece bastante o fato de os proprietários do capital informar como sócios terceiros, muitas vezes, sem vínculo algum com a empresa e assumir o cargo de administrador, dessa forma podendo ter várias empresas e todas optantes pelo Sistema simplificado. Com a nova legislação esse ato tornou-se mais difícil de ser executado com êxito. Mudança de ME para EPP ou vice-versa O novo estatuto das MPE s retirou uma preocupação dos micros e pequenos empresários que era a de comunicar à Receita Federal do Brasil quando a microempresa ultrapassasse o limite de faturamento e passasse a ser tributada como EPP, os quais deveriam fazer uma alteração cadastral junto à RFB, por meio de uma FCPJ Ficha Cadastral da Pessoa Jurídica, até o dia 31 de janeiro do ano subseqüente ao da ocorrência do fato. No novo estatuto isto não se faz mais necessário, pois segundo o artigo 3, 7 e 8, a microempresa que exceder o limite de faturamento anual, passará, automaticamente, no ano subseqüente ao da ocorrência do fato à condição de empresa de pequeno porte e vice versa. Acesso aos Mercados Aquisições Públicas As microempresas e as empresas de pequeno porte, com a sanção da LC n 123/2006, receberam muitos benefícios no que diz respeito às aquisições públicas de bens e serviços. O primeiro deles diz respeito a fase classificatória do certame,

46 pois nas condições normais as empresas para participarem de licitações devem comprovar sua regularidade fiscal antes do início do certame licitatório, no entanto conforme artigo 42 e 43 da LC n 123/2006, as microempresas e as empresas de pequeno porte, a partir de 15 de dezembro de 2006, só comprovarão a regularidade fiscal no ato da assinatura do contrato, e caso apresentem a documentação com alguma restrição, as mesmas terão um prazo de 2 (dois) dias úteis, prorrogável por igual período a critério da administração pública, para a regularização da situação impeditiva a assinatura do contrato. Faz-se importante salientar que caso as MPE s não regularizem sua situação no prazo estipulado pela administração pública, as mesmas ficarão sujeitas às sanções previstas no art. 81 da Lei 8.666, de 21 de junho de 1993, assim como perderão o direito de à contratação. Outro benefício trazido pela LC n 123/2006 em seu artigo 44, foi o fato de estar assegurado como critério de desempate nas licitações públicas, a preferência de contratação para as ME ou EPP. Entendendo-se por empate, a situação onde a proposta apresentada pelas microempresas e empresas de pequeno porte seja igual ou até mesmo superior a outras propostas em até 10% (dez por cento), com exceção da modalidade de licitação pregão, onde esse percentual será reduzido para 5% (cinco por cento). Caso o empate citado venha a ocorrer, proceder-se-á da seguinte forma conforme artigo 45 da LC n 123/2006: Art. 45. [...] I a microempresa ou empresa de pequeno porte mais bem classificada poderá apresentar proposta de preço inferior àquela considerada vencedora do certame, situação em que será adjudicado em seu favor o objeto licitado; II não ocorrendo a contratação da microempresa ou empresa de pequeno porte, na forma do inciso I do caput deste artigo, serão convocadas as remanescentes que porventura se enquadrem na hipótese dos 1 e 2 do art. 44 desta Lei Complementar, na ordem classificatória, para o exercício do mesmo direito; III no caso de equivalência dos valores apresentados pelas microempresas e empresas de pequeno porte que se encontrem nos intervalos estabelecidos nos 1º e 2º do art. 44 desta Lei Complementar, será realizado sorteio entre elas para que se identifique aquela que primeiro poderá apresentar melhor oferta.

47 1º Na hipótese da não-contratação nos termos previstos no caput deste artigo, o objeto licitado será adjudicado em favor da proposta originalmente vencedora do certame. 2º O disposto neste artigo somente se aplicará quando a melhor oferta inicial não tiver sido apresentada por microempresa ou empresa de pequeno porte. 3º No caso de pregão, a microempresa ou empresa de pequeno porte mais bem classificada será convocada para apresentar nova proposta no prazo máximo de 5 (cinco) minutos após o encerramento dos lances, sob pena de preclusão. Além dos benefícios citados, a administração pública poderá, com o intuito de promover o desenvolvimento econômico e social das MPE s, conforme artigo 48 da LC n 123/2006, utilizar dos seguintes métodos para garantir o acesso das MPE s ao quadro de empresas contratadas pela administração pública, desde que o valor licitado com tais benefícios não exceda a 25% (vinte e cinco por cento) do total licitado em cada ano civil: I. Poderá destinar as contratações cujos valores sejam de até R$ 80.000,00, exclusivamente para as MPE s; II. Poderá ainda exigir que o vencedor do certame subcontrate uma microempresa ou uma empresa de pequeno porte para auxílio na cumprimento do contrato, desde que o percentual do objeto a ser subcontratado não exceda a 30% (trinta por cento) o total licitado; III. Estabelecer, nas licitações de bens e serviços divisíveis, que 25% (vinte e cinco por cento) dos objetos licitados sejam destinados às MPE s. No âmbito da Administração Pública Federal, os benefícios trazidos pelos artigos 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48 e 49 da LC n 123/2006 foram regulamentados pelo Decreto n 6.204, de 5 de setembro de 2007 o que demonstra certa agilidade da lei em querer garantir os benefícios legais garantidos às MPE s. Assim como a legislação prevê o tratamento diferenciado para as MPE s, ela também estar preocupada com a qualidade dos bens e serviços a serem fornecidos por essas empresas, a final de contas, o que deve prevalecer é o bem coletivo. É por isso que em seu artigo 49, a LC n 123/2006 estabelece algumas exceções a serem observadas para a concessão dos benefícios evidenciados no parágrafo anterior:

48 Art. 49. Não se aplica o disposto nos arts. 47 e 48 desta Lei Complementar quando: I os critérios de tratamento diferenciado e simplificado para as microempresas e empresas de pequeno porte não forem expressamente previstos no instrumento convocatório; II não houver um mínimo de 3 (três) fornecedores competitivos enquadrados como microempresas ou empresas de pequeno porte sediados local ou regionalmente e capazes de cumprir as exigências estabelecidas no instrumento convocatório; III o tratamento diferenciado e simplificado para as microempresas e empresas de pequeno porte não for vantajoso para a administração pública ou representar prejuízo ao conjunto ou complexo do objeto a ser contratado; IV a licitação for dispensável ou inexigível, nos termos dos arts. 24 e 25 da Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993. Obrigações Trabalhistas e Previdenciárias As obrigações trabalhistas e previdenciárias não tiveram grandes alterações com a LC n 123/2006. Assim as MPE s por força do artigo 51 da citada lei, as microempresas e as empresas de pequeno porte estão dispensadas: Art. 51. [...]: I da afixação de Quadro de Trabalho em suas dependências; II da anotação das férias dos empregados nos respectivos livros ou fichas de registro; III de empregar e matricular seus aprendizes nos cursos dos Serviços Nacionais de Aprendizagem; IV da posse do livro intitulado "Inspeção do Trabalho"; e V de comunicar ao Ministério do Trabalho e Emprego a concessão de férias coletivas. As dispensas citadas no parágrafo anterior não eximem as MPE s das seguintes obrigações, conforme artigo 52 da LC n 123/2006: I. Anotações na Carteira de Trabalho e Previdência Social CTPS; II. Arquivamento dos documentos comprobatórios de cumprimento das obrigações trabalhistas e previdenciárias, enquanto não prescreverem essas obrigações; III. Apresentação da Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social GFIP;

49 IV. Apresentação das Relações Anuais de Empregados e da Relação Anual de Informações Sociais RAIS e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados CAGED. Capitação de Recursos no Mercado Financeiro A capitação de recursos por parte das microempresas e empresas de pequeno porte sempre foram motivos de preocupação para os empresários, já que o nível de burocracia e as taxas de juros estavam em certo nível que tornava muitas vezes impossível a ocorrência dessa capitação. A insatisfação dos empresários quanto às políticas de créditos para MPE s foi evidenciada em uma pesquisa realizada pelo SEBRAE de São Paulo em setembro de 2005, a pesquisa foi intitulada de Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas - Sondagem de Opinião, e nessa pesquisa foi questionado sobre quais os principais temas que deveriam ser abordados pela nova legislação, no caso a LC n 123/2006, 19% (dezenove por cento) dos entrevistados responderam que a nova legislação deveria tratar de empréstimos direcionados às MPE s, conforme gráfico a seguir: Gráfico 1 - Temas mais importantes que devem constar na proposta da Lei Geral (agregação por áreas). Fonte: Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas - Sondagem de Opinião, SEBRAE-SP;2005 Atendendo às aspirações dos empresários e garantindo o tratamento diferenciado e favorecido previsto constitucionalmente, a LC n 123/2006 em seus