Distritos, Descentralização e Desenvolvimento: uma Reflexão Crítica

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Transcrição:

Distritos, Descentralização e Desenvolvimento: uma Reflexão Crítica Carlos Nuno Castel-Branco Aula Inaugural do Ano Lectivo de 2008 Universidade Pedagógica Massinga, Inhambane 14-03-2008 1

Introdução Permitam-me, em primeiro lugar, agradecer o convite que me foi feito para proferir esta aula inaugural do ano lectivo da Universidade Pedagógica, bem como a oportunidade que me é dada de, ao aceitar, com prazer, proferir esta aula, simultaneamente participar no início das actividades desta nova delegação da UP em Massinga e dar a primeira aula na sua história. Propôs-me, a UP, que fizesse uma reflexão que de algum modo tocasse numa das questões chave do léxico político actual em Moçambique, nomeadamente o foco nos Distritos. 2

Introdução Escolhi o tema e a abordagem específicos, como enquadramento para o debate sobre Distritos, com base em quatro pontos de reflexão: O que é que eu poderia adicionar ao já longo discurso social sobre Distritos; o que é que poderia dizer que não tenha sido já dito inúmeras vezes sobre este tema? Como poderia aplicar a máxima do grande intelectual e revolucionário Moçambicano, Professor Aquino de Bragança, sobre o papel do intelectual comprometido com a causa social: interrogar e interrogar-se sempre sobre o conhecimento, as ideias, as percepções e as abordagens sociais? Como poderia, no decurso da apresentação, e por via da interrogação, ajudar a audiência a pensar nas questões que vão sendo levantadas? Finalmente, porque todos aqui somos professores ou futuros professores, que contributo poderia esta aula dar para nos ajudar a reflectir critica e criativamente, com os nossos estudantes e futuros estudantes, sobre estas questões de desenvolvimento nacional? 3

Estrutura da apresentação O discurso social sobre Distritos como base do desenvolvimento Eficácia Divisão de trabalho Coordenação e unidade territorial óptima Democratização Conclusões a racionalidade do argumento Reflexão sobre algumas questões críticas Problematizando o conceito de distrito Distrito na estrutura e dinâmica do poder Exemplo1: a economia política da planificação distrital em Nampula 2002-2003 Exemplo 2: a alocação de recursos aos distritos O que é que o Distrito por si só não resolve? Algumas notas conclusivas Uma nota final de provocação 4

O DISCURSO SOCIAL SOBRE O DISTRITO O discurso sobre o Distrito como base ou como pólo de desenvolvimento tem a idade de Moçambique independente. Embora base e pólo sejam conceitos diferentes, no discurso eles são usados indiferenciadamente, sem que a distinção essencial entre os dois seja tratada. Com algumas variantes, os argumentos sobre Distrito destaca três questões práticas: tomada e implementação de decisões, partilha e gestão de recursos e relação com o poder central. Como é que o Distrito é justificado em relação a estas questões? 5

Eficácia Acesso, Proximidade, Responsabilização e Apropriação no que diz respeito: Ao processo de planificação e implementação de actividades Ao acesso a serviços e aos recursos. À passagem do poder de decisão: para quem tem que implementar, para quem presta contas; e a quem beneficia directamente da decisão. 6

Divisão de Trabalho Entre poderes centrais e locais, ligada com: Eficácia (acesso, proximidade, responsabilização e apropriação) Desconcentração: aliviar a pressão sobre o Estado; permitir a iniciativa e responsabilização local, facilitação da micro/pequena iniciativa, etc. ou com crise de capacidade (de gestão e implementação) de prestação de serviços ou de legitimidade política e social 7

Coordenação e unidade territorial óptima O distrito como ponto de confluência de vários actores. A intersectorialidade na óptica do governo. Intersectorialidade entendida como a relação entre órgãos e departamentos do Estado/governo, em vez de como dinâmica económica e social. O distrito como unidade territorial de base óptima, que permite a combinação da intersectorialidade com a territorialidade (posto administrativo e a localidade são demasiado pequenos na dimensão intersectorial; enquanto província já é demasiado grande na dimensão territorial). As prioridades locais na política pública: por exemplo, a articulação de infra-estruturas com prioridades sociais ou produtivas locais; a concepção de projectos tomando em conta as sensibilidades (cultura, história, etc.) locais; etc. 8

Democratização Descentralização e distritização como: Indicador/sintoma formal de democracia representativa e institucional Populismo e localismo Uma forma de mobilização nacional Partilha institucional/formal do poder Legitimação do poder Transferência do conflito sobre apropriação e partilha de recursos para o distrito, e utilização do distrito para legitimar o padrão de apropriação e partilha. 9

Conclusão: racionalidade do argumento social Tomada e implementação de decisões Partilha e gestão de recursos Relação com o poder central Eficácia X X Legitimação Divisão de trabalho X X Legitimação e redução da pressão Coordenação e unidade territorial X X Coordenação, legitimação e conflito Democratização X X Legitimação e conflito 10

REFLEXÃO SOBRE QUESTÕES CRÍTICAS Uma reflexão mais profunda, particularmente se estivermos interessados não só em falar de distritização mas em implementar o conceito, levanta uma série de questões críticas sobre as quais vale a pena reflectir. 11

O que é o Distrito? Problematizando o conceito de Distrito Estrutura administrativa do Estado as administrações e seus órgãos? Unidade territorial? Dinâmica económica e social? As ligações económicas e sociais não são determinadas por limites territoriais A dinâmica da estrutura administrativa Mudança territorial a evolução da organização administrativa e das fronteiras territoriais Distritos e autarquias diferentes formas para processos políticos, sociais e económicos comuns A heterogeneidade dos Distritos (como entidades dinâmicas do ponto de vista histórico, cultural, político, administrativo, económico e social) O conceito de ir para o Distrito quem não está num Distrito? Será que: Todos os distritos sao RURAIS? Todos os distritos rurais são AGRÁRIOS? As dinâmicas rurais são autónomas e autárquicas e independentes de outras dinâmicas sociais, económicas e políticas? 12

Distrito na estrutura e dinâmica do poder Distrito na estrutura e dinâmica do poder institucional formal: Coerência e articulação das estruturas institucionais qual é a relação entre os vários níveis e que coerência têm (exemplo, Distrito/Província)? Quem controla o quê e decide sobre o quê? Recursos e poder Distrito na estrutura e dinâmica política Descentralização/desconcentração como decisão de cima versus apropriação a partir de baixo Espaço político formal o partidarismo; e dinâmico o debate social sobre opções reais de desenvolvimento. Será que qualquer um deles existe? Será a distritização uma forma de os criar ou de impedir que se criem? Os dois lados da alocação e disputa sobre recursos Central/local: recursos do centro para o Distrito; que recursos do Distrito são controlados pelo centro Dentro do local: opções reais de desenvolvimento e padrões de acumulação e diferenciação 13

Exemplo 1: a economia política da planificação distrital em Nampula em 2002-2003 (1) Contexto: o modelo piloto de planificação distrital Capacidades: gabinetes de planificação e base estatística nos distritos. Quadros dos gabinetes de planificação: professores das escolas locais Participação popular Formal: os conselhos distritais Informal: Composição social dos conselhos distritais pessoas influentes (comerciantes, agricultores mais abastados, autoridades comunitárias, etc. Implicações para opções sobre os padrões locais diferenciação e acumulação; Por que não as Assembleias distritais o problema do partidarismo (são so partidos, e não os deputados, quem fala). Será sós este o problema? Haverá alguma diferença na composição e representação social das assembleias distritais quando comparadas com os conselhos consultivos? Qual é o poder real de órgãos deste tipo? Dependência da relação com a planificação e financiamento provincial 14

Exemplo 1: a economia política da planificação distrital em Nampula em 2002-2003 (2) A relação entre as decisões e planificação no Distrito e as decisões e planificação provincial: Opções ligadas com género num Conselho Consultivo homens priorizam estrada (comércio e emprego) e mulheres priorizam água. Ganham as mulheres e distrito opta por água...na condição da província financiar a estrada Orçamento provincial é cortado, estrada não tem financiamento, decisão do conselho distrital é revertida prioridade passa para estrada Como conciliar com decisão do conselho? Mobilização de doadores para porem recursos adicionais para financiar água 15

Exemplo 1: a economia política da planificação distrital em Nampula em 2002-2003 (3) O modelo de plano estratégico: caracterização da pobreza no distrito; identificação de vantagens comparativas; estratégia Formalidade e inutilidade prática do modelo insustentabilidade institucional O esquecimento sistemático das grandes dinâmicas por exemplo, corredor de Nacala nunca é mencionado pois a sua importância não é entendida ao nível distrital Estratégias são todas iguais apesar das diferenças marcantes entre distritos todas falam do aumento da produção agrícola familiar mesmo quando o potencial do distrito é identificado com turismo ou recursos minerais em vez de agricultura. 16

Exemplo 1: a economia política da planificação distrital em Nampula em 2002-2003 (4) Como explicar que as estratégias sejam todas iguais? Falta de capacidade? Não é uma explicação convincente. O que é que o distrito controla? A população, não os seus recursos fundamentais nem as opções sobre esses recursos (turismo, recursos minerais, grandes infra-estruturas, dinâmicas industriais). Toda a população tem alguma produção agrícola, ainda que a sua actividade principal não seja a agricultura. A economia política da negociação social distrito modelo e acesso a recursos. Distrito modelo tem acesso a mais recursos; para ser distrito modelo tem que ter plano estratégico; plano estratégico é aprovado a nível provincial; será mais fácil e mais rapidamente aprovado se a sua linguagem e conteúdo forem os oficiais (do governo e doadores), que insistem na agricultura familiar, educação e saúde. Logo, o plano do distrito diz isto. Uma vez na posse de recursos extra (por ser modelo), o distrito pode negociar outros projectos. Perfil da pobreza o que o distrito gostaria de relembrar a níveis superiores que deve ser feito no distrito (exemplo, pobreza no distrito define-se como falta de escola ) 17

Exemplo 2: a alocação de recursos aos distritos Distribuição homogénea de recursos para distritos heterogéneos para fazer o quê? Um acto de populismo? Recursos tão escassos (aprox. 7 milhões de Mt, menos do que US$ 300,000 por ano); o que é que de facto permitem fazer? De onde vêm os recursos? Não são recursos adicionais para as províncias, ma são retirados dos orçamentos provinciais. Para fazer o quê? Não está nada claro o que é melhor e possível de fazer Intervenção central sobre a alocação local quanto vale a iniciativa e a opinião local quando há demasiada intervenção central nas decisões? Escassez de recursos fiscais (a todos os níveis) versus os incentivos fiscais aos grandes projectos de investimento estrangeiro que dinâmicas económicas é que dominam e qual é o papel dos distritos? 18

O que é que o Distrito, por si só, não resolve? As dinâmicas do poder político e das relações políticas Espaço formal Cultura de cidadania Opções políticas efectivas (para além do partidarismo) As dinâmicas da acumulação económica Apropriação, partilha, distribuição e utilização dos recursos As dinâmcias dominantes A heteorgeneidade interna e o conlfito social intra-distrital 19

Algumas notas conclusivas Descentralização e desconcentração de uma dinâmica de poder político e económico não necessariamente altera, e pode até ajudar a generalizar, essa dinâmica Legitimação e reprodução de dinâmicas de poder político e económico não populares podem requerer desconcentração Autoridades tradicionais no colonialismo directo e no pós-independência em África A construção e consolidação formal e institucional das bases de diferenciação e acumulação: os casos dos conselhos distritais Uma abordagem para os Distritos que vai para além do formal e institucional requer a possibilidade/espaço, a organização e mobilização social para a confrontação de opções de desenvolvimento 20

Uma nota final de provocação (1) Professores como dinamizadores da investigação, aprendizagem e debate social por NOVAS ideias criativas. Imginemos que conseguimos eliminar do nosso léxico social, político e económico alguns chavões que, de tão repetidos, já perderam a substância e só servem de matope que impede o nosso pensamento de INOVAR. Seríamos capazes de pensar criativamente se eliminassemos as seguintes frases? Distrito como polo ou base de desenvolvimento Agricultura como base do desenvolvimento Indústria como factor dinamizador Empresariado nacional Imposição externa de opções de desenvolvimento Força de trabalho barata é vantagem comparativa Vantagem comparativa Globalização e integração regional Estabilização económica, etc., etc. 21

Uma nota final de provocação (2) Podemos encontrar muitas outras frases para eliminar Muitas destas frases e conceitos tiveram substância e relevância no seu contexto. Hoje servem sobretudo para justificar ou para dizer alguma coisa sem dizer nada de concreto Fazer o exercício entre nós aqui e, depois, com os estudantes ver o que sai e se, obrigadas e eliminar chavões, as pessoas podem pensar em assuntos reais e ter NOVAS ideias concretas Resultados podem ser surpreendentes exemplo do curso de formação económica de quadros distritais em 1984 (proibição de uso de mobilizar o povo para resolver... ; adoptar medidas adequadas, etc.); exemplo da cadeira de política económica na FE-UEM (proibição do uso de reforma económica ). Estudantes foram obrigados a especificar o seu pensamento e conhecimento, em vez de esconder ignorância atrás de frases feitas. 22

Muito Obrigado! 23