PARECER CREMEB Nº03/10 (Aprovado em Sessão da 1ª Câmara de 05/02/2010)

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Transcrição:

PARECER CREMEB Nº03/10 (Aprovado em Sessão da 1ª Câmara de 05/02/2010) Expediente Consulta nº 160722/08 Assuntos: Utilização de imagens de idosos internados em albergues e instituições de acolhimento, com finalidade científica. Realização de pesquisa nesses indivíduos. Relatora: Consª Hermila Tavares Vilar Guedes Ementa: Para a obtenção e a utilização de imagens de indivíduos e a participação como sujeitos de pesquisas científicas é necessário a assinatura pelo próprio indivíduo ou pelo seu representante legal, de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Em se tratando de idoso, não havendo responsável legal, a atribuição cabe ao Ministério Público. CONSULTA A presente consulta foi enviada por um médico, coordenador clínico de instituição que abriga idosos. Refere que gostaria de receber esclarecimentos sobre as normas que regem a utilização de imagens e pesquisas em idosos, em especial em albergues, uma vez que estudantes e professores de um curso de graduação em Fisioterapia, os quais freqüentam a instituição coordenada por ele, insistem em obter imagens dos idosos (fotos, filmes), visando a análise da evolução do quadro e a utilização de tais imagens em publicações científicas. O consulente informa que muitos dos idosos assistidos na sua instituição perderam o contato com suas famílias, não havendo responsáveis diretos por eles. Além disso, muitos são portadores de doenças crônicas e degenerativas, como seqüelas de Acidente Vascular Cerebral e Doença de Alzheimer. RELATÓRIO A relação com profissionais de saúde, bem como a participação, como sujeitos de pesquisas científicas, são duas das muitas abordagens da Bioética, com relação à chamada terceira idade. Embora haja intercessões quanto a alguns aspectos das duas questões enviadas pelo consulente, como a necessidade

de consentimento escrito e a imputabilidade da responsabilidade, faz-se necessário dividir os assuntos, para uma melhor abordagem. Dos Direitos do idoso Em 4 de janeiro de 1994, a Lei nº 8.842 criou o Conselho Nacional do Idoso. Seu artigo 2º define o termo idoso como a pessoa maior de sessenta anos de idade. Contudo, foi a Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 que detalhou o Estatuto do Idoso. Seu artigo terceiro prioriza a atenção a esta faixa etária: Art. 3 o É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. O Direito à liberdade ao respeito e à dignidade é abordado no Capítulo II da referida lei, cujo artigo décimo e seus parágrafos segundo e terceiro enfocam claramente os direitos envolvidos na consulta realizada. Art. 10. É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na Constituição e nas leis. 2 o O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores, idéias e crenças, dos espaços e dos objetos pessoais. 3 o É dever de todos zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. Da representação legal do idoso A mesma lei nº 10.741, no seu Art. 17, assegura ao idoso que esteja no domínio de suas faculdades mentais, o direito de optar pelo tratamento de saúde que lhe parecer mais favorável. Contudo, em seu parágrafo único, completa que, não estando o idoso em condições de proceder à opção, esta será feita por uma segunda pessoa: I pelo curador, quando o idoso for interditado; II pelos familiares, quando o idoso não tiver curador ou este não puder ser contactado em tempo hábil;

III pelo médico, quando ocorrer iminente risco de vida e não houver tempo hábil para consulta a curador ou familiar; IV pelo próprio médico, quando não houver curador ou familiar conhecido, caso em que deverá comunicar o fato ao Ministério Público. Assim, o Ministério Público é confirmado como instância que resguarda os Direitos do Cidadão. É importante salientar o texto da referida Lei, no Título III, que trata das medidas de proteção, no seu Capítulo II, o qual versa sobre as entidades de atendimento ao idoso, encontra-se o artigo 48º que, em seu parágrafo único, atribui a responsabilidade civil e criminal por atos praticados em detrimento do idoso, pelo dirigente da instituição: Parágrafo único. O dirigente de instituição prestadora de atendimento ao idoso responderá civil e criminalmente pelos atos que praticar em detrimento do idoso, sem prejuízo das sanções administrativas. Da captação e utilização de imagens dos idosos: O chamado Direito à preservação da própria imagem é universal e protegido pelo art. 5º, inciso X da Constituição Federal de 1988: "Art. 5. X São invioláveis: a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas; assegurando o direito à indenização pelo dano material ou moral, decorrente de sua violação. Necessidades da Justiça ou da Polícia conferem limitação ao Direito de Imagem, quando, por exemplo, ocorre a divulgação da imagem de criminosos procurados pela Justiça. Também ocorre limitação do Direito de Imagem, quando a reprodução da imagem do indivíduo está enquadrada na imagem de lugares públicos, captadas para registrar fatos de interesse público, ou que hajam ocorrido publicamente. Isto acontece quando a imagem é captada acidentalmente em fatos noticiáveis e as pessoas têm sua imagem registrada e divulgada por acaso, quando o foco do assunto não lhes diz respeito. Outra limitação se reporta aos fins científicos, didáticos ou culturais, sendo exemplificada pela divulgação da imagem de pacientes, em edições especializadas de ciência médica ou em congressos relacionados.

Contudo, quando essa imagem, ou mesmo qualquer alusão à doença ou situação descrita no veículo científico, permite que haja identificação do paciente faz-se absolutamente necessário a obtenção do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Tal documento deve ser assinado pelo próprio indivíduo em foco ou pelo seu representante legal, conforme rege o Princípio da Autonomia, base da Bioética. O consentimento da pessoa deve condicionar a utilização da imagem para um determinado fim, não podendo haver extensão para além do que foi expressamente autorizado. Em se tratando de indivíduos legalmente incapazes, como idosos em algumas situações, além de crianças e adolescentes, cujo consentimento deve ser dado pelo seu representante legal, é mister que seja considerada a vontade desta pessoa, mesmo absolutamente ou relativamente incapaz na vida civil. Como os textos jurídicos indicam que, na dúvida, devem ser priorizados os interesses da sociedade, é imperativo ressaltar que a sociedade, através do seu representante, o Ministério Público, busca o bem estar do idoso, da criança e do adolescente, como definem as políticas nacionais específicas para estes grupos populacionais. Da participação de idosos em pesquisas científicas Observa-se que a pesquisa em idosos é tema que dispõe, na literatura, de poucas abordagens específicas, ao contrário do que ocorre com outros grupos de pessoas vulneráveis (crianças, gestantes, etc). Os documentos nacionais e internacionais sobre pesquisa generalizam orientações especiais, utilizando o termo para pesquisa em incapazes. Os idosos, entretanto, possuem características particulares de vulnerabilidade, inerentes à idade avançada. A pesquisa ética segue os princípios fundamentais da Bioética (Autonomia, Beneficência, Não Maleficência e Justiça). O consentimento livre e esclarecido dos sujeitos caracteriza a pesquisa como ética, uma vez que informa sobre os objetivos do estudo, sobre cada procedimento ao qual o sujeito da pesquisa será submetido, sobre riscos que possam existir e sobre a importância do estudo. É preciso, no entanto, que o consentimento informado esteja adequado ao sujeito de pesquisa. A informação, a compreensão, a voluntariedade e a autorização, são elementos fundamentais para essa adequação. Na elaboração do documento do TCLE destinado a idosos deve haver o cuidado com a legibilidade (tamanho da fonte, espaçamento, linguagem), evitando a anuência do leitor, por constrangimento.

Faz-se necessário informar detalhes e responder às perguntas do indivíduo, com linguagem acessível, a fim de que seja assegurada a sua compreensão sobre procedimentos a serem realizados, desconfortos, riscos e benefícios pessoais ou coletivos. Essa etapa, em idosos, pode ser demorada. A informação e a compreensão adequadas são importantes para assegurar a voluntariedade da autorização de participação. Mas para que assim ocorra, a condição básica é a capacidade para tomar decisões. Quando o próprio sujeito da pesquisa não é considerado capaz de compreender e consentir, essa prerrogativa passa a pertencer ao seu representante legal. A participação de pessoas consideradas incapazes, em pesquisas, não deve ser considerada situação usual, por suscitar atenção especial ao princípio da Autonomia. Esse aspecto é mais específico ainda, quando se trata de idosos internados em instituições. A internação não significa perda de capacidade, de forma que os responsáveis pela instituição não têm o direito de fornecer consentimentos para pesquisa ou uso de imagem, de modo indiscriminado. Tem sido consensual, entre os estudiosos da Bioética, que, por uma questão de justiça, as pesquisas realizadas em idosos devem beneficiar diretamente os indivíduos desta faixa etária. Assim, deve-se evitar a participação de idosos em estudos que não trarão qualquer benefício para si ou para indivíduos de características etárias semelhantes. Embora todo projeto de pesquisa deva ser submetido à avaliação por um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), integrado, inclusive, por representantes da comunidade, tem sido pleiteado por especialistas em gerontologia, que, para a avaliação dos estudos que envolvam idosos, deve ser requerida a participação de um membro ad hoc qualificado, capaz de discutir as características específicas deste grupo de pessoas que será investigado. Parecer A forma ética de proceder à obtenção de quaisquer tipos de imagens de indivíduo de qualquer idade, estando sob a condição de paciente ou não, bem como à utilização das imagens obtidas, em qualquer tipo de veículo, consiste na obtenção prévia de uma autorização do indivíduo ou de seu representante legal. Tal autorização consiste em um Termo de Consentimento, devidamente assinado, o qual deve indicar claramente a finalidade da imagem obtida.

Os dispositivos legais acima descritos mostram que, sendo o idoso considerado incapaz, na ausência de familiar ou curador, o médico assistente, antes mesmo da instituição, pode assumir a responsabilidade de autorizar ou não a administração de conduta terapêutica em seu paciente, elaborando arrazoado sobre sua decisão. Assim sendo, é razoável, portanto, que o médico assistente possa emitir parecer sobre a pertinência ou não da participação de seu paciente em procedimentos de investigação científica, avaliando criteriosamente se os mesmos trarão benefícios para o idoso em foco ou para indivíduos de características semelhantes. Contudo, o parecer do médico assistente deve ser considerado pela equipe, para basear a avaliação de pertinência individual da participação de cada paciente no estudo, e não como Termo de Consentimento para a inclusão desse paciente. Trata-se de uma avaliação de possibilidade, que deve ser utilizada pelo dirigente da instituição, para autorizar ou não a realização do estudo naquela unidade, possibilitando o preenchimento da Folha de Rosto, o qual é absolutamente necessário para que o projeto de pesquisa seja submetido à apreciação de um CEP. Todo estudo que envolva seres humanos somente poderá ser iniciado após a avaliação e aprovação do projeto de pesquisa por um CEP devidamente credenciado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). O documento final do CEP deve ser solicitado à equipe de trabalho pela Direção da instituição. A efetiva participação dos sujeitos somente poderá ocorrer após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, individual, cujo modelo tenha sido previamente apresentado ao CEP. O TCLE, elaborado segundo requerem os Princípios da Bioética, deve ser assinado pelo paciente ou por seu representante legal, quando o primeiro for considerado incapaz. Não havendo responsável legal pelo idoso, cabe ao Ministério Público decidir pela participação ou não, desses indivíduos em pesquisas científicas. É o parecer. Salvador, 10 de março de 2009. Consª Hermila Tavares Vilar Guedes Relatora

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