ANÁLISE DO RADAR DA INOVAÇÃO NO SEGMENTO DE BARES E RESTAURANTES DA REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL- RN

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Transcrição:

ANÁLISE DO RADAR DA INOVAÇÃO NO SEGMENTO DE BARES E RESTAURANTES DA REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL- RN INNOVATION RADAR ANALYSIS IN BARS AND RESTAURANTS SEGMENT OF THE METROPOLITAN REGION IN NATAL- RN Elaine Carvalho de Lima 1 Calisto Rocha de Oliveira Neto 2 RESUMO O presente artigo investiga empresas do segmento de alimentação fora do lar na Região Metropolitana de Natal RN, com o objetivo de mensurar o grau de inovação das micro e pequenas empresas desse segmento. Em termos metodológicos, a pesquisa desenvolveu-se, por meio de uma pesquisa bibliográfica sobre a temática da inovação, bem como pela aplicação de um survey com 40 empresas do segmento mencionado. Os principais resultados evidenciaram que tais empresas ainda se encontram em um estágio incipiente no processo de inovação, embora as empresas analisadas reconheçam a importância de inovação para a expansão no mercado. Desse modo, mostra-se fundamental a criação de mecanismos internos, como a sistematização de reuniões para geração de ideias, inclusive a busca por apoio de instituições que possam colaborar na implementação da cultura da inovação. Palavras-Chave: Inovação. Alimentação. Micro e Pequenas Empresas 1 Mestre em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte- UFRN. Doutoranda em Economia pela Universidade Federal de Uberlândia- UFU. Endereço: Rua João Ângelo Schiavinato, 1404, apt 104, Santa Mônica, Uberlândia/ Minas Gerais. E-mail: elainecarvalhoonline@hotmail.com 2 Mestre em Economia pela UFRN. Graduando em Ciências Contábeis pela UFRN. Endereço: Rua Ponte Nova, 38, Nossa Senhora da Apresentação, Natal/ RN. E-mail: calisto_neto@hotmail.com. Veredas Favip ano 12 volume 9 número 3 2016 175

ABSTRACT This article investigates companies in the food segment outside homes in the Metropolitan Region of Natal-RN, in order to measure the degree of innovation of micro and small companies in this segment. In terms of methodology, the research was developed through literature research on the topic of innovation and the application of a survey with 40 companies in the mentioned segment. The main results showed that these companies are still in an incipient stage in the innovation process, even though these companies recognize the importance of innovation for the market expansion. Thus, it proves essential to create internal mechanisms, such as the systematization of meetings to generate ideas, including the search for support institutions that can collaborate in the implementation of the culture of innovation. Keywords: Innovation. Food. Micro and Small Companies 1 INTRODUÇÃO As micro e pequenas empresas (MPEs) no Brasil possuem grande importância em termos econômicos e sociais, pois são as que mais empregam e distribuem renda. Segundo IPEA (2012) o segmento das MPEs apresenta uma participação significativa no estoque de empregos e na geração de oportunidades de trabalho no Brasil. Em termos comparativos, O Brasil encontra-se entre os países mais empreendedores do mundo, dados da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) mostram um cenário bastante otimista, as estimativas apontam que 40 milhões de brasileiros entre 18 e 64 anos estão com alguma atividade empreendedora. Evidenciase também que o empreendedorismo proporciona uma maior credibilidade na imagem do país, especialmente com o aumento de empreendedores por oportunidades, o que revela uma decisão com certo nível de planejamento no momento de empreender, elevando-se a probabilidade de sucesso do negócio (GEM, 2013). Um aspecto importante a ressaltar sobre o empreendedorismo é a sua contribuição para o desenvolvimento econômico de um país através da geração de emprego e renda na economia. Schumpeter (1982), Porter (1996) ressaltaram a importância dos empreendedores no processo de inovação, que não se restringe a constituição de novos empreendimentos, mas também ao decorrer do desenvolvimento das atividades das empresas existentes no mercado. Veredas Favip ano 12 volume 9 número 3 2016 176

As Micro e Pequenas Empresas (MPE) desempenham um papel de extrema importância para a economia do Brasil, sendo responsável por uma elevada parcela da geração de emprego e renda no país. As MPEs representam aproximadamente 99% dos estabelecimentos formais, 27% do Produto Interno Bruto (PIB) e mais de 50% dos empregos com carteira assinada gerados no país. Inclusive, contribui para a diminuição das disparidades econômicas e sociais ao gerar melhores oportunidades de inclusão no mercado de trabalho (SEBRAE, 2013). Nesse contexto, a inovação emerge como uma alternativa para ganho e permanência no mercado diante de um cenário de grande competitividade entre as organizações. Nesse sentido, a inovação tem ganhado novos contornos no mundo empresarial, sendo uma das principais estratégias sustentabilidade e posicionamento mercadológico (PORTER, 1996). Nos últimos anos, o cenário nacional mostrou-se favorável a essa categoria de empresas, especialmente, com o surgimento da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas. A MPE é regulamentada pela Lei Complementar nº 123/06, de 14/12/2006, atendendo ao disposto nos artigos 170 e 179 da Constituição Federal. De tal maneira que houve um atendimento diferenciado aos pequenos negócios, com destaque aos aspectos tributários, uma vez que houve a unificação dos impostos federais, estaduais e municipais. Ademais, foi facilitada a abertura e expansão de crédito para essas empresas, garantindo tratamento diferenciado e simplificado nos campos administrativo, fiscal, previdenciário, trabalhista, creditício e de desenvolvimento empresarial. Entretanto, apesar dos avanços obtidos nas políticas públicas destinadas ao setor, ainda há muitos obstáculos enfrentados pelos pequenos negócios, em uma conjuntura ainda marcada pelo alto número de mortalidade de empresas. Nesse sentido, torna-se essencial o estudo dessa categoria de empresas, principalmente pesquisas que abordem especificidades de uma realidade local, na tentativa de compreender a dinâmica das transformações na estrutura produtiva. No estado do Rio Grande do Norte, as MPE representam 99% estabelecimentos formais e 57,7% dos empregos formais no estado (RAIS, 2012). Um dos setores que trouxe muitas oportunidades é o de bares e restaurantes. Entre os fatores que podem explicar a expansão nos últimos anos, está a própria dinâmica do mercado interno brasileiro que atualmente configura-se pelo aumento do poder aquisitivo da população e ampliação do comportamento do consumidor. Veredas Favip ano 12 volume 9 número 3 2016 177

Assim, diante de um cenário marcado por grandes transformações econômicas e sociais, a capacidade de inovar representa uma grande vantagem competitiva para as MPE, pois impulsiona o crescimento e pode trazer melhorias no desempenho da produtividade. A inovação pode contribuir em todos os aspectos do negócio, que não se restringe aos avanços da tecnologia de informação, mas também nas áreas de vendas, finanças, marketing, recursos humanos, entre outros. Nesse contexto, o presente artigo tem por objetivo mensurar o grau de inovação das empresas das Micro e Pequenas Empresas do segmento de alimentação na Região Metropolitana de Natal/ RN. O trabalho está estruturado em mais quatro seções, além dessa parte introdutória. A seção seguinte apresenta a fundamentação teórica com base no tema da inovação. A terceira seção expõe a metodologia utilizada neste estudo. A quarta seção mostra os resultados alcançados. E por fim, as conclusões. 2 ANÁLISE DA INOVAÇÃO NAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS Os pequenos empreendimentos contribuem significativamente para o desenvolvimento econômico de um país, além de estimular e movimentar a economia local. Em meio a um cenário altamente competitivo, a inovação constitui em uma estratégia de permanência no mercado, principalmente, para as MPE. Desse modo, Inúmeros são os fatores que podem contribuir para o sucesso das pequenas empresas, destacam-se: a habilidade para produção em mercados especiais; vantagem de possuir uma organização enxuta que possibilita um serviço mais eficiente; maior proximidade com os clientes e melhor atendimento de suas demandas (BALDWIN, GELLATLY, 2003). Nesta perspectiva, um dos pioneiros a abordar de uma forma sistemática a questão da inovação foi o pesquisador Schumpeter (1982). Em síntese, o autor, aborda a questão da inovação através da introdução de um novo produto, método produtivo, abertura de um novo mercado e aquisição de novas matérias primas. Desse modo, pode-se notar que o processo de inovar está associado a uma estratégia competitiva, que pode garantir um diferencial para empresa e, portanto, melhorar seu posicionamento frente a dinâmica do mercado. Ainda segundo Schumpeter, a inovação é tida como um fenômeno de desenvolvimento econômico, associado ao processo de destruição criativa, que representa a substituição de antigos produtos por novos. Ademais, esse movimento Veredas Favip ano 12 volume 9 número 3 2016 178

gera maiores investimentos de capital com melhorias no consumo, renda e emprego de uma nação (SCHUMPETER, 1982). A partir do pioneirismo de Schumpeter (1982), muitos estudos foram desenvolvidos nas últimas décadas atribuindo novos aspectos para a conceituação da inovação, mostrando evolução no modo de se diferenciar da concorrência, como demonstrado no quadro abaixo: Autores Drucker (1987) Van de Vem et al (1989) Gonçalves e Gomes (1993) Tijssen (2002) Byrd e Brow (2003) Manual de Oslo (OECD, 2005, p. 46, FINEP, 2006, p. 55) Haines e Sharif (2006); MCT (2002) Robert (2007); Lakemond et al (2007) Tidd, Bessant e Pavitt (2009) Fransen (2013) Conceitos Conferir novas capacidades aos recursos (processos e pessoas) existentes na empresa para geração de riqueza. É um processo que envolve geração, adoção, implementação e incorporação de novas ideias, práticas ou artefatos dentro da organização. Inovações são mudanças nos processos de produção e nos modelos dos produtos que sejam à base do progresso tecnológico É uma consequência das pesquisas básicas e invenções que são inseridas no mercado. Inovação é uma combinação entre a criatividade e a tomada de risco. Implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas. Melhoria da gestão organizacional e de suas relações com o ambiente externo e interno. Processo que inicia com a criação de uma ideia e finaliza com o lançamento do produto no mercado A inovação é um processo de fazer de uma oportunidade uma nova ideia e de colocá-la em uso da maneira mais ampla possível. Processo para desenvolver e aperfeiçoar produtos, processos e mercados, com o objetivo de agregar valor. Quadro 1: Conceitos de Inovação Fonte: Adaptado de MELLO et al (2013) Assim, diante de um mundo globalizado, com predominância da Tecnologia da Informação (TI), e cada vez mais competitivo economicamente, o século XXI traz grandes desafios ao empreendedorismo, ainda mais em tempos de enormes debates sobre a questão ambiental (99 Soluções Inovadoras Sebrae/SP, 2009). Dessa feita, Veredas Favip ano 12 volume 9 número 3 2016 179

a inovação pode ser a força motora para melhorar a eficiência e o desempenho das empresas, além de garantir competitividade e um negócio mais sustentável nas suas práticas. Então, no mundo atual, já não é mais possível ser competitivo sem uma estratégia voltada para inovação e sem adoção das novas tecnologias ou novos processos. Outro ponto a destacar é que nas últimas décadas o desenvolvimento sistemático dos laboratórios de pesquisas tem possibilitado que algumas empresas se antecipem as inovações de outras empresas do mercado. Em certa medida, diante de um contexto concorrencial, uma proteção efetiva se encontra na capacidade da firma se antecipar ou enfrentar em pé de igualdade, as ameaças de inovações de processos, produtos e técnicas de comercialização de seus concorrentes (PENROSE, 2006). É inegável a importância das pesquisas e as vantagens competitivas advindas dessa prática para as empresas. Entretanto, como bem salienta Penrose (2006), para as pequenas empresas a utilização de recursos para pesquisas em geral e aquisição de novos conhecimentos é uma estratégia bastante dispendiosa, uma vez que os recursos muitas vezes são escassos para essa categoria de empresas. Em última análise, para as pequenas empresas as pesquisas tenderão a garantir alguma vantagem se houver ideias específicas e suficientemente originais sobre o que se quer encontrar. Sendo assim, são desafios que os pequenos negócios encontram para garantir sua sobrevivência no mercado e se tornarem mais competitivos em longo prazo. Desse modo, Guimarães (2011) revela que, empresas que não apresentam uma cultura inovadora e baixo investimento em P&D segue a modalidade incremental da inovação, isto é, tende a uma estratégia de imitação, cuja característica é adaptação dos novos métodos e tecnologias. Assim, em geral, isso ocorre em contextos de deficiência de investimento em pesquisas, que não cria as condições favoráveis para o desenvolvimento de um ambiente verdadeiramente inovador. Já Barbieri et al (2002) chama atenção para a existência de elementos internos e externos que favorecem ou não a cultura da inovação. Entre os elementos externos os autores destacam: aspectos relacionados a estrutura de mercado, relacionado ao grau de barreiras a entrada e saída de novas empresas; o ambiente político e econômico; legislação trabalhista, entre outros. Quanto aos fatores internos, destacam-se: nível de comunicação interna; estímulo à criatividade e geração de novas ideias; políticas de desempenho e recompensas; existência de um clima inovador, entre outros fatores. Veredas Favip ano 12 volume 9 número 3 2016 180

Em síntese, as questões que envolvem a inovação perpassam pelo processo de crescimento e expansão do negócio e, no caso das pequenas empresas, essa estratégia pode está intimamente relacionada ao sucesso permanente. Ademais, muitos autores ressaltam a inovação como caminho para manutenção em um mercado cada vez mais competitivo. Nesse sentido, as novas soluções para atender as exigências dos consumidores, mostra-se como um caminho inevitável para fidelizar e conquistar clientes, ou seja, para ser manter competitiva a empresa precisa inovar. (GARCIA, 2008; ZAWISLAK, 2004). Uma série de estudos utilizam como pilar teórico a visão schumpeteriana de inovação e seu papel no processo de mudança econômica. Vyas (2009), na tentativa de analisar o processo de inovação e desenvolvimento de novos produtos, realizou uma pesquisa de triangulação entre 8 empresas escocesas do ramo de alimentação. Entre os principais resultados obtidos na pesquisa, foi a constatação de que as restrições financeiras nas empresas dificultaram o desenvolvimento de novos produtos. Isso resultou em vendas menores para grandes varejistas e entraves para realização e participação de eventos (viagens, congressos) para busca de novas ideias e tendências de mercado. Antonsson, Engstrom e Verbus (2011), com o objetivo de analisar como a gestão local afeta o processo de inovação nas cadeias de fast food, realizaram um estudo de caso de duas empresas desse segmento, Subway e Max, para explorar duas estruturas organizacionais diferenciadas. Constataram que o processo de inovação tem uma relação positiva com o poder advindo da gestão local, entretanto, isso difere dependendo da estrutura organizacional. Em certa medida, a implementação de uma comunicação mais horizontal beneficiaria todo o sistema, inclusive o sistema de franquia. Assim, acredita-se que o processo de inovação poderia ser mais eficiente se a houvesse aumento da colaboração e comunicação local e isso fosse transferido para o sistema de gestão global. Sawhney, Wolcott e Arroniz (2006) identificaram doze dimensões nos negócios com uma ferramenta chamada Radar da Inovação. Cada uma das doze dimensões (Produto, Plataforma, Soluções, Clientes, Relacionamento, Processos, Marca, Agregação de Valor, Rede, Cadeia de Fornecimento, Organização e Presença) representam meios onde a empresa poderá traçar suas estratégias de inovação. Os autores operacionalizaram a ferramenta através da mensuração para cada dimensão relatada e testaram empiricamente a validade do Radar utilizando-o para grandes Veredas Favip ano 12 volume 9 número 3 2016 181

corporações americanas. Os resultados corroboraram com o conceito de multidimensão da inovação, pois várias são as possibilidades que a empresa poderá inovar, atentando-se para quatro dimensões principais abordadas no Radar, que são: ofertas criadas, clientes atendidos, os processos empregados e os locais de presença utilizados. Importante destacar que independentemente da forma que o processo de inovação ocorra nas empresas, os estudos convergem para a ideia de que a inovação ocorre quando um produto /serviço se destina ao mercado para comercialização e tenha como consequências mudanças na competitividade das empresas envolvidas (GARCIA, 2008). Por fim, um olhar mais atento sobre os aspectos referentes a concepção e prática do processo de inovação nos mostra que, em tempos de globalização, novas tecnologias da informação e competitividade, as boas ideias, ancoradas no conhecimento, são uma poderosa ferramenta de geração e agregação de valor. Colbari (2013) reconhece que, a inovação tem um papel, historicamente, vital para o desenvolvimento e transformação da economia, mas observa também que, o conhecimento tem se transformado numa força produtiva fundamental, tornando o capital intelectual um ativo em constante atualização e sempre se expandido. 3 METODOLOGIA Com relação a metodologia empregada no estudo, quanto aos seus objetivos a pesquisa caracteriza-se por ser descritiva, pois foi realizado a descrição de um determinado fenômeno com suas variáveis (SANTOS, 2013). O caráter descritivo do presente estudo relaciona-se ao fato de que as constatações obtidas permitirão um melhor entendimento do processo de inovação nas MPE em análise. A pesquisa é de natureza quantitativa, pois foi investigado o grau de inovação das empresas através de descrições quantitativas. Quanto aos procedimentos usados na pesquisa, foram utilizados a pesquisa bibliográfica e a pesquisa do tipo survey. A utilização da pesquisa do tipo survey torna-se importante para o conhecimento do segmento econômico selecionado no presente trabalho. Em tese, esse tipo de pesquisa pressupõe uma coleção de dados com um número de unidades e em uma conjuntura de tempo, onde as variáveis coletadas são analisadas para identificar padrões de associação (BRYMAN, 1989, p. 104). Veredas Favip ano 12 volume 9 número 3 2016 182

Nesse sentido, a ferramenta utilizada foi o Radar da Inovação como forma de mensurar o grau de inovação das empresas no estado do Rio Grande do Norte, bem como verificar a evolução da empresa quanto as estratégias de implementação da cultura da inovação. O instrumento de análise, Radar da Inovação, teve origem em um estudo realizado por Sawhney, Wolcott e Arroniz (2006) com 12 dimensões nas quais as empresas têm oportunidades de realizar inovações. Tal instrumento foi posteriormente adaptado por Bachmann e Destefani (2008) para avaliar o grau de inovação em pequenas empresas. Estes autores incluíram uma 13ª variável, Ambiência Inovadora, vista como fundamental na geração de um clima organizacional favorável à inovação. O Radar da Inovação analisa treze dimensões, a saber: Oferta; Plataforma; Marca; Clientes; Soluções; Relacionamento; Agregação de Valor; Processos; Organização; Cadeia de Fornecimento; Presença; Rede, e Ambiência Inovadora. O Quadro 2 descreve as dimensões analisadas no Radar e as variáveis que compõem cada dimensão abordada. Dimensão Definição Variáveis Oferta Plataforma Marca Clientes Soluções Relacionamento Relaciona-se a introdução de novos produtos e serviços no mercado com novas ou significativas melhorias nas suas características e desempenho. Conjunto de componentes comuns, processos e tecnologias para criar uma ampla gama de produtos e serviços, utilizando-se de uma mesma plataforma. Entende-se como os símbolos, slogans ou formatos pelos quais uma empresa transmite sua imagem aos clientes e também na transferência para uma nova categoria de produtos. Centra-se na identificação das necessidades não atendidas pelos clientes, ou ainda, na identificação de novos nichos de mercado. Combinação personalizada ou integrada de serviços, produtos e informações para resolver o problema do cliente. Interações que os clientes têm com a empresa a fim de criar a fidelização dos clientes com base no fornecimento de experiências positivas. a- Novos produtos; b- Ousadia; c- Resposta ao Meio Ambiente; d- Design. a- Sistema de produção; b- Versões de produtos. a- Proteção de marca; b- Alavancagem da marca. a- Identificação das necessidades dos clientes; b- Identificação de mercados; c- Uso das manifestações dos clientes. a- Soluções complementares; b- Integração de recursos. a- Facilidades e amenidades; b- Informatização. Agregação de A criação de novos meios para geração de a- Uso dos recursos existentes; Veredas Favip ano 12 volume 9 número 3 2016 183

Valor valor dos produtos e serviços b- Uso das oportunidades de interação. Processos Concepção e implementação de um processo a- Melhorias dos processos; de negócio interno novo ou b- Sistema de gestão; significativamente melhorado em qualquer área funcional, em busca de uma maior eficiência e qualidade. c- Certificações; d- Softwares de gestão; e- Aspectos ambientais; Organização Cadeia de Fornecimento Presença Rede Ambiência Inovadora Implementação de mudanças na estrutura ou na gestão dos métodos de organização, em certa medida como a empresa está estruturada. Refere-se aos aspectos logísticos da atividade, tais como, transporte e estoque de matéria prima. Associa-se a criação de novos pontos de venda dos produtos/ serviços, ou ainda, a utilização dos já existentes de maneira criativa. De modo geral, relaciona-se aos recursos usados para obtenção de uma ótima comunicação entre a empresa e seus clientes. Trata-se da implementação de um ambiente propício à inovação. f- Gestão de resíduos. a- Reorganização; b- Parcerias; c- Visão externa; d- Estratégia Competitiva; a- Cadeia de Fornecimento a- Pontos de venda; b- Intermediação a- Diálogo com o cliente a- Fontes externas de conhecimento I, II, III e IV; b- Propriedade Intelectual; c- Ousadia Inovadora; d- Financiamento da Inovação; e- Coleta de Ideias. Quadro 2- Dimensões do Radar da Inovação Fonte: Adaptado a partir de Sawhney, Wolcott e Arroniz (2006); Bachmann e Destefani (2008) Com relação a definição do universo foram analisadas 40 empresas atendidas pelo Programa ALI do SEBRAE/ RN do segmento de alimentação fora do lar com sede na Região Metropolitana da Cidade de Natal. Quanto ao critério de amostra, foi adotada a amostragem não-probabilística, pois para esse tipo de estudo a representatividade exata não torna-se necessária (BABBIE, 1999). Assim, as empresas foram selecionadas a partir do critério de adesão e não aleatoriamente. O questionário Radar foi aplicado no período de 15 de maio de 2014 a 15 de novembro de 2014. Para análise mais detalhada foram selecionadas as seguintes dimensões: clientes, oferta, processos e ambiência inovadora. Tais dimensões são destacadas no estudo de Sawhney, Wolcott e Arroniz (2006), por se tratarem de áreas consideradas estratégicas para a competitividade da empresa no mercado. Além disso, o grau de inovação é avaliado pela pontuação gerada pelo Radar, que varia de 1,0 a 5,0 pontos. Considerando-se que o score gerado de 1,0 a 2,9 como empresa pouco inovadora; a pontuação de 3,0 a 3,9 sinaliza que a empresa que inova ocasionalmente e, por fim, os valores entre 4,0 a 5,0 são empresas com uma cultura Veredas Favip ano 12 volume 9 número 3 2016 184

de inovação mais difundida em âmbito interno, portanto, são definidas como inovadoras sistêmicas (BACHMANN, DESTEFANI, 2008). Espera-se que as informações e constatações adquiridas na pesquisa possam sustentar uma melhor compreensão sobre o processo de inovação no segmento escolhido. A partir da experiência do empresário, a investigação do cenário atual e os desafios impostos pelo mercado podem auxiliar no entendimento do processo de inovação na empresa. Adicionalmente a isso, verificam informações econômicas e aspectos observados pela perspectiva do empresário. 4 RESULTADOS - ANÁLISE DOS DADOS A escolha do lócus de análise justifica-se pelo fato de que no estado do Rio Grande do Norte, as MPEs representam 99% estabelecimentos formais e 57,7% dos empregos formais no estado (RAIS, 2012). Sendo que uma das atividades econômicas que trouxe muitas oportunidades foi o de Restaurantes, bares e outros estabelecimentos de serviços de alimentação e bebidas 3. Com relação as características de gênero das empresas analisadas, os dados indicam que 57,5% são homens e 42,5% são mulheres. Onde 10% dos gestores confirmaram que já tiveram outro tipo de empreendimento que não logrou êxito e 52% já recorreram a empréstimo em instituições bancárias. Esses resultados evidenciam alguns aspectos importantes quanto as características dos empreendedores do setor de alimentação em análise, em especial sobre a motivação para a atividade empreendedora, que no caso dessas empresas, aproximadamente 60% dos casos iniciou as atividades por necessidade, muitas vezes sem um planejamento inicial. Fundamentando-se os resultados obtidos com a pesquisa bibliográfica, algumas constatações foram observadas, que contribuem para o entendimento do grau de maturidade da inovação nas empresas. O cálculo do grau de inovação das empresas foi obtido tomando-se com base cada dimensão do diagnóstico de inovação. Dessa maneira, o grau de inovação médio das empresas do segmento de alimentação foi de aproximadamente 2,50, ou seja, as empresas analisadas são definidas como pouco inovadoras. 3 Descrição de acordo com a CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) que abrange, entre outras atividades, a venda de comida preparada e atividades de servir bebidas alcoólicas. Veredas Favip ano 12 volume 9 número 3 2016 185

Na tabela 1, ilustra-se o score para as 40 empresas em estudo nas 13 dimensões do Radar, com os menores e maiores scores por dimensão, os valores que apareceram com mais frequência (moda) e o desvio padrão. Tabela 1- Dimensões do Radar da Inovação para os segmentos de Alimentação Grau de Inovação Dimensão Média Mínimo Máximo Moda Desvio Padrão Oferta 3,30 2,00 4,50 3,00 0,68 Plataforma 4,80 4,00 5,00 5,00 0,16 Marca 3,70 1,00 5,00 3,00 1,13 Clientes 2,30 1,00 5,00 2,30 0,99 Soluções 1,67 1,00 4,00 1,00 0,92 Relacionamento 3,75 2,00 5,00 5,00 1,13 Agregação de 1,82 1,00 4,00 1,00 0,96 Valor Processos 1,83 1,30 3,30 2,00 0,51 Organização 2,05 1,00 4,50 1,50 0,78 Cadeia de 2,15 1,00 5,00 3,00 1,10 Fornecimento Presença 1,32 1,00 5,00 1,00 0,76 Rede 2,70 1,00 5,00 3,00 1,24 Ambiência Inovadora Média do grau de inovação 1,65 1,00 3,00 1,80 0,39 2,54 Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados da pesquisa Analisando as dimensões-chave definidas por Sawhney, Wolcott e Arroniz (2006): clientes, oferta, processos, bem como a adição da 13º dimensão (ambiência inovadora). Pode-se constatar que as dimensões oferta (3,30), clientes (2,30), processos (1,83) e ambiência inovadora (1,65), com exceção da dimensão oferta, as demais dimensões tiveram scores abaixo de 3,0, ou seja, a inovação nessas dimensões é ainda incipiente. Quanto a análise das dimensões selecionadas, o quadro 3 ilustra as principais inovações implantadas nas empresas e os principais obstáculos quanto a implantação ou continuidade do processo de inovação nessas dimensões. Veredas Favip ano 12 volume 9 número 3 2016 186

Dimensão Principais inovações implantadas Principais dificuldades Oferta Clientes Processos Ambiência Inovadora - Inclusão de novos produtos; - Retirada do cardápio de produtos que tinham pouca demanda; - Uso de embalagens recicláveis. -Caixinha de sugestões e reclamações; -Feedbacks pelas mídias sociais. -Aquisição de máquinas e equipamentos; - Informatização; -Mapeamento de processos e implantação das Boas Práticas de Alimentação. -Participação em associações empresariais, como a ABRASEL; -Contratação de consultorias; -Financiamento para compra de equipamentos. Quadro 3- Dimensões Analisadas Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa -Realização de testes e avaliação de mercado. - Treinamento da equipe. - Dificuldades de financiamento ou recursos próprios escassos. - Pouco tempo para participação das reuniões das associações; - Burocracia ou dificuldade no acesso ao crédito. Com relação a dimensão Oferta, observou-se pelos feedbacks dos empresários que a principal dificuldade se encontra na realização de testes e avaliação quanto a aceitação do produto colocado no mercado e opiniões quanto possíveis novos produtos que a empresa poderia implementar. Apesar disso, um ponto importante na inovação dessa dimensão diz respeito a inclusão de novos produtos/ serviços, visto como algo essencial por grande parte dos gestores, uma vez que as empresas concorrentes sempre buscam oferecer diferenciações nos produtos, atrelado a novos sabores ou forma de apresentação dos pratos. Na dimensão de clientes, as principais dificuldades relatadas estão relacionadas ao treinamento da equipe para registrar e valorizar as manifestações advindas dos clientes, como possíveis críticas e sugestões. Especialmente, em responder em tempo hábil as solicitações dos clientes, inclusive, pelas mídias sociais. Nota-se que essa ferramenta tornou-se bastante importante pela conexão dos clientes com essas mídias e a propagação para novos clientes. Quanto a dimensão processos, constatou-se que as principais inovações estiveram relacionadas a aquisição de máquinas mais modernas para a área de produção; informatização da empresa, por meio da implantação de softwares específicos para o setor e a introdução das normas de boas práticas de alimentação (BPF). Entre as principais dificuldades, encontraram-se a obtenção de recursos Veredas Favip ano 12 volume 9 número 3 2016 187

externos, como financiamento bancário, uma vez que a inovação nessa área requer um montante de capital que muitas vezes impossibilita o empresário a destinar recursos para esse fim. No quesito ambiência inovadora, as inovações estiveram associadas a relacionamento com fontes de conhecimento externas à organização, ligada a participação em associações empresariais do setor, tais como, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL). Além disso, o acesso a linhas de crédito bancário de recursos para a inovação, por exemplo, financiamento com juros reduzidos, financiamento para a compra de equipamentos e subsídios para a contratação de serviços tecnológicos. Quanto os principais obstáculos relatados, destacam-se o tempo limitado para a participação em eventos das associações empresariais, tal aspecto está intimamente ligado a problemas de gestão da empresa, que muitas vezes é bastante centralizada e o empresário não consegue delegar funções. Por fim, dificuldades no acesso ao crédito bancário por grande parte das empresas investigadas, pois o pequeno empresário, na maioria das vezes, não tem garantias para acionar financiamentos convencionais. O gráfico 1 apresenta os resultados referentes as dimensões. Como ilustrado as dimensões que tiveram score 3, foram as seguintes: Oferta, Plataforma, Marca e Relacionamento. As dimensões Oferta e Plataforma possuem correlação, uma vez que ao ampliar a oferta de produtos, a empresa estará ampliando sua plataforma. Na dimensão Relacionamento, algumas iniciativas apareceram de forma recorrente nas empresas analisadas, tais como, propaganda e distribuição de brindes ou ofertas para aniversariantes. Na dimensão marca, foi observado a busca por registro da marca da empresa junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Veredas Favip ano 12 volume 9 número 3 2016 188

Gráfico 1- Média do segmento de alimentos, Radar da Inovação Fonte: Elaboração própria a partir do Radar da Inovação Ademais, quanto a sistematização do trabalho em equipe. Na maioria das empresas analisadas verificou-se que há um estímulo para o trabalho em equipe, entretanto, não existe nenhuma metodologia formal para o desenvolvimento da cultura da inovação internamente. Inclusive na busca por capacitação ou por órgãos de apoio, tais como o SEBRAE, SENAC, entre outros. Verificou-se que aproximadamente 73% dos respondentes nunca buscaram apoio do SEBRAE ou outra instituição de apoio. Nesse sentido, os estudos mostram que as novas ideias e o surgimento de inovações na empresa estão associadas ao estímulo a criatividade, especialmente, no ambiente de trabalho. Assim, a geração de ideias e a proposição para solucionar problemas torna-se um fator relevante para a geração de inovações (BYRD E BROW, 2003). Em tese, inovar é resultado de esforços internos a empresa através de um processo de gestão da inovação e, uma das maiores dificuldades para a implantação desse processo diz respeito as exigências necessárias em cada etapa do processo, desde a seleção das ideias, definição de recursos e implementação. 5 CONCLUSÃO Este artigo teve como objetivo analisar o grau de inovação das Micro e Pequenas Empresas (MPE) do segmento de bares e restaurantes na Região Metropolitana de Natal/ RN. A justificativa do estudo ampara-se na ideia de que a Veredas Favip ano 12 volume 9 número 3 2016 189

inovação é um fator chave para que as empresas possam manter-se no mercado e, consequentemente, expandir-se. Dessa forma, é importante salientar que inovar não significa inventar, mas sim a mudança do modelo de negócio ou adaptação às mudanças no ambiente empresarial para fornecer melhores produtos/serviços. Entre os benefícios, destacam-se: aumento da satisfação dos clientes, processos mais eficientes, agilidade nos negócios, aumento da lucratividade e diminuição dos custos, ou seja, a inovação aumenta a probabilidade de sucesso da empresa e sustentabilidade em um mercado cada vez mais competitivo. Quanto aos resultados da pesquisa, os dados do radar da inovação evidenciaram os desafios na implementação da cultura da inovação, quando analisado o grau de inovação médio das empresas que foi de aproximadamente 2,50, ou seja, as empresas selecionadas são definidas como pouco inovadoras. Apesar dos esforços inovativos, os resultados mostraram que nas 4 dimensões selecionadas para análise (oferta, cliente, processos e ambiência inovadora) há uma série de obstáculos que as empresas enfrentam para implementar inovação no mercado de atuação. Nesse sentido, algumas dificuldades podem ser elencadas: complexidade de obtenção de financiamento; gestão centralizada em que o gestor muitas vezes não consegue delegar funções aos colaboradores; dificuldades para treinamento da equipe de colaboradores e realização de pesquisas de mercado. Tais aspectos mostram que nas MPEs o processo de inovação muitas vezes não é algo tão claro e simples. Quando se observa as dimensões do radar individualmente, com exceção de algumas, como a dimensão oferta, plataforma, marca e relacionamento, as demais obtiveram um score abaixo de 3,0, o que as caracterizam como pouco inovadoras. Pelo porte dessas empresas, muitas vezes observa-se que a organização tem dificuldade de conviver com erros, pouca propensão ao risco (como testar novos produtos) e desconhecimento de instituições de apoio. Por fim, muitos são os obstáculos para se efetivar a cultura da inovação nas MPE, um dos principais entraves diz respeito aos riscos inerentes a esse processo, como também os custos elevados nos investimentos com maior aporte financeiro. Além desses fatores, mostra-se a necessidade da instituição de políticas públicas que possam dar maiores subsídios as MPEs existentes na economia. Diante da análise realizada, sugere-se para futuros trabalhos a exploração de outros fatores que possam influenciar a inovação nas empresas, tais como, aspectos Veredas Favip ano 12 volume 9 número 3 2016 190

relacionados ao clima e cultura organizacional que não foi tratado no presente trabalho e que está concatenado com o sistema de crenças e valores difundidos pela gestão da empresa. Assim, contribuições que relacionem o clima e cultura organizacional com a inovação nas MPEs poderão enriquecer os resultados aqui alcançados. REFERÊNCIAS ANTONSSON, H; ENGSTROM, L; VERBUS, V. Innovation within fast food restaurant: the role of the restaurant management. Jonkoping International Business School. 2011. BABBIE, E. Métodos de Pesquisas de Survey. Tradução Guilherme Cezarino. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999, 519 p. BACHMANN, D. L. e DESTEFANI, J. H. Metodologia para estimar o grau das inovações nas MPE. Curitiba, 2008. BALDWIN, J; GELLATLY, G. Innovation strategies and performance in small firms. Cheltenham: E. Elgar, 2003. BARBIERI, J. C. et al. Meio Inovador Interno e Modelo de Gestão: uma análise de dois casos. In: SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA, 22., 2002, Salvador. Anais... Salvador, 2002. BYRD, J.; BROWN, P. L. The Innovation Equation: building creativity and risk taking in your organization. San Francisco: Jossey-Bass, 2003. BRYMAN, A. Research Methods and Organization Studies. Great Britain: Routledge, 1989, 283 p. COLBARI, A. Cultura da inovação e racionalidade econômica no universo do pequeno empreendimento. INTERAÇÕES, Campo Grande, v. 15, n. 2, p. 237-247, 2014. Veredas Favip ano 12 volume 9 número 3 2016 191

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