ANÁLISE DE 190 CASOS AUTOPSIADOS

Documentos relacionados
Acidente Vascular Cerebral. Prof. Gustavo Emídio dos Santos

Radiologia do crânio

SEÇÃO 1 IMPORTÂNCIA DO ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL E DE SUA PREVENÇÃO

ACIDENTE VASCULAR ISQUÊMICO. Conceitos Básicos. Gabriel Pereira Braga Neurologista Assistente UNESP

Área acadêmica. Diagnostico por imagem. Estudo por imagem do cranio maio 2018

17/08/2018. Disfagia Neurogênica: Acidente Vascular Encefálico

Acidente Vascular Encefálico

CARACTERIZAÇÃO DO SERVIÇO DE REFERÊNCIA EM DOENÇAS CEREBROVASCULARES HC-UFG

X Encontro de Iniciação Científica do Centro Universitário Barão de Mauá

J. Health Biol Sci. 2016; 4(2):82-87 doi: / jhbs.v4i2.659.p

Acidente Vascular Cerebral. Msc. Roberpaulo Anacleto

AVC EM IDADE PEDIÁTRICA. Fernando Alves Silva

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (ISQUÊMICO) Antônio Germano Viana Medicina S8

Indicadores de Doença Cardiovascular no Estado do Rio de Janeiro com Relevo para a Insuficiência Cardíaca

Alterações Circulatórias Trombose, Embolia, Isquemia, Infarto e Arterosclerose

TROMBOEMBOLISMO PULMONAR EMERGÊNCIAS AÓRTICAS. Leonardo Oliveira Moura

diferenciação adotados foram as variáveis: gênero, faixa etária, caráter do atendimento e óbitos.

Tomografia computadorizada (TC), Ressonância magnética (RM)

Estudos de casos de acidente vascular cerebral, realizado em uma Instituição de saúde do interior paulista.

Plano de curso da disciplina de NEUROLOGIA

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Doença Cardiovascular Parte 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

14 de Setembro de Professor Ewerton. Prova confirmada dia 28 de Setembro. 1:30 da tarde.

GABARITO PROVA PRÁTICA

CURSO: ENFERMAGEM NOITE - BH SEMESTRE: 2 ANO: 2012 C/H: 60 PLANO DE ENSINO

DOENÇAS DO CÉREBRO EM CAMPINA GRANDE, PARAÍBA INCIDÊNCIA

COLESTEROL ALTO. Por isso que, mesmo pessoas que se alimentam bem, podem ter colesterol alto.

Material e Métodos Relatamos o caso de uma paciente do sexo feminino, 14 anos, internada para investigação de doença reumatológica

FORMA TUMORAL DA CISTICERCOSE CEREBRAL

CARACTERIZAÇAO SOCIODEMOGRÁFICA DE IDOSOS COM NEOPLASIA DE PULMAO EM UM HOSPITAL DE REFERENCIA EM ONCOLOGIA DO CEARA

NÍVEL DE CONHECIMENTO DA POPULAÇÃO ADULTA SOBRE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

Trombose Associada ao Cancro. Epidemiologia / Dados Nacionais

BRAINS - BRAIN RESCUE IN ACUTE ISCHEMIC NEUROLOGIC SYNDROMES. Prime Neurologia Autores: José Luciano Cunha, Bruno Minelli

Artigo Original TUMORES DO PALATO DURO: ANÁLISE DE 130 CASOS HARD PALATE TUMORS: ANALISYS OF 130 CASES ANTONIO AZOUBEL ANTUNES 2

Doenças Vasculares Cerebrais (AVE)

Aterosclerose. Aterosclerose

DOENÇAS CEREBROVASCULARES EM UBERLÂNDIA

Acidente Vascular Cerebral Isquêmico

Risco não é rabisco: AVC. AVC Acidente Vascular Cerebral. Baixas temperaturas aumentam risco de AVC

BRUNA FERREIRA BERNERT LUIZ FERNANDO BLEGGI TORRES APOSTILA DE NEUROPATOLOGIA ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL. 1 a edição

HEMORRAGIAS EM METASTASES INTRACRANIANAS DE MELANOMA

A N Á L I S E C R Í T I C A D E 456 CASOS O P E R A D O S

03/05/2012. SNC: Métodos de Imagem. US Radiografias TC RM. Métodos Seccionais. TC e RM. severinoai

DOENÇA VASCULAR CEREBRAL HEMORRÁGICA.

Prof. Dr. Octávio Marques Pontes Neto Serviço de Neurologia Vascular e Emergências Neurológicas Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de

NEWS: ARTIGOS CETRUS Ano V Edição 51 Novembro 2013 A ECOGRAFIA VASCULAR NO DIAGNÓSTICO DA DISPLASIA FIBROMUSCULAR DAS ARTÉRIAS CERVICAIS

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DO PACIENTE IDOSO INTERNADO EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA

Distúrbios do Coração e dos Vasos Sangüíneos II

Setor de Radiologia do Abdome Reunião Clínica. Dr. Murilo Rodrigues R2

2º Curso de Verão para Internos de MFR. AVC Hemorrágico. Ana Gouveia Neurologia CHUC

VARIAÇÕES FISIOLÓGICAS DA PRESSÃO DO LÍQUIDO CEFALORRAQUEANO NA CISTERNA MAGNA

Doenças Vasculares Cerebrais (AVE)

Classificação. Acidente Vascular Cerebral Isquêmico(AVCI) * Ataque Isquêmico Transitório(AIT)

HIPERTENSÃO ARTERIAL: QUANDO INCAPACITA? Julizar Dantas

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL

LEONORA ZOZULA BLIND POPE. AVALIAÇÃO DO PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E DA PROTEINA p 53 EM 12 GLIOBLASTOMAS PEDIÁTRICOS.

NOTÍCIAS NEUROINTENSIVISMO

Imagem da Semana: Ressonância nuclear magnética

Luís Amaral Ferreira Internato de Radiologia 3º ano Outubro de 2016

PREVALÊNCIA DE ÓBITOS EM IDOSOS POR DOENÇAS CARDIACAS EM UTI: DECLARAÇÃO DE ÓBITO COMO FERRAMENTA

Epidemiologia e Fisiopatologia

PECULIARIDADES DA HIPERTENSÃO NA MULHER CELSO AMODEO

ABORDAGEM AO AVC. Rui Kleber do Vale Martins Filho Neurologia Vascular

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL: INCIDÊNCIA REGIÃO DE ITAPEVA-SP.

ANÁLISE DOS ANEURISMAS INTRACRANIANOS OPERADOS NO HOSPITAL POLICLÍNICA PATO BRANCO PR

Hemorragia intracerebral espontânea: dificuldade diagnóstica entre sangramento neoplásico e hipertensivo

RELAÇÃO DE PONTOS PARA A PROVA ESCRITA E AULA PÚBLICA

ANEXO II CONTEÚDO PROGRAMÁTICO EDITAL Nº. 17 DE 24 DE AGOSTO DE 2017

Prof. Dr. Harley Francisco de Oliveira

Uso do AAS na Prevenção Primária de Eventos Cardiovasculares

A Estenose Intracraniana na Doença das Células Falciformes

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL: ANÁLISE DA MORTALIDADE NO PIAUÍ EM COMPARAÇÃO COM O PERFIL NORDESTINO E BRASILEIRO EM UM PERÍODO DE 5 ANOS

Informe Epidemiológico- Câncer de Mama

- termo utilizado para designar uma Dilatação Permanente de um. - Considerado aneurisma dilatação de mais de 50% num segmento vascular

radiologia do TCE

AVCI NA FASE AGUDA Tratamento clínico pós-trombólise. Antonio Cezar Ribeiro Galvão Hospital Nove de Julho

COMO IDENTIFICAR UMA CEFALÉIA SECUNDÁRIA NA EMERGÊNCIA

TROMBOSE Prof. Rafael Fighera

PERFIL FUNCIONAL E CLÍNICO DE INDIVÍDUOS ACOMETIDOS COM ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL

DISFUNÇÕES HEMODINÂMICAS

A BenCorp acredita que um trabalho de gestão da saúde integrado e bem aplicado promove, de forma eficaz, qualidade de vida para os usuários de planos

A incidência de pacientes portadores de acidente vascular encefálico atendidos na Clínica de Fisioterapia do UniSALESIANO de Araçatuba - SP.

DOENÇAS CEREBROVASCULARES EM UBERLÂNDIA

ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM PACIENTES ACOMETIDOS POR ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO

HEMORRAGIA INTRAPARENQUIMATOSA ENCEFÁLICA ESPONTÂNEA. Achados à tomografia computadorizada

Diferenciais sociodemográficos na prevalência de complicações decorrentes do diabetes mellitus entre idosos brasileiros

ALTERAÇÕES DE EQUILÍBRIO EM PACIENTES PÓS ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO E SUA INFLUÊNCIA NA QUALIDADE DE VIDA

INCIDÊNCIA E EPIDEMIOLOGIA DO ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO EM IDOSOS NA REGIÃO CENTRO-OESTE NOS ÚLTIMOS CINCO ANOS

MALFORMAÇÕES ARTERIOVENOSAS INTRACRANIANAS.

CARACTERIZAÇÃO DA MORBIMORTALIDADE DE IDOSOS ATENDIDOS EM UMA UNIDADE DE PRONTO ATENDIMENTO

Aspectos epidemiológicos das amputações ocorridas no Estado do Espírito Santo no período de 2008 a 2011: uma análise quantitativa e sócio demográfica.

PROMOÇÃO DA SAÚDE FATORES DE RISCO PARA DOENÇAS CARDIOVASCULARES EM FATIMA DO PIAUÍ.

Cerebrovascular diseases in patients aged 15 to 40 years: neuropathological findings in 47 cases

VALORES DO ENXOFRE, COBRE E MAGNÉSIO NO SORO SANGUÍNEO E NO LÍQUIDO CEFALORRAQUEANO NOS TRAUMATISMOS CRÂNIO-ENCEFÁLICOS RECENTES

INTERNAÇÕES DE IDOSOS NO BRASIL POR ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO ISQUÊMICO NO PERÍODO DE 1998 A 2015

A V C E A EQUIPE DE SAÚDE DA FAMÍLIA

ETIOLOGIA: DEFINIÇÃO: A EMBOLIA É UM PROCESSO DE OCLUSÃO TOTAL OU GR. "ÉMBOLO" = TAMPÃO, ROLHA; E "EMBOLEÉ" = IRRUPÇÃO

Análise de casos cirúrgicos para o tratamento de hemorragia subaracnóidea aneurismática

Acidente Vascular. Orientadora: Paula Grandini Cunha Discentes: Amanda Farha Jéssica Emídio Raissa Carvalho. Cerebral (AVC)

MORBIDADE E MORTALIDADE POR CÂNCER DE MAMA E PRÓSTATA NO RECIFE

Análise de casos cirúrgicos para o tratamento de hemorragia subaracnóidea aneurismática

Transcrição:

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL ANÁLISE DE 190 CASOS AUTOPSIADOS ARLETE HILBIG * ALMIRO BRITTO * LIGIA M. BARBOSA COUTINHO ** RESUMO Foram estudados 190 casos de AVC autopsiados no Departamento de Patologia da Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre, tendo sido encontrados 94 (49,4%) casos de hemorragia, 67 (35,26%) de infartos e, em 29 (15,26%) casos, observou-se associação de hemorragia e infarto. Tanto os infartos quanto as hemorragias foram mais freqüentes em homens que em mulheres. As médias de idade foram 34,9 anos para as hemorragias e 48,6 anos para os infartos. Dos AVC hemorrágicos, a variedade intraparen- quimatosa foi a mais freqüente. Os infartos predominaram em território da artéria cerebral média. As causas determinantes de hemorragia foram principalmente a hipertensão arterial sistêmica e processos infecciosos. No grupo dos infartos, a aterosclerose predominou. Cerebrovascular disease: an analysis of 190 autopsied cases. SUMMARY A retrospective study of 190 postmortem examinations of cerebrovascular disease from the Department of Pathology was carried out. We found 94 cases (49.47%) of hemorrhage, 67 (35.26%) of infarction and 29 patients (15.26%) with hemorrhage and infarction; both were more frequent in males. Among the hemorrhagic cerebral vascular disease the intracerebral hemorrhage was more frequent. The cerebral infarction was more frequent in the territory of the middle cerebral artery. Arterial hypertension was the most common cause of cerebral hemorrhage and the cause in the great majority of the cerebral infarction cases was atherosclerosis. Apesar de nos EUA os acidentes vasculares cerebrais (AVC) constituírem a quarta causa de óbito 12, em nosso meio eles são determinantes de óbito em apenas 6,5% dos pacientes 3, tendo como causas principais as doenças do aparelho cardiovascular e infectoparasitárias 3. A prevalência dos AVC aumenta com a idade 5.12, embora em países subdesenvolvidos possam aparecer com frequência em pacientes mais jovens, pela alta prevalência de patologias infecciosas nesses países l. Os AVC englobam tanto os infartos, quanto as hemorragias espontâneas. Essas duas formas de AVC possuem muitos fatores de risco em comum, não sendo infrequente que se encontrem associadas manifestações isquémicas e hemorrágicas em um mesmo paciente 12 especialmente porque os AVC tendem a repetir-se (com frequência elevada) em pacientes que sobrevivem ao primeiro episódio, sendo a letalidade mais elevada para as hemorragias 7. O presente trabalho tem por finalidade verificar a prevalência dos AVC, tanto isquémicos como hemorrágicos, nos estudos post-mortem realizados no Departamento de Patologia da Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre (FFFCMPA). Trabalho realizado no Departamento de Patologia da Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre: * Doutorando com bolsa de iniciação científica do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPa); ** Professora-Adjunta e orientadora. Rua Carvalho Monteiro 414 90430 Porto Alegre RS Brasil

Acidente vascular cerebral 273 MATERIAL. E MÉTODOS Foram revisados os casos de autópsias do Departamento de Patologia da FFFCMPA, no periodo compreendido entre janeiro de 1970 e dezembro de 1986. Foram estudadas 2929 autópsias, dentre as quais 190 apresentaram AVC (6,48%). Esses casos foram estudados em relação a idade, sexo, raça, tipo, localização e causa do AVC. Quanto ao tipo de AVC, os casos foram divididos em três grupos: o primeiro, que compreende os AVC hemorrágicos; o segundo, de AVC isquémicos; o terceiro, em que havia lesões de AVC hemorrágico e isquémico concomitantes. RESULTADOS Dos 190 casos de AVC estudados (6,48%; do total das autópsias examinadas), 94 (49,47%) pertenciam ao grupo das hemorragias, 67 (35,26%) eram infarto cerebral e em 29 pacientes (15,26%) havia concomitantemente, embora não necessariamente isócronos, hemorragia e infarto (Fig. 1). Grupo I Dos 94 casos de AVC hemorrágicos, 58 (61,7%) eram em homens e 36 (38,3%) em mulheres. A média de idade foi 34,9 anos, sendo 68 pacientes brancos e 26 não brancos (Fig. 2). Notaram-se dois picos de incidência (Fig. 3): um correspondente à faixa de zero a 14 anos, em que o processo infeccioso foi o determinante de hemorragia em 19 casos; o outro pico situou-se na faixa de 40 a 74 anos, quando a hipertensão arterial sistêmica apresenta marcada prevalência. Havia lesões hemorrágicas múltiplas comprometendo duas ou mais regiões em 50 casos (53,2%). Em 54 pacientes havia hemorragia subaracnóidea e em 64 a hemorragia era intraparenquimatosa (Figs. 4 e 5). Destas, 36 eram de localização superficial ou lobar, sendo 13 frontais, 11 temporais, 6 parietais e 6 occipitais. As hemorragias em núcleos da base estiveram presentes em 12 casos, sendo 9 tálamo-capsulares e 3 paracapuslares. O cerebelo foi sede de hemorragia em 9 pacientes e o tronco cerebral em 8. Em 3 casos a hemorragia foi petequial e difusa. A hemorragia intraventricular esteve associada a outro tipo de hemorragia, quer subaracnóidea, quer intraparenquimatosa, em 9 casos. Encontrou-se associação de hemorragia subaracnóidea com hemorragia subdural em 7 pacientes. A causa mais freqüente de hemorragia cerebral foi a hipertensão arterial, presente em 26 casos (27,66%), dos quais 4 eram pacientes eclâmpticas e um apresentava poliarterite nodosa (Fig. 6). O processo infeccioso como determinante de hemorragia, quer por causar coagulação intravascular disseminada (CIVD) (2 casos) ou lesão direta da parede do vaso, esteve presente em 19 pacientes (20,21%). Malformação vascular como causa de hemorragia foi encontrada em 13 pacientes, 12 dos quais apresentavam aneurisma e em um caso havia um angioma que ocupava totalmente um dos hemisférios cerebrais. Hemorragia intra-tumoral como causa de AVC hemorrágico foi encontrada em 8 casos, tanto em tumor primitivo do parênquima nervoso (astroci tomas e astroblastomas), como em metástases de carcinoma de pulmão e coriocarcinoma. Em 28 casos não se pôde encontrar uma causa para o AVC. ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL RELAÇÃO HOPIENS / MULHERES >94S CZD HOMENS G3 MULHERES 58» > 100 ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL RELAÇÃO BRANCOS/NAO BRANCOS N CD BRANCOS i NA0 BRANCOS Hl o CO Fig. 1 Fig. 2

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL HEMORRÁGICOS - ISQUÔIICOS MISTOS Fig. 3 Gruoo II Os infartos foram predominantemente isquêmicos (51 casos), e em apenas 16 pacientes foi hemorrágico, sendo 5 por trombose venosa e em 11 casos por obstrução transitória de artéria cerebral por êmbolo ou por hérnia temporal. Dos 67 casos de AVC isquêmicos, encontramos 41 (61,2%) em homens e 26 (38,8%) em mulheres (Fig. 1), sendo 46 pacientes brancos e 21 não brancos (Fig. 2). A média de idade desses pacientes foi 48,6 anos. Em 46 casos a causa do infarto foi a aterosclerose (68,6%). Doença infecciosa, causando flebite e arterite, esteve presente como desencadeadora da isquemia cerebral em 12 pacientes (Fie:. 6). A causa básica do infarto foi anemia em um paciente e anóxia em outro, enquanto em 2 casos com metástase cerebral de carcinoma de pulmão, o infarto foi causado por hérnia temporal comprimindo a artéria cerebral posterior. Em 5 pacientes não foi possível estabelecer a causa do infarto cerebral. Em 24 pacientes (35,82%) havia concomitância de duas ou mais áreas de infarto. Houve nítido predomínio de localização em território da artéria cerebral média, com um total de 57 infartos (Fig. 7), sendo 22 em núcleos da base, 12 em região parietal lateral, 15 do lobo temporal e em 8 a toda a área correspondente ao território da artéria cerebral média. Em 3 casos, o território abrangido pelo infarto compreendeu aquele irrigado pela artéria carótida interna. Em 31 casos o território vértebro-basilar foi sede de infarto, sendo 15 occipitais, 8 em cerebelo, 5 em tronco cerebral e 3 em área correspondente à irrigação da artéria cerebral posterior (Fig. 8). O território da artéria cerebral anterior foi atingido por infarto em 14 casos, e, em 3, a área de infarto se situava no limite entre os territórios vasculares. Grupo III Este grupo consta de 29 pacientes, dos quais 22 eram brancos e 7 não brancos; 15 eram do sexo masculino (51,72%) e 14 do sexo feminino (48,28%) (Fig. 1), apresentando média de idade de 38,2 anos. Em relação à causa de AVC deste grupo, verificou-se aterosclerose em 11 casos (37,93%), infecções em 10 casos (34,48%), aneurisma em 2 casos (6,89%), tumores em 2 casos (6,89%) e em 4 não identificamos a causa (Fig. 6). Quanto à localização predominou a hemorragia subaracnóidea, presente em 9 casos, associada com infarto em território da artéria cerebral média em 4 casos, da artéria cerebral posterior em 4 e da artéria cerebral anterior em um caso. Nos demais casos existiram associações variadas, estando as hemorragias cerebrais superficiais presentes em 12 casos, as de núcleos da base em 2 casos. Em 2 casos encontrou-se hemorragia em cerebelo e. em 4, havia hemorragia do tronco cerebral. Entre os infartos associados houve maior número de casos em área de artéria cerebral média, com 9 casos, seguido da artéria cerebral anterior, com 7 e da artéria cerebral posterior em 3. Em um caso havia infarto em zona limite associado a hemorragia do tronco cerebral.

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL - CAUSAS ISQUÉMICOS HEMORRÁGICOS MISTOS Ë1 ATEROSCLEROSE HIPERTENSÃO ARTERIAL LTD INFKCAO E) OUTRAS CAUSAS E3 MALFORMAÇÃO VASCULAR m NEOPLASMA CAUSA NAO DETERMINADA Fig. 6 ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL ISQUÉMICO LOCALIZAÇÃO ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL ISQUÉMICO LOCALIZAÇÃO 0 ART.CEREBRAL ANTERIOR Fig. 7 M TERRITORIO VERTEBRO-BASILAR Fig. 8 COMENTÁRIOS Os AVC, por estarem entre as principais causas de mortalidade, são achados frequentes em autópsias. No presente estudo foram encontrados em 6,48% do total das autópsias, com nítido predomínio dos AVC hemorrágicos (49,47%), contra 35,26% de infartos e 15,26% em que houve concomitância de infarto e hemorragia. A maioria dos autores 5-8 registra que os AVC predominam em indivíduos do sexo masculino, embora exista tendência à aproximação entre os sexos 12. Em nossa série também houve predomínio dos indivíduos pertencentes ao sexo masculino, tanto para os AVC hemorrágicos, quanto para os isquêmicos. A taxa de mortalidade costuma ser maior em não brancos que em brancos 6,12^ provavelmente pela alta frequência de hipertensão arterial sistêmica no primeiro grupo 12. Na presente investigação houve prevalência maior nos indivíduos da raça branca; entretanto, este resultado tem que ser corrigido para o índice de brancos e não brancos encontrado na população em geral.

Os AVC hemorrágicos estão divididos em dois grupos principais que compreendem as hemorragias intra-parenquimatosas, em sua maioria associadas à hipertensão arterial 4-5 > 8, e as hemorragias subaracnóideas, nas quais as malformações vasculares têm papel importante na etiopatogênese 4 >n. Em nossa casuística, a hemorragia intra-parenquimatosa foi a variedade hemorrágica mais frequente, estando associada a hemorragia subaracnóidea em 53,2% dos casos. Observamos dois picos de incidência, correspondendo às faixas dos zero aos 14 anos e dos 40 aos 74 anos. Na primeira predominaram os processos infecciosos, por causarem lesão direta na parede do vaso ou por determinarem CIVD com consequentes focos de hemorragias. Na segunda, a hipertensão arterial sistêmica é prevalente. Neoplasias intracranianas podem determinar hemorragia cerebral em cerca de 10% dos casos Por esta razão, a presença de neoplasia primária ou secundária deve ser lembrada, principalmente em pacientes idosos sem hipertensão arterial ou doença cardiovascular prévia 9. Os tumores como causa de hemorragia espontânea encefálica estiveram presentes em 8,5% dos casos por nós estudados. Os infartos predominam em faixas etárias mais avançadas, tendo seu pico de prevalência entre a sexta e sétima décadas 2,12 } sendo que 40 a 50% dos pacientes falecem durante o episódio agudo 2. A aterosclerose é o fator mais importante na gênese do infarto cerebral 1.12 e esteve presente em 68,6% dos casos estudados. Os fenômenos trombo-embólicos mostraram marcado predomínio pelo território da artéria cerebral média (85,07%). Dentre os infartos, o isquêmico foi o mais frequente, sendo encontrados em 51 pacientes, enquanto os hemorrágicos estiveram presentes em 16 casos, sendo causados por trombose ou obstrução transitória de artéria cerebral por êmbolo ou hérnia temporal. A associação de infarto e hemorragia ocorreu em 15,26% dos casos. Isto corrobora a idéia de que as causas determinantes básicas de infarto e hemorragia estão intimamente relacionadas e que os fatores de risco para uma também estão presentes na outra, não sendo infrequente que estejam associadas ambas as patologias, portanto 12. Por essa razão é difícil predizer, em base às alterações vasculares, se um paciente terá mais frequentemente um AVC isquêmico ou hemorrágico, podendo apresentar ambas as formas, em momentos diferentes. REFERÊNCIAS 1. Adams HP, Butler MJ, Biller J, Toffol GJ Nonhemorrhagic cerebral infarction in young adults. Arch Neurol 43 : 793, 1986. 2. Antunes ACM Acidentes vasculares cerebrais isquêmicos. Rev Medicina e Cirurgia 33 : 18, 1987. 3. Castro SC, Guimarães M, Castro NMD Doenças cérebro-vasculares em Uberlândia: I. Mortalidade. Ara Neuro-Psiquiat (São Paulo) 44 : 130, 1986. 4. Chemale IM Hemorragias cerebrais espontâneas. Rev Medicina e Cirurgia 33 : 21, 1987. 5. Ferri-de-Barros JE & Bacheschi LA Hemorragia intraparenquimatosa espontânea: I. Conceito, incidência, etiologia e classificação. Arq Bras Neurocirurg (São Paulo) 2 : 291, 1983. 6. Freitas PE, Axelrud E, Prates de Lima L, Resende MF, Reis RB Estudo epidemiológico dos acidentes vasculares cerebrais hemorrágicos : uma análise de 1044 casos. Rev Medicina e Cirurgia 32 : 16, 1986. 7. Lessa I Epidemiologia dos acidentes vasculares encefálicos na cidade de Salvador: aspectos clínicos. Arq Neuro-Psiquiat (São Paulo) 43 : 133, 1985. 8. Lynch JC, Alves R, Ribeiro R, Lima JG Hematomas intracerebrais hipertensivos : a propósito de 50 casos. Arq Neuro-Psiquiat (São Paulo) 43 : 167, 1985. 9. Maiuri F, D'Andrea F, Gallicchio B, Carandente M Intracranial hemorrhages in metastatic brain tumors. J Neurosurg Sci 29 : 37, 1985. 10. Waele JW de, Reuck J de, Vandekerckhove T An unusual cause of spontaneous intracerebral haematoma. Acta Neurol Belg 86 : 145, 1986. 11. Whisnant JP, Plillips LH, Sundt TMJr Aneurysmal subarachnoid hemorrhage: timing of surgery and mortality. Mayo Clin Proc 57 : 471, 1982. 12. Wylie CM Epidemiology of cerebrovascular disease. In Vinken PJ, Bruyn GW Handbook of Clinical Neurology, Vol 11 Vascular diseases of the Nervous System : Part 1, pg 183. North Holland, Amsterdam, 1972.