ORIENTAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA: UMA INVESTIGAÇÃO NAS SÉRIES FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL ANA PAULA CRISTÓFOLLI JORGE INÁCIO DOTTI THALITA BREINACK REGINALDO RODRIGUES DA COSTA RESUMO Este trabalho tem como objetivo apresentar as concepções de alunos das séries finais do ensino fundamental (7ª e 8ª séries) sobre a sexualidade. Desenvolvida por acadêmicos de um curso de ciências biológicas, este estudo se mostrou importante devido às contribuições que este exercício proporcionou aos futuros professores de ciências e biologia, neste momento enquanto pesquisadores, no que se refere ao conhecimento e contanto com a realidade escolar, futuro espaço de trabalho, já no início de sua formação acadêmica. A pesquisa foi desenvolvida em uma escola da rede pública estadual de ensino e contou com a participação de 105 alunos. O instrumento de coleta de dados foi questionário elaborado, com o intuito de coletar informações sobre os conhecimentos e concepções sobre sexualidade dos participantes. Após a coleta de dados, estes foram analisados com o auxílio de um referencial teórico que enfatiza a escola como agente co-responsável juntamente com a família pela formação integral do indivíduo no que se refere à sexualidade. Palavras-chave: Orientação sexual, ciências biológicas, sexualidade. Introdução O presente trabalho tem como objetivo apresentar dados sobre a sexualidade dos adolescentes, alunos do ensino fundamental, bem como a existência de projetos sobre Orientação Sexual na escola, enfatizando o aspecto gravidez precoce. Conforme Castro et al (2003), em uma pesquisa realizada pela UNESCO no Brasil, o índice de gravidez precoce aumentou muito nos últimos anos. Assustadoramente, 22,2% a 33,3% das garotas de 10 a 14 anos já estiveram grávidas alguma vez na vida.
2076 O mesmo autor ainda ressalta a pouca presença da Orientação Sexual (ou trabalhos docentes envolvendo sexualidade) nas escolas, desta forma o debate sobre o assunto na escola não é presente ou não atinge o meio em que o aluno está inserido. Acredita-se, que a origem deste processo de amadurecimento sexual prematuro, esteja relacionado com a falta de abordagem da Orientação Sexual com os alunos. Com o intuito de verificar o índice de abordagem deste tema propomos a seguinte pesquisa com relação a abordagem do assunto nas escolas públicas da Região Metropolitana de Curitiba, se o aluno é conscientizado com relação ao assunto gravidez precoce. Segundo Zamoner (2005) a Orientação Sexual é de responsabilidade maior do professor de Biologia. Porém, Castro (2003) et al, afirma que existe pouca ou nenhuma presença de programas de orientação sexual nas escolas. Outro fator que vale-nos ressaltar, justamente por ter maior reflexo na sociedade, é o aumento no índice de gravidez em garotas de 10 a 14 anos no Brasil. A pesquisa A pesquisa visou inicialmente buscar referencial teórico sobre orientação sexual enfatizando dados reais a respeito da gravidez precoce no Brasil. Este momento serviu para que os futuros professores de ciências e biologia, enquanto pesquisadores, estivessem em contato com a teoria e o conhecimento produzido à respeito do tema proposta por esta pesquisa. Após o momento de contato com um referencial teórico, o segundo passo foi formular instrumentos de coleta de dados questionários buscando levantar aspectos relevantes sobre a temática da orientação sexual e sua presença no meio escolar. A pesquisa foi realizada em uma escola da rede estadual de ensino, na região metropolitana de Curitiba, na qual o nível de instrução da comunidade parece ser muito aquém das necessidades da mesma, a escola oferece o ensino fundamental e médio no período da manhã, ensino fundamental no período da tarde e ensino médio no período noturno, ofertando cerca de 1.085 vagas distribuídas nos três períodos. Foram entrevistados alunos matriculados nas sétimas e oitavas séries do ensino fundamental num total de 105 alunos, de uma população heterogênea, já que o número de meninas e meninos foi praticamente equivalente. A pesquisa foi desenvolvida, através de questionários realizados com alunos do Ensino Fundamental (apenas alunos de 7ª e 8ª séries) sobre a temática proposta,
2077 analisando qualitativamente e quantitativamente os dados obtidos, de acordo com a literatura consultada. As concepções dos alunos sobre orientação sexual Perguntamos inicialmente aos entrevistados se estes conheciam o que é Orientação Sexual, dos 105 entrevistados 68% responderam que sim, sabiam o que é orientação sexual. Segundo Souza (1999), educar é um processo que permite ao indivíduo participar do meio onde vive em continua reciclagem e reconstrução (do conhecimento). Partindo para uma visão mais específica apenas o educar sexualidade (ou sexualmente como propõe o autor), torna-se, portanto, a educação sexual uma educação para a vida, visando harmonizar, no educando instintos e curiosidades, desmistificando algumas temáticas como a masturbação, a virgindade, etc (LIMA, 1994). No entanto, partindo de uma análise comparativa com a segunda questão, onde se perguntava a diferença entre orientação sexual e educação sexual. Aproximadamente 64% dos alunos entrevistados disseram que desconheciam a diferença. Então, devemos nos deter na diferença entre Educação Sexual e Orientação Sexual. A primeira é um processo informal, visando integrar o indivíduo sexualmente a sociedade. Enquanto a educação sexual é de responsabilidade da família do adolescente, a Orientação Sexual é papel da escola. Orientar sexualmente exige uma formalidade, uma sistemática, visando eliminar preconceitos, possibilitando não só a ação do indivíduo na sociedade, mas que esta seja consciente, com base na informação e no conhecimento como geradores de atitude. Com o surgimento dos métodos contraceptivos rompeu-se a idéia de que sexo serve apenas para a reprodução humana. Com o passar dos anos, muitas barreiras foram quebradas e até nas instituições de ensino superiores esse assunto é abordado, tudo isso em busca de uma conscientização. Os movimentos feministas, bem como os movimentos de homossexuais, influenciaram no surgimento de pesquisas sobre o assunto. Inclusive a eclosão da AIDS no panorama histórico social acarretou ainda mais o orientar sexualmente. Cada vez mais, os adolescentes em geral vêm ocupando significativa relevância no contexto das grandes inquietações mundiais, tanto no âmbito da educação como no da saúde.
2078 A juventude é momento em que a experimentação da sexualidade vai possibilitar uma estruturação da sua identidade. Assim como preconceitos e crenças organizam as possibilidades sexual e afetiva dos jovens (CASTRO et al, 2004, p. 33). Porém o aluno deixa-nos perceber que a origem do conhecimento (seja o verdadeiro ou de forma equivocada) sobre orientação sexual, se dá de forma paralela à escola e à família, ou seja, afirmam que a mídia, representada pela televisão, rádio, revistas ou jornais suprem sua necessidade de conhecer mais sobre sexualidade. A atitude dos pais em relação à sexualidade é a principal influência na Educação Sexual dos filhos. Os gestos, as atitudes, conversas abertas e claras e o esclarecimento de dúvidas auxiliam muito no desenvolvimento sexual. Os pais podem ser modelos ideais de comportamento sexual e não ficar se preocupando com a conversa que devem ter com seus filhos, mas sim perceber as curiosidades e dúvidas que crescem a partir de cada idade. Na família deve estar consolidado um vínculo afetivo no qual os pais devem ser os primeiros a falar sobre sexo co seus filhos. Devem recordar como obtiveram suas primeiras informações e a partir daí, estabelecer um diálogo aberto e sem restrições. Portanto, a escola é apenas aliada no conhecer sexual de cada aluno. Devemos levar em consideração que se o educando tem o conhecimento necessário para viver a sexualidade sem medo. Mas ao serem questionados sobre sua necessidade de conhecer mais sobre o tema, os alunos participantes desta pesquisa de mostram a vontade de aprender mais sobre o assunto. Portanto, este conhecimento (se existe) não é ainda o suficiente para que os adolescentes possam sentirse seguros em relação à sua sexualidade. Segundo Souza (1999), o objetivo ao qual a orientação sexual deve ser proposta leva-se em consideração a relação psicossocial do educando. Para alcançar estes objetivos, que variam desde a auto-estima, numa relação intrapessoal, construção do amor (próprio e para com os outros) à valorização da saúde biológica, devemos partir da informação, na qual deve-se conceituar a Orientação Sexual e suas implicações. Deve-se fomentar cedo a proposição da Orientação Sexual, pois esta, por ser de natureza humana (psicobiológica) varia de forma consciente (transmissão direta do assunto) a uma forma inconsciente (gestos e atitudes influenciantes). Partindo do processo informativo, devemos buscar o conhecimento que corresponde à conscientização da informação, dos fatos, conceitos, estudos e
2079 pesquisa (SOUZA 1999). Para que haja resultados neste processo deve-se fixar de forma repetitiva a informação ao educando. Para que o processo de instalação dos objetos da Orientação Sexual possa ocorrer, os professores deverão perceber as atitudes e os comportamentos dos alunos como uma resposta, ora positiva, ora negativa, sobre orientação proposta pelo professor. A atitude difere-se do comportamento, pois é uma opção consciente que exige hábito e depende do momento histórico em que a pessoa se encontra enquanto o segundo é o modo de reagir a um estímulo, geralmente sobre influência do outro. A escola precisa ousar, ser mais democrática e atraente. As camadas populares são as que mais fogem da escola para as quais a formação acadêmica é menos importante do que os fatos ligados à vida. Se trabalharmos a sexualidade que é vida, haverá permanência e interesse pelo saber como forma de melhorar esta vida! (SOUZA, 1999, p.40). De acordo com a autora (1999), podemos perceber a importância da aplicação de projetos sobre a Orientação Sexual nas escolas, pois a partir desse primeiro passo, muitos dos problemas pedagógicos da escola, tais como indisciplina e evasão escolar poderá reduzir de forma extraordinária. Porém, o debate sobre Orientação Sexual esbarra na moralidade impregnada pela família. Segundo Castro et al (2004), em uma entrevista com um grupo de professores de uma escola pública de Cuiabá, percebe-se que o professor deve ser realmente o responsável por fomentar o debate sobre Orientação Sexual: Eu acho que se devem trabalhar estes temas na escola, porque está ligado a isso, à questão do feminismo, machismo, sexualidade. O professor vive isso (...) então eu acho que o professor deve fazer é isso. (p. 35) Fato este é enfatizado na pesquisa realizada em Curitiba por Zamoner (2005), ressaltando que a Orientação Sexual é de responsabilidade dos professores de Ciências e Biologia. Nesta pesquisa, dos 234 alunos de Ensino Fundamental e Médio, 85,30% acreditam que o assunto sexualidade deve ser abordado em Ciências e Biologia, 7,4% acreditam que deve ser em outras matérias e 7,3% não souberam opinar. Apesar desta insistência em implantar Projetos de Orientação Sexual nas escolas, esta não é uma realidade comum a maioria das escolas públicas (CASTRO et al, 2004), pois não só falta o
2080 esclarecimento dos alunos, mas também o esclarecimento dos professores, principalmente o conhecimento metodológico de como abordar a sexualidade na escola) e assim a informação chega ao educando com maior facilidade, iniciando as metas da educação sexual (informação, conhecimento, atitude e comportamento. Lima (1994) ressalta alguns temas relativos a sexualidade humana aos quais valem ressaltar (e que poderíamos suscitar a discussão da Orientação Sexual): a) Masturbação: a auto-estimulação genital até a obtenção do orgasmo é uma das maiores preocupações dos adolescentes, principalmente do sexo masculino. Os temores destes jovens varia desde a normalidade de se masturbar à efeitos físicos ou emocionais ocasionados pela masturbação. b) Virgindade: aspecto bastante relevante quando abordamos a Orientação Sexual, pois além de dúvidas dos discentes à nível psicológico, existem ainda a nível físico, pois, por exemplo, em algumas sociedades onde a virgindade física é considerada fator de honra para o pai e senhor, e valor para a mulher, representando em controle sobre a mulher. O índice de gravidez precoce está tomando proporções avassaladoras no Brasil. Segundo pesquisa realizada pela UNESCO em 2001, os jovens já têm conhecimento da existência desta problemática. A pesquisa fora realizada em várias capitais do Brasil, com o índice de gravidez precoce variando entre 12,2% a 36,9% no Recife, e em Florianópolis, alunas entre 10 e 14 anos declaram que já ficaram grávidas alguma vez (22,2% a 33,3%). Neste estudo, ao questionar os alunos sobre a existência da gravidez na adolescência no meio em que vive, a maioria dos participantes (74%) afirmaram que já tiveram uma colega adolescente grávida, isto revela um índice muito alto de gravidez precoce na comunidade. A grande maioria dos participantes também afirma que conhece métodos anti-conceptivos. Desse grupo apenas 63% utilizam os meios de prevenção da gravidez precoce. Assim sendo, temos uma faixa de 27% de adolescentes que conhecem o meio de prevenção, mas não utilizam. Devemos investigar as causas dessa não utilização. Portanto, pode se entender que o alto índice de gravidez entre adolescentes tem-se explicado pelo fato da não utilização dos métodos contraceptivos. Porém, os adolescentes têm a preocupação de não ter filhos na adolescência.
2081 Sobre este estudo, conclui-se que... Que nosso adolescente ainda requer de orientação e informação sobre a sexualidade. Talvez, em função do nível de desenvolvimento biopsicológico dos participantes, as contradições sejam inerentes a esta fase, e por isso percebemos em suas respostas, divergência e contradição. Isto se nós dá mais um motivo de considerar a Orientação Sexual uma necessidade imediata na formação do aluno. Também aponta que o professor para abordar este tema em sala de aula, tenha embasamento teórico sobre o desenvolvimento sexual humano, estando sempre atualizado e, possuir preparo metodológico e didático para desenvolver um trabalho com essa temática. Considera-se importante que o professor deve, antes de tudo, saber valorizar a sua sexualidade, podendo assim transmitir confiança e segurança quando tratar dos diversos aspectos da Orientação Sexual. Uma questão de grande importância, é o envolvimento pessoal do professor ao tratar do tema sexualidade, podendo influenciar de forma errônea sobre o aluno. Neste aspecto é preciso considerar a abertura dada pelo professor para que os alunos sintam-se à vontade em procura-lo, questiona-lo e colocar suas dívidas, com isso o professor passa a ser uma referência para os alunos e também participante da construção da consciência sobre a sexualidade, promovida por um programa de Orientação Sexual desenvolvido institucionalmente pela escola. Referências CASTRO, M. G.; ABRAMOVAY, M.; SILVA, L.B. Juventude e Sexualidade. Brasília: Unesco, 2003. LIMA, H. Educação sexual para adolescentes: desvendando corpo e mitos. São Paulo: Iglu, 1994. p. 105 a 139. SOUZA, H. P. Orientação Sexual: Conscientização, necessidade e realidade. Curitiba: Juruá, 1999. ZAMONER, M. Formação de professores e os trabalhos com temas Transversais orientação sexual e meio ambiente: pelo prisma das concepções dos alunos. Curitiba, 2005. Disponível no cdrom V Educere III Congresso Nacional da Área de educação.