RESIDÊNCIA AR Local Barueri, SP Ano 2002 Escritório Arquitetos Associados Autores Célia Gonsales e Gerônimo Genovese Dornelles Implantação e Partido Formal A Residência AR é uma edificação unifamiliar localizada em um condomínio privado, na cidade de Barueri, em São Paulo. Projetada ao ano de 2002, pelo escritório Arquitetos Associados, foi concebida com uma área de 352,20m² implantada em um lote de 450m² (Figura 1). Figura 1: Implantação da Residência AR, 2002. Arquitetos Associados. Em condomínio conformado por residências unifamiliares isentas, percebe-se que não há pressão do entorno construído (Figura 2), não obstante, há sugestão do lote profundo, estreito e de meio de quadra, no partido adotado. Organizado em dois pavimentos principais, térreo e superior, o partido compacto com acentuação vertical ocupa posição simetrica no lote, distando igualmente das laterais assim como possui distanciamento igual das divisas de frente e fundos. A topografia, descendente no sentido frente fundos, proporcionou diferença de níveis ao pavimento térreo (Figura 3) e facilitou a acomodação da piscina e de um pequeno compartimento no subsolo junto à divisa posterior. Desse modo, o nível térreo configura-se de forma a abrigar os espaços de uso compartilhado, tais como setor de serviços e social; enquanto acima, configura-se de modo a limitar o fluxo de pessoas, ao abrigar a ala íntima e uma sala de estar reservada. Figura 2: Fachada frontal da Residência AR, 2002. Arquitetos Associados. Fonte: www.arquitetosassociados.arq.br Figura 3: Corte perspectivado no qual visualiza-se o desnível do terreno onde implanta-se a Residência AR, 2002. Arquitetos Associados.
Apesar de ser um partido compacto, na manipulação de volumes, os arquitetos se valem de uma composição aditiva que origina um partido em H (Figura 4), configurado por dois blocos paralelos à rua, conectados por um volume de circulação perpendicular a estes. Isso, oportuniza que os espaços de permanência voltem-se à melhor orientação, norte, vinda dos fundos. A partir disso, a composição obedece ao princípio organizacional relativo a um ponto, que articula os dois volumes que configuram um espaço aberto secundário violado pela adição do volume que contém a circulação de conexão e a escadaria de acesso ao nível superior. Organiza-se, também, após a disposição centralizada, com o auxílio de uma grelha de quatro módulos transversais e tres longitudinais (Figura 5). Figura 4: Esquema dos blocos na composição da Residência AR, 2002. Arquitetos Associados. Figura 5: Grelha compositiva utilizada na Residência AR, 2002. Arquitetos Associados. Por conseguinte, o arranjo formal em espaços contínuos tanto no térreo quanto no nível superior, configura-se de acordo com a insolação desejada nos cômodos da casa. A orientação norte na parte posterior aliada à largura reduzida do terreno inspirou ambientes de transição e parte da ala de serviços colocados na frente, no pavimento térreo, por conta da orientação mais disprivilegiada. Ainda no térreo, essas àreas serão seguidas pelo restante da ala de serviços e pela ala social localizados nos fundos os quais maximizam o potencial da orientação. No segundo pavimento, no bloco maior, os quartos voltam-se para os fundos enquanto circulação e banho para o sul. Sob essa lógica, no bloco menor, a sala de estar reservada e o dormitório recebem a melhor orientação, proporcionada pela criação do pátio a partir do distanciamento entre os volumes. Configuração Funcional Na configuração do projeto percebem-se alas distintas em conjunto/proximidade, isto é, não trabalhou-se com alas em separado tanto em relação à divisão em blocos como em pavimentos. Por exemplo, no bloco maior no pavimento térreo, há as alas social e serviços, e acima a ala íntima; enquanto no bloco menor, há a ala de serviços abaixo e em cima as alas social e íntima (Figura 6). Pode-se inferir, assim, que os espaços mais públicos localizam-se no andar térreo, onde as diferentes alas recebem diferentes tratamentos. Sendo assim, a social, com grande transparência no sentido frente-fundos possibilita contato com o exterior da residência, já a ala de serviços, com excessão da cozinha aberta aos fundos para receber insolação, possui tratamento com característica de fechamento ao exterior, por conta da opacidade do material e da cor escura utilizados. Nas alas do pavimento superior, espaço mais reservado por abrigar a ala íntima e uma sala de estar com maior privacidade, adotou-se a estratégia de limitar o contato com o ambiente público, por meio de estreitas aberturas verticais na fachada e, dilatar o contato entre os ambientes da casa, ao utilizar-se de planos verticais transparentes proporcionando insolação norte e também conexão visual entre os dois blocos.
Social Íntimo Serviço Figura 6: Esquema de representação das alas da Residência AR, 2002. Arquitetos Associados. No pavimento térreo, os elementos irregulares, como churrasqueira, cozinha, lavanderia, lavabo e um pequeno dormitório com banheiro mais a garagem conformam um L em planta e envolvem o ambiente social. Enquanto o pequeno quarto com banheiro e a garagem foram colocados à frente, isolados do restante da casa, os elementos irregulares do grande volume foram transladados para o perímetro, a fim de permitir maior libedade ao resto da planta (Figura 7). No segundo pavimento, no bloco maior, os elementos irregulares foram colocados novamente em linha, agora no limite dos dormitórios. No volume menor, houve a interpolação do elemento irregular banheiro entre dormitório e ambiente de estar (Figura 7). Elementos irregulares Figura 7: Esquema de representação dos elementos irregulares da Residência AR, 2002. Arquitetos Associados. Os ambientes espacialmente contínuos, que configuram o acessar principal à residência, o são de foma que o pequeno quarto com banheiro e garagem colocados à frente submetam o visitante à sua transposição e forcem uma espécie de circulação em suíte. Ao ultrapassar esses elementos, na separação dos blocos, um volume conector, dá duas opções: acessar o segundo pavimento pela escadaria ou seguir pela circulação sugerida ao lado (Figura 8). Sob essa lógica, a sugestão ocorre tanto pela localização da entrada ao ambiente de estar (pavimento térreo), quanto pelo desenho do piso e diferença de níveis. A lógica da circulação sugerida permanece no pavimento térreo mesmo após o adentrar, por conta do elementos irregulares em linha localizados na face lateral. No segundo pavimento, entretanto, no bloco maior, a partir de uma circulação espacializada, ocorrem circulações em suíte adentrando nos dormitórios, por conta dos elementos irregulares no limite dos cômodos. No bloco menor, a circulação torna-se sugerida, devido ao ambiente social estar integrado à escada de acesso assim como à circulação de conexão entre um volume e outro (Figura 8).
Circulação no primeiro pavimento Circulação a partir do segundo pavimento Figura 8: Esquema de circulações de acesso à Residência AR, 2002. Arquitetos Associados. Espacialidade 1) A visual que se tem no acesso à casa é marcada por uma grande dicotomia. Vê-se, primeiramente, um grande espaço aberto que conecta frente e fundos visualmente, ao lado de um volume escuro e fechado, sob um plano de piso do segundo pavimento com grande fechamento, tão somente possuidor de duas pequenas aberturas. O acesso, portanto, se dá de maneira sugestionada ao lado do acesso de veículos. Ao ultrapassar o ambiente encoberto pelo volume superior que conforma a fachada, a conexão ao volume subsequente continua dilatada, por conta das transparências dos planos, e se dá por um desenvolvimento unidirecional do espaço. Ao utilizar-se de uma pequena escadaria, por conta do desnível, o fruidor que percorre o espaço conector alongado pode ainda, ao lado por meio de uma escadaria maior, acessar os ambientes do piso superior. Figura 9: Esquema de tensões ao adentrar assim como vistas externa e interna da Residência AR, 2002. Arquitetos Associados.
2) Caso o usuário tenha a intenção chegar ao volume/espaço, no pavimento térreo, onde há os ambientes de estar e serviço, o espaço antes limitado pelos planos verticais paralelos próximos e com transparência prepara-o para um amplo ambiente de relações abertas. Chegará à sala, dessa forma, onde ocorre o direcionamento da visão do usuário ao criar-se um ambiente de piso rebaixado com grande tensão horizontal por conta do uso de transparência nos grandes planos de fechamento frente e fundos. Ao descer o desnível, inicialmente o fruidor mantém sua visão direcionada aos fundos, onde está a piscina, para somente depois descobrir a extensão visual do ambiente social à cozinha, pelo uso de transparência em metade do plano vertical interno divisor das alas. Figura 10: Esquema de tensões ao adentrar assim como vistas externa e interna da Residência AR, 2002. Arquitetos Associados. 3) Ao subir a escadaria de acesso ao segundo pavimento, o fruidor mantém contato visual com o corredor de conexão entre os blocos acima. Esse espaço integrado entre corredor e escada dilata-se ainda pela vedação translúcida junto ao corredor, o que possibilita contato visual com o pátio interno. Ao chegar no segundo pavimento, o usuário é forçado a desviar da parede que surge à frente e, por conta da ligação entre os espaços, pode escolher entre contornar a escada e seguir pelo corredor de conexão ao bloco maior, ou permanecer no bloco menor, onde há um dormitório em uma lateral e uma sala de estar reservada em outra. O ambiente social, aliás, mostra-se com restrita ligação visual à rua, ao sul, e grande permeabilidade visual ao norte, tanto com a ala íntima do bloco maior à frente quanto com os espaços que se desenvolvem abaixo.
Figura 11: Esquema de tensões ao adentrar assim como vistas externa e interna da Residência AR, 2002. Arquitetos Associados.