RESIDENCIA KS. Implantação e Partido formal

Transcrição

1 RESIDENCIA KS Local Natal Ano 2012 Escritório Arquitetos Associados Autoras: Ana Elísia da Costa e Luísa Medeiros dos Santos Implantação e Partido formal A Residência KS é uma residência urbana, desenvolvida em 2012 pelo escritório Arquitetos Associados. Está situada em um condomínio privado em Natal, Rio Grande do Norte. O projeto se organiza em uma área construída de 400 m² e em um terreno de 435m². A casa ocupa um lote isolado no condomínio e explora ao máximo as possibilidades dentro do regulamento deste, o qual exige que as casas tenham recuos frontal, fundo e laterais de 5m, 4m e 2m, respectivamente, e ainda, que não ultrapassem a altura de 7m a partir do primeiro pavimento (desde que este não exceda a altura de 1,25m a partir da altura do terreno), Com estas características, as pressões dos edifícios do entorno sobre as novas edificações são reduzidas, bem como é padronizado um envelope volumétrico onde o projeto deve ser desenvolvido. Obedecendo a estes parâmetros legais, a casa assume uma volumetria prismática retangular, isolada de todos os limites do lote, e que ocupa uma posição centralizada neste. Para otimizar a criação de mais pavimentos dentro do limite de altura, foi criado um subsolo semi enterrado sob os pavimentos superiores, mesmo que a configuração da topografia do terreno seja plana. (Figura 1) Figura 1: Implantação e esquema volumétrico da Residência KS, O desejo de privacidade impacta o arranjo volumétrico proposto. O partido adotado é introspectivo, organizado em torno de um vazio central que que conecta visual e funcionalmente os três pavimentos. Gráficos conceituais desenvolvidos pelo escritório revelam as três operações formais estabelecidas para definir a volumetria final: (1) acima do subsolo, são lançadas duas barras paralelas à rua, unidas por uma passarela; (2) sobrepostas a estas, são dispostas outras duas barras, agora longitudinais; (3) um invólucro recobre o conjunto das 4 barras, estabelecendo o aspecto compacto da composição final, a qual está levemente elevada em relação ao chão. (Figura 2)

2 Figura 2: Estudo volumétrico da Residência KS, Fonte: (intervenções nas bases: da autora) O arranjo das alas, dentro da projeção de 20m x 11m imposta pela legislação, obedece a parâmetros de proporção. Na extensão longitudinal do lote, são definidos 10 módulos de 2m, sendo que cada barra ocupa dois módulos e o átrio central, quatro módulos. Transversalmente, os módulos são irregulares, ficando cada ala com 3m de largura (subdivididos em dois módulos de 1,5m) e o átrio com 5m. (Figura 3) Figura 3: Grelha da Residência KS, O desejo de privacidade também define a configuração semipermeável do invólucro da composição, alcançado com o arranjo de tijolos gradeados. No pavimento superior, este invólucro reveste as varandas para as quais se abrem as superfícies envidraçadas dos quartos, consolidando um espaço de transição entre dentro e fora (Figura 5a). No pavimento inferior, a correspondência da varanda define um jardim, que, visualmente, se comporta como uma subtração no partido compacto

3 (Figura 4b e 4c) 1. De qualquer modo, as aberturas predominam nas fachadas frontal e posterior, contrapondo-se ao tratamento quase cego das fachadas laterais, em que só se abrem as pequenas janelas dos banheiros e o vão de acesso ao hall da casa. (Figura 4c) (a) (c) (b) Figura 4: Tratamento volumétrico da Residência KS, Fonte: Configuração funcional No subsolo, se localiza parte do setor de serviço, com a garagem e um depósito; e um grande atelier que, pela interação visual com o pavimento superior, assume um caráter social. Nas duas alas transversais do primeiro pavimento, observase que a ala voltada para a rua comporta o setor social, com sala de estar e de TV/cinema; e outra voltada para o interior do lote, assume um caráter social/serviços, com cozinha, área de serviço, lavabo, e o jantar, no centro da ala. As duas alas do segundo pavimento abrigam o setor íntimo, com dois quartos e um núcleo de banheiros em cada. No primeiro pavimento, observa-se que as duas barras são tratadas como plantas-livre, que buscam estabelecer uma continuidade visual entre as mesmas. Os dois únicos elementos irregulares de composição (área de serviço e lavabo) são agrupados com um núcleo hidráulico, que fica internalizado na planta, liberando a composição das fachadas. O segundo pavimento, pelas demandas do programa, é mais compartimentado e o arranjo é idêntico nas duas alas: dormitórios colados nas faces noroeste e sudeste; banheiros separando os dois quartos, ocupando uma faixa central e paralela à circulação (Figura 5). 1 Esse jardim é regado pela água que atravessa o vão da cobertura e o piso permeável da varanda dos quartos.

4 Estares sociais Estares íntimos Elementos irregulares Circulação espacializada Figura 5: Zoneamento da Residência KS, Uma complexa rede circulatória conecta as alas entre si. No térreo, o acesso principal se dá pelo eixo do átrio-central, exigindo um percurso externo e lateral à casa, que leva ao hall. O hall articula a escada que leva ao subsolo e ao setor social e sua posição centralizada na extensão longitudinal da casa reduz os deslocamentos horizontais. A partir do setor social, a passarela longitudinal do primeiro pavimento, a escada paralela a ela e a passarela transversal do segundo pavimento conectam as quatro alas entre si. Essa rede circulatória é espacializada e conduz às circulações periféricas (sugeridas e/ou espacializadas) observadas nas quatro alas, (Figura 6) Figura 6 Eixos de circulação do primeiro e segundo pavimento da Residência KS, O acesso de serviços se dá pelo subsolo, cuja rampa é lançada na extensão do recuo frontal. Da garagem à escada que leva ao hall, a passagem se faz obrigatória pelo atelier, em um eixo sugerido em planta. Os percursos evidenciam a falta de autonomia das circulações de serviço e o longo percurso exigido entre a garagem e a cozinha. (Figura 7) Figura 7: Eixos de circulação do subsolo da Residência KS, 2012.

5 Espacialidade O hall de acesso à casa configura um espaço semiaberto, com pé direito duplo e fechamento em vidro, que estabelece uma pequena compressão espacial na passagem do exterior para o interior. Dali, contudo, se antecipa visualmente a experiência espacial que a casa irá oferecer: o grande átrio, com as passarelas a frente; a sala, num nível superior; o atelier, num nível superior. A tensão espacial é, portanto, multidirecional. (Figura 8) Figura 8: O adentrar da Residência KS, Na sala, a geometria linear da ala e sua grande abertura para o jardim podem sugerir inicialmente uma espacialidade horizontal. Contudo, essa horizontalidade é anulada pela alternância do seu pé direito, que impõe um ritmo de compressão e dilatação espacial, e pela continuidade visual com o átrio e com a ala social/serviço. Assim, as relações espaciais resultantes são dinâmicas e as tensões visuais são multidirecionais, com muitos pontos focais de interesse. Dali, se controla a dinâmica da vida doméstica, o circular pela escada, o ir e vir pelas passarelas, bem como o fluxo da rua e o fluxo do tempo o dia e a noite, a chuva e o sol. (Figuras 9a e 9b) (a) (b) Figura 9: O acolher da Residência KS, Fonte: (a e b)

6 Se as relações espaciais no setor social são dinâmicas, nos quartos, a espacialidade é mais estática. O pé direito uniforme; o percurso periférico e linear sugerido em planta pela posição das portas e layout dos móveis; bem como, as visuais para a varanda semipermeável, definem uma espacialidade mais estática, serena, e talvez mais adequada ao isolamento dos indivíduos. (Figura 10) Figura 10: O recolher-se da Residência KS, 2012.