CASA CA. Implantação e Partido Formal

Transcrição

1 CASA CA Local: Bragança Paulista, SP Ano: 2009 Escritório Bernardes e Jacobsen Autoras: Ana Elísia da Costa, Cristina Piccoli e Sara Caon Implantação e Partido Formal A casa CA, de caráter suburbano, está localizada em um condomínio residencial, em Bragança Paulista, interior de São Paulo. A geometria irregular e a dimensão do terreno, bem como a topografia, condicionam a implantação da residência, refletindo num arranjo formal decomposto e radial, com alas paralelas articuladas a partir de um volume central rotacionado. O arranjo do conjunto sobre terreno configura dois pátios: um primeiro que faz a interface com a via de acesso, com um caráter de recepção, e um segundo mais privativo. A geometria longilínea das alas busca atribuir aos ambientes uma maior continuidade visual e integração com o espaço circundante. (Figura 1). Destaca-se a barra posicionada na dimensão maior do terreno e paralela à via, que busca explorar as visuais para a paisagem circundante e a melhor orientação solar a sul. Figura 1: Esquema da implantação e visuais da Casa CA. / O arranjo formal é composto por três volumes com características distintas: dois com um vocabulário volumétrico, configurando alas longilíneas; e um central, com aspecto mais planar, que articula as alas entre si. O caráter planar deste último é dado pela extensão e inclinação da cobertura, que impossibilita a identificação de um sólido elementar e a definição de interior e exterior. Seu aspecto excepcional no conjunto, bem como seu pé direito mais alto, lhe conferem uma maior hierarquia compositiva. Importa observar que entre as alas e o volume central são usados elementos de transição, cobertos por grandes pergolados, que absorvem a geometria irregular resultante da articulação dos volumes. (Figura 2)

2 Figura 2: Esquema dos aspectos formais da Casa CA Configuração funcional A composição formal decomposta reflete a organização da residência em três zonas principais: social, íntimo e de serviço. O volume central, de características planar, corresponde ao setor social, que faz a transição ou ligação entre o setor íntimo e o de serviço. (Figura 3) Figura 3: Esquema do zoneamento da Casa CA O acesso da residência se dá por um hall no volume central que une as duas alas distintas. A partir dele, tem-se uma circulação periférica linear em cada uma das alas, que atende aos ambientes que se voltam para as melhores visuais e melhor orientação solar. Na ala íntima, o caráter contínuo da circulação incorpora a escada que leva ao pavimento inferior, sem se apropriar de uma continuidade espacial entre pavimentos. (Figura 4) Figura 4: Esquema das circulações da Casa CA

3 Na ala de serviço, opta-se por transladar os elementos de composição irregulares para o perímetro externo da ala, provocando diversas circulações em suíte. Na ala íntima, os banheiros e closets são agrupados, configurando dois núcleos compartimentados que intermeiam as plantas-livre dos quartos. Em ambas as alas, não há uma modulação que ordene o arranjo das partes, que sofre inúmeras variações dimensionais. (Figura 5) Espacialidade Figura 5: Esquema das circulações da Casa CA na Bragança Paulista O nível do piso de forma contínua permite uma maior integração entre os ambientes internos. Contudo, as diferentes formas de disposição dos forros (retos x inclinados, opacos x translúcidos), bem como as diferentes alturas dos ambientes, definem distintas experiências espaciais no deslocamento pelo espaço. (Figura 6) Figura 6: Esquema dos planos horizontais e inclinados da Casa CA A partir do hall, isolado da sala por um painel vertical, a experiência espacial se dá em quatro estágios principais: Os dois acessos laterais ao plano que separa o hall da sala e as portas de vidro na aresta do ambiente sugerem que as circulações principais ocorrem nos dois extremos transversais do ambiente. No entanto, a configuração comprida e estreita do ambiente, com estar, jantar e jogos, sugere visuais em suas diagonais. Por outro lado, depara-se com uma cobertura inclinada e um pé direito alto, que ampliam o campo visual. O resultado é uma tensão multidirecional, com vários pontos focais de interesse. (Figura 7)

4 Figura 7: Esquema e ilustração da espacialidade do Estar da Casa CA Fonte: CAON, Sara, 2014/ 2) Do hall para o espaço de transição, a experiência espacial sofre o impacto da mudança de direção, da redução do pé-direito e da incidência da iluminação zenital. Configura-se um espaço multidirecional, de onde se vislumbra o corredor a seguir e o espaço de transição que, banhado de luz, convida a permanecer (Figura 8); Figura 8: Esquema e ilustração da espacialidade do Espaço de transição da Casa CA Fonte: CAON, Sara, ) No corredor íntimo, o pé-direito se mantém, mas o forro torna-se opaco, evidenciando o acesso em um ambiente de outra natureza. Neste corredor, de um lado, as portas são mimetizadas pelo revestimento em madeira das paredes, de outro, uma grande plano envidraçado de teto a piso abre as visuais para a parte frontal da casa, provocando uma tensão espacial multidirecional: seguir fisicamente o corredor ou visualmente contemplar a paisagem (Figura 9). Figura 9: Esquema e ilustração da espacialidade do Corredor Íntimo da Casa CA Fonte: CAON, Sara, 2014/

5 4) Do corredor para os quartos, depara-se frontalmente com um plano vertical envidraçado, que dilata as dimensões destes ambientes. Esta experiência torna-se dinâmica e unidirecional, apesar das dimensões retangulares dos quartos sugerirem estaticidade. Destaca-se o quarto da extremidade da ala, em que planos verticais envidraçados em paralelo geram tensões multidirecionais. (Figura 10) Figura 10: Esquema e ilustração da espacialidade do Quartos da Casa CA Fonte: CAON, Sara, 2014 Conclusão Diante dos aspectos analisados, a residência apresenta uma tipologia linear com transgressões no arranjo das alas, definidas por decisões lógicas. O tipo, neste caso, é tratado como meio e não como fim do processo projetual, uma vez que as modificações formais geradas relacionam-se com os mais diversos condicionantes, desde a geometria do lote, topografia, orientação solar, percursos internos até a busca pelas melhores visuais.