A IMAGEM DA PROSTITUTA NA POESIA LATINA

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Transcrição:

Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas A IMAGEM DA PROSTITUTA NA POESIA LATINA Cecília Gonçalves Lopes São Paulo, 2010 1

Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas A IMAGEM DA PROSTITUTA NA POESIA LATINA Projeto de Doutorado em Letras Clássicas apresentado ao Prof. Dr. Paulo Martins São Paulo, 2010 2

Índice Justificativa... 4 Objetivos... 5 Metodologia... 7 Cronograma... 8 Bibliografia... 9 3

Justificativa Ao me dedicar à Elegia Erótica Romana na dissertação de Mestrado, preocupeime especialmente com as convenções de forma e de conteúdo do gênero e, no caso específico de Ovídio, com a poikilia existente em sua poesia. Entretanto, apesar de não ter sido objeto de análise mais profunda, a imagem feminina nesses poemas eróticos sempre me pareceu interessante ainda que (e talvez porque) as mulheres não têm voz e apareçam sempre sob o ponto de vista masculino, é impossível não se ater às descrições físicas e psicológicas, quando as há, da puella e da lena. Quanto à moça, não se pode, ao certo, defini-la em relação a sua posição social (fisicamente, conhecemos algumas informações 1 ). Meretriz ou não, às vezes ela age como uma. A lena, por sua vez, é mais intrigante e clara: uma antiga prostituta que vai servir, na Elegia, de contraponto ao amante. Experiente, ela sabe o que a menina deve fazer para conseguir sobreviver e que, principalmente, não serão versos os responsáveis pelas joias e pela comida na mesa que são, a elas, tão necessárias. Sendo inimiga do eu-elegíaco, a lena não recebe quaisquer adjetivos que a caracterizem de forma positiva mesmo que poucas sejam as linhas elegíacas a ela dedicadas 2. Entretanto, nos submundos da Antiguidade, para retomar a expressão de Catherine Salles, as prostitutas existiam em grande número. E assim acontece nas letras latinas em geral. Essa mulher pública, chamada lupa, meretrix, scortum ou spurca, era indispensável para o cotidiano romano. O próprio Santo Agostinho, mais tarde, fala sobre a importância dela para a sociedade: Se banires as prostitutas da sociedade, levarás essa ao caos por causa da luxúria insatisfeita. Essencial para os cidadãos, instigante nos versos. Assim, parece-me profícuo o estudo da imagem dessa personagem na poesia latina e, agora, não nos atendo apenas àquela existente nos versos elegíacos, mas, também, em um primeiro momento, nos líricos, nos cômicos e nos satíricos. 1 Em I.5 dos Amores, Corina é apresentada pela primeira vez. Sua pela branca, seus ombros e braços, seus cabelos e seu corpo envolvido em uma túnica servem de motivo para o eu elegíaco não precisar detalhar os acontecimentos da tarde que fizeram com que os dois amantes, cansados, precisassem repousar. Tanto em Tibulo quanto em Propércio, a puella aparece como alguém de uma beleza imensa, perfeita esteticamente como a Galateia de Pigmalião. 2 Basta lembrarmo-nos de Am. I.8. 4

Objetivos Paul Veyne, em artigo publicado em L Histoire 3, afirma que prostitutas e gladiadores eram desprezados mas admitidos porque essenciais à ordem do mundo. Na História, sabe-se de fatos relacionados a Messalina e à Submemmium, a rua das prostitutas. Estuda-se o que sobrou dos lupanares e como eram os bairros onde habitava a escória da cidade: Velabro, Subura e o Trastevere. Como isso aparece, então, nas letras? O objetivo desta tese de Doutorado é, justamente, trabalhar com a imagem dessa figura indissociável da vida romana 4 não nos esqueçamos que a primeira lupa foi, simplesmente, Acca Laurentia, ama de Rômulo e de Remo. Qual a imagem dessa mulher? Cortesã refinada associada à vida dos prazeres, moça pronta a arruinar a vida de jovens de boa família? Onde ela morava? Por que se tornava prostituta? Era capaz de se apaixonar? Muitas dessas perguntas são respondidas nos textos de Juvenal, Marcial, Horácio, Plauto, Lucrécio e Cícero. Ovídio, nos Fastos, por exemplo, fala sobre Flora, deusa adorada por essas lupae - para os romanos, a prostituição era uma necessidade e, ainda, um remédio para a segurança de suas esposas: as prostitutas preservavam a moral e a fidelidade às matronas. Com o passar do tempo, na verdade, seu papel foi se alterando e se tornou determinante até mesmo na vida política: a prostituta era, ao mesmo tempo, conselheira e agente estimulante da alta nobreza de Roma. Encontramos uma boa imagem dela em Terêncio: essa mulher pode muito bem ser comparada a uma cidade, pois ela prospera quanto mais homens a visitam. É nosso objetivo, também, falar daqueles que cercavam essa figura, para nós, central: a lena e o leno. Há, é claro, os jovens que frequentavam tais moças, imperadores e/ou a alta sociedade que possuíam amantes, escravos e, até mesmo, lupanares e aí traçamos uma imagem da cidade, que era barulho e tinha o sagrado e o profano em locais tão próximos. 3 No. 2, de junho de 1978. 4 VANOYEKE, p. 75. 5

Por fim, é nosso intuito contribuir para a pesquisa do projeto Imagens da Antiguidade Clássica, do qual faço parte. 6

Metodologia O trabalho começa com a pesquisa bibliográfica, que será feita em livros e em periódicos. O material consultado, primeiramente na biblioteca da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Sociais, será recolhido de revistas voltadas para a área de Letras Clássicas (Classical Philology, The Classical Journal, Mnemosyne, The Classical Quarterly Clássica, entre outras). Ao mesmo tempo, há a pesquisa on-line de periódicos (especialmente no site JSTOR, que contém pesquisas escritas em inglês). Há as aulas a serem freqüentadas (com seus respectivos trabalhos) e a consulta a bibliotecas de outras universidades. 7

Cronograma Atividade Ago/10 Jan/11 Ago/11 Jan/12 Ago/12 Jan/13 Ago/13 Jan/14 Ago/14 Pesquisa X X X X X X X X Obtenção de Créditos X (8) Papers X X X X X X Qualificação X Defesa X 8

Bibliografia BICKEL, E. Historia de la Literatura Romana: Madrid. BOARDMAN, J. et alii. The Oxford History of the Roman World: Oxford: 2001. CARDOSO, Z. A Literatura Latina: São Paulo, 2003. CONTE, G. B. Latin Literature a history: The Johns Hopkins University Press, 1999. EDWARDS, C. Writing Rome textual approaches to the city: Cambridge, 1996. GRIFFIN, J. Augustan Poetry and the Life of Luxury. In: JRS, 66. 1976. GRIMAL, P. La Literature Latine : Paris, 1994.. O Amor em Roma: São Paulo, 1991. HARRISON, S. A Companion to Latin Literature: Oxford, 2005. McGINN, Thomas A. J. The Economy of Prostitution in the Roman World: a study of social history and the brothel: University of Michigan Press, 2004. MYERS, K. The Poet and the Procuress: The Lena in Latin Love Elegy. In: JRS, 86. 1996. SALLES, Catherine. Nos Submundos da Antiguidade: Brasiliense, 1987. SHARROCK, A. R. Womanufacture. In: JRS, 81. 1991. VANOYEKE, Violaine. La Prostitution en Grèece et à Rome : Les Belles Lettres, 1990. WILLIAMS, G. Poetry in the Moral Climate of Augustan Rome. In: JRS, 52. 1962. WYKE, M. Written Women: Propertius Scripta Puella. In: JRS, 77. 1987. 9