Texto para Coluna do NRE-POLI na Revista Construção e Mercado Pini Maio 2009

Documentos relacionados
Texto para Coluna do NRE-POLI Revista Construção e Mercado Pini Novembro 2011

Banco Central Fortaleza, 2010

Conferência de Investimento Alternativo: FIDC, FII E FIP. São Paulo, 11 de dezembro de Hotel Caesar Park. Patrocínio

LIG. As Oportunidades e Impactos da Letra Imobiliária Garantida. Workshop. Filipe F. Pontual Diretor Executivo. São Paulo, 2 de Agosto de 2018

Secovi. Desafios da Economia Brasileira. Antonio Delfim Netto

Índice. CRI - Emissão: 1 - Séries: 1 e 2 1. Declaração 10

CRI 137 Iguatemi Ribeirao Preto RELATÓRIO DE GESTÃO FIDUCIÁRIA

FINANCIAMENTO HABITACIONAL E A LÓGICA DO INVESTIDOR NA ERA DAS FINANÇAS

Demonstração dos Fluxos de Caixa - Método direto Período de 01 de janeiro a 30 de junho de 2016 (Em mulhares de Reais)

6º SEMINÁRIO ANBIMA DE MERCADO DE CAPITAIS. Abril, 2011

Índice. CRI - Emissão: 1 - Séries: 1 e 2 1. CRI - Emissão: 1 - Séries: 3 e Declaração 19

Certificado de Recebíveis Imobiliários CRI

Índice. CRI - Emissão: 1 - Séries: 1 e 2 1. CRI - Emissão: 1 - Séries: 3 e CRI - Emissão: 2 - Séries: 1 e 2 19.

CRA O Elo entre o Produtor Rural e o Mercado de Capitais

SEC - Informe Trimestral de Securitizadora - 30/09/ FORTE SECURITIZADORA S.A. Versão : 1. Índice. CRI - Emissão: 1 - Série: 2 1.

BRC SECURITIZADORA S.A.

Banco Santander Brasil Negócios Imobiliários

Índice. CRI - Emissão: 1 - Séries: 1 e 2 1. Declaração 11

Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP Departamento de Engenharia de Construção Civil

Índice. CRI - Emissão: 1 - Série: 4 1. Declaração 10

ALTERE SECURITIZADORA S.A.

BRAZILIAN SECURITIES COMPANHIA DE SECURITIZAÇÃO

Texto para Coluna do NRE-POLI na Revista Construção e Mercado Pini

IBEF SP Encontro Setorial

CIBRASEC - COMPANHIA BRASILEIRA DE SECURITIZAÇÃO

Títulos privados de Renda Fixa

PÁTRIA COMPANHIA SECURITIZADORA DE CRÉDITOS IMOBILIÁRIOS

para o ambiente de negócios

relatório mensal BB Recebíveis Imobiliários Fundo de Investimento Imobiliário FII

BRAZILIAN SECURITIES COMPANHIA DE SECURITIZAÇÃO

RB CAPITAL COMPANHIA DE SECURITIZAÇÃO atual razão social de RB CAPITAL SECURITIZADORA RESIDENCIAL S.A.

Mercado imobiliário: Desafios e perspectivas para 2007

ÁPICE SECURITIZADORA S.A. 1ª Emissão de Certificados de Recebíveis Imobiliários. 65ª Série

Funding para o crédito habitacional no Brasil. Claudia Magalhães Eloy

BRAZILIAN SECURITIES COMPANHIA DE SECURITIZAÇÃO

NOVA SECURITIZAÇÃO S.A. EXERCÍCIO DE 2016

FUNDOS IMOBILIÁRIOS Cenários e Perspectivas para 2014

RB CAPITAL SECURITIZADORA S.A.

Índice. CRI - Emissão: 1 - Série: 1 1. CRI - Emissão: 1 - Série: 2 8. CRI - Emissão: 1 - Série: Declaração 22

Soluções para o Brasil voltar a crescer

MATERIAL PUBLICITÁRIO. Oferta Pública de Certificados de Recebíveis Imobiliários Séries 62ª e 63ª da 1ª Emissão da Barigui Securitizadora S/A

Conferência de Investimento Alternativo: FIDC, FII E FIP. São Paulo, 11 de dezembro de Hotel Caesar Park. Patrocínio

Notas para o Seminário Andima sobre Renda Fixa em Mercado de Balcão. Alkimar R. Moura FGVSP 29/09/2006

POLO CAPITAL SECURITIZADORA S.A. 1ª Emissão de Certificados de Recebíveis Imobiliários. 11ª e 12ª Séries

relatório mensal BB Recebíveis Imobiliários Fundo de Investimento Imobiliário FII

Know-how Utilizando-se de um vasto know-how , com investidores institucionais (Asset Managements)

12/05/2009. Relações com Investidores Resultados 1T09

POLO CAPITAL SECURITIZADORA S.A. 14ª e 15ª SÉRIES da 1ª. EMISSÃO DE CERTIFICADOS DE RECEBÍVEIS IMOBILIÁRIOS RELATÓRIO ANUAL DO AGENTE FIDUCIÁRIO

Texto para Coluna do NRE-POLI na Revista Construção e Mercado Pini Abril 2010

Informe Trimestral de FII

Av. Paulo VI, 621 (antigo 2405) Perdizes São Paulo - Tel: CNPJ: / NIRE: CVM: IMSP:

POLÍTICA DE GESTÃO DE RISCOS DIRECIONAL ENGENHARIA S.A.

Material Explicativo sobre CRA

BRAZIL REALTY COMPANHIA SECURITIZADORA DE CRÉDITOS IMOBILIÁRIOS

ÁPICE SECURITIZADORA IMOBILIÁRIA S.A.


Pulverizado Corporativo: Sales and Lease-Back: Built to Suit:

BRAZILIAN SECURITIES COMPANHIA DE SECURITIZAÇÃO

Informe Trimestral de FII

Destacamos neste memorando alguns dos principais pontos propostos pela minuta ora em audiência pública.

POLO CAPITAL SECURITIZADORA S.A. 1ª Emissão de Certificados de Recebíveis Imobiliários. 8ª e 9ª Séries

DIRECIONAL ENGENHARIA S.A. CNPJ/MF nº / NIRE:

Possibilidades de PPP em Saneamento

POLO CAPITAL SECURITIZADORA S.A. 1ª Emissão de Certificados de Recebíveis Imobiliários. 16ª e 17ª Séries

Março de 2017 ENTENDENDO O FIDC

POLO CAPITAL SECURITIZADORA S.A. 1ª Emissão de Certificados de Recebíveis Imobiliários. 1ª e 2ª Séries

Conteúdo Programático para Série CA-300

POLO CAPITAL SECURITIZADORA S.A. 29ª e 30ª SÉRIES da 1ª EMISSÃO DE CERTIFICADOS DE RECEBÍVEIS IMOBILIÁRIOS RELATÓRIO ANUAL DO AGENTE FIDUCIÁRIO

CURSO DE EXTENSÃO EM DIREITO IMOBILIÁRIO.

POSICIONAMENTO ESTRATÉGICO

BRAZILIAN SECURITIES COMPANHIA DE SECURITIZAÇÃO

BRAZILIAN SECURITIES COMPANHIA DE SECURITIZAÇÃO

APRESENTAÇÃO INSTITUCIONAL

Relatório Mensal, março 2018, FII UBS (Br) Recebíveis Imobiliários (UBSR11) Taxas Administração 3 Consultoria Performance

Nota da Reunião de 04 de maio de 2017

Relatório Anual 2017 versão completa. Plano de Gestão Administrativa

Antonio Carlos Berwanger Superintendente de Desenvolvimento de Mercado da Comissão de Valores Mobiliários

REIT SECURITIZADORA DE RECEBÍVEIS IMOBILIÁRIOS S.A. 5ª SÉRIE da 2ª EMISSÃO DE CERTIFICADOS DE RECEBÍVEIS IMOBILIÁRIOS

CRI 180 Latam RELATÓRIO DE GESTÃO FIDUCIÁRIA

Relatório. ANUAL 2014 Demonstrações Contábeis 31 de Dezembro de 2014 e pga

Material Explicativo sobre FIC-FIDC e FIDC

APRESENTAÇÃO INSTITUCIONAL

Mercado Imobiliário. Desempenho recente e desafios para o Brasil. Fernando Garcia e Ana Maria Castelo

ANEXO A - Modelo de Informe Mensal

POLO CAPITAL SECURITIZADORA S.A. 47ª, 48ª e 49ª SÉRIES da 1ª EMISSÃO DE CERTIFICADOS DE RECEBÍVEIS IMOBILIÁRIOS RELATÓRIO ANUAL DO AGENTE FIDUCIÁRIO

4º Seminário ANBIMA de Renda Fixa e Derivativos de Balcão. Novo Mercado de Renda Fixa e Incentivos ao Mercado Secundário 6/10/2011

Títulos do Agronegócio

O FII BTG Pactual Crédito Imobiliário

Política de Alocação de Ordens Vinci Gestora de Recursos

MBA IMOBILIÁRIO LEGALE

REIT SECURITIZADORA DE RECEBÍVEIS IMOBILIÁRIOS S.A. 1ª e 2ª SÉRIES da 1ª. EMISSÃO DE CERTIFICADOS DE RECEBÍVEIS IMOBILIÁRIOS

ÁPICE SECURITIZADORA IMOBILIÁRIA S.A. 13ª. SÉRIE da 1ª. EMISSÃO DE CERTIFICADOS DE RECEBÍVEIS IMOBILIÁRIOS RELATÓRIO ANUAL DO AGENTE FIDUCIÁRIO

Certificado de Recebíveis do Agronegócio CRA

STJ DIREITO. dos Valores Mobiliários ARY OSWALDO MATTOS FILHO. Professor Sênior da FGV DIREITO SP VOLUME 1. Dos valores mobiliários [Tomo 2]

ESTE ANÚNCIO É DE CARÁTER EXCLUSIVAMENTE INFORMATIVO, NÃO SE TRATANDO DE OFERTA DE VENDA DE CERTIFICADOS DE RECEBÍVEIS IMOBILIÁRIOS

Conteúdo Programático para o Exame de Certificação CA-400 & H.I.S.

Habitação. Desempenho e desafios. Ana Maria Castelo, Fernando Garcia e João Cláudio Robusti

POLO CAPITAL SECURITIZADORA S.A. 18ª. e 19ª SÉRIES da 1ª. EMISSÃO DE CERTIFICADOS DE RECEBÍVEIS IMOBILIÁRIOS RELATÓRIO ANUAL DO AGENTE FIDUCIÁRIO

Transcrição:

Texto para Coluna do NRE-POLI na Revista Construção e Mercado Pini Maio 2009 A SECURITIZAÇÃO DE RECEBÍVEIS IMOBILIÁRIOS RESIDENCIAIS E A CRISE FINANCEIRA MUNDIAL Prof. M.Eng. Alessandro Olzon Vedrossi O desenvolvimento do mercado imobiliário só é possível com a agregação de recursos provenientes de investimentos de longo prazo. A existência de financiamento para a aquisição de um imóvel não é uma opção, mas sim, integrante do processo. Esta afirmação provém dos seguintes fatores: (i) o bem imobiliário possui valor monetário expressivo em relação aos outros bens disponíveis no mercado e à capacidade financeira do adquirente, e (ii) os empreendimentos imobiliários devem ser produzidos dentro de um prazo considerado econômico, já que o aumento exagerado de seu prazo de produção implica diretamente no aumento de seus custos. O principal modelo de financiamento imobiliário residencial vigente no Brasil é baseado no direcionamento de recursos da poupança através da Caixa Econômica Federal e bancos comerciais, de acordo com as regras do SFH - Sistema Financeiro da Habitação. Esse modelo depende da capacidade da instituição financeira em, além de originar, manter os créditos imobiliários dentre seus ativos, financiados por passivos com característica de curto do prazo, caso da poupança.

2 Uma outra forma de financiar um ativo de longo prazo é através da emissão de títulos de investimento que sejam representativos desse mesmo ativo, ou seja, por meio da securitização desse ativo. Nesse caso, o financiamento é dado por investidores interessados em instrumentos de investimento de longo prazo. A securitização de recebíveis imobiliários residenciais é, portanto, uma alternativa para o equacionamento de fundos de longo prazo necessário ao mercado consumidor de imóveis residenciais. As estruturas de securitização permitem a formatação, a partir de um único portfólio de ativos, de títulos de investimento com diferentes perfis de risco e rentabilidade, buscando atrair investidores de diferentes perfis. Uma das estruturas mais utilizadas para esse fim é a subordinação, que consiste na emissão de títulos de séries distintas, onde o recebimento de recursos para os títulos de determinada série (subordinada) é dependente do recebimento de recursos de outra série (sênior). Nesse caso, a performance de determinada série está subordinada à performance da série sênior. A securitização de recebíveis imobiliários foi regulamentada no Brasil com a Lei 9.514/97, com a instituição dos CRIs - Certificados de Recebíveis Imobiliários, títulos de investimento lastreados em recebíveis imobiliários, e da criação das Companhias Securitizadoras de Créditos Imobiliários, além do instituto da alienação fiduciária de bens imóveis. Embora regulamentada desde de 1997, a participação das operações de securitização de recebíveis imobiliários como fonte de recursos de financiamento imobiliário residencial tem sido ainda marginal. Estima-se que em 2008, o volume total de emissão de CRIs com lastro em recebíveis residenciais efetivamente colocados junto ao mercado investidor tenha sido ao redor de R$600 milhões, uma fração do volume de originação de créditos através do SFH (incluindo o FGTS), de

3 aproximadamente R$40 bilhões. Volume anual de emissão de CRIs com registro na CVM A implementação de um sistema de securitização que permitiria sua utilização como uma forma eficiente de financiamento ao mercado imobiliário depende de basicamente três fatores: (i) existência de um mercado investidor amplo com apetite a investimentos de diversas características; (ii) existência de um marco legal e regulatório abrangente e eficaz, transferindo segurança aos investidores; e (iii) ambiente macroeconômico favorável. É possível afirmar que esses três fatores estão atualmente presentes no mercado brasileiro, o que abre caminho para a expansão desse mercado. Apesar de sua utilização no mercado imobiliário estar muito aquém de seu potencial, a securitização tem se colocado como uma alternativa para o financiamento de diversos tipos de ativos, com destaque ao crédito direto ao consumidor e crédito consignado;

4 através dos FIDCs - Fundos de Investimento em Direitos Creditórios. As operações de securitização desses ativos se desenvolveram mais rapidamente devido principalmente ao fato destes ativos serem de médio prazo e possuírem taxas de juros a preços de mercado, com spread suficiente para remunerar os investidores. O mercado investidor Os investidores são a força matriz no desenvolvimento de um mercado de securitização eficaz e eficiente. No Brasil, o volume de recursos alocados junto aos investidores institucionais é expressivo, com capacidade de fomentar um modelo de financiamento de crédito imobiliário através de investimentos de longo prazo. O volume total de ativos dos fundos de pensão brasileiros é da ordem de R$ 415 bilhões, com uma alocação ao redor de 65% em ativos de renda fixa, característica dos CRIs. Esses investimentos ainda são em grande parte, direta ou indiretamente, títulos públicos que, em sua maioria, possuem características de médio e curto prazo. O perfil desses ativos tem mudado bastante ao longo dos últimos anos, com a introdução de ativos de longo prazo, fruto da estabilidade econômica. O desafio inicial é atrair esses investidores para o mercado de CRIs, com papéis que tenham volume, liquidez e remuneração condizentes com sua classificação de risco. O novo cenário A atual crise financeira mundial (que muitos ainda denominam de crise do subprime) teve como um de seus fatores de eclosão o setor de crédito imobiliário nos Estados Unidos, movido principalmente por operações de securitização. A questão que surge é se efetivamente pode-se culpar as estruturas de securitização por tal crise.

5 Para entendermos e discutirmos melhor essa questão, é importante uma análise da situação do mercado de capitais americano nos últimos anos. Um primeiro aspecto foi a criação de diversas categorias de derivativos financeiros, que aumentaram significativamente a alavancagem do sistema financeiro como um todo, sem o respectivo monitoramento, já que muitas dessas operações eram privadas. Um segundo ponto importante foi o excesso de liquidez dos mercados, o que diminui substancialmente os spreads das operações financeiras, levando à discussão sobre a calibragem do prêmio pelo risco que norteia qualquer decisão de investimento. Esse excesso de liquidez propiciou também a criação de veículos de financiamento como os chamados CDOs (Collateralized Debt Obligations) ou SIVs (Special Investment Vehicles), compostos muitas vezes por ativos financeiros derivados, como, por exemplo, uma série subordinada de uma emissão de securitização. Essa derivação em alguns casos chegava a ser de terceira ordem, o que tornava difícil a análise de riscos dos ativos e, consequentemente, questionável qualquer classificação de risco dos papéis lastreados nesses ativos. Dessa forma, pode-se concluir que a securitização por si só não poderia ser o fato desencadeador desses acontecimentos. Não há dúvida de que é possível criar títulos de investimento que tenham perfil de risco claro e transparente, a partir da securitização de recebíveis imobiliários, além de contarem com o lastro em créditos de qualidade. Do ponto de vista do mercado imobiliário brasileiro, a existência do SFH tem sido fundamental e assim deverá ser por vários anos, considerando a importância da poupança como instrumento de investimento da grande maioria da população.

6 Mesmo assim, o mercado de crédito imobiliário residencial no Brasil representa ainda uma fração muito pequena de seu potencial. Diversos estudos citam que no Brasil o volume total de crédito imobiliário representa entre 2% e 3% do Produto Interno Bruto (PIB). Em países como o México e o Chile, essa relação é da ordem de 12% e 18%, respectivamente. Ou seja, para que o mercado de crédito imobiliário brasileiro efetivamente se desenvolva a longo prazo, é fundamental a co-existência de outras alternativas de financiamento, e, sem dúvida, a securtitização de recebíveis imobiliários através de CRIs se coloca como uma alternativa viável.