O Impacto das diferentes causas de morte na esperança de vida em Portugal

Documentos relacionados
O contributo das diferentes causas de morte para a diferença na Esperança de Vida entre Portugal e Espanha

O contributo das diferentes causas de morte para a diferença na esperança de vida entre Portugal e Espanha

Filipe Ribeiro, Universidade de Évora/MPIDR Trifon I. Missov, MPIDR José Gonçalves Dias, Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL) Maria Filomena

Tábuas de Vida de Múltiplo Decremento: ganhos potenciais em expectativa de vida no RS, em 2005, relativos aos óbitos por Causas

A diferença de esperança de vida entre homens e mulheres: Portugal de 1940 a 2007***

Tábuas Completas de Mortalidade para Portugal

Tábua Completa de Mortalidade para Portugal

Numa década, homens ganham perto de 3 anos e mulheres 2 anos, na esperança de vida à nascença

Esperança de vida atingiu 80,78 anos à nascença e 19,45 anos aos 65 anos

Diferenciais de mortalidade entre homens e mulheres: Sul de Minas Gerais, 2002 e 2012

Causas de morte em idosos no Brasil *

Palavras Chave: Mortalidade, Compressão, Deslocamento, Causas de Morte.

INDICADORES DE SAÚDE I

Revista de Estudos Demográficos n.º 55

Sumário da Aula. Saúde Coletiva e Ambiental. Aula 10 Indicadores de Saúde: mortalidade e gravidade. Prof. Ricardo Mattos 03/09/2009 UNIG, 2009.

Notas sobre a população a vulgarização estatística das mortes em Portugal

Projecções de população residente em Portugal Síntese metodológica e principais resultados

SIIS - Sistema de Informações de Indicadores Sociais do Estado do Pará Abrangência: Barcarena DEMOGRAFIA População Total População por Gênero

SIIS - Sistema de Informações de Indicadores Sociais do Estado do Pará Abrangência: São Félix do Xingu

Tábua Completa de Mortalidade para Portugal

Estudo da Heterogeneidade nas Populações de Portugal e Espanha. Rute Ferreira Onofre Simões V Congresso Ibérico de Atuários 7 de junho de / 24

Projecções de população residente em Portugal

Aumento dos suicídios em 2014

MORBIMORTALIDADE DA POPULAÇÃO IDOSA DE JOÃO PESSOA- PB

A evolução da mortalidade dos idosos no Distrito Federal na Periferia Metropolitana de Brasília (PMB) entre 2000 e 2013

Morbilidade Hospitalar Serviço Nacional de Saúde

Morre-se mais de doenças do aparelho circulatório, mas os tumores malignos matam mais cedo

ANEXO 1 ALGUNS INDICADORES MAIS UTILIZADOS EM SAÚDE PÚBLICA

Leis de mortalidade: convergência ou divergência entre diferentes pontos de vista sobre a mortalidade portuguesa

Sistema Informações em Mortalidade - SIM Funcionamento. Joaquim Valente

DIAGNÓSTICO DE SITUAÇÃO DO CONCELHO DE BRAGA CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO DA UNIDADE DE SAÚDE PÚBLICA DE BRAGA

Perfil da mortalidade masculina no Estado de São Paulo Profile of male mortality in state of So Paulo

MORBILIDADE HOSPITALAR

Níveis e padrões de mortalidade em São Paulo em relação a países que estiveram na fronteira dos ganhos de longevidade, 1920 a

MORBILIDADE HOSPITALAR

ESPERANÇAS DE VIDA SEM INCAPACIDADES FÍSICAS DE LONGA DURAÇÃO

Processo de envelhecimento populacional - um panorama mundial *

Ideal de Saúde. Ideal de Saúde. Morte. Morte

Risco de morrer em Portugal

Conceitos e Metodologias. As Pirâmides de Idades

Revista Debate Econômico, v.1, n.1, p , jan/jun 2013 Página 78

OBSERVATÓRIO DA REDE SOCIAL DE OLIVEIRA DE AZEMÉIS

Traumatismos decorrentes de acidentes automobilísticos

Número de nados-vivos aumentou mas saldo natural manteve-se negativo

Dados de Morbimortalidade Masculina no Brasil

Medidas de freqüência

Os registros do SIAPE para estes funcionários públicos perfazem ocorrências de óbitos no período de 2012 a 2014, com de homens e 3.

Risco de Morrer em Portugal 2001

FONTES DE DADOS EM MORBIDADE

ANÁLISE DOS DADOS DE MORTALIDADE DE 2001

O envelhecimento da população é um dos maiores triunfos da humanidade. É também um dos nossos maiores desafios.

Risco de Morrer em Portugal 2000

Demografia e Perspectiva Económica

A dinâmica demográfica do sul de Portugal: características do passado e desafios para o futuro. Lídia Patrícia Tomé & Filipe Ribeiro

ESPERANÇA DE VIDA E CAUSAS DE MORTE EM BELO HORIZONTE E NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE:

Custos de Internação no Nordeste e Sudeste: Um Panorama Geral e um breve enfoque na População de 60 anos e mais

INDICADOR DE MORTALIDADE ESTATISTICAS VITAIS SISTEMA DE INFORMAÇÃO PRINCIPAIS INDICADORES

Variações da mortalidade na evolução da expectativa de vida ao nascer no Brasil: uma aplicação do Método de Pollard

Saldo natural negativo pelo nono ano consecutivo

Regiões Norte, Centro e Área Metropolitana de Lisboa com valores de esperança de vida superiores aos nacionais

Indicadores de saúde Morbidade e mortalidade

Aplicação da tabela de múltiplos decrementos para as principais causas de óbitos: uma abordagem para esperança de vida no Brasil

As doenças cardiovasculares em Portugal e na região Mediterrânica: uma perspetiva epidemiológica

Vigilância Epidemiológica das Doenças transmissíveis. Profª Sandra Costa Fonseca

Hospital Rural de Cuamba RELATÓRIO ANUAL DE ÓBITOS DO HOSPITAL RURAL DE CUAMBA, Cuamba, Janeiro de 2016

Nasceram mais crianças mas saldo natural manteve-se negativo

RELATÓRIO DE DADOS EPIDEMIOLÓGICOS DAS DOENÇAS E AGRAVOS NÃO TRANSMISSÍVEIS E FATORES DE RISCO, PORTO ALEGRE, 1996 A 2009

Longevidade e Saúde: Uma Visão Económica

POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO HOMEM. Brasília, 18 de Novembro de 2013 Michelle Leite da Silva

O impacto de variações na mortalidade por idade e causas sobre os ganhos na esperança de vida ao nascer em Santa Catarina, Brasil, nos anos 90

GT Saúde do Servidor Amostra Nacional Gestão do Absenteísmo-Doença entre Servidores Estaduais Biênio

1 de abril de 2016 Miguel Gouveia

Vigilância Epidemiológica Informar para conhecer. Profª Sandra Costa Fonseca

DIA INTERNACIONAL DO IDOSO

Projeções da população residente

Comentários sobre os Indicadores de Mortalidade

Ações de prevenção e controle da doença renal crônica no Estado de Mato Grosso

PERFIL DE INTERNAÇÕES POR CONDIÇÕES SENSÍVEIS A ATENÇÃO PRIMÁRIA (ICSAP) EM MENORES DE UM ANO

Natalidade aumentou mas saldo natural manteve-se negativo

Mortalidade nas capitais nordestinas: uma breve perspectiva sociodemográfica em 2010 *

ACES Vale Sousa Norte

ACES Guimarães / Vizela

Número médio de crianças por mulher aumentou ligeiramente

ACES Gaia e Gaia/ Espinho

Priorização em Saúde. Novembro/2015. Prof.ª Lívia Souza UFPE CAV Disciplina: Epidemiologia e Gestão

ACES Póvoa de Varzim / Vila do Conde

ACES Barcelos / Esposende

A idade média ao óbito foi de 73,1 anos para os tumores malignos e 81,1 para as doenças do aparelho circulatório

FUNDAÇÃO NESTLÉ DE PREVIDÊNCIA PRIVADA - FUNEPP Tabela de Fatores Atuariais do Plano de Aposentadoria Programada - PAP

ACES Santo Tirso / Trofa

Diferenciais de mortalidade entre os sexos, nas macrorregiões de Minas Gerais, 2012

ACES Baixo Tâmega. Perfil Local de Saúde Aspectos a destacar

ACES Douro Sul. Perfil Local de Saúde Aspectos a destacar

ACES Gerês / Cabreira

Número de casamentos aumenta e número de divórcios volta a diminuir; mortalidade infantil regista o valor mais baixo de sempre

ACES Alto Tâmega e Barroso

ACES Marão e Douro Norte

TÁBUA DE VIDA DA POPULAÇÃO FEMININA DE RIBEIRÃO PRETO, SP (BRASIL), 1973*

Transcrição:

O Impacto das diferentes causas de morte na esperança de vida em Portugal Filipe Ribeiro, Universidade de Évora/MPIDR Maria Filomena Mendes, Universidade de Évora Évora, 13 de Setembro de 2012

Introdução Contraste entre a evolução da esperança de vida e determinadas teorias evolutivas; Evolução linear dos valores record da esperança de vida à nascença;

Introdução Situação que se deve essencialmente a: Reduções nas taxas de mortalidade em idades jovens, numa primeira fase; E, em idades mais avançadas numa segunda fase, essencialmente após os 65 anos de idade. Ou de uma forma geral, devido às melhorias registadas na saúde populacional.

Perguntas de partida Será que as reduções dos níveis de mortalidade tiveram o mesmo impacto segundo: Diferentes causas de morte? Grupos de idade? Sexos? Anos em observação? De uma forma mais especifica, e quanto ao caso Português?

Abordagem Metodológica Cálculo de diferentes Tábuas de Mortalidade para as diferentes causas de morte; Aplicação das metodologias de decomposição desenvolvidas por Arriaga em 1984 e por Schkolnikov et al. em 2001.

Dados Recorreu-se à Human Mortality Database (HMD) e ao Eurostat, onde se recolheram: Os dados correspondentes ao número de mortos total, bem como desagregado segundo a causa de morte respectiva; E, os dados correspondentes aos indivíduos expostos ao risco. Para o período entre 1994 e 2009, segundo o grupo de idades quinquenal.

Dados As causas de morte seguem a 10ª classificação Internacional de Doenças e encontram-se agrupadas da seguinte forma: 1 Infecciosas e Parasitárias 6 Sistema Digestivo 2 Neoplasias 7 Sintomas mal definidos 3 Endócrinas 8 Causas Externas 4 Sistema Circulatório 9 Outras 5 Sistema Respiratório

Metodologia Tábuas abreviadas de mortalidade: Esperança de vida convencional: Esperança de vida sem o impacto de determinada causa de morte:

Metodologia Técnicas de decomposição: Arriaga :

Metodologia Em que: E para o último grupo de idades:

Metodologia Técnicas de decomposição: Schkolnikov et al. : Em que se recorre tanto às taxas de mortalidade para as populações segundo a causa de morte e o grupo de idades, bem como para o total populacional.

O caso específico de Portugal

Esperança de Vida à Nascença em Portugal (HMD) Esperança de Vida 30 40 50 60 70 80 90 Homens Mulheres 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 Anos

Esperança de Vida à Nascença em Portugal (HMD) Sexo masculino: De 49,1 em 1940 subiu para 76,4 em 2009; Cerca de 27,3 anos, ou seja, um aumento de cerca de 4,8 meses anuais. Sexo feminino: De 53,6 em 1940 subiu para 82,5 em 2009; Cerca de 28,9 anos, ou seja, um aumento de cerca de 5 meses anuais.

Evolução de 1994 a 2009 Sexo masculino: De 72,1 em 1994 subiu para 76,4 em 2009; Cerca de 4,3 anos, ou seja, um aumento de cerca de 3,4 meses anuais. Sexo feminino: De 79,2 em 1994 subiu para 82,5 em 2009; Cerca de 3,3 anos, ou seja, um aumento de cerca de 2,6 meses anuais.

Qual o contributo das diferentes idades para esta evolução? 20 15 Homens 1994/2009 Mulheres 1994/2009 Homens/Mulheres 2009 % 10 5 0 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 Idade

Qual o impacto das diferentes causas de morte na esperança de vida à nascença? 90 Esperança de Vida 85 80 75 Total Inf. & Par. Neoplasias Endócrinas Sist. Circulatório Sist. Respiratório Sist. Digestivo Sintomas M.D. Causas Externas Outras 70 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Homens Ano

Qual o impacto das diferentes causas de morte na esperança de vida à nascença? 90 Esperança de Vida 85 80 75 Total Inf. & Par. Neoplasias Endócrinas Sist. Circulatório Sist. Respiratório Sist. Digestivo Sintomas M.D. Causas Externas Outras 70 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Mulheres Ano

Qual o impacto das diferentes causas de morte na esperança de vida aos 65 anos? 30 Esperança de Vida 25 20 15 Total Inf. & Par. Neoplasias Endócrinas Sist. Circulatório Sist. Respiratório Sist. Digestivo Sintomas M.D. Causas Externas Outras 10 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Homens Ano

Qual o impacto das diferentes causas de morte na esperança de vida aos 65 anos? 30 Esperança de Vida 25 20 15 10 Total Inf. & Par. Neoplasias Endócrinas Sist. Circulatório Sist. Respiratório Sist. Digestivo Sintomas M.D. Causas Externas Outras 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Mulheres Ano

E decompondo por idade e causa de morte? 0,60 0,50 0,40 0,30 0,20 Outras Externas Mal def. Digestivo Respiratório Circulatório Endócrinas Neoplasias Inf. & Par. 0,10 0,00-0,10-0,20-0,30 0 1 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 Homens 1994/2009

E decompondo por idade e causa de morte? 0,80 0,60 0,40 0,20 0,00-0,20-0,40-0,60-0,80 Outras Externas Mal def. Digestivo Respiratório Circulatório Endócrinas Neoplasias Inf. & Par. 0 1 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 Mulheres 1994/2009

E decompondo por idade e causa de morte? 0,80 0,70 0,60 0,50 0,40 0,30 Outras Externas Mal def. Digestivo Respiratório Circulatório Endócrinas Neoplasias Inf. & Par. 0,20 0,10 0,00-0,10-0,20 0 1 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 Homens/Mulheres 2009

Conclusões I Para ambos os sexos, são as reduções nos níveis de mortalidade em idades mais avançadas que exercem maior influência no aumento da esperança de vida à nascença; No caso do sexo masculino, e em idades mais jovens, a redução dos níveis de mortalidade, principalmente devido a causas externas, mostrou-se desempenhar um importante papel;

Conclusões II São as doenças do sistema circulatório que têm um maior impacto, tanto na esperança de vida à nascença de homens e mulheres, bem como aos 65 anos; No entanto, principalmente no caso dos homens e em anos mais recentes, as neoplasias começam a ter maior impacto negativo;

Conclusões III De uma forma geral, as causas externas de mortalidade, as doenças do sistema circulatório e as neoplasias, são as causas que mais contribuem para as diferenças registadas na esperança de vida de ambos os sexos em Portugal.

Referências Morais, M. G. (2002). Causas de Morte no Século XX: Transições e Estruturas da Mortalidade em Portugal Continental. Edições Colibri, Évora. Oliveira, M. M., Afonso, A. & Filipe, P. (1994). Perfil da mortalidade por causas de morte para os distritos de Portugal. In Actas do XII congresso da Sociedade Portuguesa de Estatística, Évora. Oeppen, J. & Vaupel, J.W. (2002). Broken limits to life expectancy. Science 296, 1029-1031. Shkolnikov, V., Valkonen, T., Begun A. & Andreev, E. (2001). Measuring inter-group inequalities in lenght of life. GENUS, LVII (nº34), 33-62. Vaupel, J. W. (2010). Biodemography of human aging. Nature 464(7288), 536-542.