III-217 COLETA SELETIVA EM NATAL - AVALIAÇÃO DE IMPLANTAÇÃO SOB O PONTO DE VISTA DA COMUNDADE E DOS CATADORES Régia Lúcia Lopes (1) Engenheira Civil pela UFRN em 1986. Mestre em Engenharia Química pela UFRN em 1992. Engenheira da CAERN de 1987 a 1989. Professora da Gerência de Recursos Naturais do CEFET-RN desde 1991. Sérgio Bezerra Pinheiro Engenheiro Civil pela UFRN em 1996. Especialista em Educação Ambiental pela Universidade Potiguar. Mestre em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pela UFRN em 2002. Diretor de Operações e Diretor Presidente da URBANA nos períodos de 1994 e 1996 e de 2002 a 2004. Diretor da ABES Nordeste. Emerson Marinho Paiva Técnico em Controle Ambiental pelo CEFET-RN. Chefe do Núcleo Ambiental URBANA. Endereço (1) : Rua Presb. Porfírio Gomes da Silva, 1496 Capim Macio Natal-RN CEP 59.082-420 - e-mail: regia@cefetrn.br RESUMO O crescimento do espaço urbano provoca necessidades de ampliação dos serviços de infra-estrutura na área de saneamento ambiental. Uma das principais preocupações das administrações municipais é o gerenciamento dos resíduos sólidos em face da necessidade crescente de locais para construção de aterros, dos problemas sociais e de saúde associados à disposição inadequada e formação de depósitos clandestinos que geram desconforto para toda a comunidade. Em Natal, a partir de dezembro de 2003 foi implantado o programa de coleta seletiva porta a porta numa parceria da Prefeitura com Associações de Catadores. Esse programa teve por objetivo minimizar os impactos sociais decorrentes do fechamento do lixão de Cidade Nova, diminuir os custos para a administração municipal na disposição em aterro sanitário e oferecer um destino adequado aos resíduos recicláveis, gerando renda as famílias dos catadores que sobrevivem dessa atividade e prolongando a vida do aterro sanitário da Região Metropolitana e Natal que entrou em operação recentemente. Este trabalho analisa em dois bairros da cidade de Natal o programa implantado, com relação aos aspectos técnicos e operacionais e de inserção social sob a ótica dos beneficiários diretos desse programa que são a comunidade, privilegiada com o conforto de ter seu material coletado em casa, e os catadores de recicláveis, que tiveram modificado a forma e ambiente de trabalho. Desde a implantação já foram coletadas 2.327 toneladas até março de 2005 e estão sendo beneficiadas 41 localidades, entre bairros e comunidades da cidade de Natal. Para operacionalizar a coleta seletiva foram capacitados 249 catadores que atualmente estão divididos em três Associações de Catadores e 2 Grupos de Trabalhos autônomos apoiados pela Prefeitura através da URBANA e da Secretaria de Ação Social. Nos bairros onde foi realizado o diagnóstico, 85,8% da população considera a implantação do programa de bom a ótimo e 95% dos catadores preferem estar no programa de coleta seletiva a estar no ambiente inóspito e insalubre de lixão. PALAVRAS-CHAVE: Programa de coleta seletiva, gestão de resíduos sólidos, catadores, inserção social. INTRODUÇÃO O Sistema de Coleta Seletiva de Lixo em Natal existe desde 1996 quando foi iniciado o primeiro programa de coleta seletiva, através da implantação de Postos de Entrega Voluntária PEV s, fabricados a partir de tanques de combustíveis sem utilização. Esse projeto tinha como um dos objetivos a educação ecológica do cidadão a respeito da coleta seletiva, no entanto houve diversos problemas em função do pouco conhecimento da população a respeito do programa além da utilização errônea dos depósitos com a colocação de matéria orgânica e animais mortos nos recipientes destinados a acolher o material reciclável. Além disso, deve-se salientar o vandalismo e o clima de Natal que favorece a danificação dos PEV s já que os mesmos eram constituídos por ferro facilmente oxidável pela maresia de cidades litorâneas. No ano de 2002 o projeto foi reformulado e os recipientes foram fabricados pela própria URBANA em chapas de aço, nas cores padronizadas segundo resolução do CONAMA Nº 275/2001: amarelo (metal), azul (papel), ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1
verde (vidro) e vermelho (plástico), sendo localizados em pontos de grande movimento da cidade fazendo com que se associasse o PEV a uma instituição tais como Igrejas, Centros Comunitários e Supermercados. A adoção do PEV incluía também a educação do cidadão, uma vez que o mesmo participaria ativamente do processo separando o seu material e depositando-o em locais adequados. Foram distribuídos 20 (vinte) PEV s nas quatro zonas administrativas da cidade. Todo o material recolhido nestes coletores era repassado em forma de doação para a Associação de Catadores de Materiais Recicláveis ASCAMAR, primeira Associação organizada que realizava a sua seleção, beneficiamento e a comercialização, gerando emprego e renda para os associados. Na afigura 1 estão apresentados os dois tipos de PEV s adotados pelo programas de entrega voluntária em Natal em 1996 e 2002. Figura 1 Postos de Entrega Voluntária utilizados em 1996 e 2002. A partir de 2003 a Companhia de Limpeza Urbana de Natal URBANA elaborou e colocou em operação um programa de coleta seletiva com modalidade porta a porta, tendo em vista a necessidade de fornecer alternativas para os catadores existentes na área de destino final de Cidade Nova devido a implantação do Aterro Sanitário para a Região Metropolitana de Natal que se efetivou apenas em junho de 2004. Além das duas modalidades, a URBANA estabeleceu parcerias com grandes geradores de resíduos (hotéis, condomínios e empresas públicas e privadas) para doarem seus materiais ao programa. Dessa maneira, a URBANA vem aumentando a quantidade de lixo reciclável coletado chegando a uma média em 2004 de 232 toneladas/mês. Para a inserção do catador no programa de coleta seletiva porta a porta a URBANA realizou uma capacitação através de um curso com 10 horas, abordando temas como: relacionamento humano, limpeza pública, saúde e segurança do catador, trabalhando no trânsito, reciclagem e principalmente cooperativismo que é a essência da eficácia do programa. As palestras, cursos, e treinamentos promovem o inicio de mudanças no comportamento, na ética, e na vida desses catadores, pois interiorizam valores como respeito, compromisso e cooperação, imprescindíveis na conduta profissional. Essas palestras utilizam material didático fornecido pelo CEMPRE - Compromisso Empresarial para Reciclagem, tendo o apoio do CEFET-RN e da Fundação ZERBINI dentro do Programa Interministerial Lixo e Cidadania. Para a execução do programa delimitou-se a área de abrangência, sendo esta, a união de vários trechos da coleta domiciliar convencional. A união de um a dois trechos de coleta passou a constituir setores e subsetores com intuito de otimizar a coleta do material seletivo. Os setores acomodam um ou mais trechos da coleta domiciliar, enquanto os subsetores são pequenas áreas inseridas dentro dos setores, sendo estabelecido como um dos fatores de dimensionamento, da coleta seletiva implantada. Os catadores se subdividem em duas cooperativas: Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Natal - ASCAMAR e Associação dos Agentes Trabalhadores em Reciclagem e Compostagem do Aterro Sanitário ASTRAS as quais por sua vez se dividem em núcleos que compartilham atividades, uma vez que existe equipes na área de Cidade Nova para pesagem, triagem e prensagem do material, assim como outras equipes responsáveis pela coleta porta a porta do resíduo reciclável. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2
Nesta última etapa as equipes são dimensionadas segundo o tipo da área (residencial ou comercial) e forma de coleta. Na coleta da área residencial são empregadas 06 carrinhos tipo plataforma 20 big bag s e 1 caminhão de apoio o qual acompanha os 21 agentes na coleta dos recicláveis, sendo 18 responsáveis pela coleta porta a porta, um agente atuando no ponto de apoio e armazenamento e dois estarão dispostos no ponto de apoio exercendo a coleta de grandes geradores, conforme apresentado nas figuras 2, 3 e 4. Figura 2 Agente de coleta realizando sua atividade Figura 3 Caminhão para transporte de materiais recicláveis Referente às áreas comerciais se adota semelhante metodologia da área residencial, empregando-se 21 agentes distribuídos na coleta porta a porta, ponto de apoio e armazenamento, estes utilizarão material do tipo mochilas da coleta seletiva, 15 big bag s e 01 caminhão de apoio. Para a execução da coleta seletiva porta a porta são utilizados para o transporte dessa modalidade: ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3
Carrinhos tipo plataforma - atendem os pequenos produtores, geralmente residências. Coleta motorizada paralela - atende os grandes produtores auxiliando também paralelamente a coleta com carrinhos tipo plataforma. Coleta motorizada volante atende os grandes produtores em bairros diversos. Coleta com reciclador volante - atende as áreas tipicamente comerciais, principalmente o Centro da cidade e o bairro do Alecrim. Figura 4 Carrinho tipo plataforma utilizado na coleta porta a porta A freqüência da coleta seletiva é similar àquela realizada pela coleta domiciliar, ocorrendo prioritariamente em um turno no período de 4 horas. Após a coleta do material o resíduo reciclável é recolhido e destinado aos galpões de armazenamento das associações. A triagem é realizada no momento em que os resíduos são acondicionados no caminhão e é complementada nos galpões. Após a triagem o material é prensado e posteriormente vendido aos atravessadores e empresas do ramo de reciclagem. Neste trabalho são apresentados os resultados de um diagnóstico realizado em dois bairros da cidade de Natal que são beneficiados com o programa implantado além de um diagnóstico com os catadores de recicláveis inseridos no programa porta a porta. Os aspectos analisados na comunidade foram os de interesse técnico e operacional e de entendimento dos objetivos do programa. Quanto aos catadores foram analisados aspectos de índice de escolaridade, tempo de permanência na atividade, além da percepção do novo ambiente de trabalho. METODOLOGIA A metodologia utilizada nesse trabalho se dividiu em duas fases. A primeira de conhecimento do programa, seus projetos e aspectos operacionais e a segunda de elaboração e aplicação de instrumentos de coleta de dados para diagnóstico seguindo-se de análises dos dados. Na primeira fase foram feitas visitas a URBANA com o objetivo de se conhecer e obter dados do projeto para se estabelecer os parâmetros a serem avaliados, assim como foi conhecida toda a rotina de trabalho das duas Associações. A partir dessas análises foram selecionadas as áreas de pesquisa em função do tempo de implantação e por cada associação que desenvolve o programa. Os bairros selecionados para a pesquisa foram os de Ponta Negra e Capim Macio em função da coleta ser realizada por duas associações diferentes e ser as áreas mais antigas em operação por cada Associação. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4
A segunda fase constou da elaboração de instrumento de coleta de dados para ser aplicado nos bairros e nas associações visando um diagnóstico mais detalhado e da análise de dados e elaboração de trabalho final. O questionário era composto de perguntas diretas a respeito do conhecimento da população sobre o programa de coleta seletiva, seus objetivos e sua participação no mesmo. Os questionários foram aplicados em 10% das residências dos respectivos bairros sendo a escolha do domicílio sorteada na planta do bairro aleatoriamente, porém procurando-se ter sempre pelo menos uma amostra em cada lado de cada rua. Quanto às associações foi elaborado um questionário englobando os aspectos de formação, capacitação para o programa, envolvimento com o programa e aspectos sociais relativos a mudança de local de trabalho onde cerca de 50% dos catadores envolvidos entrevistados o programa de coleta porta a porta foram entrevistados com relação a alguns aspectos sociais, e com relação a execução da coleta seletiva. RESULTADOS Antes de iniciar o programa de coleta seletiva porta a porta, a URBANA realizava, através de parcerias com grandes geradores de resíduos (hotéis, condomínios, e empresas públicas e privadas) a coleta seletiva desses estabelecimentos, além de ter Postos de Entregas Voluntárias em alguns pontos estratégicos da cidade. Até a implantação da modalidade porta a porta, a média de material reciclável coletada era de 15 toneladas por mês. Até dezembro de 2003 quando foi incorporada a coleta seletiva porta a porta a quantidade de material reciclável coletado foi de 19,2 toneladas por mês. A partir de 2004 a média subiu consideravelmente para 132 toneladas por mês chegando ao mês de outubro com uma coleta de 263 toneladas o que demonstra um aumento significativo na participação da população. Conforme apresentado em projeto, os grupos são divididos em turmas de 3 pessoas para operarem um setor de coleta pré-estabelecido pela URBANA com freqüência e horários definidos. A infra-estrutura existente é de 3 galpões onde atuam atualmente cerca de 296 ex-catadores do lixão de Cidade Nova. Desde a implantação do programa de coleta seletiva no final de 2003 não foi realizada nenhuma avaliação do programa junto à comunidade. A atividade de coleta é realizada em dois turnos (manhã e tarde), por duas associações diferentes nos respectivos bairros avaliados sendo, portanto e de grande valia, averiguar junto a população como o programa vem sendo desenvolvido. De acordo com os dados obtidos no levantamento de dados em campo, a avaliação da coleta seletiva porta a porta tem sido bastante positiva perante a comunidade. Inicialmente se avaliou a iniciativa da Prefeitura em colocar em prática o programa, pois nesses dois bairros já existiam Postos de Entrega Voluntária. Esse resultado mostrou que a população realmente concorda com a implantação do programa conforme as respostas boas e ótimas como mostrado a figura 5. Figura 5 Avaliação por parte da população sobre a iniciativa da prefeitura em implantar um programa de coleta seletiva porta a porta 60,0% 50,0% 51,1% 54% 40,0% 30,0% 20,0% 22% 23,3% 25,6% 24% 10,0% 0,0% ótimo bom regular Ponta Negra Capim Macio ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5
Com relação a avaliação do programa de coleta seletiva 86% da população considera de boa a ótima no bairro de Ponta Negra e 85% no bairro de Capim Macio conforme apresentado na figura 6, demonstrando que até a época dessa avaliação o programa era muito bem avaliado. Figura 6 Avaliação do programa de coleta seletiva porta a porta pela população 50% 45% 40% 35% 44% 37% 42% 48% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 13% 11% 0% ótimo bom regular Ponta Negra Capim Macio Com relação aos materiais mais doados o plástico e o papelão são os que têm maior representatividade em ambos os bairros, seguido do metal e vidro conforme apresentado na figura 7. Figura 7 Materiais mais doados para o programa de coleta seletiva 50,0% 45,0% 40,0% 35,0% 30,0% 39,0% 36,0% 48,0% 46,0% 25,0% 20,0% 15,0% 10,0% 5,0% 0,0% 10,0% 12,0% papel plástico metal vidro 3,0% 6,0% Ponta Negra Capim Macio Como o programa de coleta seletiva utiliza antigos catadores da área de destino final de Cidade Nova que foram capacitados através de curso específico para a implantação do programa, nesse trabalho procurou-se avaliar como esses agentes estavam sendo visto pela população. A coleta seletiva porta a porta em Natal se baseia na fidelidade e no entrosamento do agente de limpeza, como foi denominado o catador, com o morador, para que esse último entregue sempre o material reciclável para quem realmente está operando o programa, evitando assim deixar em calçadas e serem objetos de catadores autônomos ou de animais que muitas vezes ao rasgar os sacos para coletar material causam transtornos na limpeza da cidade. Além do mais, isso garante que ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 6
realmente o programa de coleta seletiva beneficie aqueles profissionais que realmente acreditaram que poderiam sobreviver dessa atividade e se organizaram para tal. Em relação então ao comportamento do catador, 90,6% da comunidade entrevista considera de bom a ótimo e estando apresentada na figura 8 essa avaliação por bairro, comprovando a eficácia do treinamento ofertado. Figura 8 Comportamento do agente de limpeza no programa de coleta seletiva porta a porta 70,0% 60,0% 50,0% 62,2% 59,0% 40,0% 30,0% 20,0% 25,6% 34,4% 10,0% 0,0% 12,3% ótimo bom regular 6,6% Ponta Negra Capim Macio Pode-se verificar separadamente a avaliação entre os trabalhadores das duas associações, observando-se um índice levemente superior dos trabalhadores de Capim Macio, o que serve de avaliação para um investimento em capacitação dessa associação se verificando quais fatores precisam ser trabalhados para melhoria do desenvolvimento da atividade. Com relação à mobilização da comunidade para adesão a participação doando os recicláveis, é de fundamental importância para o sucesso do programa que se utilizem instrumentos esclarecedores e adequados à realidade sócio-econômica de cada região da cidade. Em Natal antes da implementação da coleta seletiva a Prefeitura através dos próprios agentes da coleta seletiva distribui panfletos onde se tem informações gerais a respeito do programa incluindo horários e freqüências de coleta e os materiais a serem selecionados e doados, além de estabelecer um vínculo entre a comunidade e os catadores envolvidos. O material foi avaliado por 51,5% dos entrevistados de bom a ótimo e 48,5% como regular, o que podemos concluir que deverá ser dada uma atenção melhor aos instrumentos de divulgação melhorando a qualidade desses materiais para que o programa atinja seus reais objetivos. Uma das finalidades do programa de coleta seletiva é retirar o catador da informalidade e da atividade insegura no lixão, readaptando-a a uma atividade produtiva e organizada. Foi questionado dentro da comunidade se a mesma tinha conhecimento sobre esse objetivo e 57,5% responderam afirmativamente, necessitando-se uma divulgação maior para que se tenha o conhecimento por parte da comunidade dos objetivos sociais do programa. Isso reforça a necessidade da utilização de bons de instrumentos de divulgação e que estes sejam sempre reavaliados e novamente levados à comunidade para que a população seja constantemente sensibilizada a colaborar e participar se sentindo parte integrante do programa. Com relação a separação na fonte apenas 29% dos moradores responderam que sentem dificuldade em função do programa trabalhar com a separação dos recicláveis não exigindo separação por tipo de material, o que facilita para o morador. No que diz respeito aos catadores foram aplicados 40 questionários com nas duas associações junto aos agentes da coleta seletiva porta a porta com intuito de conhecer a opinião dos trabalhadores sobre o programa implantado. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 7
Cerca de 70% dos catadores estão na faixa etária de 18 a 35 anos, porém apenas 2,5% possui segundo grau completo e 62,5% tem primeiro grau incompleto. Dentre os entrevistados 90% dos catadores avaliaram como ótimo o curso de capacitação dado pela URBANA antes deles se integrarem ao programa, o que demonstra que essa atividade é bem aceita e com certeza tem utilidade no dia-a-dia do trabalho na coleta seletiva, pois nessa capacitação são abordados conhecimentos de relações humanas, limpeza pública, saúde pública, formas de trabalho no transito, reciclagem, cooperativismo e funcionamento de cooperativas. A credibilidade com relação ao fechamento da área de Cidade Nova foi também um aspecto analisado, uma vez que por diversas vezes essa ameaça preocupou os catadores sem efetivamente acontecer. No entanto, dos catadores que estão no programa de coleta seletiva 65,5% acreditava que realmente aconteceria o fechamento e 95% dos entrevistados preferem realmente trabalhar através das associações organizadas ao invés de continuar no ambiente insalubre e sem nenhuma formalidade que é um lixão. CONCLUSÕES De acordo com as análises realizadas o programa de coleta seletiva porta a porta implantado pela prefeitura de Natal em 2003 tem sido avaliado positivamente tanto pela comunidade beneficiada como pelos agentes de coleta que ora estão no programa. Essa avaliação é um elemento indicador que pode ser utilizado como diretriz para que a Prefeitura amplie para mais bairros da cidade o programa. Com isso o município oferece um serviço tão importante sob os aspectos de conservação do meio ambiente, economia de recursos públicos e melhoria da qualidade de vida dos catadores, além de dar uma forma adequada para a gestão dos resíduos gerados na cidade, oferecendo um destino correto para os resíduos recicláveis e proporcionando uma atividade organizada para aqueles trabalhadores que viviam à margem da sociedade. A estrutura do programa resulta em uma nova relação entre a sociedade e os resíduos sólidos, gerando uma série de compromissos da população, prefeitura e catadores, uma vez que é baseada na participação, inclusão e estruturação de um pacto, onde é responsabilidade da população: a) separar os resíduos; b)armazenar os resíduos na área interna das residências (evitando a ação da coleta antecipada por catadores clandestinos) e c)entregar os resíduos aos agentes da coleta seletiva no dia e quando solicitado (palmas, campainha, etc.). Responsabilidade da Prefeitura: a) divulgação do programa; b)transporte dos catadores e material da coleta; c) locais de armazenamento e d) qualificação. Responsabilidade dos catadores: a) organização em associações; b)sempre é a mesma equipe que executa o trecho de coleta (a idéia é baseada na figura do carteiro, garantindo a segurança e impedindo a ação de grupos clandestinos); c) regularidade na execução dos serviços e d)todo o material recolhido é vendido em prol da associação. O programa de coleta seletiva da cidade do Natal pode servir de referência para outras cidades do nosso País, uma vez que incorpora integralmente a filosofia de inserção dos catadores, participação social, linhas balizadoras do Fórum Nacional Lixo e Cidadania e principalmente, a efetiva atuação do poder público no fechamento do lixão da cidade, no atendimento as crianças (catadoras, filhas de catadores e que brincavam no lixão) e na implantação do Aterro Sanitário Metropolitano. Vale salientar que mesmo que o programa apresente êxito inicial, existe a necessidade de um acompanhamento das atividades, principalmente no tocante a divulgação, a organização e a gestão das associações de catadores, para que se tenha um serviço com todos os padrões estabelecidos para a coleta convencional além de continuar sendo um meio de inserção social daqueles que são realmente os principais agentes ambientais da cidade, o catador. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ABREU, Maria de Fátima. Do lixo à cidadania: Estratégias para a ação. Brasília: CEF, 2001. 2. AGÊNCIA ZERBIBI DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL. Unidade de Natal Relatório. Janeiro 2005. 3. BRINGHENTI, Jacqueline, LIMA, Carlos Roberto, BAPTISTA, Fernando, Planejamento de programa de coleta seletiva por postos de entrega voluntária. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 22., 2003, Joinville. Anais... Joinvillle: ABES, 2003. 1 CD-ROM ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 8
4. NATAL (RN). Prefeitura. Programa de Coleta Seletiva Modalidade: porta a porta Natal/RN Zona Sul. Natal, 2004. 20 p. Projeto. 5. NATAL (Município). Lei nº 4.748, de 30 de abril de 1996. Regulamenta a Limpeza Urbana de Natal e dá outras providências. Natal.RN, 1986. 6. VILHENA, André, D ALMEIDA, Maria Luiza. Lixo Municipal: Manual de Gerenciamento Integrado. 2º ed. São Paulo: IPT/CEMPRE, 2000. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 9